METAMORFOSE
Aninha é uma adolescente de 15 anos, plena de vida, cheia de
curiosidade diante da natureza.
Já se interessou por várias atividades , às quais se entregou de corpo e alma, para obter o máximo de realização.
Aos
poucos porém, foi descobrindo que, nem tudo é possível fazer com perfeição, devido às limitações próprias de cada um.
Ultimamente, tem se dedicado à
fotografia.
Tudo é motivo para registrar com a sua
câmera, especialmente, flores e bichinhos miúdos como borboletas, beija-flores, joaninhas, louva a deuses, moscas, lagartas... E outros, não tão miúdos como tatus, morcegos,bezerros,cachorros, cavalos......Nada escapa de sua inseparável câmera.
Há uns dias atrás, ela viu uma lagarta
amarelinha se enrodilhando para se tornar crisálida, ou hibernando para virar
borboleta.
O interessante é que a
lagarta se fixa num galho, numa folha ou mesmo num varal
através de uns fios quase invisíveis, que
ela própria fabrica e fica
pendurada, aguardando a metamorfose.
Aquela estava pendurada na parede externa de um velho vaso, presa por dois fios muito finos.
Quando a garota descobriu
o que estava acontecendo, ficou muito empolgada, porque queria conhecer
toda a evolução da metamorfose.
E todos os dias, fascinada
com as alterações de aparência, foi fotografando as mutações do bichinho. Cada
dia era uma surpresa.
Quando o corpo da futura borboleta estava quase formado, e a ansiedade da menina estava
no auge, o vento e a chuva mais forte derrubaram-na e interromperam o processo.
Borboleta interrompida e imensa decepção da garota.
Seqüência
perdida....
Mas, haverá outras oportunidades para
recomeçar tudo de novo... lagartas é que não faltam.
Enquanto isso, sua mãe, que nunca morou no
campo, descobriu de repente um pé de algodão, e ficou pasma ao constatar que o
algodão hidrófilo, que é utilizado nos curativos é fruto seco de um arbusto, beneficiado para uso
medicinal e para higiene corporal.
Pensava
que o mesmo era invenção do homem, e nunca um produto de origem vegetal.
Ignorância
de quem só viveu na cidade......
E ao constatar que, a flor se abre amarelinha de manhã e, muda
para rosa ao entardecer, foi tomada de encantamento.
Encantamento, que
foi aumentando ao conhecer a maçã, que se transforma numa cápsula com
os flocos de
algodão dentro.
E daí, ao saber como os
catadores de algodão faziam a colheita, retirando os flocos e, ferindo os dedos nos
espinhos dos capulhos, pensou que havia
descoberto um mundo novo,que nunca havia imaginado.
No estudo das ocorrências naturais do
ecossistema, há nos compêndios, uma
parte que trata da metamorfose de alguns bichos, como das lagartas em borboletas e dos girinos em sapos.
Entretanto, como é possível constatar, as
plantas também se metamorfoseiam.
Dum
caroço pequenino nasce uma planta, que dá frutos e desses frutos saem os
chumaços de algodão, que são
aproveitados para tecelagem e outros fins.
Assim acontece também com a seringueira que dá o látex, e
com outras diversas plantas, que o homem aproveita para seu conforto e bem
estar.
E não são somente os bichos e as plantas que sofrem metamorfoses.
O ser humano também se
metamorfoseia. Quando nasce é um ser totalmente
incompleto e dependente, e começa se rastejar, depois vai engatinhando de quatro, até conseguir se firmar sobre as duas
pernas, ficando ereto para caminhar sozinho, para se tornar auto-suficiente, independente.
Mas, a transformação maior ocorre na ideia, na
inteligência. É uma transformação que não se percebe, porque ocorre internamente.
Assim, enquanto Aninha
está descobrindo o mundo e os inumeráveis mistérios, está ocorrendo uma
transformação dentro dela. Aos poucos, vai percebendo a complexidade da vida animal, vegetal e mineral.
E vai captando as diversas informações, que irão ao longo dos anos, formar o
seu cabedal de conhecimentos e experiências da vida.
Que farão parte de sua personalidade única.
Enquanto a garota vai descobrindo as ocorrências corriqueiras do
dia a dia, sua mãe ainda tem muito que aprender, muito que conhecer.
E isso não
se aprende nas escolas.
E a metamorfose do ser humano não termina nunca. Sempre há algo
novo para conhecer,
para absorver.
Porque o campo do conhecimento é
infinito e
complexo.
Como cantava Raul Seixas:
“Prefiro
ser essa metamorfose ambulante,
do que
ter aquela velha opinião formada sobre
tudo."
Que sabedoria, hein?
Porque mesmo quem já viveu mais de um século, não conhece nem a
milionésima parte do
conhecimento do mundo.
E por mais sábio e estudioso que
seja o cidadão, não consegue absorver tudo que gostaria de saber.
Há um limite, porque ele é apenas humano.
Na verdade, somos como as borboletas pairando por aí, tentando conseguir o melhor mel, tentando descobrir os meios
de defesa para se viver bem.
E totalmente alienados, ignorando a existência de
outras formas de vida que,também lutam para sobreviver.
Entretanto, como a vida é um grande
mistério, nunca saberemos para que fim nós fomos criados.
Conforta–nos pensar que, talvez a nossa
metamorfose final, seja a mutação para anjos.
Não é isso que a maioria das religiões
prega?
Que somos
apenas espíritos?
Mirandópolis, 12 de janeiro de 2012.
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