sábado, 7 de janeiro de 2012

GENTE DE FIBRA - PALMIRA MARTINS DA SILVA

Gente de fibra 
Palmira Martins da Silva

   

          Hoje vou contar a trajetória de uma doce e  gentil senhorinha.
       É a senhora Palmira Martins da Silva, que nasceu há 75 anos em Mococa, SP.
        Com sete anos de idade, veio de mudança para a Fazenda Buenópolis, em Lavínia, onde por oito anos ajudou a família na lida do café.
        Com apenas 15 anos, casou-se com Laurindo Aprígio da Silva, e mudaram-se para Aguapeí, em Valparaíso, onde trabalharam muito  na roça, como boias frias. Tiveram oito filhos, dos quais um faleceu, ainda criança.
        Dona Palmira teve que dar duro na vida, para sustentar a família, porque infelizmente, o marido se entregou ao vício da bebida. Ela não podia contar com ele, para alimentar os filhos.
        Houve uma época em que conseguiram comprar um sítio em Rio Negro, Mato Grosso. Mas, o esposo vendeu o sítio e toda a safra e, vieram de mudança para Araçatuba. Desse patrimônio todo, rendeu apenas uma charrete e um animal. Restou também uma máquina de costura, que é hoje a preciosidade de dona Palmira. Havia também duas casas herdadas do sogro, que o esposo vendeu. Até hoje, ela lamenta a perda dessas casas.
        Com sete crianças para sustentar e, não podendo contar com a ajuda do marido, dona Palmira trabalhou dobrado. Desde  pequeninos, os filhos foram encaminhados aos trabalhos duros na roça.
        Quando a sua peleja estava insuportável, com o marido doente, sua sogra condoeu-se da nora e levou o filho Laurindo para cuidar. Ele veio a falecer um ano depois. O filho mais velho era apenas um jovem de 17 anos e o menor só tinha 4 anos .  Os filhos foram crescendo e trabalhando muito. Ajudaram a mãe Palmira a cuidar de todos.
        Desses tempos tão difíceis, lembra que não tinha dinheiro para comprar café, que ela tanto  queria tomar. E aí, ela colhia sementes de fedegoso, que é um arbusto que cresce nas pastagens. Colhia, torrava e socava no pilão para fazer café. Diz ela que não era gostoso, mas dava para enganar.
        E isso ocorreu no Brasil, onde a renda principal do povo era baseada na cultura do café....Naqueles tempos duros, muita gente apelou para o fedegoso em substituição ao café. Tempos heroicos, feitos de trabalho, trabalho, trabalho e muita canseira.
        Dona Palmira não teve chance de estudar. Foi apenas 15 dias  à escola, de onde foi retirada para carpir os cafezais...
        Tem na família o seu tesouro. Ela diz que os filhos são muito bons. Entre eles, há um pedreiro, motorista  de caminhão, funcionários da Usina, trabalhadores rurais e uma dona de casa. Todos trabalhadores e honestos.
        Há um tempo atrás, dona Palmira levou um tombo e quebrou um fêmur. Ficou acamada por um ano , e nesse tempo todo, foi cuidada com desvelo por uma nora, a quem é muito, muito grata. Diz que essa nora cuidou dela, como se fosse uma filha.
        Dona Palmira não trabalha mais, mesmo porque anda com a ajuda de uma bengala e tem o coração fraco.   
       Entretanto, mora sozinha numa casa pequenina, como uma casa de bonecas. E passa os dias confeccionando tapetes de retalhos coloridos, para engordar um pouco a sua renda de aposentada. Parece uma menina brincando de bonecas.
       Dona Palmira, mulher pequenina e valente, que criou e encaminhou sete filhos, uma heroína, é gente de fibra!

            Mirandópolis setembro de 2011.
                         kimie oku  in "cronicasdekimie.blogspot.com" 


    Observação: dona Palmira faleceu em 2015.
   

Um comentário:

  1. Parabéns, nossa familia se sente muito orgulho pela reportagem da nossa avó....

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