domingo, 8 de janeiro de 2012

GENTE DE FIBRA - JORGE CURY



Jorge Cury
           Filho de libaneses, o sr. Jorge Cury nasceu  há 88 anos em Goiânia, Goiás.
                          Seus pais eram comerciantes.  E tinham um armazém de secos e molhados, isto é vendiam de tudo, que os fregueses precisavam no seu dia a dia, lá em Goiânia.
           Quando  o menino Jorge tinha apenas dois anos de idade, seu pai faleceu repentinamente. Diante do ocorrido, sua mãe sem condições de administrar a loja, e cuidar de Jorge e sua irmã, vendeu tudo e veio de mudança para  Vitorino, em Mato Grosso do Sul, onde  moravam  seus pais, que  trabalhavam na lavoura.
           Mais tarde, sua mãe se casou em segundas núpcias  com o senhor José Haddad, que era um  mascate libanês. Com o casamento, eles se mudaram  para Rio Branco, também em Mato Grosso do Sul,  onde  o sr. Haddad abriu um Armazém de secos e molhados, deixando a vida de vendedor ambulante. Alguns anos depois, mudaram-se para Três Lagoas.
           Em 1936, saíram de Três Lagoas e vieram para Mirandópolis. O sr Haddad abriu A Casa Glória que  também vendia  toda variedade de mercadorias, inclusive tecidos. Ao vendê-la para o sr. Assad Abud, essa loja se tornaria a  Casa Santa Glória , que marcaria época por muito tempo, no comércio local e da região.
          Ao lado da loja havia  uma pensão, onde se hospedou um médico baiano, que viera da Bahia. Era o doutor Edgar Raimundo da  Costa,  que acabaria se casando com a  senhorita Dirce,  irmã de Jorge.
           Dr. Edgar Raimundo da Costa seria  uma das pessoas mais importantes da época, não só no atendimento aos doentes,  como na vida social e política da cidade.
          Após vender o armazém, a família de Jorge instalaria  o Bar e Restaurante Pingüim, na esquina da Rafael Pereira com a Domingues de Souza.
           Jorge estudou até o Curso Colegial,  em Lins.
           E de 1941 a 1945 ficou á disposição do Exército Nacional.  Normalmente, teria que prestar um ano de serviço militar, mas  como  o mundo estava em plena guerra, não foi dispensado. Continuou servindo o Exército como radiotelegrafista. Chegou a ser convocado para ir aos campos de batalha, na Europa, mas sua convocação terminou no Rio de Janeiro, onde  foi dispensado como 2º Tenente da Reserva. Rafael Pereira, outro jovem de Mirandópolis foi 
à guerra e acabou perdendo a vida,
 lá nos campos da Itália.
           Após dar baixa no  Exército, Jorge trabalhou nas Casas Pernambucanas, instaladas na  Rua Rafael Pereira .
 Naquela época, era uma construção de tábua, localizada onde hoje  é o escritório Santo Antônio.  Só vendia tecidos  em metros. 
 A moda da roupa pronta  ainda não existia, e todas as vestimentas eram confeccionadas por costureiras e alfaiates. As Pernambucanas não vendiam eletrodomésticos.
  Jorge trabalhou  nessa loja de  1945  a 1946 e chegou a ocupar o cargo de Gerente, temporariamente.    
    Em 1946, casou-se com a senhorinha Luiza Arruda Leite, costureira, que viera de Matão. O casamento ocorreu numa  Igreja de tábua, e foi celebrada pelo padre Epifânio, que mais tarde seria
 Monsenhor Epifânio Ibanez. 
Dona Luizinha costurou muita roupa para as senhoras da sociedade.
           Em 1950,  Dr. Edgar  era uma das pessoas de maior destaque do município  e foi  nomeado Presidente Regional do partido político P.S.P.  ou Partido Social Progressista, cujo representante maior era o sr. Ademar de Barros, então Governador do Estado. 
           Contando com o total apoio do Governador, o cunhado Dr. Edgar conseguiu muitos benefícios para a cidade, dentre os quais a construção do prédio do Ginásio Estadual, que mais tarde seria denominado
 Colégio Estadual Noêmia Dias Perotti. 
O diretor era o professor Pedro Perotti Neto e como Secretário foi nomeado  o  Dr. Neif  Mustafa.  
Jorge Cury foi nomeado Inspetor de alunos, cuja tarefa era controlar a entrada e a saída dos alunos. Essa função permitiria que conhecesse centenas de jovens, que estudaram no Colégio, onde trabalhou por décadas.
           Dr. Edgar  conseguiu também a instalação do Posto de Saúde, onde foi o 1º médico e  atuaria por anos cuidando dos doentes  da localidade. Nessa época, não havia nenhum hospital na cidade e nas proximidades, então o Posto de Saúde foi  uma grande conquista.
           Em 1956, Jorge Cury foi  eleito Vereador,  mandato  que  exerceu  até  1959,  na gestão do Prefeito Alcino Nogueira de Sylos. Nesse período, a cidade foi beneficiada com a construção do C.A.M,  Clube Atlético de Mirandópolis;   do  Estádio Municipal, que mais tarde receberia o nome de Alcino Nogueira de Sylos;  e da Estação de Tratamento de Água, que ainda não existia  na cidade.     
           Dona Luizinha, esposa do sr. Jorge Cury comandou a cantina da nova escola por três anos, passando-a depois para a família do sr. Orlando Bordoni, que foi o Diretor a partir de 1974. 
 Dona Luizinha já explorava a cantina do C.A.M . servindo boa comida para os funcionários das empresas, que  vieram se instalar na cidade. Ali ela trabalhou durante quinze anos, com a ajuda do marido Jorge.
    O casal Cury  teve quatro filhos, e nessa época , o  sr. Jorge  achou  melhor  mudar-se  para   São   Paulo, para que os filhos  adolescentes pudessem estudar. 
Transferiu-se como Inspetor de Alunos  para o Colégio Macedo Soares, que ficava nos Campos Elíseos. Era um colégio grande que atendia a mais de 2500 alunos. Aí, ele chegou a trabalhar também de Assistente de   Diretor. Aposentou-se em 1982.
           Para não ficar ocioso, seu Jorge  assumiu outra empreitada : junto com  o amigo Antonio Braga,  começou a construir casas entre Guarujá e Bertioga. Enquanto isso, os filhos foram conseguindo concluir seus estudos.
 O mais velho se formou como Especialista  em Ponta de Estrada, as duas moças se tornaram professoras e o mais novo se especializou em Turismo.
    Com os filhos já encaminhados e  se casando, seu Jorge e dona Luizinha resolveram voltar para Mirandópolis, para curtir a aposentadoria junto de amigos, que haviam deixado aqui.  
Em 1994, vieram de mudança para cá.  Infelizmente, dona  Luizinha  partiu recentemente deixando seu Jorge muito só, após 64 anos de vida conjugal.
    Hoje , o seu Jorge vive só, mas sempre as filhas, que moram em Guarujá, e o filho que mora nas proximidades vêm vê-lo,  e não descuidam dele, preocupados com sua saúde, uma vez que está com 88 anos de idade. 
 Mas, seu  Jorge é um homem forte, simples e bem animado.  Viaja para São Paulo, para Tocantins, para Guarujá e para Andradina sempre, para ver os familiares. E vai sozinho. Tem  uma memória admirável. É muito bem humorado e diz que quer viver 
até os cem anos.
    Jorge Cury, que trabalhou quase a vida toda entre estudantes, foi soldado em tempos de guerra, foi vereador, foi construtor, foi comerciante.
        Jorge Cury, homem que experimentou de tudo nessa vida,  é um homem feliz, 
é sobretudo,  gente de fibra 
                                                                                                                Mirandópolis, novembro/2011
                               KimieOku (kimieoku@hotmail.com)           
          

            

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