Filho de libaneses, o sr. Jorge Cury
nasceu há 88 anos em Goiânia, Goiás.
Seus pais eram comerciantes. E tinham um armazém de secos e molhados, isto
é vendiam de tudo, que os fregueses precisavam no seu dia a dia, lá em Goiânia.
Quando
o menino Jorge tinha apenas dois anos de idade, seu pai faleceu
repentinamente. Diante do ocorrido, sua mãe sem condições de administrar a loja,
e cuidar de Jorge e sua irmã, vendeu tudo e veio de mudança para Vitorino, em Mato Grosso do Sul, onde moravam
seus pais, que trabalhavam na
lavoura.
Mais tarde, sua
mãe se casou em segundas núpcias com o
senhor José Haddad, que era um mascate
libanês. Com o casamento, eles se mudaram para Rio Branco, também em Mato Grosso do Sul,
onde o sr. Haddad abriu um Armazém de secos e
molhados, deixando a vida de vendedor ambulante. Alguns anos depois, mudaram-se
para Três Lagoas.
Em 1936, saíram de Três Lagoas e vieram para
Mirandópolis. O sr Haddad abriu A Casa Glória que também vendia
toda variedade de mercadorias, inclusive tecidos. Ao vendê-la para o sr.
Assad Abud, essa loja se tornaria a Casa
Santa Glória , que marcaria época por muito tempo, no comércio local e da
região.
Ao lado da loja havia uma pensão, onde se hospedou um médico baiano, que viera da Bahia. Era o doutor Edgar Raimundo da Costa,
que acabaria se casando com a
senhorita Dirce, irmã de Jorge.
Dr.
Edgar Raimundo da Costa seria uma das
pessoas mais importantes da época, não só no atendimento aos doentes, como na vida social e política da cidade.
Após vender o
armazém, a família de Jorge instalaria o Bar e Restaurante Pingüim, na esquina
da Rafael Pereira com a Domingues de Souza.
Jorge estudou até o Curso Colegial, em Lins.
E de
1941 a 1945 ficou á disposição do Exército Nacional. Normalmente, teria que prestar um ano de
serviço militar, mas como o mundo estava em plena guerra, não foi
dispensado. Continuou servindo o Exército como radiotelegrafista. Chegou a ser
convocado para ir aos campos de batalha, na Europa, mas sua convocação terminou
no Rio de Janeiro, onde foi dispensado
como 2º Tenente da Reserva. Rafael Pereira, outro jovem de Mirandópolis foi
à
guerra e acabou perdendo a vida,
lá nos campos da Itália.
Após dar baixa no Exército, Jorge trabalhou nas Casas
Pernambucanas, instaladas na Rua Rafael
Pereira .
Naquela época, era uma
construção de tábua, localizada onde hoje
é o escritório Santo Antônio. Só
vendia tecidos em metros.
A moda da roupa pronta ainda não existia, e todas as vestimentas eram
confeccionadas por costureiras e alfaiates. As Pernambucanas não vendiam eletrodomésticos.
Jorge trabalhou nessa loja de
1945 a 1946 e chegou a ocupar o
cargo de Gerente, temporariamente.
Em 1946, casou-se com a senhorinha Luiza
Arruda Leite, costureira, que viera de Matão. O casamento ocorreu numa Igreja de tábua, e foi celebrada pelo padre
Epifânio, que mais tarde seria
Monsenhor Epifânio Ibanez.
Dona Luizinha
costurou muita roupa para as senhoras da sociedade.
Em
1950, Dr. Edgar era uma das pessoas de maior destaque do
município e foi nomeado Presidente Regional do partido
político P.S.P. ou Partido Social
Progressista, cujo representante maior era o sr. Ademar de Barros, então
Governador do Estado.
Contando com o
total apoio do Governador, o cunhado Dr. Edgar conseguiu muitos benefícios para
a cidade, dentre os quais a construção do prédio do Ginásio Estadual, que mais
tarde seria denominado
Colégio Estadual Noêmia Dias Perotti.
O diretor era o
professor Pedro Perotti Neto e como Secretário foi nomeado o Dr.
Neif Mustafa.
Jorge Cury foi nomeado Inspetor de alunos,
cuja tarefa era controlar a entrada e a saída dos alunos. Essa função
permitiria que conhecesse centenas de jovens, que estudaram no Colégio, onde
trabalhou por décadas.
Dr. Edgar
conseguiu também a instalação do Posto de Saúde, onde foi o 1º médico
e atuaria por anos cuidando dos
doentes da localidade. Nessa época, não
havia nenhum hospital na cidade e nas proximidades, então o Posto de Saúde
foi uma grande conquista.
Em 1956, Jorge Cury foi eleito Vereador, mandato que exerceu até 1959,
na gestão do Prefeito Alcino Nogueira de
Sylos. Nesse período, a cidade foi beneficiada com a construção do C.A.M, Clube Atlético de Mirandópolis; do Estádio Municipal, que mais tarde receberia o
nome de Alcino Nogueira de Sylos; e da
Estação de Tratamento de Água, que ainda não existia na cidade.
Dona Luizinha, esposa do sr. Jorge Cury comandou
a cantina da nova escola por três anos, passando-a depois para a família do sr.
Orlando Bordoni, que foi o Diretor a partir de 1974.
Dona Luizinha já explorava a cantina do C.A.M
. servindo boa comida para os funcionários das empresas, que vieram se instalar na cidade. Ali ela
trabalhou durante quinze anos, com a ajuda do marido Jorge.
O casal Cury
teve quatro filhos, e nessa época , o sr. Jorge achou melhor mudar-se para São Paulo, para que os filhos adolescentes pudessem estudar.
Transferiu-se
como Inspetor de Alunos para o Colégio
Macedo Soares, que ficava nos Campos Elíseos. Era um colégio grande que atendia
a mais de 2500 alunos. Aí, ele chegou a trabalhar também de Assistente de Diretor. Aposentou-se em 1982.
Para não ficar ocioso, seu Jorge assumiu outra empreitada : junto com o amigo Antonio Braga, começou a construir casas entre Guarujá e Bertioga.
Enquanto isso, os filhos foram conseguindo concluir seus estudos.
O mais velho
se formou como Especialista em Ponta de
Estrada, as duas moças se tornaram professoras e o mais novo se especializou em
Turismo.
Com os
filhos já encaminhados e se casando, seu
Jorge e dona Luizinha resolveram voltar para Mirandópolis, para curtir a
aposentadoria junto de amigos, que haviam deixado aqui.
Em 1994, vieram de mudança para cá. Infelizmente, dona Luizinha partiu recentemente deixando seu Jorge muito
só, após 64 anos de vida conjugal.
Hoje , o seu Jorge vive só, mas sempre as
filhas, que moram em Guarujá, e o filho que mora nas proximidades vêm
vê-lo, e não descuidam dele, preocupados
com sua saúde, uma vez que está com 88 anos de idade.
Mas, seu
Jorge é um homem forte, simples e bem animado. Viaja para São Paulo, para Tocantins, para
Guarujá e para Andradina sempre, para ver os familiares. E vai sozinho.
Tem uma memória admirável. É muito bem
humorado e diz que quer viver
até os cem anos.
Jorge
Cury, que trabalhou quase a vida toda entre estudantes, foi soldado em tempos
de guerra, foi vereador, foi construtor, foi comerciante.
Jorge Cury, homem que experimentou de
tudo nessa vida, é um homem feliz,
é
sobretudo, gente de fibra
Mirandópolis, novembro/2011
KimieOku
(kimieoku@hotmail.com)
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