sábado, 26 de novembro de 2011

CIVILIZAÇÃO EM MUTAÇÃO

            
      Conversando com uma  amiga muito querida, lembramos das mudanças que ocorreram no mundo, e das quais fomos testemunhas oculares.
      A nossa geração, os nascidos  nas décadas de 40 a 60, viu o mundo se transformar vertiginosamente.
      Tivemos que lidar com mudanças extremas e, tivemos que nos adaptar para aceitá-las.
      No cotidiano, a substituição  da lamparina de querosene pela lâmpada elétrica, foi o começo de tudo.
      A energia elétrica mudou tudo, desde a troca do ferro de passar cheio de brasas, aos eletrodomésticos, sem os quais hoje a casa nem funciona.
     No que concerne à alimentação, o arroz, o feijão, o milho eram plantados e colhidos por quem quisesse comê-los.  O arroz era beneficiado nas máquinas  beneficiadoras. Hoje, essas máquinas nem existem mais...
     Laranjas, bananas e hortaliças eram cultivadas nos quintais. E isso se estendia para as galinhas, os porcos, cabras e vacas, para se ter os ovos , a carne e o leite.
     O café, essa bebida tão  corriqueira no Brasil, tinha que ser colhido, socado no pilão, torrado e moído, para só então se transformar em bebida.
     A torragem do café era feita ao ar livre, porque era muito quente e demorada.
     A torradeira cheia de  café cru descascado, era colocada sobre um fogão improvisado de tijolos no quintal, e era movimentada sobre o fogo por horas, para chegar ao ponto ideal.
     Outra tarefa terrível era  matar um porco.
     A família toda tinha que se envolver.
     Matar o bicho, sapecá-lo, retalhar separando partes, desossar, fritar a carne em tachos, fritar os toucinhos para extrair a banha, fazer as linguiças, lavar as vísceras, tudo isso fazia parte de um ritual.
     Ritual esse, que  ocorria a cada dois   meses, conforme as provisões iam acabando.
     Comia-se carne de porco assim frita e conservada em banha. A banha de porco era usada por todos, porque não existia  ainda o óleo vegetal. 
     E ninguém comprava sabão. Fazia-se em casa, com as vísceras do porco e soda cáustica.
     Toda semana era preciso fazer o pão. Guardava-se o fermento líquido de uma semana para outra, e as fornadas de pão duravam de três a quatro dias.
     Mesmo um frango, para o almoço de domingo demandava trabalho.
     Era preciso correr atrás do frango, pelo quintal inteiro, e agarrá-lo com a ajuda dos cachorros. 
     O bicho era esganado, depenado e limpo. Só então se preparava para o consumo.
     E quanto à locomoção ?
     Era feita em carros de bois, carroças ou em lombos de animais. Charretes eram um luxo.
     Automóveis, ônibus? Nem pensar!
     Havia sim, jardineiras e caminhões. Só quem era muito rico, mas muito rico mesmo é que dispunha de uma charanga ou pé de bode.
     Estudantes iam a pé  para a escola. Morassem a dois ou dez quilômetros, não importava. 
     Teriam que passar a vau um riacho?  No meio da mata sombria? Em pastagens com bois  bravos? 
     Não importava! Era a pé mesmo, e muitas vezes, sozinhos.
     Imaginar um sítio com a casa pobre de tábuas, sem água encanada, porque era tirada diretamente do poço,   sem iluminação,  sem tevê,  sem chuveiro elétrico,  com fogão a lenha... parece  um  filme de ficção,  uma fantasia.
     Mas a nossa geração viveu tudo isso. E houve muita gente que ficou estressada e doente, porque não aceitava inovações. 
     Dizia que as novidades eram coisas do demônio...
     Materialmente o mundo mudou. 
     Mudou com a descoberta da energia elétrica. 
     Não fosse isso, a televisão seria impossível. e computadores, celulares e toda a parafernália da informática. 
     Mudanças  tão radicais que nem mesmo eu, ainda não absorvi totalmente. 
     Fico imaginando o que a geração de  agora, e as vindouras irão criar  ainda...
     Será que os meios de locomoção do futuro, serão aquelas naves espaciais,  que o George Lucas  mostrou em 
" Jornada das Estrelas?
     O futuro dirá. 
     Mas tanta mutação dá um nó na cabeça.
     E não é por acaso que, a nossa geração é saudosista. Em nosso  tempo tudo era difícil demorado, trabalhoso e exigia  sacrifícios.
     Toda essa labuta construiu uma geração forte, sem preguiça, sem medo de desafios.
     Fomos forjados nas labaredas das mutações.
     E as gerações de agora?
     Os "self-services",  os "fast foods",  os serviços   "delivery" não estarão formando  gente acomodada... mais lenta e sem coragem?
     O maior desafio será sobreviver com saúde, nestes tempos de tantas facilidades...
     Para onde irá a humanidade com as mutações ?
                                      
            Mirandópolis, setembro de 2011.
                                                   kimie oku

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