Conversando com uma amiga muito querida, lembramos das mudanças que ocorreram no mundo, e das quais fomos testemunhas oculares.
A nossa geração, os nascidos nas décadas de 40 a 60, viu o mundo se transformar vertiginosamente.
Tivemos que lidar com mudanças extremas e, tivemos que nos adaptar para aceitá-las.
No cotidiano, a substituição da lamparina de querosene pela lâmpada elétrica, foi o começo de tudo.
A energia elétrica mudou tudo, desde a troca do ferro de passar cheio de brasas, aos eletrodomésticos, sem os quais hoje a casa nem funciona.
No que concerne à alimentação, o arroz, o feijão, o milho eram plantados e colhidos por quem quisesse comê-los. O arroz era beneficiado nas máquinas beneficiadoras. Hoje, essas máquinas nem existem mais...
Laranjas, bananas e hortaliças eram cultivadas nos quintais. E isso se estendia para as galinhas, os porcos, cabras e vacas, para se ter os ovos , a carne e o leite.
O café, essa bebida tão corriqueira no Brasil, tinha que ser colhido, socado no pilão, torrado e moído, para só então se transformar em bebida.
A torragem do café era feita ao ar livre, porque era muito quente e demorada.
A torradeira cheia de café cru descascado, era colocada sobre um fogão improvisado de tijolos no quintal, e era movimentada sobre o fogo por horas, para chegar ao ponto ideal.
Outra tarefa terrível era matar um porco.
A família toda tinha que se envolver.
Matar o bicho, sapecá-lo, retalhar separando partes, desossar, fritar a carne em tachos, fritar os toucinhos para extrair a banha, fazer as linguiças, lavar as vísceras, tudo isso fazia parte de um ritual.
Ritual esse, que ocorria a cada dois meses, conforme as provisões iam acabando.
Comia-se carne de porco assim frita e conservada em banha. A banha de porco era usada por todos, porque não existia ainda o óleo vegetal.
E ninguém comprava sabão. Fazia-se em casa, com as vísceras do porco e soda cáustica.
Toda semana era preciso fazer o pão. Guardava-se o fermento líquido de uma semana para outra, e as fornadas de pão duravam de três a quatro dias.
Mesmo um frango, para o almoço de domingo demandava trabalho.
Era preciso correr atrás do frango, pelo quintal inteiro, e agarrá-lo com a ajuda dos cachorros.
O bicho era esganado, depenado e limpo. Só então se preparava para o consumo.
E quanto à locomoção ?
Era feita em carros de bois, carroças ou em lombos de animais. Charretes eram um luxo.
Automóveis, ônibus? Nem pensar!
Havia sim, jardineiras e caminhões. Só quem era muito rico, mas muito rico mesmo é que dispunha de uma charanga ou pé de bode.
Estudantes iam a pé para a escola. Morassem a dois ou dez quilômetros, não importava.
Teriam que passar a vau um riacho? No meio da mata sombria? Em pastagens com bois bravos?
Não importava! Era a pé mesmo, e muitas vezes, sozinhos.
Imaginar um sítio com a casa pobre de tábuas, sem água encanada, porque era tirada diretamente do poço, sem iluminação, sem tevê, sem chuveiro elétrico, com fogão a lenha... parece um filme de ficção, uma fantasia.
Mas a nossa geração viveu tudo isso. E houve muita gente que ficou estressada e doente, porque não aceitava inovações.
Dizia que as novidades eram coisas do demônio...
Materialmente o mundo mudou.
Mudou com a descoberta da energia elétrica.
Não fosse isso, a televisão seria impossível. e computadores, celulares e toda a parafernália da informática.
Mudanças tão radicais que nem mesmo eu, ainda não absorvi totalmente.
Fico imaginando o que a geração de agora, e as vindouras irão criar ainda...
Será que os meios de locomoção do futuro, serão aquelas naves espaciais, que o George Lucas mostrou em
" Jornada das Estrelas?
O futuro dirá.
Mas tanta mutação dá um nó na cabeça.
E não é por acaso que, a nossa geração é saudosista. Em nosso tempo tudo era difícil demorado, trabalhoso e exigia sacrifícios.
Toda essa labuta construiu uma geração forte, sem preguiça, sem medo de desafios.
Fomos forjados nas labaredas das mutações.
E as gerações de agora?
Os "self-services", os "fast foods", os serviços "delivery" não estarão formando gente acomodada... mais lenta e sem coragem?
O maior desafio será sobreviver com saúde, nestes tempos de tantas facilidades...
Para onde irá a humanidade com as mutações ?
Mirandópolis, setembro de 2011.
kimie oku
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