Tenho
verdadeira paixão por fotos antigas. Descobri isso quando estive em Minas em 85, numa excursão às
cidades históricas.
Ao visitar o túmulo do ex-Presidente Tancredo Neves,recém-enterrado no
Cemitério de São Francisco de Assis em São João Del Rei, percebi que aquele campo santo
era bem antigo, do século dezoito. Movida
pela curiosidade, percorri uma ala e, constatei que ali repousavam barões,
condes e condessas há mais de duzentos anos. Os túmulos eram impressionantes,
com imagens de santos e anjos e epitáfios incríveis.
Mas não havia fotos. Naquela época, ainda não haviam criado os medalhões
com fotos de pessoas sepultas. Fiquei frustrada, porque queria ver as imagens
dessa gente, que povoou o Brasil do Império.
E de repente, despertou em mim o interesse por fotos antigas. Elas são
registros de um tempo que passou, comprovante da passagem do homem por este
mundo.
Anos mais tarde, organizei o álbum de minha família,
abrangendo o período de 90 anos.
E fiquei muito
comovida ao descobrir fotos amareladas pelo tempo, de ancestrais nossos. Gente
que viveu no Japão e no Havaí, e que nunca vi. Mas que era da mesma linhagem,
parentes.E recentemente, uma amiga de Campinas, a escritora e poeta Maria Nívea
Pinto publicou o belíssimo livro “Retalhos da memória”, que nada mais é que uma
viagem à cidade de Lavínia de 40, 50 anos atrás.
Lavínia é a cidade natal de Nívea. Mas
qualquer leitor ao ler as reminiscências dela, faz uma viagem de volta às ruas
e aos becos de sua aldeia natal, porque todas as cidades do interior são
parecidas e, as lembranças são pungentes sempre.
A capa do livro com fotos antigas é
tão linda, que chega a doer.
Retomando a leitura do livro,
percebi que é preciso registrar a época, a década, a infância, a juventude, a
vida vivida. Porque a memória vai se apagando, e tudo se perde para sempre.
Escrever, eu escrevo. E há tanta
gente que faz o mesmo. Mas, mil palavras não substituem uma imagem. Daí a
importância da fotografia.
A fotografia é poderosa.
E a impressão que
passa desperta a imaginação, e faz viajar.
É por isso que gosto de fotos antigas. E
tenho amigos que possuem fotos históricas de gentes, que construíram
Mirandópolis, e que hoje são apenas nomes de ruas e escolas.
Mas, todas essas fotos estão esquecidas em
velhos álbuns ou, em
gavetas. E um dia, quando seus donos partirem, serão jogadas
ou queimadas.
E daí? Daí que a memória
fotográfica da cidade vai virar cinza, assim como seus possuidores.
Nossa geração experienciou muitas
transformações. E fotografou tanta coisa, que hoje ninguém imagina. E essas
fotos esparsas nada significam. Elas só contam pequenos fatos de uma
história. Juntas, porém é possível elaborar uma linha de tempo dos
primórdios de Mirandópolis até os tempos atuais. Da terra dos caingangues até a
cidade que hoje cresce dia a dia.
A característica mais importante de
uma fotografia é que, ela se transforma em um depoimento, testemunha de
costumes, do “modus vivendi” de uma época.
Fotos de charangas, jardineiras, carros de
bois, boiadas, de Maria fumaça, de caminhões antigos... Fotos de ruas de terra, sem calçada, sem
iluminação... Fotos
de cafezais, de plantações de cebola, de hortas, de pomares, de granjas...
Fotos de prédios da
Prefeitura, da Câmara, da Delegacia, da capela inicial, da Igreja, das
procissões... Missões... E fotos de padres, de médicos, de enfermeiros, de professores, de
formaturas... E desfiles de Carnaval, de Bailes de debutantes, de festas
de casamentos... E
fotos de gente. Gente que andou pelas ruas da cidade, que batalhou toda a vida,
que virou nomes de ruas e de escolas.
Se
pudéssemos juntar todas essas fotos e, organizar uma linha de tempo, teríamos a
foto-história de Mirandópolis.
Poderíamos
fazer uma exposição num local público, para todos conhecerem e rememorarem.
Poderíamos organizar um álbum, um DVD, fazer uma revista, um livro... Há mil
possibilidades.
Por acaso,
você não teria uma raridade dessas?
Mirandópolis, outubro de 2011.
kimie oku
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