sábado, 12 de novembro de 2011

FOTOS ANTIGAS




Tenho verdadeira paixão por fotos antigas. Descobri isso quando estive em Minas em 85, numa  excursão às cidades históricas.    

        Ao visitar o túmulo do ex-Presidente Tancredo Neves,recém-enterrado no Cemitério de São Francisco de Assis em São João Del Rei, percebi que aquele campo santo era bem antigo, do século dezoito.  Movida pela curiosidade, percorri uma ala e, constatei que ali repousavam barões, condes e condessas há mais de duzentos anos. Os túmulos eram impressionantes, com imagens de santos e anjos e epitáfios incríveis.
       Mas não havia fotos. Naquela época, ainda não haviam criado os medalhões com fotos de pessoas sepultas. Fiquei frustrada, porque queria ver as imagens dessa gente, que povoou o Brasil do Império.
        E de repente, despertou em mim o interesse por fotos antigas. Elas são registros de um tempo que passou, comprovante da passagem do homem por este mundo.
     Anos mais tarde, organizei o álbum de minha família, abrangendo o período de 90 anos.

      E fiquei muito comovida ao descobrir fotos amareladas pelo tempo, de ancestrais nossos. Gente que viveu no Japão e no Havaí, e que nunca vi. Mas que era da mesma linhagem, parentes.E recentemente, uma amiga de Campinas, a escritora e poeta Maria Nívea Pinto publicou o belíssimo livro “Retalhos da memória”, que nada mais é que uma viagem à cidade de Lavínia de 40, 50 anos atrás.
          Lavínia é a cidade natal de Nívea. Mas qualquer leitor ao ler as reminiscências dela, faz uma viagem de volta às ruas e aos becos de sua aldeia natal, porque todas as cidades do interior são parecidas e, as lembranças são pungentes sempre.
          A capa do livro com fotos antigas é tão linda, que chega a doer.
          Retomando a leitura do livro, percebi que é preciso registrar a época, a década, a infância, a juventude, a vida vivida. Porque a memória vai se apagando, e tudo se perde para sempre.
           Escrever, eu escrevo. E há tanta gente que faz o mesmo. Mas, mil palavras não substituem uma imagem. Daí a importância da fotografia.
         A fotografia é poderosa.
  E a impressão que passa desperta a imaginação, e faz viajar.
         É por isso que gosto de fotos antigas. E tenho amigos que possuem fotos históricas de gentes, que construíram Mirandópolis, e que hoje são apenas nomes de ruas e escolas.
         Mas, todas essas fotos estão esquecidas em velhos álbuns ou, em gavetas. E um dia, quando seus donos partirem, serão jogadas ou queimadas.  E daí? Daí que a memória fotográfica da cidade vai virar cinza, assim como seus possuidores.
         Nossa geração experienciou muitas transformações. E fotografou tanta coisa, que hoje ninguém imagina. E essas fotos esparsas nada significam. Elas só contam pequenos fatos de uma história. Juntas, porém é possível elaborar uma linha de tempo dos primórdios de Mirandópolis até os tempos atuais. Da terra dos caingangues até a cidade que hoje cresce dia a dia.
          A característica mais importante de uma fotografia é que, ela se transforma em um depoimento, testemunha de costumes, do “modus vivendi” de uma época.
         Fotos de charangas, jardineiras, carros de bois, boiadas, de Maria fumaça, de caminhões antigos... Fotos de ruas de terra, sem calçada, sem iluminação...  Fotos de cafezais, de plantações de cebola, de hortas, de pomares, de granjas...  Fotos de prédios da Prefeitura, da Câmara, da Delegacia, da capela inicial, da Igreja, das procissões... Missões...  E fotos de padres, de médicos, de enfermeiros, de professores, de formaturas... E desfiles de Carnaval, de Bailes de debutantes, de festas de casamentos...  E fotos de gente. Gente que andou pelas ruas da cidade, que batalhou toda a vida, que virou nomes de ruas e de escolas.
     Se pudéssemos juntar todas essas fotos e, organizar uma linha de tempo, teríamos a foto-história de Mirandópolis.
   Poderíamos fazer uma exposição num local público, para todos conhecerem e rememorarem. Poderíamos organizar um álbum, um DVD, fazer uma revista, um livro... Há mil possibilidades.
    Por acaso, você não teria uma raridade dessas?
          Mirandópolis, outubro de 2011. 
                          kimie oku                    

                           

Nenhum comentário:

Postar um comentário