Certo amigo confessou-me que o livro "A Montanha Mágica" de Thomas Mann (1875 - Lubek, Alemanha/1955 - Zurique, Suíça) mudara o seu caráter. De um homem afoito e cínico passara a ser mais tolerante e gentil com as pessoas.
Li o livro.
O hospital estava localizado no alto de uma montanha. A vida fluía diferente. O tempo que demorava a passar era permeado de doentes que chegavam, que choravam , que se revoltavam. Era um mundo de tosses, febres, termômetros, cobertas, mantas... e a morte que sempre visitava os alojamentos.
Lá só estavam os doentes, os enfermeiros, os médicos; e a vida girava em torno de medicamentos, de injeções, de breves esperanças e grandes recaídas...
E lá na planície, de onde vieram os doentes, a vida fluía num outro ritmo - cada dia era uma luta, cheia de esperanças, para vencer os problemas do cotidiano, na competição por um lugar ao sol.
O sonho de todos os doentes era voltar para a planície, onde julgavam estar a verdadeira vida..
Mas entre longas internações e breves altas do Sanatório, o herói da história vai percebendo a passagem do tempo: o tempo acelerado da planície e o lento escoar das horas tristes no hospital.
E devagarinho, devagarinho, ele vai sentindo que as experiências da doença e da morte próxima vão polindo o seu coração, levando-o a uma inesperada elevação, que não alcançaria jamais na vida na planície.
A doença e a morte seriam passagens necessárias para o saber, para a saúde e para a vida.
Na montanha, a elevação.
Na planície, a mesmice da vida sem sentido.
É difícil ler Thomas Mann.
Tanto na A Montanha Mágica como em Morte em Veneza, o seu estilo peculiar que dá margem a dúbias interpretações, deixam o leitor abalado. Suas frases, suas asserções ficam martelando a cabeça por muito tempo, e não é fácil apagá-las.
Mas, A Montanha Mágica tem realmente o poder de intervir no comportamento das pessoas.
Para melhor, felizmente.
Mirandópolis, junho de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário