Tenho na calçada de minha casa uma sibipiruna velha, que lá está há mais de trinta anos.
Dá uma sombra magnífica e sempre no início de setembro, se cobre de flores e forra a calçada com um tapete dourado e macio.
Quando as flores acabam, ela se arma de vagens cheias de sementes esverdeadas, que voam para todos os lados, quando as cápsulas explodem.
Minha sibipiruna cresceu muito, e tem um tronco enorme. Volta e meia, temos que podar suas enormes raízes, que vão avançando e quebrando a calçada. Com os vendavais que têm nos assustado ultimamente, temo que a árvore caia , e destrua carros e casas. E por causa dessa preocupação, pedi para podar os galhos mais altos.
Um amigo veio e podou a árvore. Os galhos que foram desbastados formaram uma imensa pirâmide para o caminhão basculante levar. No outro dia tudo foi levado.
A árvore ficou quase pelada, restando-lhe
alguns galhos aqui e ali.
Minha casa passou a receber mais sol, e a vista da rua ficou panorâmica. A sala ficou mais clara e à noite a iluminação da rua ficou melhor.
Mas...
O silêncio veio morar em casa..
Não se ouve mais o pipilar dos filhotes, pedindo comida nas madrugadas. Nem a saudação dos bem-te-vis, ao amanhecer.
Desapareceram também as rolinhas, que buscavam folhas e galhos secos no meu jardim, para os seus ninhos.
O beija-flor enorme, que vinha sugar o mel ,
não veio mais.
Para onde foram os pardais, que brincavam como crianças nas poças de água?
E as grandes pombas, que ciscavam entre as flores, para onde emigraram?
E o bando de maitacas que, faziam uma imensa algazarra, à tardezinha?
Podei a árvore.
Podei junto, a sinfonia da natureza.
Podei vidas.
Percebi então que, uma derrubada de árvore ou mesmo uma poda de seus galhos, é uma tragédia equivalente a um tsunami, para os passarinhos.
O ceifador corta os galhos, e junto ceifa a vida de tantos filhotinhos e, de dezenas de vidas, que os ovos prometiam.
Perdão, passarinhada!
A poda é necessária e, não sei como evitar os estragos. Tenho consciência que dezenas de ninhos foram destruídos. Que outras dezenas de ovos se perderam. E filhotes foram sacrificados. E mães-passarinhos não entenderam nada do que fizemos. Devem estar atordoadas.
Por isso, peço perdão.
Entretanto, a chuva já vem chegando e os primeiros brotos estão cobrindo os galhos pelados.
E sei que na primavera, haverá muitos galhos verdes e muitas flores amarelas.
A árvore renascerá.
Assim como os nipônicos estão reconstruindo suas vidas, após o terremoto e o tsunami, espero que os pássaros retornem.
E refaçam os ninhos. E botem ovos. E procriem. E as mães-passarinhos cuidem da prole, outra vez.
E encham a minha casa com a alegria do seu canto.
Como a Fênix que renasceu das cinzas.
Mirandópolis,junho de junho
kimie oku
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