terça-feira, 15 de novembro de 2011

PERDÃO AOS PASSARINHOS


    Tenho na calçada de minha casa uma sibipiruna velha, que lá está há mais de trinta anos.
  É uma bela árvore da família das   leguminosas-
arvores-nativas-1
cesalpináceas, que tem folhas miúdas e dá flores amarelas.
  Dá uma sombra magnífica e sempre no início de setembro, se cobre de flores e forra a calçada com um tapete dourado e macio.
   Quando as flores acabam, ela se arma de vagens cheias de sementes esverdeadas, que voam para todos os lados, quando as cápsulas explodem.
   Minha sibipiruna cresceu muito, e tem um tronco enorme. Volta e meia,  temos que podar suas enormes raízes, que vão avançando e quebrando a calçada. Com os vendavais  que têm nos assustado ultimamente, temo que a árvore caia , e destrua carros e casas. E por causa dessa preocupação, pedi para podar os galhos mais altos.
   Um amigo veio e podou a árvore. Os galhos que foram desbastados formaram uma imensa pirâmide para o caminhão basculante levar.  No outro dia tudo foi levado.
   A árvore ficou quase pelada, restando-lhe 
alguns galhos aqui e ali.
  Minha casa passou a receber mais sol, e a vista da rua ficou panorâmica. A sala ficou mais clara e à noite a iluminação da rua ficou melhor.
  Mas...
  O silêncio veio morar em casa..
 Não se ouve mais o pipilar dos filhotes, pedindo comida nas madrugadas. Nem a saudação dos bem-te-vis, ao amanhecer.
 Desapareceram também as rolinhas,  que buscavam folhas e galhos secos no meu jardim, para os seus ninhos. 
  O beija-flor enorme, que vinha sugar o mel ,
não veio mais.
  Para onde foram os pardais, que brincavam como crianças nas poças de água? 
  E as grandes pombas, que ciscavam entre as flores, para onde emigraram?
  E o bando de maitacas que, faziam uma imensa algazarra, à tardezinha?
  Podei a árvore.
  Podei junto,  a sinfonia da natureza.
  Podei vidas.
  Percebi então que, uma derrubada de árvore ou mesmo uma  poda de seus galhos, é uma tragédia  equivalente a um tsunami, para os passarinhos.
  O ceifador corta os galhos, e junto ceifa  a vida de tantos filhotinhos e, de dezenas de vidas, que os ovos prometiam.
  Perdão, passarinhada!
  A poda é necessária e, não sei como evitar  os estragos. Tenho consciência  que dezenas de ninhos foram destruídos. Que outras dezenas de ovos se perderam. E filhotes foram sacrificados. E mães-passarinhos não entenderam nada do que fizemos. Devem estar atordoadas.
  Por isso, peço perdão.
 Entretanto, a chuva já vem chegando e os primeiros brotos estão cobrindo os galhos pelados. 
  E sei que na primavera, haverá muitos galhos verdes e muitas flores amarelas.
  A árvore renascerá.
  Assim como os nipônicos estão reconstruindo suas vidas, após o terremoto e o tsunami, espero que os pássaros retornem.
  E refaçam os ninhos. E botem ovos. E procriem. E as mães-passarinhos cuidem da prole, outra vez.
  E encham a minha casa com a alegria do seu canto.
  Como a Fênix que renasceu das cinzas.
                                          Mirandópolis,junho de junho 
              kimie oku                                       

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