"...Quando o sol se põe,
o sino da aldeia
começa tocar..."
Este verso de uma antiga canção infantil japonesa, subitamente me aflorou à memória, quando os sinos tocaram na igreja.
O verso me fez, num lance repentino retornar à infância, tão longe no tempo, na memória.
As imagens vieram aos borbotões, de forma tão nítida, como se estivesse revivendo aquele tempo, em que uma doce "batiam" ensinava a mim e a outras crianças a cantar dançando...
E por uns momentos eu me "ausentei" de mim mesma e, estive lá no passado, no tempo em que os sinos tocavam...
Até um tempo atrás, como diz a velha canção, os sinos tocavam ao pôr do sol. Era a hora do Angelus, da Ave-Maria. O sino convidava a orar.
Despertados pelo bimbalhar dos sinos, nessa hora, mesmo os mais apressados faziam o sinal da cruz, benzendo-se, ou juntavam as mãos para agradecer
a Deus mais um dia de vida.
Joseph Campbell, filósofo norte americano, que estudou os mitos durante toda a sua vida, certa vez relatou um fato interessante que vivenciou. Sempre que estava em Paris, Campbell visitava a Catedral de Chartres.
Dizia que lá , ele se sentia transportado para outro plano,
mesmo sem saber o por quê. Talvez fosse o silêncio que ali reinasse, em oposição ao burburinho da vida lá fora.
Certa vez, o zelador da igreja o convidou para subir à torre, para tocarem o sino ao meio dia.
E Campbell foi.
E ajudou a tocar o sino.
E ficou várias vezes suspenso na gangorra, enquanto toda a igreja vibrava com os sons graves que se sucediam..
doom...doommm... doommm...
Disse que foi uma das experiências
mais emocionantes de sua vida.
Antigamente, os sinos participavam da vida da comunidade.
De madrugada, convidavam para a missa matutina.
Quando ocorria um fato insólito, tocava-se o sino para chamar o povo.
Às vezes era um incêndio, outras um casamento, um
funeral...
funeral...
Hoje esse costume se perdeu,
vencido pelos meios de comunicação ultra rápidos.
Mas os sinos têm o poder de mexer com a nossa alma.
Ouvi-los nas cerimônias solenes, em memória das vítimas de tragédias,
desperta uma dor que
não dá para explicar.
E os sinos alegres de Natal são
tão revigorantes que parecem uma canção da vida.
A nossa pequena cidade
que desperta com o canto festivo dos pássaros,
e é saudada toda noite com o apito do trem cargueiro,
avisando que está de partida, ganhou mais um canto.
É o canto dos sinos.
Que tenham voltado para ficar, porque eles despertam a cidade.
Despertam a gente.
Mirandópolis, maio de 2011.
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