sábado, 11 de maio de 2019


                        A mata virgem
       Quando meus pais compraram o sítio era um pedaço de dez alqueires de mata fechada. Eram lotes compridos, que muitos japoneses compraram juntos, para formar o Bairro Oriente, perto de Tabajara.
       Não tenho lembranças do desmatamento ao redor da casa. Eu era muito nova. Mas, lembro que cada sitiante conservou um pedaço da mata, lá no fundo, que se emendava uns com outros, conservando a floresta de origem. Era mata virgem, com árvores centenárias. Acho que cumpriam determinação do Governo de preservar um décimo da propriedade com a mata natural.  Como era mata fechada havia onças, macacos e outros bichos, que vinham caçar alimentos.
        Lembro-me que uma noite, meus irmãos pegaram uma espingarda e foram empoleirar-se numa árvore à espera de uma onça que estava fazendo estragos no sítio.  Ficaram de tocaia a noite toda e não mataram nenhuma onça. 
       Mas, os macacos não davam trégua. Eles vinham em bandos de quinze a vinte roubar as espigas de milho que meus irmãos plantavam. Nós crianças tínhamos que espantá-los todas as tardes. Era uma tarefa difícil, pois os bichos eram espertos. Enquanto nós espantávamos um bando, outro descia das árvores e atacava o milharal. Nós corríamos com paus e pedras, mas eles logo saltavam para as árvores carregando espigas e faziam caretas para nós. Naquele tempo era uma tarefa estafante, mas hoje ao me lembrar de tudo isso, acho graça...
       Depois a mata desapareceu... Será que o Governo liberou e todos puderam devastar a floresta para o plantio? Se o Governo fosse mais responsável, teríamos até hoje muitas matas preservadas...
       E para onde foram os macacos e as onças?

       Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in

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