As berinjelas
Mamãe tinha o costume de trocar legumes e
carnes com os vizinhos.
Em
especial com a italiana dona Regina Paschoal, que sempre mandava um pão
quentinho na hora do café. Para retribuir, mamãe mandava alface, berinjelas e
tomates. E de vez em quando mandava um pedaço de carne quando matava porco. E a
dona Regina fazia a mesma coisa. Era uma bênção ganhar um pão de repente ou um
naco de carne.
Havia uma família de japoneses que papai
trouxera para morar no nosso sítio, porque a Fazenda onde moravam os
dispensara, e estavam passando dificuldades. Eram os Inoue, que mais tarde
foram de mudança para o Paraná.
Nessa família, havia uma batian que era especialista em dança,
arranjo de flores, etiqueta japonesa... Ela ensinava crianças a dançar, fazia
arranjos para as cerimônias de casamento... E ensinava sobretudo boas maneiras.
Um dia, mamãe pediu para eu levar umas berinjelas roxas para os
Inoue. Eram umas três, quatro berinjelas. Caminhando com as berinjelas sem
perceber fui tirando o pendão de cada uma, deixando-as meio descascadas. Chegando,
lá entreguei-as para a batian.
Ela pegou os legumes, olhou para mim e perguntou quem havia
feito aquilo.
Quando eu disse que era eu, me fez sentar num banquinho e me explicou
que, nunca se deve machucar os presentes que a gente dá. Que devemos dar sempre
coisas boas e perfeitas como presentes. E que é falta de respeito dar coisas
naquele estado para os outros. Que ela não se importava em aceitá-las, mas que
eu nunca mais fizesse isso com outras coisas. E para outras pessoas...
Eu era uma menininha de uns oito aninhos, mas nunca mais esqueci
essa lição...
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
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