segunda-feira, 6 de maio de 2019


Família
 Eu me lembro com saudades daqueles tempos difíceis, com a família toda trabalhando na roça dia após dia, até esgotar as forças.
     Mamãe dava conta dos filhos, da montanha de roupas para lavar, das dezenas de galinhas no quintal, do almoço e do lanche da tarde que levávamos todos os dias para o pessoal da roça. Eram meu pai e meus irmãos, que comiam a comida à sombra das árvores...
       À noitinha quando escurecia, todos voltavam e tomavam banho para o jantar. E nós nos assentávamos nos bancos de madeira em volta da imensa mesa da cozinha. A comida era farta, porque não faltavam arroz, feijão, mandioca, ovos, carne de porco e muitos legumes. Tínhamos repolho, acelga, batata doce, alface, agrião, quiabo, tomate, abóboras. Tudo cultivado pela família no meio do cafezal e no quintal. Nunca faltaram legumes em nossa mesa, e olhe que éramos mais pobres que pobres... E fora da época, havia sempre um nabo ou pepino curtido que mamãe preparava quando havia fartura.
       Mas, a lembrança mais linda que tenho desse momento de espera do jantar, era a figura do papai assentado na extremidade da mesa desenhando os kanjis japoneses para não esquecer. Ele o fazia com o dedo molhado em gotas de água na tábua lisa da mesa, sempre que havia um tempinho. Kanji é um ideograma japonês, cheio de traços e difícil de memorizar. A Língua Japonesa tem mais de seis mil kanjis. Na família, só eu herdei o gosto pelo estudo de Japonês, e atualmente conheço centenas deles...
        Sempre que leio algum livro em japonês, eu me lembro do papai.
 Saudades que chegam a doer....
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in


2 comentários:

  1. Bom dia, Japinha!
    Família, TAMANHO FAMÍLIA!
    Na minha imaginação vejo seu querido papai desenhando kanjis cujo significado era o seu agradecimento a DEUS por ter uma grande e bela família ali reunida e pela fartura de alimentos obtida com o trabalho de todos.
    Beijão!

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