José
João e Valdete
A escolinha cheia de cabritos e meninos
chucros me desanimou de fato. Achei que havia escolhido a profissão errada.
Fui tomar pensão na única casa que havia
no local. Era do retireiro de leite. Eram
pessoas boas, mas não sabiam nada sobre higiene. Acho que a mulher nunca tomou banho! E lavava
os três filhos pequenos numa bacia grande, um após outro sem trocar a água! A água ficava barrenta no final. Os cabelos desgrenhados
dela eram um amontoado de poeira velha... E leitões circulavam na
cozinha sorvendo o soro que caia dos queijos que ela fazia... Tudo era muito relaxado e sujo, nada era controlado.
Passei uns dias só me alimentando de
laranjas inteiras para matar a fome, só eliminando a casca e as sementes. E chorei, chorei, chorei... De pena de mim
mesma! Quem me salvou foi o senhor Roberto Dias da Farmácia que foi um dia à
fazenda, e lhe contei a minha triste situação. Ele avisou meu irmão Minoru, que
logo comprou um fogão e panelas para mim. Aí, passei a cozinhar no quarto. Muitas
mulheres foram ao meu quarto conhecer o fogão de chama azul. Nunca haviam visto
um fogão a gás...
Não havia jeito de voltar para casa nos
finais de semana, porque tinha aula aos
sábados também. Eu dependia de carona. E
muitas vezes ficava de castigo lá no quartinho...
Mas, o homem propõe e Deus dispõe. Ele colocou
no meu caminho um casal arretado de bom, que eram da Paraíba... Ou do Ceará? Eram o José João e a Valdete, que
administravam uma fazenda a quatro quilômetros da Escola. Todos os Sábados que
eu ficava na Fazenda, a dona Valdete mandava uma carroça me buscar para ficar
na sua casa, que era muito limpa e arejada.
Passava o fim de sábado e o domingo
inteiro com eles e suas três crianças. Ela fazia uma comidinha caseira muito
gostosa e passávamos horas conversando. Ela me contava de sua vida lá no Norte,
cheia de saudades. Eu ajudava nos afazeres de casa fazendo bolos e pães. Foi o
céu para mim! Na segunda feira ia de carroça com as crianças para a Escola.
O José João era um caboclo firme,
trabalhador e muito gentil. Um dia ele me deu o cachorro Jack, que estava
mordendo as canelas dos bezerros da Fazenda. O bicho estava revoltado porque o
patrão não voltava. O dono da Fazenda era um sírio libanês,
que havia ido lá no Oriente rever os parentes e acabara falecendo...
Mas o cão não aceitou a mudança e correu de volta seguramente uns quarenta quilômetros para retornar à Fazenda. E eu não tive coragem de levá-lo de novo...
Mas o cão não aceitou a mudança e correu de volta seguramente uns quarenta quilômetros para retornar à Fazenda. E eu não tive coragem de levá-lo de novo...
Valdete e José João foram a minha fortaleza.
Eles não me deixaram desistir do Magistério! Anjos no meu caminho...
Por onde andarão?
Eles não me deixaram desistir do Magistério! Anjos no meu caminho...
Por onde andarão?
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
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