As curvas do caminho...
Professora era uma das funções mais respeitadas e invejadas na época que eu estudei.
Professora era uma das funções mais respeitadas e invejadas na época que eu estudei.
Pareciam pessoas de outra casta, que pertenciam a outra
sociedade. Eram tratadas com dignidade
e respeito. Respeito era a palavra. Eu
tive uma Professora, a dona Geralda de
Almeida que era mulata, mas a cor de sua pele não diminuía a respeitabilidade que recebia dos alunos e
principalmente da comunidade. Era Professora de alta categoria e levava muito a
sério a missão de ensinar e educar. Nunca, ninguém se referiu a ela como
professora de cor. E isso foi nos anos 50, há quase setenta anos, quando o preconceito e a discriminação racial
predominavam fortemente em qualquer lugar do mundo.
E acabei me formando professora e, por um
capricho do destino voltei à escola onde estudei. Para dar aulas no Grupo Escolar de Tabajara, em Lavínia. E eu morava e moro ainda em Mirandópolis, que dista seis quilômetros
de Lavínia e esta fica a dezoito quilômetros de Tabajara... E toda manhã tinha
que tomar o ônibus que ia a Lucélia para chegar ao trabalho. O sacrifício de levantar cedo e amanhecer em
Tabajara não era nada comparado ao problema da volta. Não havia ônibus, ninguém
tinha carro, e carona era uma coisa de muita sorte.
Ser professora era um luxo na minha
cabeça inocente... Mas desses percalços
ninguém havia me falado. Depender da boa vontade de gente desconhecida, para poder chegar em casa todos os dias. Como os colegas Rubens Donalonso e o José Gomes Moreno eram muito animados, a gente esperava um tempinho no bar do Maciel para ver
se algum caminhão local ia para a cidade...
Sem paciência mais para esperar, a gente se punha a caminhar... Era um
areião bravo que enchia os sapatos e nos atolava... e não havia esses tênis confortáveis que hoje usamos. E o sol impiedoso queimava
a cuca... A Hilda é quem mais reclamava que estava com sede, que doíam as pernas,
que tinha bolhas nos pés... O Rubens fazia piada de tudo e passo a passo caminhávamos.... A
conversa era sempre agradável e dávamos muita risada, enquanto íamos vencendo
as curvas, porque a estrada tinha curvas e curvas que nunca acabavam.
Depois de termos camelado uns seis, sete
quilômetros, aparecia uma criatura de Deus de caminhão, que nos salvava. As
mulheres iam amontoadas na boléia e os homens na carroceria... Descíamos em Lavínia,
mas a Hilda e eu tínhamos que chegar em Mirandópolis. Às vezes
pegávamos um ônibus, mas muitas vezes era só carona. Nessa época, o pai da
Cristina Pesci, o seu Djalma trabalhava
na Coletoria e sempre nos dava carona no
seu Fusca branquinho. Era um senhor simpático, de boa conversa, que muitas e
muitas vezes nos salvou. Nunca lhe esqueci o nome pela sua gentileza. E descobri sua filha Cristina no face, mas não me lembro de tê-la visto um dia. E percebo que ela como o pai é uma pessoa de bem.
Seu Djalma...
Algumas vezes vínhamos de caminhão de transportar bois, que eram altos como quê. Entrar na boléia (cabine) era um grande sacrifício para mim que sou muito baixinha. Imaginem os homens subirem na elevada carroceria, forrada de excrementos de boiada...
Saíamos às seis horas da manhã e geralmente só voltávamos às 15, 16 horas. e não tínhamos vale/transporte, dedicação exclusiva nem vale/alimentação. E não éramos revoltados. E nunca limitamos nossas aulas para os alunos que lá estavam para aprender.
Apesar de todos esses contratempos SOBREVIVEMOS.
E cumprimos a nossa missão!
Com muito orgulho!
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
http://cronicadekimie.blogspot.com.br/
Seu Djalma...
Algumas vezes vínhamos de caminhão de transportar bois, que eram altos como quê. Entrar na boléia (cabine) era um grande sacrifício para mim que sou muito baixinha. Imaginem os homens subirem na elevada carroceria, forrada de excrementos de boiada...
Saíamos às seis horas da manhã e geralmente só voltávamos às 15, 16 horas. e não tínhamos vale/transporte, dedicação exclusiva nem vale/alimentação. E não éramos revoltados. E nunca limitamos nossas aulas para os alunos que lá estavam para aprender.
Apesar de todos esses contratempos SOBREVIVEMOS.
E cumprimos a nossa missão!
Com muito orgulho!
Mirandópolis, maio de 2019.
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