quarta-feira, 22 de maio de 2019


  Mamãe

 Mamãe Torá Tsutsumi viera criança do Japão, e quando era mocinha, sua mãe faleceu porque não suportou o clima do Brasil. Então, mamãe teve que assumir o serviço de casa, cuidando de tudo, dos irmãos, do pai, da cozinha, da roupa. Sua vida foi muito difícil desde criança. Teve doze filhos que cuidou com muito zelo, costurando os uniformes, as roupas de roça, sem nunca ter aprendido a costurar. Era muito caprichosa em tudo que fazia e, era sobretudo muito trabalhadeira. Trabalhou nos cafezais, nos arrozais, nos algodoais, na granja que fornecia ovos às centenas, e também na colheita de banana maçã.
Ela fazia pão uma vez por semana, torrava café na torradeira, cuidava dos animais domésticos, cuidava da horta perto de casa, além de cozinhar e lavar a roupa de toda a família. Com ela aprendemos a fazer tudo sem reclamar. Todo mundo tinha que trabalhar, sem choro, nem vela. Era pequena mas de uma fortaleza sem par.
Um dia ela descobriu o crochê, e sua vida se transformou. Como não tinha dinheiro para comprar a linha apropriada, ela fez peças lindas e finíssimas de renda com linha de carretel, que era muito fina. Mais tarde, ela faria muitas rendas de crochê para as jovens casadoiras da cidade. Peças que muitas amigas minhas ainda possuem...
Um dia, quado tinha mais de 60 anos,ela descobriu o Curso de Alfabetização de Adultos MOBRAL e lá foi à noite estudar, porque queria aprender a ler e escrever.  Até então não sabia ler e escrever nem em Japonês porque nunca estudara, por falta de oportunidade. E todas as noites foi à escola, onde aprendeu a escrever e ler com a amiga Professora Luiza Marchi. Ficou feliz por conseguir ler os livros sagrados e copiar as orações... 
Quando meu irmão Hideo ia se casar, ela ficou bastante preocupada porque sentia muitas dores nas pernas, e imaginou que não poderia participar da cerimônia. Mas, alguém lhe dissera que havia uma reza que curava todo tipo de dores... Quando ela descobriu isso, me pediu para levá-la até Lavínia, na casa de um conhecido japonês. E lá ela recebeu o Johrei. Depois, outros amigos começaram a frequentar sua casa para lhe ministrar essas orações, que eram feitas com a mão estendida sobre a parte que doía. Depois de um tempo, ela realmente ficou curada e foi ao casamento do filho.  E aí, ela se tornou um membro da Igreja Messiânica, onde evoluiu muito e ministrou orações às pessoas doentes. Era incansável, e percorreu a pé toda a cidade por mais de trinta anos, orando, orando e consolando os doentes. Ficou  conhecida como a Dona Aurora da Igreja Messiânica...
Até um mês antes de partir, ela fez um bico de crochê num pano de prato... Ela amava crochetar.  E a herança mais preciosa que nós suas filhas e netas temos dela, são as peças finíssimas de crochê, que ela fez ao longo de seus últimos anos de vida.
Eu as uso com reverência e muita gratidão.
Mamãe tinha 90 anos quando faleceu. Tive o privilégio de cuidar dela nos últimos anos de sua vida.
 Deve estar lá junto de Deus como uma filha amada, que só bem fez no mundo.

Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in










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