Numa curva do caminho...
Passado um bom tempo, encontramos o homem
vermelho que morava no meio da mata e a sua mulher.
Estavam indo para Tabajara, com latas de
dezoito litros de banha de porco no alto da cabeça. Para vender e trocar com farinha, feijão,
fumo de corda e querosene. Os porcos eram o seu sustento.
Ficamos impressionados com as duas
figuras, que se chamavam Dito Vermelho e dona Maria. O Dito tinha cabelos desgrenhados e era uma
figura assustadora, mas era manso de coração. Ninguém mexia com ele. Mas a dona
Maria era uma figura! Era pretinha, miúda, toda murcha... Usava sempre uma
blusa branca coberta com uma porção de colares de contas, e uma saia colorida bem rodada que
chegava aos pés. No alto do cocoruto tinha uma rodinha de pano onde colocava os
trens que carregava... Na boca, uma piteira. Ambos descalços. Acho que nunca usaram
calçados... Muitas vezes caminhamos juntos até Tabajara, de manhãzinha. E
sempre foram simples e amistosos.
Um dia, meu esposo que trabalhava no Banco me disse:”Preciso separar
uns trocados para a vozinha” E eu: “Por
quê?” E ele : “Hoje é sexta feira, dia
que a vovozinha passa no Banco! E ela pede bênção para todo mundo! E a gente dá
uns trocados, porque ela vem religiosamente todas as sextas feiras e não dispensa ninguém!”
Ela agradece dizendo:” Deus te abençoe, meu filho!”
Eu fiquei curiosa com essa história e um dia, quando fui ao
Banco a vi.
Era a mesma velhinha que eu conhecera na infância, há uns trinta
anos... Mulher do Dito Vermelho! Do mesmo jeitinho, saia rodada, descalça e uma rodilha de pano na cabeça. Na boca, a piteira... Não mudara nada!
Daí, saí perguntando pros meus amigos que era feito do Dito e
porque ela estava mendigando... A saudosa
Therezinha Felício me explicou que ele havia morrido e que, a dona Maria desde então
fazia essa romaria nos Bancos, para recolher o seu dízimo...
Fiquei penalizada e falei em fazer alguma coisa para ajudá-la...
Daí a Therezinha me disse:
“Kimie, ela não precisa de ajuda! Tem uma porção de casas de
aluguel em Lavínia!”
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie Oku in
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