As Bibliotecas!
Terminei o Curso Primário em 1952, e
sonhava em estudar mais.
A família era grande e pobre, por
isso nunca pedi isso para o papai. Porque todos estavam labutando na roça.
Mas meu pai era um homem perspicaz e
percebeu que eu só ficava lendo os livros de leitura repetidas vezes, os
almanaques de Farmácias... E um dia em
1953, decidiu que eu devia continuar os estudos. Meus irmãos mais velhos não tiveram essa chance, porque tinham que trabalhar e não havia Escola nas redondezas. Só mal e
mal frequentaram o Primário, enquanto havia escolas...
Fui para a cidade de Lavínia e fiquei uns
meses na casa de uns amigos de papai, os Yuwahara, um casal de idosos e dois
netos. Ali tomei pensão enquanto estudava o Curso Preparatório de Admissão ao
Ginásio, que era uma espécie de Vestibular para selecionar os alunos que as
vagas eram reduzidas.
Após ter passado no exame de Admissão, em 1954 passei
a estudar no Ginásio Estadual de
Mirandópolis, que ficava na Rua, hoje Avenida Dr. Raul da Cunha Bueno, a duas
quadras da Estação Ferroviária. Isso era bem conveniente, porque passamos a
viajar de trem de Lavínia a Mirandópolis todos os dias, no trem das 10.40 h que
chegava em Mirandópolis às 11.00 horas. As aulas só começavam às 12.30 horas. Ficávamos
no pátio da Estação esperando o tempo passar...
Mas um dia aconteceu um milagre!
Descobri a Biblioteca do Ginásio!
Era uma sala repleta de livros, de coleções juvenis e infantis. Fiquei
fascinada. Nunca sonhara ver tantos livros enfileirados nas prateleiras! Como
era uma meninota bobinha de 12 anos li todos os contos de Carochinha. Qual não
foi a minha felicidade quando descobri que podia levar livros emprestados para
ler em casa! Pegava de três a quatro livros emprestados, para ler nos finais de
semana. Foi um tempo de sonhos, de intensa felicidade. Não queria mais nada, só
ficava num canto lendo, lendo. Nem brincava com outras crianças. Só queria ler.
Mas o livro que me encantou chamava-se MAJUPIRA, um livrinho em que alunos
contavam a história de sua amada professora Maria Julia Pimentel Ramos. Amei tanto
essa leitura, que cheguei a pensar em escrever um livro, um dia... Andei
procurando esse livro, mas não achei. Nem no Google... Majupira...
Na Biblioteca não procurava livros didáticos. Só queria ler
sobre aventuras, sobre curiosidades, sobre as grandes descobertas e os grandes feitos da
humanidade. Como ninguém me orientava, lia tudo que caia nas mãos. E nunca mais parei de ler!
Fui Professora, Coordenadora Pedagógica e Supervisora de Ensino
e ao longo dos anos, percebi um fato muito triste! Quem frequenta as Bibliotecas
são os alunos, exclusivamente! Raríssimos Professores leem. Ao longo dos meus
32 anos de trabalho como Educadora posso contar nos dedos das mãos, os
Professores que realmente liam, pesquisavam, estudavam... Havia até Professores que mandavam alunos de
castigo na Biblioteca! Lugar de
felicidade e prazer transformado em lugar de tortura! Acho que esses Professores
achavam a leitura uma tortura realmente!!!
Minha amizade e meu respeito pelo Professor Gabriel Tarcizzo
Carbello estão ligados à importância que ele sempre deu à leitura. Onde quer
que trabalhasse, orientava os alunos sobre a necessidade de se informar, de
procurar livros, de comentar o que se lia para tirar conclusões. Foi até agora
para mim, o maior exemplo de Professor orientador da boa leitura, e acredito que ele deva ter formado muitos, muitos bons leitores.
Infelizmente, a era digital está acabando com as Bibliotecas.
Ninguém mais lê, ninguém mais frequenta Bibliotecas. Todo mundo só quer saber
de sínteses de livros e se limita à
pesquisa no Google. Pesquisa que ainda é muito superficial...
No meu tempo de jovem ter uma Coleção Mirador ou Delta Larousse
era o supra sumo da glória. Sonhei tanto ter essas coleções, que era como ter uma Biblioteca inteira em casa, para esclarecer todas as dúvidas de Português, História, Geografia, Ciências do mundo inteiro! Felizmente, com o salário de Professora consegui adquirir essas
Enciclopédias. Como pesquisei neles! E continuo ainda procurando informações que
o Google não oferece!
Para mim, livro continua sendo um Tesouro!
E a Educação só vai melhorar quando os Professores passarem a ler mais, a pesquisar mais, a se informarem mais.
Porque isso sim, significa crescimento!
Porque isso sim, significa crescimento!
Querida Dona Kimie,
ResponderExcluirSou seu eterno admirador. Delicio-me com suas crônicas, seus exemplos, seu jeito peculiar de escrever, desnudando a realidade, provocando reflexões várias, encantando na medida certa. Eu a conheci por volta de 1988, na Escola Ebe Aurora, já como supervisora de ensino. Caprichávamos no caderno pois as professores diziam que a "Dona Kimie" viria nos visitar, portanto, cumpria-nos "deixar o caderno bem bonito". Era sempre uma alegria indizível recebê-la, sempre sorridente, elogiando nossa dedicação ao estudos. Bons tempos aqueles! Cada pessoa tem um livro em particular, conforme aprendi com o saudoso Prof. Pierluiggi Piazzi, famoso pelos seus vídeos no YouTube, e grande incentivador da leitura. O livro da senhora foi "Majupira" (confesso que fiquei curioso; vou procurá-lo) conforme nos confidencia. Os meus foram "Zezinho, o Dono da Porquinha Preta" (série Vaga-lume) e "O Meu Pé de Laranja Lima", ambos indicados pelo mencionado Prof. Gabriel Carbelo. Nunca fiquei tão emocionado e tocado, até então. Meu mundo transformou-se com essas leituras e com as centenas de outras que viriam, anos e décadas depois. Essa sua crônica, em particular, mexeu muito comigo. Sou um leitor voraz pelo constante incentivo recebido do querido professor, amigo, mestre e ídolo Prof. Gabriel T. Carbelo, a quem a senhora, com a gratidão de sempre, valoriza e homenageia em sua brilhante crônica. Fiz magistério por influência dessas raízes fincadas nos anos 80. E leciono, em minha sala de particular, graças às sementes lançadas pela senhora e pelo mestre em apreço. Serei eternamente grato aos inúmeros professores que tive o prazer de conhecer, dentre os quais destaco, com relevância a senhora, Dona Kimie, e o querido Prof. Gabriel. Ainda ontem li uma reflexão interessante sobre leitura. Ei-la: "Quem escreve constrói castelos, mas quem lê, passa a habitá-los." Obrigado, querida Dona Kimie, por construir castelos e nele habitá-los. Somos seus hóspedes. E honra-nos, sê-los.
Muito obrigada, Marcos. Amigos meus já insistiram para que eu publicasse um livro dessas crônicas... Sempre me recusei porque o tempo dos livros está passando. Há pessoas incapazes de ler um texto de mais de cinco linhas, imagine um livro! Por isso eu me comunico através das crônicas, nas quais procuro abordar assuntos que tocam a maioria das pessoas. Infelizmente, as Bibliotecas estão cerrando suas portas, porque hoje tudo é on line. Os jornais também estão condenados. Por isso tudo me considero privilegiada em conseguir leitores como você, Marcos Roberto dos Santos que continuam me seguindo. Se publicasse livros acredito que ficariam encalhados nas stands das livrarias e revistarias... Um abraço, amigo e tenha certeza que Professor é a mais nobre das profissões.
ResponderExcluir