Gambarê!
No meu tempo de criança os costumes eram
outros. Todos tínhamos que trabalhar, mesmo que fosse depois da escola.
Eu trabalhei limpando os troncos dos
cafezais, para que os grãos que seriam colhidos caíssem em lugar limpo, sem
pedras... Derriçava os grãos maduros dos
galhos e era um serviço duro e penoso, porque machucava as pontas dos dedos e
formava bolhas nas palmas ... E a gente aguentava estoicamente tudo isso.
Ajudei papai a plantar ervilha e alho na
Semana Santa. Não sei a razão de ser nessa semana.
A lembrança mais bonita que tenho da roça é das noites
enluaradas, que papai forçava a gente a colher algodão até nove horas da noite.
Para onde quer que se olhasse, havia algodão branquinho se derramando dos capulhos,
pedindo para ser colhido. E papai dizia: “Gambarê, gambarê! Vamos colher tudo
que a gente aguentar, porque amanhã pode chover e tudo ficará perdido!”
Gambarê significa: Vamos pelejar! Não
desistam! E essa palavra tinha uma força
poderosa em nossa vida de pobres
japoneses... Papai não deixou fazendas, dinheiro e nenhum tesouro como herança. A herança foi essa palavra GAMBARÊ, que estimulou os filhos a lutarem pela vida, sem esmorecer. Temos orgulho de ter vencido sem a ajuda de ninguém.
De acordo com as Leis atuais esse nosso trabalho de crianças
teria conotação de escravidão, e papai até seria preso... Mas, todos tínhamos
que trabalhar para garantir a comida de amanhã, e ninguém reclamava.
Só que nunca, jamais passamos fome.
E eu tenho orgulho imenso de ter sido também uma lavradora.
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
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