segunda-feira, 27 de maio de 2019


              De volta a Tabajara
         

        Apanhando e aprendendo andei por outras escolas rurais, até  prestar o Concurso do Magistério Publico do Estado de São Paulo, para me efetivar no cargo de Professora. Fiz a inscrição e prestei o Concurso, sem ter a mínima ideia do que iam me cobrar e sem ter estudado nada. Mas passei! Quase raspando mas passei com 55.36 pontos.
       Lembro–me que a escolha foi na Sala Marina Cintra na Praça da República, onde estava instalada a Secretaria da Educação. Fui sozinha com a cara e a coragem para escolher. Tinha apenas duas vagas no Grupo Escolar de Tabajara, onde eu havia feito o Primário. Para fugir das escolas rurais em que teria que dar aulas para três séries diferentes ao mesmo tempo, escolhi Tabajara. Assumi em agosto de 1964, e foi uma emoção muito forte voltar ao lugar onde havia estudado uma década atrás...
       A vantagem de dar aulas para uma série apenas foi descompensada pela distância, pois eu morava em Mirandópolis e tinha que tomar o ônibus que ia para Lucélia e saia às seis horas da matina...  Chegava às sete e meia e ficava esperando o início das aulas...
       Mas tive colegas excelentes para trabalhar. O Diretor era o senhor José Corral Clemente, por sinal muito competente. E os colegas eram o Rubens Alves Donalonso de Lins, o José Gomes Moreno de Guararapes e a amiga Hilda Pereira dos Santos. Tivemos excelente convivência. O Servente ainda era o amigo Joaquim quiri ri quim quim... Naquela época dávamos aulas aos sábados também e ninguém reclamava. E o comércio funcionava o dia todo.
       Um dia eu me encontrei com o senhor Emílio de Leão, morador local antigo e padrinho de um dos meus irmãos. Morava perto da Escola e me pediu que fosse almoçar com ele de vez em quando, porque se sentia muito sozinho. A dona Pascoalina tinha falecido e os filhos ido embora...  Fui algumas vezes almoçar com ele e, nos lembramos das caronas que ele havia nos dado volta para casa, quando éramos crianças... Enquanto almoçávamos ele pedia para a moça cozinheira apanhar cachos de uva para eu repartir com os professores...
      Seu Emílio de Leão... O povo local lhe homenageou dando seu nome ao Grupo Escolar, mas até a escola já foi fechada por falta de alunos...  Saudades daqueles tempos.
       Em 1965 consegui formar um grupo de trinta e oito alunos da 4ª série.  Havia mais, mas tive que reprovar três. Dentre os formandos, destacava-se o Santo Pacheco que era levado da breca, mas muito esperto. Havia o Estêvão que fazia as contas falando assim: “Três vezes cinco, quinze, fica cinco, vai um, três vezes nove vinte e sete mais um vinte e oito. Muito bem, Estevão! Fica oito e vão dois, três vezes sete vinte e um mais dois vinte e três. Muito bem, Estêvão, vamos pra outra!” Assim era o tempo todo, eu achava uma graça. Tinha os irmãos Valdemar e Sebastão Pereira Nunes, os Santaterra, o João Marega que é um comerciante bem sucedido aqui em Mirandópolis. e tantos outros...
      Recentemente tive notícias do Sebastião que se tornou um grande empresário e mora em El Salvador na América Central. Ele disse que está prestes a lançar um livro, acho que autobiográfico. Ele domina o Inglês, o Espanhol e o Português. "De Tabajara para o Mundo" é o título do livro, e eu estou ansiosa para ler... Para mim foi muito gratificante saber que aquele menino que morava num lugarzinho perdido no fim do mundo como Tabajara conseguiu vencer os obstáculos da vida e realizar seus sonhos. Volta e meia tenho gratas surpresas de ex alunos que me abraçam e cumprimentam relembrando o tempo das carteiras escolares. Geralmente nem reconheço as pessoas, que se tornaram adultas e se transformaram, mas me reconhecem apesar dos anos que passaram.
       É muito gratificante receber notícias e abraços de ex alunos que passaram por nossas mãos. O Governo nunca reconhece o valor do nosso trabalho, e menos ainda a sociedade. mas um abraço de um cidadão honrado que, de repente vem agradecer o nosso trabalho é mais que todo a fortuna do mundo.
         Nesses momentos  percebemos que não pelejamos em vão...

          Mirandópolis, maio de 2019.
         kimie oku in
        http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

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