Dia de festa!
Embora morássemos no sítio, distante uns
quinze quilômetros da cidade, nunca faltou o necessário para sobreviver.
É verdade que a casa era paupérrima, de
madeira, as camas desconfortáveis, carentes de roupas e calçados. Mas, o uniforme
escolar não faltava e algum sapato que, geralmente a gente herdava dos irmãos
mais velhos...
Não havia luz elétrica e à noite usávamos
lamparinas, que nós crianças tínhamos a obrigação de abastecer de querosene
todas as tardes. A água era tirada do poço e filtrada nos filtros de barro.
No quintal galinhas forneciam ovos e
carnes, além das cabritas que forneciam o leite. E no chiqueiro havia sempre
porcos sendo engordados. Eram tratados com restos de comida e muito milho.
E de vez em quando matava-se um porco.
Nesse dia, todo mundo entrava na dança.
A parte dura e difícil ficava por conta de meus irmãos, que era
matar o animal, despelar, dessangrar e desossá-lo. Então, até nós crianças ajudávamos a cortar os
toucinhos, que seriam fritos no tacho para retirar toda a gordura, que era
necessária para o cozimento dos alimentos. Naquele tempo, não havia óleo
vegetal à venda. Só mais tarde apareceram as indústrias desse óleo. Mas, a
comida feita na gordura tinha outro sabor e acredito que era até mais saudável.
A gordura era guardada em latas de 18 litros, e as carnes fritas em tamanhos
grandes também eram guardadas nas latas, imersos na gordura para não se
estragarem. Duravam meses... Era a única forma de conservação, já que não havia
geladeiras. A parte difícil era limpar os intestinos do animal. Cada pedaço era
esvaziado de seu conteúdo e bem lavado e, junto com outros órgãos como rins e
pulmões eram cozidos na soda para fazer sabão. Nada era desperdiçado. Não havia sabão à venda naqueles
tempos...
Após a fritura da carne, mamãe fazia as linguiças que ficavam
penduradas junto ao fogão de lenha para serem defumados. Mas, mamãe não
esquecia de mandar um bom naco de carne para a vizinha.
Depois dessa matança, teríamos mesa farta com carne e linguiças por
um bom tempo... E era tudo muito saboroso... O cheiro que a carne e os toucinhos exalavam ao serem fritos é uma lembrança que não se esquece nunca. Tornava tudo muito apetitoso...
Por isso tudo, tenho saudades desses dias em que a família toda
se reunia para fazer de um dia comum, um dia de festa!
Anos 50 e 60...
Anos 50 e 60...
Bons tempos aqueles!
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário