Tabajara
No
terceiro ano, fomos estudar em Tabajara.
Tabajara é um
patrimônio de Lavínia, e já foi muito forte no comércio e na lavoura.
Quando iniciamos
o terceiro ano lá, a escolinha era uma casa quadrada de madeira, sem nenhum
recurso. A professora era leiga e se chamava dona Engrácia Teixeira Martins.
Era a esposa do comerciante mais forte do local. Seu Manuel da venda. Manuel
Português.
Havia duas ruas de terra, margeadas por casas de madeira. Era tudo
muito pobre e rústico. Entretanto tinha sempre um rádio tocando a música "Que beijinho doce que ela tem..." Havia uma Farmácia, uma filial de Cartório da dona
Hirtz Brandão, uma Padaria, um Açougue, alguns Bares,a Casa Aurora que vendia tecidos em metros, o Armazém do Emílio de Leão onde se
vendia de tudo e Máquinas de beneficiar café e arroz. Beneficiar era o processo
de descascar os grãos para torná-los digeríveis. Nos anos cinquenta havia sempre festança em 13 de junho Dia de Santo Antônio, padroeiro
local. E o Padre Epifânio ia celebrar missas lá, além de promover uma grande
quermesse. Nesse dia havia jogo de futebol e um baile à noite. Era tudo muito
concorrido. Os moradores de Lavínia iam em peso para lá. A Capela era simples e
bonita e foi construída pelo padre Epifânio. Fui batizada lá.
Para ir até a escola era preciso andar também quatro
quilômetros. Mas havia muitos companheiros. Eram todos de origem japonesa.
Mitiko e Yoshie Takahashi, Nobuo Sato, Katsuyoshi Watanabe, e tantos outros que
esqueci...
O que mais me marcou nessa estrada é que havia e há até hoje um pequeno Cemitério numa curva da Estrada. Ficava a uns dois quilômetros de Tabajara, e
éramos obrigados a passar sempre diante dele. No começo, passávamos com medo,
em silêncio, sempre atentos às conversas de assombrações que contavam... Mas, acabamos
nos acostumando, porque de lá nada saia e tudo era silencioso.
E aí nos perguntamos quem
teria a coragem de comer aquelas espigas?
Mirandópolis, maio de 2019.
kimie oku in
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