CIRANDA - Aviso aos navegantes
Quando idealizei o grupo Ciranda, só tinha um propósito – tirar as pessoas idosas e solitárias de suas casas, e levá-las ao encontro de outras pessoas, também solitárias.
Esse encontro seria sempre em algum recanto agradável no campo, para os convidados curtirem a natureza.
Com o apoio de amigos como o sr. Varela, o Milton Lima, o Egídio Vicente, a Ana Jacomelli, a Flora, a Mary Magro, a Chiquinha, o “Diário de fato” da Alice e o “Meu Jornal” do Fred, a Ciranda se estabeleceu.
Já realizamos quatro encontros, e todos foram excelentes. Há participantes pedindo que façamos semanalmente, tal o prazer que proporciona às pessoas sós.
Ciranda não é mais um clube social, que elitiza as pessoas. Não pretende superar, nem competir com os diversos grupos de lazer, que há na cidade. A proposta da Ciranda é muito simples – acabar com a dor mais profunda que habita o coração humano, que é a solidão.
Quem já leu Cem anos de solidão de Gabriel Garcia Márquez, entenderá o nosso propósito. Quem já teve uma bela família, a casa cheia de falas, de risos, choros e até brigas... e de repente ficou só... só quem passou por tudo isso, poderá perceber que a nossa intenção é séria e respeitosa.
E todos nós, também temos à nossa volta uma avó, um pai, um tio, um vizinho, um amigo que vive sozinho. São pessoas que um dia, tiveram famílias, foram felizes, mas por contingências da vida, os familiares partiram e os deixaram sós.
Hoje vivem enclausuradas em suas casas, sem ninguém com quem dialogar, numa tristeza sem fim...
Então, por que não formar as cirandas das famílias, dos vizinhos, dos bairros, visitando as pessoas solitárias, e dando-lhes um pouco de atenção?
Para participar da Ciranda, as pessoas são convidadas. E elas são transportadas por nós, quando não há familiares. Fazemos isso com extremo cuidado, para garantir a segurança e a integridade física delas.
Por tudo isso, não convidamos todos que querem ir.
Muitas pessoas, que querem participar já têm uma vida social ativa, pertencem a grupos de trabalho, beneficentes, ou vivem cercadas de familiares e amigos. Então, por que querem tomar o lugar de outros?
Nossos convidados são tranqüilos, e só querem encontrar os amigos e trocar notícias. Na Ciranda, fazem brincadeiras, declamam poemas, cantam e brincam de roda.
Lá, toda pessoa é ouvida e aplaudida com respeito, não tanto pelo que disse, mas sim, pelo ser humano que foi e continua sendo. O idoso de hoje também foi jovem um dia e, como tal também pelejou pela vida toda até chegar à aposentadoria. Merece respeito.
A Ciranda é saudosista?
Sim. Claro que é!
Quem viveu setenta, oitenta anos ou mais e ficou só, tem o olhar voltado para trás... há tantas recordações para relembrar e comentar... e canções que marcaram momentos especiais em suas vidas. Então, por que não cantá-las?
Cantar com amigos que, ajudam a relembrar a letra esquecida ... e matar um pouco as saudades...
Quando se brinca de roda, de mãos dadas, a intenção é fazer o companheiro perceber que, à direita e à esquerda, há alguém amigo, segurando firmemente a mão, sem distinção, sem preconceito. E fazê-lo sentir que não está mais só.
A vida passa depressa, e logo, logo, seremos nós, os idosos solitários. Assim como estamos fazendo com a geração que nos antecedeu, esperamos de todo o coração que, quando essa hora chegar, haja uma Ciranda para nos acolher, e confortar a nossa solidão.
Que haja uma Ciranda simples e despretensiosa como essa, que nos faça cirandar até o fim.
Mirandópolis, fevereiro de 2011.
Kimie oku
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