Conheci certo diretor de
Escola que, volta e meia mandava consertar as portas dos armários dos
Professores.
Eram armários bons de aço, dotados de puxadores firmes e chaves duplas. Mais ou menos com seis meses de uso, algumas portas se emperravam, as chaves travavam e era uma queixa só.
Aí, vinha o chaveiro que punha tudo em ordem. E o Diretor
dizia: “- Daqui seis meses, vou precisar
de seus serviços de novo”
E assim era . As mesmas portas, dos mesmos professores sempre
apresentavam problemas.
Um dia, perguntei a razão de acontecer sempre com os mesmos
professores.
E o Diretor: “- É que
as pessoas têm muita pressa, e sem encaixar direito a chave, giram-na
pra lá, pra cá, forçando-a. Outras vezes, fazem isso com raiva, e não há chave
que agüente” Um simples detalhe, que pode causar transtornos.
Transtorno maior, se
ocorrer com a própria casa...
Mas, o Diretor nunca disse nada aos professores afobados. E continuou
chamando o chaveiro.
Ensinar professor a usar chaves? Nem pensar!
Todos os anos, os meios
de comunicação informam que, as grandes montadoras de veículos convocam, os
proprietários do mais novos carros, para um “recall”
Isso era um fato insólito, há vinte anos atrás.
Quando os primeiros “recalls” ocorreram, os Diretores de
famosas empresas quase se prostraram de joelhos, pedindo perdão pelas falhas.
Errar era tabu.
Hoje, até isso virou rotina. Tanto é que muita gente evita comprar os carros recém-lançados, por
causa dos eventuais problemas. Só os adquirem após o recall. O mais recente
caso ocorreu com a renomada Empresa Toyota.
Por quê ocorre isso?
Porque em todos os setores há homens trabalhando, e dentre
eles, há os que “executam as tarefas apenas pelo salário”
Não pensam e nem querem
pensar que, uma peça mal feita ou mal encaixada pode provocar acidentes.
Trabalhar pelo salário.
Há gente que ganha demais pelo “serviço matado”. E fica
ofendida se o chefe lhe chama a atenção... “pelo que ganho...”
Depois que inventaram a fórmula de “dar um jeitinho”,
apareceram “profissionais em serviço marreta”, em todas as áreas. Em conseqüência
disso, hoje há roupas que se descosturam na primeira lavada; paredes que
desabam antes mesmo de concluir a obra; carros que não brecam; aviões que
perdem asas, remédios que não curam nada; telejornais que veiculam notícias
falsas, e por aí vai...
O que está acontecendo com a humanidade?
Para onde foi aquele sentimento de nobreza, que fazia o
profissional executar sua tarefa, com orgulho?
Para onde foi aquela costureira, que costurava com tanto
capricho, que mirava a obra pronta, com
satisfação?
Para onde foram os pedreiros, que trabalhavam cuidadosamente
na construção, sem transformar a rua toda em canteiro de obras?
Para onde foram os professores, que se preocupavam com os problemas de seus
alunos, e ajudavam os pais a resolvê-los?
Para onde foram os médicos que, olhavam o paciente com atenção,
e o examinavam pessoalmente? Hoje só olham os exames...
Muitos trabalhadores pensam que, cometer uma pequena falha e
deixá-la passar, é normal. E assim, vão cometendo pequenos deslizes, que irão
pouco a pouco, revelar o profissional
incompetente. O próprio indivíduo fecha os olhos para seus erros, mas a
sociedade observa e o condena, silenciosamente.
Não é por acaso que, alguns profissionais se destacam.
É que também foram
principiantes, e também cometeram enganos. Mas, a cada dia, procuraram
corrigir suas falhas, evitando cometê-las
de novo, aperfeiçoando-se sempre.
Conheci certo Capitão do Exército Nacional, que dizia todos os dias para seus soldados; “Aprenda
com o erro dos outros. Não é preciso você errar, também.”
O trabalho é um valioso instrumento, para polir o coração do
homem. A cada dia, é possível fazer melhor.
E isso é a busca da perfeição.
Mirandópolis, agosto de 2010.
kimie oku (kimieoku@hotmail.com
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