sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PERFEIÇÃO - crônica

                            
        Conheci certo diretor de Escola que, volta e meia mandava consertar as portas dos armários dos Professores.


       Eram armários bons de aço, dotados de puxadores firmes e chaves duplas. Mais ou menos com seis meses de uso, algumas portas se emperravam, as chaves travavam e era uma queixa só.
       Aí, vinha o chaveiro que punha tudo em ordem. E o Diretor dizia: “- Daqui  seis meses, vou precisar de seus serviços de novo”
       E assim era . As mesmas portas, dos mesmos professores sempre apresentavam problemas.
       Um dia, perguntei a razão de acontecer sempre com os mesmos professores.
       E o Diretor: “- É que  as pessoas têm muita pressa, e sem encaixar direito a chave, giram-na pra lá, pra cá, forçando-a. Outras vezes, fazem isso com raiva, e não há chave que agüente” Um simples detalhe, que pode causar transtornos.
Transtorno maior, se ocorrer  com a própria casa...
       Mas, o Diretor nunca disse nada aos professores afobados. E continuou chamando o chaveiro.
       Ensinar professor a usar chaves?  Nem pensar!
       Todos os anos,  os meios de comunicação informam que, as grandes montadoras de veículos convocam, os proprietários do mais novos carros, para um “recall”
       Isso era um fato insólito, há vinte anos atrás.
       Quando os primeiros “recalls” ocorreram, os Diretores de famosas empresas quase se prostraram de joelhos, pedindo perdão pelas falhas. Errar era tabu.
       Hoje, até isso virou rotina. Tanto é que muita gente  evita comprar os carros recém-lançados, por causa dos eventuais problemas. Só os adquirem após o recall. O mais recente caso ocorreu com a renomada Empresa Toyota.
       Por quê ocorre isso?
       Porque em todos os setores há homens trabalhando, e dentre eles, há os que “executam as tarefas apenas pelo salário”
Não pensam e nem querem pensar que, uma peça mal feita ou mal encaixada pode provocar acidentes.
       Trabalhar pelo salário.
       Há gente que ganha demais pelo “serviço matado”. E fica ofendida se o chefe lhe chama a atenção... “pelo que ganho...”
       Depois que inventaram a fórmula de “dar um jeitinho”, apareceram “profissionais em serviço marreta”, em todas as áreas. Em conseqüência disso, hoje há roupas que se descosturam na primeira lavada; paredes que desabam antes mesmo de concluir a obra; carros que não brecam; aviões que perdem asas, remédios que não curam nada; telejornais que veiculam notícias falsas, e por aí vai...
       O que está acontecendo com a humanidade?
       Para onde foi aquele sentimento de nobreza, que fazia o profissional executar sua tarefa, com orgulho?
       Para onde foi aquela costureira, que costurava com tanto capricho, que  mirava a obra pronta, com satisfação?
       Para onde foram os pedreiros, que trabalhavam cuidadosamente na construção, sem transformar a rua toda em canteiro de obras?
       Para onde foram os professores,  que se preocupavam com os problemas de seus alunos, e ajudavam os pais a resolvê-los?
       Para onde foram os médicos que, olhavam o paciente com atenção, e o examinavam pessoalmente? Hoje só olham os exames...
       Muitos trabalhadores pensam que, cometer uma pequena falha e deixá-la passar, é normal. E assim, vão cometendo pequenos deslizes, que irão pouco a pouco,  revelar o profissional incompetente. O próprio indivíduo fecha os olhos para seus erros, mas a sociedade observa e o condena, silenciosamente.
       Não é por acaso que, alguns profissionais se destacam.
É que também foram principiantes, e também cometeram enganos. Mas, a cada dia, procuraram corrigir  suas falhas, evitando cometê-las de novo, aperfeiçoando-se sempre.
       Conheci certo Capitão do Exército Nacional, que dizia  todos os dias para seus soldados; “Aprenda com o erro dos outros. Não é preciso você errar, também.”
       O trabalho é um valioso instrumento, para polir o coração do homem. A cada dia, é possível fazer melhor.
       E isso é a busca da perfeição.
            
   Mirandópolis, agosto de 2010.
                       kimie oku                    (kimieoku@hotmail.com
                          

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