quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CIRANDA - VIVER SÓ

          De  manhã quando o comércio abre, e o sol ainda é  ameno, a cidade se enche de pessoas sós, caminhando pelas calçadas, entrando em lojas, sem comprar nada.
            São pessoas solitárias, geralmente idosas, que saem por aí para respirar, mexer as pernas e ver uma paisagem diferente.
            O homem é um ser caminhante.  
            Ele precisa mover-se, exercitar-se todos os dias, para o sangue circular melhor.
            Enquanto vive, tem que locomover-se.
            Feliz daquele que ainda pode  andar sozinho, sem depender de ninguém, sem perder o prumo.
            As cidades estão cheias de pessoas, que no fim da vida ficaram sós, sem seus parceiros, filhos e netos. Há tantas casas, habitadas por um único morador. Se pararmos neste instante para contar, logo, logo, ultrapassamos o número de vinte.
            No Japão, o problema é mais sério, porque  a população centenária já ultrapassou a cifra de quarenta mil pessoas. A  maioria  dessas pessoas mora em pequenas ilhas, cuja população não passa de dez, vinte, trinta  velhinhos, que não aceitam deixar seu "furusato", ou terra natal...
      Seus familiares partiram, em busca de trabalho nas grandes metrópoles,
 para sobreviver.
            Acredito que o Censo, que está ocorrendo no Brasil, vá  revelar o grande número de casas, habitadas por 
um único morador. 
            No começo era um homem e uma mulher. Casaram-se, tiveram filhos, educaram-nos e os encaminharam na vida. E voltaram a ficar sós.  Mais ainda, quando um dos dois também partiu,  deixando o outro só.
            A incidência de viúvas é maior. Algo faz o homem partir mais cedo. Será que na verdade, o homem é o sexo mais frágil?
            O homem que fica só perde o prumo, fica desorientado. Ele não consegue superar a solidão como a mulher. Conheço muitas mulheres que, sobreviveram à viuvez
 por décadas.
            Como conseguem isso?
            É que elas preenchem  todo o tempo, com uma atividade física e mental; cuidando da horta no fundo do quintal, cultivando flores, criando um animalzinho doméstico, fazendo bordados, crochês e tricôs,  frequentando grupos de oração, de bingo, de taichi  e ioga, de melhor idade...
            Os homens exercem uma atividade profissional,  como uma máquina  na esteira de produção. Quando se aposentam, simplesmente perdem a referência na vida. (aqui vem à minha mente a imagem de Carlitos ou Charles Chaplin, apertando com um alicate, os botões de roupas dos transeuntes, quando  é retirado da linha de                produção...)  
Automatização. Robotização...
            Acho que a educação está errada.
            É preciso desde  tenra idade, habituar ambos os sexos a, se ocupar com atividades variadas, mesmo domésticas. Quem disse que lavar, cozinhar e faxinar  é atribuição exclusiva da mulher?
            Em geral, a mulher que trabalha o dia todo fora, quando chega em casa, prepara a comida, cuida dos filhos e organiza a casa, enquanto o homem fica só de expectador.    Lendo o jornal ou vendo tevê. Essa rotina acontece na maioria das casas.  A mulher se agita, corre e tenta dar conta de tudo,  e   o homem fica numa boa, tranquilo,
 esperando a comida.
            Mas, quando ela parte.
            A casa fica silenciosa. 
            Tudo para. 
            E aí, o homem perde o rumo na vida. Porque era um dependente  da mulher,   nas mínimas ações dentro da casa. E parece que a sua solidão dói mais.
            Que fazer então,   para doer menos? 
            Ficar lamentando seus dias vazios?
            Não fazer nada, porque
 tudo cansa, tudo custa?
            Encolher-se no casulo, à espera de milagres que iluminem seus dias?
            Esperar seu funeral passar, como disse Gabriel Garcia Marquez?
            Há tanto que fazer!
            Expôr-se ao sol de manhã.
            Varrer a calçada. 
            Molhar as plantas.
            Buscar o pão, o jornal.
            Ir ao mercado próximo, à mercearia buscar frutas, verduras.
            Levar o cão a passear.
            Tudo isso exige uma ação física, que é benéfica  ao corpo e à mente. Sem contar com a surpresa de, encontrar  algum
 amigo querido.
            A vida é uma bênção. E é preciso usufruir cada momento, com alegria.
            É preciso saborear cada instante,  com gratidão, porque a vida é tão efêmera. 
            É como uma folha  que, vai bailando
no ar, até cair no chão.
            Caiu?  Já era.
          
               Mirandópolis, 08 de setembro de 2010.
                                        kimie oku
     

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