DÉRFI
(memórias)
(memórias)
Eram os anos 50.
Dérfi era o peão que estava sempre à mão.
Era magro, comprido, sem cor definida,
feio como uma briga de foices em noite escura. A barba sempre espinhuda.
Mas era pau para toda obra.
Derriçava e abanava café, colhia algodão,
capinava, partia lenha, tratava de porcos e tocava boiada.
Todas as tardes após cuidar dos porcos,
ia ao curral e chamava: “Vem, vem,vem, em, em , em.....” e a boiada vinha.
Dava
milho e apartava os bezerros.
Dérfi devia chamar-se Delfino, talvez.
Para nós era o Dérfi, apenas. Era um homem simples, sem muita conversa, mas
trabalhador como ninguém. Não parava quieto, e ninguém precisava lhe dar
ordens, porque ele fazia o que tinha que fazer, e até o que não era sua obrigação.
Volta e meia dava um “banzo” nele e sumia lá pro Norte, talvez Bahia,
talvez Pernambuco. Ficava um bom tempo por lá.
De repente, voltava.
Bêbado, moído, sofrido, em trapos.
Ficava dois dias de molho.
Aí, acordava e retomava o serviço, como
se nada tivesse acontecido. Sempre tranqüilo, sem amolar ninguém.
Ficava uma safra de café, uma de algodão
e depois sumia no mundo. Ninguém sabia para onde ele ia.
Como era pau para toda obra, todos
sentiam sua falta e se
perguntavam:
“Cadê o Dérfi? Cadê o Dérfi?”
Um dia não voltou mais, nunca mais.
“Cadê o Dérfi?”
Mirandópolis, abril de
2010.
Kimie
oku
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