Andorinha no fio
Foi à torre da igreja,
Cochichou com o sino.
Delém -
dem
Delém - dem
Dem
- dem.
Toda a cidade ficou sabendo.
Este é um
dos poemas que aprecio muito, pela simplicidade
da mensagem tão evidente, que nem é
preciso comentar. Usando símbolos do cotidiano, a poeta conseguiu representar a
cena tão comum, de propagação de uma fofoca.
Toda a cidade ficou sabendo.
Assim, a
poetisa Henriqueta Lisboa (Lambari,
Minas,1901/ Belo Horizonte, 1985) se expressava. Com poemas simples, que diziam
o essencial, sem utilizar frases complicadas e nem termos difíceis.
Escreveu
também, poemas muito tristes, abordando sobre a morte, pela qual parecia ter uma
obsessão mórbida. Sua fala é de uma alma solitária, sem esperança, como na
Canção
Sem estrela.
Sem
estrela
Mas com
lágrimas.
E adivinha-se uma solidão, uma tristeza
infinita nos poemas, quando falam de
maternidade.(desejo não realizado?)
Por outro lado, há uma
produção lindíssima sobre Chico Rei, e sobre
a riquíssima decoração da Igreja de Santa Ifigênia
A igreja
de Santa Ifigênia
Era
pobre, pobre, pobre.
As pretas
que escavam minas
Põem ouro
nas gaforinhas.
Gaforinhas
toucas ásperas
Transformadas
em bateias,
Todas as
tardes se inclinam
Sobre a
pia de água benta.
Santa
Ifigênia do morro
Ficou
rica, rica, rica.
Usando da artimanha de passar as unhas nos
cabelos, as escravas que trabalhavam nas minas conseguiram o ouro, que o Chico
Rei usou para decorar a igreja dos negros. São histórias contadas pelos guias
aos turistas, que vão a Ouro Preto, conhecer suas centenárias igrejas.
Outro poema muito belo é Os
lírios
Certa
madrugada fria
Irei de
cabelos soltos
Ver como
nascem os lírios
Quero
saber como crescem
Simples e
belos – perfeitos!
Ao
abandono dos campos.
Mas os
poemas mais belos ainda, são os que ela escreveu para as crianças na obra O menino
poeta, onde entre outras, ela deixou preciosidades como Mamãezinha,
Coraçãozinho, Ciranda das mariposas, A ovelha,
Pirilampos...
Henriqueta
Lisboa, professora, poeta, ensaísta, tradutora, alma solitária e triste, que
soube tão bem traduzir em versos, os sentimentos
mais profundos.
Grande
poeta, que permanecerá para sempre, associada á
imagem de uma andorinha...
Henriqueta
Lisboa , poeta andorinha.
Mirandópolis,
26 de dezembro de 2011.
Kimie oku
( kimieoku@hotmail.com)
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