CIRANDA - Rachel, Rachel
O dia estava luminoso e a temperatura agradável. A chácara estava linda, cercada pela bela mata ciliar, com algumas árvores exibindo flores aqui e ali. E bois gordos pastando no campo verde.
Cheguei e percebi que já havia um grupo de cirandeiros. Após os abraços, descobri que o dono da casa estava ausente.
Fiquei decepcionada. Sem a sua companhia agradável, não teríamos também o sanfoneiro para animar a tarde.
A novidade do dia foi a presença de cinco convidadas, que os familiares trouxeram para conhecer a Ciranda. E isso foi motivo de apresentações e reencontros muito animados.
Após a primeira rodada de lanche, o pessoal ensaiou a cantoria. Mas nada dava certo. Havia grupos que destoavam e acabaram separando-se. O violeiro Squinca e o pandeirista Orozino tentaram acompanhar uma turma, e depois a outra.
O Squinca “- Tá muito destoado, esse violeiro lerdo não consegue tampar as falhas. Sem sanfona, não dá.”
Desistiu, assim como o Orozino.
A tarde não prometia. E servimos doces. E tiramos fotos, para não deixar a peteca cair.
Nisso, chegou a Rachel. Rachel de Campos Sperandio.
A professora bonita e sempre jovem, que tem uma alegria contagiante de viver. Como sempre, chegou dizendo que, só ficaria um pouquinho. Tinha que voltar logo para casa, porque o querido esposo Walter não quisera vir. Ela queria ficar, mas tinha que ir...
Após os cumprimentos, ela estava regendo o coral, cantando a plenos pulmões. Cantando e encantando a todos, com sua alegria e sua demonstração de dança de gafieira, samba, puladinho.... e quando o coral ia desanimando, ela bradava : “-Vamos de Saudades da minha terra!” E aí, a cantoria pegava. E seguiram: Casinha branca, Cana verde, Canoeiro, Cavalo preto, Menino da porteira, Beijinho doce...
Desafinação? Desarmonia?
Ninguém notou. A alegria, a comunhão de estar junto numa roda cantando e rindo, supria tudo. Era só alegria.
Rachel, já beirando os oitenta anos de vida, é uma fortaleza de mulher. Ela dá o tom de festa em qualquer ambiente, a qualquer reunião. É que dentro dela mora uma criança, uma molequinha alegre, que precisa extravasar todo o entusiasmo de viver.
Um dia, Rachel me pediu que lhe escrevesse uma crônica, quando tiver partido. E aqui estou escrevendo, porque você está viva, exuberantemente viva, Rachel! Viva como ninguém! E você é uma inspiração para todos os cirandeiros.
Se toda a humanidade possuísse um tico da sua alegria, viver seria uma festa. Não haveria solidão, tristeza. Você tem energia para driblar as lembranças tristes, e viver o momento com alegria.
“Carpe diem” é o seu lema e o seu jeito de ser só faz irradiar felicidade para todos.
A tarde do décimo encontro foi salva pela Rachel.
Todos os cirandeiros voltaram de alma mais leve, para suas casas. E gratificados.
Que Deus a abençoe, Rachel!
Mirandópolis, 26 de julho de 2011.
kimie oku
(kimieoku@hotmail.com)
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