YOSHIO – SAN (memórias)
Era um japonês de uns trinta anos.
Usava um camisolão preto, como batina de padre. De padre
pobre, porque o camisolão de tão gasto
estava avermelhado e puído, em vários
lugares. Andava sempre descalço. Tinha a cabeça raspada, a pele amarelada, e
olhos tão apagados, sem vida. Caminhava devagarzinho pelo
quintal, varrendo o chão de areia, com a aba de seu camisolão.
Todos os dias, catava gravetos secos, à sombra das enormes mangueiras, juntando-os
cuidadosamente no braço esquerdo, e ninando-os
por horas, andando pra lá, pra cá e dizendo
“ria, ria, ria, rá, rá, rá...”
Parecia estar ninando um bebê de verdade.
Ele não sabia se comunicar com ninguém, e a família o
tratava como um estorvo.
E por ser um tipo estranho, era sempre alvo da maldade dos
moleques. Atiravam-lhe pedras, e levantavam a saia, para lhe espiar as partes íntimas. Como era alienado, não entendia nada, mas
fugia de medo dos meninos.
Um dia, a família toda foi trabalhar, e para ele não fugir
de casa, prenderam-no na despensa, por
horas. Quando voltaram da roça, notaram
que ele havia comido um cacho de
bananas, que havia lá.
Sempre achei que, era apenas um anjo caído do céu,
por descuido de Deus.
Yoshio-san.
Mirandópolis, qualquer dia de 2010.
Kimie oku
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