GENTE DE FIBRA - Walter Víctor Sperandio
Quando iniciei esta coluna, tinha um propósito: contar a vida de um cidadão venerável, que muito orgulha os mirandopolenses.
Quando iniciei esta coluna, tinha um propósito: contar a vida de um cidadão venerável, que muito orgulha os mirandopolenses.
Queria narrar a trajetória de um professor, que marcou a vida de tanta gente. Gente que, em vários recantos desse nosso vasto Brasil, é unânime em dizer que se orgulha de ter sido discípulo seu.
Eu me refiro ao professor Walter Victor Sperandio.
É o Walter da Rachel, a doce e valente companheira, que se dedica inteiramente em cuidar do amado e célebre esposo.
Até agora, eu não havia conseguido coletar as informações em razão da saúde precária do velho mestre.
Enquanto isso, relatei aqui as histórias de outros amigos que ajudaram a construir Mirandópolis. Histórias que me emocionaram muito pela coragem, com que encararam os desafios da vida. Descobri que todas as pessoas têm uma história linda pra contar.
Vidas permeadas de muito trabalho, sacrifícios, grandes perdas e saudades.
Um dia enfim, consegui entrevistar o querido mestre. Não pude coletar mais, porque sua memória vem apresentando lacunas. (Por que não tive esta ideia antes?) Mesmo assim, coletei informações preciosas, que passo a relatar.
O professor Walter nasceu em Ribeirão Preto em 1930, estando pois, com 81 anos.
Partiu para São Paulo aos 18 anos, e fez o curso de Desenho na renomada Escola Caetano de Campos, Curso equivalente ao universitário, que não existia na época.
Por indicação de um parente, passou a trabalhar no Liceu Sagrado Coração de Jesus, dirigido por padres. Como escriturário do Liceu, morou numa cela, que era como denominavam os quartos dos religiosos.
Não era agradável morar lá, mas tem boas lembranças do Padre Diretor, de quem passou a ser Secretário. Além do serviço de escrituração, acompanhava o Diretor nas compras para o Colégio. Ali atuou por três anos.
Fez também o Curso de Desenho Arquitetônico, por correspondência. Esse curso deu-lhe a base para seus trabalhos de projetista.
Nessa época, prestou um concurso e foi admitido como funcionário público da Secretaria da Saúde. Foi escrevente no Departamento de Assistência aos Psicopatas. Só fazia serviços burocráticos.
Em 1959 veio para Mirandópolis como Professor efetivo de Desenho da Escola Noêmia Dias Perotti, onde atuou por décadas, até a aposentadoria em 1986.
Sua passagem pela Escola Noêmia marcou época, e mudou a visão que a sociedade tinha de um professor.
À época, todo professor impunha uma relação distante de respeito, que despertava temor. Os alunos não se sentiam à vontade diante dos professores. O Professor Walter era diferente.
Não fazia distinção de professores, alunos e funcionários. Era sempre simpático e atencioso com seus “bom dia! bom dia! bom dia!” apressados, mas carregados de calor humano.
Como era culto, capaz e minucioso nas explanações e nos traçados das figuras geométricas, o respeito que todos sentiam por ele transformou-se em reverência.
Em 1962, casou-se com a senhorinha Rachel de Campos, professora de Português, que atuou na Escola Dr. Edgar até a aposentadoria. Tiveram três filhos, um deles advogado é hoje funcionário público, a filha tradutora pela Ibero-Americana, é hoje gerente de vendas de renomada multinacional, e o caçula é Técnico em Eletrônica.
Sempre que havia um tempo disponível, o Professor fazia projetos. Alguns destes fazem parte da arquitetura da cidade. A casa em frente ao CAM foi projeto seu, encomendado pela célebre Cartorária, Dra Julieta Antonieta Simioni.
E a casa do saudoso Professor Antonio Sanvito, junto à Praça Manoel Alves de Ataíde, também foi projeto seu. Construiu ainda para sua família, duas casas imensas, que não conseguiu concluir, em razão de sua vocação perfeccionista.
Além desses, fez, gratuitamente, inúmeros projetos de casas para os amigos pedreiros, carpinteiros e pintores.
Em Mirandópolis, sua obra mais notável foi a criação e elaboração da Bandeira e do Brasão do Município. Brasão esse, que hoje estampa todos os documentos oficiais.
O busto do fundador de Mirandópolis, Manoel Alves Ataíde na praça do mesmo nome, também é arte sua.
O professor lembra que foi muito difícil moldar o gesso, porque o modelo Ataíde já era idoso, e não tinha paciência para posar.
Terminou a obra copiando os detalhes de uma foto 3 x 4, e atendendo à exigência de colocar uma presilha, com cabeça de boi segurando o lenço do pescoço, como costumava usar.
Porém é muito triste constatar que, essa obra não identifique seu artista, o Professor Walter.
Mas é tempo ainda. A Prefeitura e a Câmara Municipal poderão fazer esse reparo, colocando a assinatura do autor na obra. É obra para a posteridade, e nada mais justo que leve a chancela do Professor.
Quando mais jovem, o Professor e seus amigos costumavam caçar rãs para comer. Caçavam num brejo que havia nas proximidades da Escola Noêmia.
Um dia, ele teve a inspiração de sanear o lugar, para transformá-lo em área de lazer. Junto com os alunos, mobilizou os órgãos oficiais para drenar o local. E foi assim que surgiu o Bosque da Saúde, que recebeu melhorias com a ajuda de outros cidadãos.
Hoje o Bosque da Saúde é um ponto de referência para quem faz caminhadas e exercícios ao ar livre. É um recanto bem arborizado, que muito orgulha a todos os mirandopolenses.
Outra obra imprescindível para a cidade, que partiu do seu empenho, foi o Velório Municipal.
Durante anos, o Professor batalhou junto aos órgãos municipais para construí-lo. Quando foi Vereador, apresentou uma proposição, que foi vetada pelo Prefeito da época. As famílias sofriam muito para velar seus mortos, por falta de local adequado. E nos velórios, muitos curiosos adentravam nas casas, para bisbilhotarem e afanarem objetos.
Após muitos anos, procurando quem patrocinasse a ideia, o Professor enfim conseguiu o apoio da Loja Maçônica Acácia de Mirandópolis. Como a obra era dispendiosa, o Professor percorreu a cidade toda, com o Livro de Ouro, arrecadando fundos. A Prefeitura doou o terreno e a mão de obra, e o sonho se concretizou.
O Velório Municipal aí está e já proporcionou conforto a centenas de famílias.
O professor é ainda autor dos obeliscos do Lions e do Rotary Clube de Mirandópolis.
Além desses feitos todos, o professor realizou outros projetos, como a árvore genealógica de uma família imensa de um amigo seu. E também ajudou na elaboração de um trabalho referente a importante projeto, quando era bem jovem. Mas, por falhas de memória, não conseguiu defini-lo para aqui constar. O que é lamentável.
O professor Walter é uma pessoa iluminada. Só quem possui um ardente fogo interior é capaz de perseguir tantos sonhos e torná-los reais.
Eu, pessoalmente, fui aluna sua, assim como meus filhos. E estou muito grata pela honra de relatar os seus feitos.
A cidade de Mirandópolis deve muito a esse homem visionário que, criou os símbolos da cidade, que construiu casas, que inventou o Bosque Municipal, que favoreceu a todos com o Velório. E que deu, sobretudo, uma lição de vida como Mestre, Projetista e Cidadão preocupado com o bem estar de todos.
Walter Victor Sperandio, o Mestre, o Professor de todos nós, é gente de fibra!
Mirandópolis, setembro/2011
Kimie Oku
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