quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


                             VISÃO      (memórias)   

         Ocorreu em 1962.
    A professora  hospedava-se numa casa simples de gente da roça. E dormia no mesmo quarto, com as moças da casa.
    Eletricidade não havia, era só na base da lamparina.
    Lá fora, era uma escuridão total.
    A família de origem italiana, era composta pelo chefe da casa, um filho casado e sua esposa, duas moças , mais um rapazinho que  ia à escola, e a mãe.
Esta, era uma mulher robusta e atirada, que não tinha medo de nada, nem dos fenômenos da natureza. Quando formavam temporais que escureciam o céu, ela pegava um punhado de sal grosso e, olhando para  as nuvens ameaçadoras, murmurava umas rezas, e lançava o sal para o alto.
As nuvens se espalhavam e, a chuva vinha mansa, mansa.
Uma noite de verão, todos dormiam, cansados da labuta na roça. A casa estava silenciosa e escura.
De repente, a máquina de costura da sala começou a costurar : tec, tec, tec, tec, tec, tec, tec , tec........
A professora ficou arrepiada. Quem estaria costurando na escuridão? Morta de medo, se envolveu nas cobertas, para não escutar o barulho. A costura parou. Daí a pouco, começou de novo:  tec, tec,tec,tec,tec,tec,tec,tec.... mais acelerado, agora.
Não dava para ignorar  o barulho.
A dona da casa deu uma tossida, do outro lado da sala, onde dormia, e falou : “A senhora escutou, professora?”
“- Sim, o que é isso?”
  “- Acenda a lamparina, e vamos ver! Quando eu contar até três, saímos do quarto, está bem?”
     “- Es... tá  ...bem”.
     “- Um, dois, três!”
          A professora, tremendo de medo, de pés no chão, e lamparina na mão, abriu a porta ao mesmo tempo, que a senhora.
     Qual!
        Eram apenas dois gatinhos da casa, que estavam brincando no pedal da velha  máquina de costura...indo pra lá, pra cá, prá lá,
prá cá...

Qualquer dia de 2006.
       Revisado em 22 de dezembro de 2011.                
          kimie oku (kimieoku@hotmail.com)                     









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