quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

 SABEDORIA






   Outro dia ouvi de um amigo que sua  nonagenária  avó já  falecida, costumava dizer  que não se deve pelejar em terra  ruim, insistir com quem  não quer, e  amar  a  quem não nos ama.
Essas idéias de uma senhora simples, que não era nenhuma filósofa, me impressionaram bastante.
Que herança  sábia ela deixou para os seus !
Realmente, pelejar em terra ruim é pura perda de tempo, porque nada vinga em terra infértil. É como pregar para surdos, ou melhor para quem não quer ouvir.  Já testemunhei, tantas  mães explicando certos procedimentos para os jovens, mas eles não escutam, e tratam o assunto com tão pouco caso.
   Vejo a displicência com que muitas meninas atendem aos pedidos dos adultos, como se fossem pessoas importantes demais, para  lhes dar atenção. E os adultos preocupados  com a vida delas , continuam pregando, corrigindo, aconselhando, se humilhando.
Tudo em vão. Perda de tempo.
Esses jovens fadados  a um destino duro e problemático, não percebem que  a pregação é por amor, para evitar que tropecem e caiam nos caminhos da vida. Mas, eles preferem os seus métodos, as suas táticas, os seus erros, as suas cabeçadas. E acabam construindo um  destino infeliz, para si e para os seus.
  Até a Bíblia tem uma parábola em que o semeador saiu a semear. As sementes caíram em diversos solos: em terras áridas, sobre rochedos duros, sobre espinheiros, junto de  aves que as comeram, não permitindo que germinassem.
 E só nasceram as sementes que caíram em terras férteis, já denunciando há milênios, que é inútil semear e pelejar em terra ruim.  (A avó estava certinha)
  A relação humana é de fato muito difícil, porque as pessoas não se desarmam, não abrem o coração para ouvir o outro. A desconfiança e a má vontade permeiam  os contatos do dia a dia, estragando  até uma  união, que prometia uma vida saudável a dois.  
  Insistir com quem não quer. Como fazemos isso todos os dias ! Com os filhos pequenos para que comam verduras, que não masquem chicletes; com os adultos para que deixem de fumar, de beber, de consumir porcarias...
  E essa, é uma das artimanhas dos vendedores  através do telefone, oferecendo cartões de crédito, seguros de vida, de casa, de carro, enfim, oferecendo coisas que ninguém quer. E os vendedores de loja que, têm que atingir certa quota estabelecida pelo patrão, como insistem em empurrar produtos, que não     nos interessam .
  Nós mesmos, às vezes insistimos convidando pessoas para participarem de eventos, de  reuniões, de festas, que muitas vezes acabamos ouvindo : "É, eu fui porque você insistiu tanto, mas ..."
 E como diz esse mesmo amigo, que herdou os conselhos da avó: “Deixe quieto quem não quer, talvez prefira a tristeza de sua solidão... porque na pior das hipóteses, ele sempre  terá um motivo  para  se queixar...”
    Amar quem não nos ama.
    Isso todo mundo faz. Não tem jeito.
    Se  todos  amassem só  quem os ama  não  haveria
desentendimentos, separações, desquites, divórcios.
    A vida seria uma maravilha ! 
   Os filhos, quase sempre, percebem que amavam seus pais quando eles se vão. Muitos filhos passam a vida toda, sem corresponder ao carinho dos pais, e quando acordam é tarde.
    Mesmo casais, de longa convivência de mau humor mútuo,  só percebem  que na relação havia amor, quando se separam e ficam sós. No cotidiano,  tudo parecia desamor pela má vontade, pela falta de atenção, por falta de interesse. A rotina da vida comum parece embotar  as expressões de carinho.
     E quando chega a solidão de viver só, de  ter a casa vazia... só então percebe que o outro preenchia um espaço importante em sua vida.
     Mas o ser humano tem o livre arbítrio.       
    Por  isso ele pode escolher se, vai  pelejar  em terra ruim, se quer insistir com quem não quer, se vai  amar a quem não lhe ama.
    O sofrimento também é de livre arbítrio.
               
                         Mirandópolis, novembro/2011
                                                          kimie oku
                                  (kimieoku@hotmail.com)         

Nenhum comentário:

Postar um comentário