Outro dia ouvi de um amigo que sua nonagenária avó já falecida, costumava dizer que não se deve pelejar em terra ruim, insistir com quem não quer, e amar a quem não nos ama.
Essas idéias
de uma senhora simples, que não era nenhuma filósofa, me impressionaram bastante.
Que herança sábia ela deixou para os seus !
Realmente,
pelejar em terra ruim é pura perda de tempo, porque nada vinga em terra
infértil. É como pregar para surdos, ou melhor para quem não quer ouvir. Já testemunhei, tantas mães explicando certos procedimentos para os
jovens, mas eles não escutam, e tratam o assunto com tão pouco caso.
Vejo a displicência com que muitas
meninas atendem aos pedidos dos adultos, como se fossem pessoas importantes
demais, para lhes dar atenção. E os
adultos preocupados com a vida delas , continuam
pregando, corrigindo, aconselhando, se humilhando.
Tudo em vão.
Perda de tempo.
Esses jovens
fadados a um destino duro e
problemático, não percebem que a
pregação é por amor, para evitar que tropecem e caiam nos caminhos da vida.
Mas, eles preferem os seus métodos, as suas táticas, os seus erros, as suas
cabeçadas. E acabam construindo um destino
infeliz, para si e para os seus.
Até
a Bíblia tem uma parábola em que o semeador saiu a semear. As sementes caíram
em diversos solos: em terras áridas, sobre rochedos duros, sobre espinheiros, junto
de aves que as comeram, não permitindo
que germinassem.
E só nasceram as sementes que caíram em
terras férteis, já denunciando há milênios, que é inútil semear e pelejar em
terra ruim. (A avó estava certinha)
A relação humana é de fato muito difícil,
porque as pessoas não se desarmam, não abrem o coração para ouvir o outro. A
desconfiança e a má vontade permeiam os
contatos do dia a dia, estragando até
uma união, que prometia uma vida saudável
a dois.
Insistir com quem não
quer. Como fazemos isso todos os dias ! Com os filhos pequenos para que comam
verduras, que não masquem chicletes; com os adultos para que deixem de fumar,
de beber, de consumir porcarias...
E essa, é uma das artimanhas dos
vendedores através do telefone,
oferecendo cartões de crédito, seguros de vida, de casa, de carro, enfim,
oferecendo coisas que ninguém quer. E os vendedores de loja que, têm que
atingir certa quota estabelecida pelo patrão, como insistem em empurrar
produtos, que não nos interessam .
Nós mesmos, às vezes insistimos
convidando pessoas para participarem de eventos, de reuniões, de festas, que muitas vezes
acabamos ouvindo : "É, eu fui porque você insistiu tanto, mas ..."
E como diz esse mesmo amigo, que herdou
os conselhos da avó: “Deixe quieto quem não quer, talvez prefira a tristeza de
sua solidão... porque na pior das hipóteses, ele sempre terá um motivo para se
queixar...”
Amar quem não nos ama.
Isso todo mundo faz. Não
tem jeito.
Se todos amassem só quem os ama não haveria
desentendimentos,
separações, desquites, divórcios.
A vida seria uma
maravilha !
Os filhos, quase sempre, percebem que
amavam seus pais quando eles se vão. Muitos filhos passam a vida toda, sem
corresponder ao carinho dos pais, e quando acordam é tarde.
Mesmo casais, de longa convivência de
mau humor mútuo, só percebem que na relação havia amor, quando se separam
e ficam sós. No cotidiano, tudo parecia
desamor pela má vontade, pela falta de atenção, por falta de interesse. A
rotina da vida comum parece embotar as
expressões de carinho.
E quando chega a solidão de viver só,
de ter a casa vazia... só então percebe
que o outro preenchia um espaço importante em sua vida.
Mas
o ser humano tem o livre arbítrio.
Por
isso ele pode escolher se, vai pelejar em terra ruim, se quer insistir com quem não
quer, se vai amar a quem não lhe ama.
O sofrimento também é de livre arbítrio.
Mirandópolis, novembro/2011
kimie oku
(kimieoku@hotmail.com)
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