quinta-feira, 20 de outubro de 2022

 

        Morte e vida Severina


    Penso que todos que leram essa obra de João Cabral de Mello Neto devem ter se emocionado profundamente. É a história de todo nordestino sofrendo com a seca, com a falta de chuva, com a fome, com a perda de filhos... Uma vida tão dura e seca como a própria terra esturricada.

Mas, pensando bem, toda mulher é assim. Sofre mesmo quando há chuva, mesmo que não falte comida, mesmo na estabilidade.  Mulher/mãe tem a sina de sofrer pelos filhos desde o dia em que os pare, até o último alento. Mesmo não sendo mãe, sendo apenas uma irmã, uma tia, uma avó, uma madrasta sofre. Porque a mulher é sensível e não gosta de ver ninguém entristecido. A dor do outro é também a sua dor.

Vida Severina é o que toda mulher carrega desde que nasce mulher. A mulher não se desliga, vigia noite e dia e ora dia e noite pelos filhos, pelo esposo, pelos irmãos, pelos pais, pelos vizinhos... Mesmo não querendo, inconscientemente carrega toda a dor do mundo. Deus lhe deu um fardo pesado demais. E é por isso que essas vidas severinas adoecem, combatem as dores bravamente, pelejam para viver, pra continuar a dura missão de defender a prole, e tornar confortáveis seus caminhos...

Assistimos há pouco, uma vida tão bela machucada pela missão severina. E de quem é a culpa? De ninguém. Porque está no próprio sangue esse calor de abraçar o mundo, para defender das intempéries todas as criaturas que ama... Então, o amor é a causa primeira dessa vida Severina. Vida forjada na dor, na responsabilidade, na vontade de ajudar, de participar. Mesmo à custa da própria vida, porque o amor é maior e não pode ser contido. Amor Severino é abdicar-se da própria vontade para servir a outrem. Para servir à família, aos amigos, à cidade, à Nação.

Regina Mustafa, que sua gloriosa vida Severina sirva de guia para todos nós mirandoplenses.

Mirandópolis, 19 de outubro de 2022.

kimie oku

in http://cronicasdekimie.blogspot.com