sexta-feira, 26 de setembro de 2014



                                Cirandando na AMAI
    
   Ontem dia 26 de setembro, novamente fomos cirandar na AMAI.
   O dia estava ensolarado e bonito, depois da última chuva.
     Lá pelas catorze horas foram chegando os cirandeiros, e todos foram recebidos com alegria pelos funcionários da Instituição. Após os cumprimentos, abraços e troca de notícias, foi servido um lanche com refrigerantes a todos, incluindo os internos da casa.
     Aguardamos a chegada dos músicos, que por compromissos outros não puderam comparecer. Mas, a turma não deixou por menos, cantou todas as músicas conhecidas, brincou de ciranda, e deu oportunidade para outros se manifestarem. Seu Orlando como sempre declamou seus poemas e foi bastante aplaudido. A Nair declamou uns poemas cômicos, assim como o Professor Dinho. A Kimie consultou o grupo sobre a forma de comemorar o aniversário da Ciranda, que completará quatro anos de atividades em 15 de outubro próximo. Ficou combinado que será um almoço a ser degustado na Cozinha Caipira, entre os dias 15 e 20 de outubro.

       Depois de uma pausa para repor as energias com mais lanche, o pessoal voltou a cantar e a dançar.
Foi uma tarde agradável e diferente para os moradores da AMAI. Prometemos voltar novamente.
      


Mirandópolis, setembro de 2014.
       Kimie oku





terça-feira, 16 de setembro de 2014



                                               Salas de espera
  Em alguma revista, vi certa vez a reprodução de um quadro intitulado “Sala de Espera”, de um pintor cujo nome não memorizei.
   O que me chamou a atenção foi a postura das pessoas ali representadas; umas tombadas de lado, outras com o corpo totalmente curvado em má posição, outras encolhidas cochilando enfim, todas demonstrando extremo cansaço pela longa espera.
  Eu me lembrei dessa pintura ao passar pela mesma experiência, recentemente. Em razão da idade, tenho procurado médicos e visitado laboratórios para os devidos exames. E onde quer que fosse, as salas de espera estavam sempre lotadas de gente aguardando, aguardando...
   Clínicas e laboratórios particulares, cujas consultas e seus respectivos exames agendados com bastante antecedência, nunca me atenderam na hora marcada. Havia sempre gente demais para ser atendida, antes de mim.
   Mas, as salas de espera de Centros de Saúde e Hospitais Públicos me deixaram estarrecida, com sua lotação. As salas estavam superlotadas, e mais gente chegava sem parar. Não havia cadeiras nem bancos vagos e nem parede para se encostar o corpo. E não é brincadeira ficar de duas a mais horas de pé, plantada sobre as próprias pernas, sem nenhum apoio.
   No início, cada paciente que chega, na esperança de ser logo atendido, fala e explica a que veio – consultar sobre uma dor aqui e ali, sobre o colesterol alto, sobre o nível do diabetes... E alguém lhe oferece gratuitamente, receitas de chá de maracujá, de erva cidreira, de berinjela... Aí a conversa vaga sobre conhecidos que sararam só com o tratamento de chás. Mas, alguém do contra mete a colher na conversa, dizendo que um parente morreu, porque não procurou ajuda médica e só tomou chás... E nesse ponto, a conversa que estava tão animada acaba morrendo.
    E o silêncio... E gente bocejando, bocejando. E gente que estica os braços para o alto, como se fosse alçar voo... A letargia toma conta de todos. E tal qual o quadro a que me referi antes, todos assumem umas posturas inacreditáveis – se apoiam no corpo de parentes e tiram cochilos... e chegam a ressonar... Outros se dobram para frente como marmotas, outros se esparramam como se estivessem numa banheira... Mulheres largam o corpo e abrem as pernas numa postura inconcebível de feia... Cópia fiel do quadro!
    A espera é cansativa! Parece que a vida para quando se espera... As horas não passam... E tudo irrita porque o ambiente não é agradável.
     Aí de repente, chega um caboclo afobado dizendo que tem que voltar logo, porque tem um compromisso. “Tou aqui para fazer um favor a um amigo. Não é pra mim, não! Eu não preciso, mas tenho que marcar uma consulta para um amigo. Eu preciso ir embora logo, porque tenho um compromisso. Tou com muita pressa!” Tudo em altos brados para todos ouvirem.

    E ele repete o mesmo discurso mais de dez vezes, até que alguém que também aguardava lhe diz: “Entra na fila e fica quieto!”
   Naquele momento, achei que a questão seria resolvida e calaria a boca do cidadão, mas qual! Ele entra na fila e se volta para a corajosa senhora, que o interpelou e começa a gritar; “Mas, que mulher malcriada! Não mexi com ninguém e ela vem falar assim comigo! Onde já se viu? Não faltei com a educação e ela vem me ofendendo!” E por aí prosseguiu, com o novo discurso provocando a pobre senhora. Por sorte, ela não retrucou, creio que deva ter percebido que não valeria a pena.
    Mas, a lengalenga do homem não parou, cada vez mais exaltado. Acho que por ter sido interpelado, se julgava no direito de magoar a senhora e atormentar os presentes. E gritava, e gritava. O ambiente estava insuportável...
   Por sorte, fui chamada para a consulta e deixei o corredor do barulho. Fui atendida e logo que saí, vi que a coisa continuava no mesmo tom... Então procurei alguém para resolver a questão, mas a encarregada da ordem na sala não estava disponível...
  E vim embora com muita pena dos meus irmãos brasileiros.
     

    Mirandópolis, 08 de agosto de 2011.

   Ps.: A presente crônica foi elaborada em 2011. Como o assunto é atual e real, resolvi publicá-la novamente.

    kimie oku

    in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

sexta-feira, 5 de setembro de 2014



        Quando os ipês florescem

   ,Agosto, mês de cachorro louco, de poeira, da seca sem fim... De queimadas, cujas fumaças fazem os olhos arderem tanto. De saudade das chuvas abençoadas... Do gado magro no pasto berrando: bé, bé, bé numa tristeza sem fim, pedindo água e capim.. Dos bezerros magros implorando leite o dia todo. Do pasto ralo e seco que não sustenta a vacada triste...
   Mês de agosto é um tempo duro no calendário. Todo mundo suspirando pelas chuvas, economizando água, e reclamando do preço das hortaliças e frutas, que chega às alturas...
     Mês de agosto é longo, tem 31 dias, que nunca acabam; mais ainda porque julho também teve 31 dias...
     Em agosto, todo mundo espera a chegada de setembro. Até a palavra “setembro” tem uma ressonância mais vibrante, pois lembra o alegre bimbalhar dos sinos. “Agosto” por outro lado lembra desgosto, deposto, imposto... Ai, nem me fale!
   
 Setembro já é outra conversa. É o mês da Primavera, das flores, da natureza se enfeitando de cores. É tempo dos pássaros se acasalarem, das borboletas fazerem seus bailados nos jardins floridos. É tempo dos namorados passearem de mãos dadas pelas ruas iluminadas pelo sol...
    Setembro é o mês que chama as chuvas, que chegam com força total em outubro, dando um banho completo na natureza. Setembro é um tempo agradável de doces perfumes no ar, de tardes longas e iluminadas...
    Entretanto, agosto tem uma vantagem sobre setembro. Apesar da seca prolongada, dos açudes secando cada vez mais, dos pombinhos gritando “fogo apagou! fogo apagou!”, no meio da pastagem cinzenta e triste, um milagre acontece!
   Em agosto, quando tudo está seco e triste, os ipês começam a florescer. No meio de um bosque, à beira do caminho, na beira das rodovias, no meio da pastagem seca, no meio do canavial, eles se destacam, cobertos de flores rosas, brancas ou amarelas.
    Florescem num deslumbre de encher os olhos. No meio do nada, uma árvore se veste de roupagem de gala, toda em dourado, em branco ou em rosa. E se destaca justamente porque ao redor está tudo morto, seco e triste. Não há quem não aprecie um ipê todo vestido de amarelo dourado, chamando a atenção de longe, como um convite para descansar os olhos da paisagem descolorida, que o cerca.
    E como as sombras são muito raras nessa época, o gado procura se abrigar bem aí do sol ardente. E é muito bonito de se ver as vacas brancas debaixo dos ipês coloridos...
    Quando se fala de ipês floridos, lembro-me de um senhor japonês que esteve aqui em Mirandópolis. Aproveitando a oportunidade, quis conhecer as Alianças e a Comunidade Yuba. Um amigo o levou e no meio do caminho, o estrangeiro começou a gritar para parar o carro. O motorista assustado perguntou-lhe o que havia acontecido. Sem dizer uma palavra, apontou para um ipê rosa todo florido e correu para ver a árvore de perto. Estava longe, no meio de um pasto, mesmo assim lá foi ele correndo e falando alto sem parar. Quando o motorista o alcançou junto do ipê, o homem estava encantado com a beleza das flores, e disse: “Por que os brasileiros apreciam tanto o sakurá do Japão, se vocês têm essa beleza aqui?”
     A diferença é que nós não temos olhos para apreciar essas dádivas da natureza. Estamos tão acostumados com seu florescimento, que nem todas as pessoas reparam nelas.
     Assim como os ipês que florescem na época mais seca do ano, outras plantas sofrem transformações ao longo dos meses. É o milagre da vida trabalhando na natureza. Florescem deslumbrando o mundo com sua beleza e, espalham suas sementes para a reprodução. E essa disseminação das sementes contendo novas vidas, ocorre lá pelos meados de outubro, quando chuvas torrenciais garantem o surgimento de novos pés e de novas árvores. A natureza é sábia, funciona por ciclos bem programados.
    Mas, dirão: “Em setembro também há ipês floridos!” É verdade, não resta dúvida! Mas, o florescimento começa em agosto e continua pelo mês seguinte. Parece que a natureza quer compensar a tristeza da paisagem com suas belas flores.
     E falando em árvores, lembrei-me que há pouco tempo descobrimos uma paineira de flores vermelhas, bem ali na rua que vai para o Kaikan velho, beirando a ferrovia. E me disseram que, existe ainda paineira amarela e branca. Achei muito interessante, porque só conhecia a paineira rosa, que é linda também.
     E falando nisso, será que a paineira vermelha já não estará cheia de painas? Precisamos colher as sementes para reproduzir a espécie que é mais rara. Se deixar que os caroços se abram, as sementes irão embora. Temos que ficar de vigília, para colher.
    Os moradores da Rua Profeta Gentileza precisam colher as sementes. E garantir a continuidade da espécie.

Mirandópolis, agosto de 2014.
       kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/

     

terça-feira, 2 de setembro de 2014


                   Dia dos Pais
                 
      Na véspera do Dia dos Pais estive no pequeno cemitério em Lavínia, e levei velas, flores e incenso para os meus pais.
     Sim, porque dia dos Pais é Dia das Mães também, pois ninguém gera um filho sozinho.
    Ir à campa, onde repousam nossos ancestrais está ficando fora de moda, pois só os mais idosos é que cumprem essa reverência.
    Mas, esquecer os que nos geraram é como se renegasse a própria origem, como se os pais não existissem e nem tivessem importância alguma. Como se tivesse brotado do chão...
  Eu sou de origem japonesa, e como tal aprendi a reverenciar os antepassados, mais ainda os genitores, porque sem eles eu não existiria, com certeza.
   Por que será que os seres humanos estão ficando tão vazios de sentimentos?    Cada indivíduo está ficando mais e mais arrogante, e não dá a mínima para gestos de gratidão, de respeito para com os mais idosos, os mais experientes. Parece que, no momento em que aprendem a cuidar de suas vidas, dispensam os pais como se quisessem descartar deles. Isso é muito ruim porque os pais envelhecem, e vivem muitos anos ainda, geralmente abandonados e esquecidos como chinelos velhos, sem préstimo.
   Eu tive pais muito pobres, que nunca comemoraram aniversários, nem os próprios, nem os dos filhos, porque não havia lugar para esses luxos na vida dura que tivemos.  No calendário japonês que seguíamos, por tradição herdada de ancestrais do Japão, só comemorávamos o Dia 1º do Ano Novo, o Dia do aniversário do Imperador do Japão e os casamentos de membros da família. Natal nem pensar... Fazer o quê? Tradição era tradição.
   Hoje há festas o ano todo, comemora-se tudo, desde o anúncio de uma gravidez, a chegada do bebê, o anúncio de noivados, de casamentos, formaturas iniciando com a de Pré-Escola, até a formatura definitiva de Faculdade. Comemora-se a vitória do time, a promoção de cargo no trabalho, a nova casa, o novo carro, enfim tudo é motivo para festa. Dia dos Pais e Aniversários mesmo sendo tradição, se transformaram apenas numa reunião para se comer mais e beber mais.
   O que importa, os laços de família estão cada vez mais frouxos e muitas vezes totalmente esquecidos... Só importam as reuniões de amigos, onde cada um quer aparecer com o carro mais moderno, com os celulares da moda, com roupas chiques...
   Mas, os anos passam, e esses filhos deslumbrados da vida chegarão à idade de perceber que tudo isso é vão, que nada disso importa. Importa sim, viver bem cada momento, para um dia olhar para trás e perceber que, não viveu inutilmente, que tudo foi feito conforme os mandamentos de Deus e da tradição de família.
  Nossa geração está indo embora e, fico pensando no mundo que deixaremos para as futuras gerações. Será que a vida se resumirá em festas, cervejas e churrascos?
   Quando éramos jovens, nossos pais nos ensinaram uma coisa chamada moderação. Para tudo deveria haver moderação. Comer, beber, falar, brincar, passear, namorar com moderação, para não perder o controle da situação.
    Hoje ninguém é moderado, e se for, já, já será tachado de fraco, de bicha e que tais... Exagera-se em tudo: em vestir, em falar alto em qualquer ambiente, em gritar, em tirar satisfações, em dar queixa disso e daquilo...
   É a moda atual. Mas incomoda muito. E é muito feio e desagradável. Acho que sou de outros tempos, porque não aceito certos exageros. Abraços tão falsos, é querida pra cá, querida pra lá, mas na verdade não há liga, não é sincero. E a vida é tão preciosa para gastá-la fingindo...
    Tive a ventura de conviver com pessoas muito simples, que me deram muito carinho e respeito. Gente que nem sabe expressar seus sentimentos, mas que sabe ser generosa na hora certa, sem salamaleques e sem oba obas. A vida deveria continuar nessa simplicidade, porque é tão breve e o momento que passou não volta nunca mais. Cada momento é único e precioso.
  Um dia, tudo passa e a gente percebe como não soubemos aproveitar o tempo que Deus nos concedeu. Felizmente, mesmo com mais de sete décadas, ainda estou viva e posso usufruir de bons momentos fazendo algo pelo próximo. Tenho certeza que meu tempo está chegando ao fim, e por isso fico matutando essas coisas, que a gente gostaria de gritar para despertar os mais inconscientes e desligados.
   Mas, cada um é cada um e leva a vida como pode.
   E como bem lhe aprouver.

        Mirandópolis, agosto de 2014.
        kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/