domingo, 20 de junho de 2021

 

            Velhice...

     De uns tempos para cá tenho sentindo o peso dos anos. Se bem que nunca me importei muito com a idade, nem com o tempo que passou. Estou cheia de achaques.

     Ninguém gosta de revelar o lado fraco de si mesmo, mas eu não tenho vergonha de confessar que envelheci.

Envelheci de fato! Fato real e irreversível.

Ao longo dos anos, venho observando amigos andando com dificuldades, apoiando-se em bengalas, em carrinhos de supermercado, em bicicletas... em cadeiras de rodas... Ou nos parceiros. E sempre pensava: “Um dia, vou ficar assim!”

E esse tempo está próximo...

Ainda caminho relativamente bem, mesmo ziguezagueando nas calçadas... Ainda não preciso de apoios... Mas, percebo que o equilíbrio que me mantinha alinhada está acabando. Às vezes, sinto uma dorzinha no joelho, mas isso não impede a caminhada...

Sou uma pessoa mais ou menos agitada. Não consigo ficar parada por muito tempo. Tenho que andar, esticar os braços, a coluna, as pernas. Imobilidade não é comigo. Então, faço caminhadas regularmente, enquanto rezo para todo mundo. Faço alongamentos todos os dias, para controlar o encolhimento do corpo. Porque se eu paro, enferrujo e travo. Isso é lei!

Mas, o tempo é cruel. Ele não perdoa. E vai secando a nossa pele, encurtando a visão e o ouvido, derrubando nossos fios de cabelos, e endurecendo as juntas...

Tudo vai caminhando para o fim.

Que é inexorável, mesmo que você seja o mais poderoso ser deste mundo. Todos morrem, isso é inevitável. Tanta gente famosa, tanta gente linda, tanta gente poderosa, tanta gente brilhante... Todos morreram! Morreu Charles Chaplin, morreu Hitler, morreu Madre Teresa de Calcutá, morreu Ayrton Senna, morreu o Imperador Hiroito, morreu Einstein, morreu Shakeaspeare e morreram nossos pais...

Eu me lembro que um dia, o Doutor Roberto Yuassa me disse no Mercado: “Ninguém é indispensável, a não ser as pessoas queridas”.  Nunca mais esqueci, porque é profundo e encerra todos os nossos sentimentos. Ah! Dr. Roberto!

Quando a gente chega num limiar destes, é preciso despertar! Despertar para uma realidade dolorosa: o tempo está se esgotando. Meu caminho está se fechando! Um dia, não haverá mais chão! Só um grande buraco.

Temos que aproveitar esse tempinho que ainda resta, usufruindo os últimos raios de sol num dia de primavera. Olhar ao redor, e procurar melhorar a vida dos que nos cercam com mais carinho, mais atenção, mais solidariedade. De que vale guardar o din din, se você não vai precisar dele noutro mundo? De que vale se apegar às coisas terrenas, que os Faraós do Egito levaram para suas tumbas? Foram saqueados, roubados, vilipendiados. E seus corpos secaram, mesmo com tantos óleos injetados para não se decomporem...

E na dura realidade dos tempos atuais, ninguém sabe quem estará vivo amanhã.

Então, vamos minimizar a dor alheia, como se fosse nossa.

Vamos usar a gentileza no contato diário com os que nos servem.

Vamos conversar com os familiares esquecidos, distantes. Talvez estejam também com medo do amanhã.

Vamos construir momentos de lazer, mesmo breves para alegrar a alma. Momentos de prazer nesses tempos de confinamento. Pra não ter arrependimentos.

     Quem sabe, amanhã não estejamos mais aqui...

Mirandópolis, junho de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

 Rememorando...


Hoje fui me submeter ao exame médico para renovar a Carta de motorista.

Como sempre, no Dr. José Elias.

Porque era uma tarde fresca, cheia de sombras, fui a pé.

Distância de apenas quatro quadras...

O Doutor foi gentil, fez o teste de acuidade visual rapidinho, me perguntou sobre a saúde, sobre remédios que tomo, se já usei maconha e cocaína, se fiz cirurgias pesadas, se já precisei de psiquiatra...

E me liberou.

Aliviada por ter terminado, vim caminhando calmamente.

Passei pela casa que foi da amiga Lena. E me lembrei da última vez que estive com ela. Há quantos anos? Arranhei ao piano algumas canções e ela dançou feliz, mesmo estando ligada a um tubo de oxigênio... Aquela figura loira tão querida feliz por ouvir um piano... Meu coração apertou de saudades...

Olhei para o outro lado... E vi onde o Doutor Roberto Yuassa atuou. Por anos seguidos, com aquela simplicidade de gente sábia e bonachona. Nunca quis me cobrar as consultas. E dizia, se não melhorar, volte! Quantas vezes, me abordou de repente no mercado, como se tivesse vergonha de se expressar. E só dizia palavras boas, com fundamento. Ah! Doutor, Doutor!

 Mais alguns passos e a casa da dona Cacilda, mãe da Landa Junqueira. Casa fechada, à venda. Casa onde minha mãe passou horas gratificantes, tomando café com ela. A amiga tinha algumas dores, que mamãe procurava minimizar com sessões de Johrei... Já no fim da vida, dona Cacilda começou a distribuir suas preciosas porcelanas para as amigas que amava de verdade. Uma chávena de chá ou de café, um prato, que seriam bem cuidados depois de sua partida...

Na outra quadra, a Prefeitura. Onde atuaram minha irmãzinha Akemi e seu esposo Mitsutoshi. Foram embora tão jovens, deixando-nos sem chão, sem entender nada. Akemi tão linda, tão bondosa foi o orgulho, a estrela de nossa família. Mi chan e Akemi chan...

Do outro lado, a casa cuja parede levou a vida da netinha amada da família Terçariol... Como foi dolorosa essa partida, que ocorreu diante dos avós... Seu Terça deve estar com ela agora...

Na quadra seguinte, a casa que foi da Nair, minha amiga de basquete... Éramos tão baixinhas, mas jogamos basquete por mais de dez anos na AABB. Segundas, quartas e sextas feiras, à tardezinha, religiosamente. A imagem que ficou é de uma moça loira correndo sorridente, de camiseta branquinha e uns shorts rosa. Saudades dela, Ademar Bispo.

Virando a esquina, a casa que frequentei por anos seguidos. A casa da Mafalda... Mafalda e Guedes... Curso de Administradores Escolares no CENE, com a Lena, você e eu, o trio inseparável. A Faculdade em Dracena... Lanches no Gato que ri...  Batatas fritas... Estatística do Bereta, o terror do Curso... Depois, você acamada, sopas que levei pra ver se a tirava da cama...  Os lanches que tomamos juntos, Guedes, você e eu...  Nossa! Como é duro ver essa casa repleta de lembranças... Fechada!

A casa do seu Nelson, que gritava alegre: Bom dia, vizinha! Era a personificação da bondade. Levava sua esposa a caminhar todos os dias pelas ruas da cidade, com carinho e extremo cuidado. Hoje a Marlene curte imensa saudade...

E diante de minha casa, a casa onde morou o seu Osvaldo Vilas Boas. Tão simples, sempre bonito, bem vestido, deixou a Hilda sozinha...

E um dia, alguém vai se lembrar de mim ao passar na minha calçada?

A vida é uma colcha de saudades...

Mirandópolis, junho de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

 

                                     Alienígenas

     Ultimamente, o tema Alienígenas que visitaram ou ainda visitam a Terra está em alta. Há uma infinidade de programas que abordam esse assunto, com a seriedade própria de renomados cientistas. Mesmo os céticos extremos, ficam com uma imensa interrogação na mente após assistir a esses depoimentos.

     Sempre me perguntei quem seriam os construtores de Machu Picchu, de Stonehenge, dos moais da Ilha de Páscoa, das Pirâmides do Egito. Porque o homem comum seria incapaz de tais proezas, mais ainda sem nenhuma tecnologia. Foi numa época que a roda não havia sido inventada... Como transportaram toneladas de pedras montanha acima?  Como enfileiraram os moais, uns ao lado de outros? Como encimaram as pesadas traves de pedras sobre os pilares de Stonehenge? Como colocaram pedra sobre pedra nas pirâmides? E a precisão das construções sem o material de medição própria? É de dar nó na cabeça de gente como eu, cuja inteligência é bem limitada...

     E os adeptos da teoria de Antigos Astronautas são incansáveis em procurar provas, que atestam a presença de alienígenas de inteligência e capacidade superiores, que visitaram a Terra. E ensinaram técnicas inusitadas aos egípcios, aos maias, aos incas, aos indianos, aos chineses... Porque alguém deve ter ensinado... Mas... por quê não houve continuidade? Por quê esses conhecimentos nunca mais foram aplicados? Por quê não há comprovantes dessas técnicas utilizadas, como máquinas, rodas, ferramentas, carretas, e anotações em algum lugar?

     Por quê, a humanidade precisou passar pela  civilização moderna, para descobrir esses métodos utilizados há centenas ou milhares de anos? A nossa tecnologia é coisa recente, e mesmo as poderosas máquinas de hoje são incapazes ainda de realizar obras como as pirâmides, os moais, as linhas de Nazca.

     Sim, aconteceu algo muito extraordinário há milhares de anos. Se não foram os alienígenas que trouxeram essas técnicas, quem foram os autores dessas obras monumentais?  Ninguém tem a resposta. Os incrédulos não aceitam a teoria dos Antigos Astronautas, mas não conseguem apresentar uma alternativa  convincente e definitiva.

É que de repente, acreditar nessa teoria seria anular tudo que ouvimos sobre Deus, Virgem Maria e Jesus Cristo. E a Religião é ainda uma coisa sagrada par nós humanos.

Entretanto, há muita coisa inexplicável sobre o mundo antigo, que se mistura com anjos que vieram do céu, com suas carruagens de fogo... Mesmo os três Reis Magos foram guiados por uma estrela brilhante que ia à frente, indicando o caminho para Belém... Estrela, cometa, ou uma nave espacial? E a ressurreição de Cristo que voltou para o céu? Será que foi ressurreição mesmo, ou um retorno a outro planeta?

Estranho é que todas as culturas antigas se referem a deuses que desceram dos céus, e trouxeram o Conhecimento para facilitar a vida de todos.

Se você assistir à Série Alienígenas do Passado, dificilmente deixará de ficar confuso. Mesmo que você tenha Fé em Deus e na Paixão de Jesus Cristo, ficará com uma grande interrogação na mente. E o programa está bem alicerçado em cientistas famosos do mundo todo. Eles não estão tentando acabar com a religião, estão tentando procurar respostas para as grandes indagações do homem que pensa.  Religiosos/Pesquisadores também participam da Série, porque mesmo eles têm muitas dúvidas.

Então, você crê em alienígenas visitando a Terra?

Eu creio!

Mirandópolis, junho de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

 

segunda-feira, 7 de junho de 2021



                                               Amigos que se vão...

     Estamos todos cansados de perder tantas pessoas queridas. Todos os dias, alguém está partindo e nos deixando desolados, sem chão...

     Esse vírus terrível já roubou a vida de tanta gente amada daqui e do mundo inteiro. Mas, a dor maior é sempre quando a pessoa é próxima da gente.

Eu como sou muito terrena e egoísta, suspiro aliviada quando não conheço a pessoa que morreu. Porque é muita pancada no peito... Imaginar que nunca mais verei aquela pessoa querida, que nunca mais falarei com ela, que nunca mais ouvirei sua voz...

É brutal demais!

A morte é um grande mistério. Ninguém sabe o que ela significa. Mas todos têm uma certeza. A morte é definitiva. Um dia, você está aqui falando, brigando, comprando, vendendo, pregando, chorando, dançando, cantando, trabalhando, vadiando... E no outro dia, você já era.

E a tristeza maior é que as pessoas lamentam sua morte por um dia, uma semana, um mês e depois... esquecem. A vida continua, os amigos e até os familiares cuidam de suas obrigações, e nesse vaivém a lembrança se apaga. No final, você é apenas um nome que alguns lembram. Por mais importante que tenha sido, por mais amado que tenha sido, por mais generoso que tenha sido, você será esquecido. Essa é a dura verdade dos humanos.

E que importância tem ser lembrado? Você nunca mais poderá voltar àquela loja onde atendia a todos com presteza e distinção. Você nunca mais poderá curtir os amigos numa roda de cerveja. Você nunca mais poderá reclamar das rasteiras da vida. Você nunca mais poderá dizer aos filhos que tem muito orgulho deles... As lembranças só têm mão única, não têm volta.

Partiu? Acabou! Simples assim!

Bete, Mafalda, Akemi, Pacotinho (Marcelo Vendrame), Fauez, seu Ahmad, Hata, Estela, Kiko Vilas Boas, Seu Nelson Veronese, Frazilli... Todos já cumpriram sua missão. E nos deixaram desolados quando partiram para sempre. E nem adianta lamentar, porque não tem solução...

Então, o que fazer? O que pensar?

A única saída é viver bem, porque a vida é uma bênção.

Viver, usufruindo da companhia de cada membro da família, da amizade das pessoas que nos querem bem, sendo gentil com todos que nos cercam, para não ter arrependimentos depois...

Li em algum lugar “Viva de tal modo que aos morreres, todos chorem e não sorriam como quando nascestes”

Não gosto desse ditado! Muita dor embutida, e a vida já é repleta de dores... Quero viver em paz, estendendo a mão para os que me rodeiam e morrer em paz por ter realizado a missão. Quero que a minha partida desperte sorrisos e só lembranças boas. Que todos riam de fato!

Quisera que os enterros fossem como em algumas aldeias do mundo, onde a morte não é lamentada. No funeral é celebrada a vida daquele ser que cumpriu a missão. Celebrada com bumbos, flautas e sinos enquanto o cortejo leva o morto para sua morada final. Quer glória maior que isso?

Mirandópolis, junho de 2021.                                            

kimie oki in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

 


sábado, 5 de junho de 2021

 

                    Eu e a água


    Taí, uma relação que me acompanha desde que nasci.

   Quando temos uma relação constante, nunca reparamos nas vantagens que usufruímos.

     Um dia desses percebi que, me é impossível ficar sem água, mesmo por um dia. Desde a hora que abro os olhos e vou ao banheiro, uso água. E nunca reparo que ela está lá à minha disposição, faça sol ou faça chuva, ou esteja claro, ou esteja escuro... Está lá na torneira, no vaso sanitário, no chuveiro...

Não foi sempre assim. Quando criança e até a adolescência, tinha que tirar a água do poço lá no sítio. Como era isso? Tinha um buraco, onde minava água fresca e saborosa. Felizmente o poço não era muito fundo. Uns cinco metros de profundidade. Sobre o poço, havia uma armação de cimento e por cima uma trava de madeira ligada a um sarilho que a gente rodava para descer um balde amarrado a uma corda. O balde chegava ao fundo, se enchia de água e então, o sarilho pesado era rodado para trazer o precioso líquido para cima. Lembro ainda que havia um tampo de madeira para tampar a boca. Para evitar que caísse sujeira. O poço era sagrado.

Nem tenho ideia de quantas centenas de vezes rodei esse sarilho. Era água para a cozinha de casa, para os potes e filtros, para a lavagem de roupa, para os banhos. Para os porcos, para as galinhas, para o gado... E o poço nunca negou! Mesmo em épocas de longa estiagem, aquele poço foi generoso, sempre nos forneceu água boa e saudável. Como nem havia geladeira na época, era um prazer imenso tirar um balde de água do poço nas tardes quentes, para matar a sede. E como custava muito esforço para “puxar água do poço”, sempre a usávamos com parcimônia, sem desperdiçá-la. Todas as casas da vizinhança tinham seus poços.

Eu me lembro, quando voltávamos da Escola, passávamos na casa de uns vizinhos e bebíamos água tirada do poço na hora... Estávamos cansados da caminhada de quatro quilômetros, suados e sedentos. E a água era uma bênção.

Mais tarde, já adulta tive contato com a água encanada. Nossa! Que maravilha! Que facilidade! Era só torcer a trava da torneira e a água jorrava sem parar. Nada de poço, nada de baldes em cordas, nada de sarilho... Quem será que teve a ideia de encanar a água?  Por outro lado, a facilidade levou ao desperdício. As gerações novas não sabem o que é um poço, o que é ter que puxar água do poço para cozinhar, lavar, tomar banho... Então, usam e abusam da água, como se fosse um bem inesgotável. Um dia, ela pode chegar ao fim. E a vida também.

Também minha relação com a água tem sido tão ignorada por mim mesma. Até hoje. Hoje percebi que minha dívida com a água é impagável. Tenho setenta e nove anos de idade, e ao longo desse tempo todo, bebi milhares de litros de água, tomei milhares e milhares de banho, lavei roupa também milhares de vezes, e toda a sujeira que produzi, a água levou embora. Além disso, minhas plantas foram regadas todo esse tempo. Como posso retribuir essa graça, essa bênção?

Nunca poderei! Porque estou viva pela água. Sem ela, eu já era. Mas, procuro não desperdiçá-la. Uso a água do enxágue de roupa da máquina para lavar o chão, o quintal e as varandas.  Uma amiga me perguntou porque não lavo a calçada, quando lhe disse que deixava por conta de São Pedro, ela me perguntou se a minha conta de água era assim tão alta!!!!

E por falar em água, cadê a chuva?

Mirandópolis, junho de 2021

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com