domingo, 27 de novembro de 2022

 

                Reencontros

 

                  Nesses tempos de Copa do mundo, com jogos diários na tevê, que parece não haver outro assunto interessante além do futebol, reunir amigos e conversar é a melhor opção.

     E de repente, por gentileza da Professora Regina Rosado pude usufruir de momentos agradáveis com um grupo de Professores, que se formaram no Cene Noêmia Dias Perotti há cinquenta e sete anos. Não sou da mesma turma, pois concluí o Curso Normal em 1960, isto é há 62 anos, mas atendendo ao convite da amiga e organizadora do Encontro, já participei de algumas reuniões. E ao longo dos anos, percebi como a vida é efêmera, que tudo passa e que o porvir sempre é incerto. Percebi nesse Encontro de hoje, que a vida é recheada de perdas... Na mesa, faltava o Professor Zanin sempre otimista que ensinou a todos os alunos normalistas... Faltava a Professora Sonia Ohashi que estava muito feliz no encontro anterior. A mesma Sonia irmã de Meire Jane, e filha da saudosa dona Maria e do taxista José Ohashi, antigos moradores daqui. Faltava a convidada especial Regina Mustafa, que sempre abrilhantou essas reuniões. A vida é apenas um sopro...

     Então, o Encontro seria triste com tantas ausências definitivas como a do Antonelli Antonio Secanho, Kunihiro Sato, Teresinha  Squinca, Kikuko Sato, Josué Tomás de Aquino, Helena Ortega Cogo, Hide Aparecida Nars e Sebastião Laerte Magalhães... Todos morando no céu com a Sonia Ohashi. Além da ausência de alguns colegas vivos por conta de compromissos outros e problemas de saúde.

     Mas, um reencontro sempre é muito bom. Encontrar a Vera Nilva Araújo, o Ademar Bispo e sua parceira Sandra, a Naoe Miyamoto e a Zilda Zonzini com a filha Rogéria que moram fora foi muito gratificante. Além dos colegas que moram aqui, mas que nas urgências da vida, nem sempre podemos abraçar e papear um pouco. A pandemia nos distanciou e isolou de fato.

     Então, o tempo foi curto para trocar figurinhas, tanto que perguntar, tanto que contar, tanto pra saber. Foi ótimo ver a Zilda de Lima renovada em saúde e com novo visual, a irmãs Vandelcy e Vera Bonfim (Nakano), junto da bela filhota Eloísa. A Tereza Veronese sempre tão discreta e atenciosa. A Regina Siminari, que serviu a Escola Sesi a vida toda e voltou para Mirandópolis, para o aconchego dos amigos. A Minako que também pelejou a vida toda no Sesi local. O Teruo Miyamoto e a esposa Cida sempre prestigiando os encontros. A Marlene Machado, que não via há séculos, tão lúcida e tão espiritual. E a Regina Rosado que não mede esforços para reencontrar esses amigos, com a imprescindível ajuda da filhota Simone.

     A reunião foi iniciada com orações para os amigos que partiram, desejando-lhes paz na eternidade... Depois, a Regina falou da felicidade de reencontrar os amigos, sentindo-se muito grata por usufruir desse momento e agradeceu a presença de todos. A Regina Siminari falou da alegria de participar do encontro e da felicidade de usufruir a companhia de amigos aqui da cidade, após tantos anos morando e trabalhando fora. Eu Kimie falei da alegria de ser Professor, que passa a vida toda aprendendo e ensinando, ensinando e aprendendo, porque o Professor é para sempre, não se limitando ao tempo e ao espaço Escola. Quem alfabetizou e, mostrou o caminho do conhecimento a centenas de jovens, deve se orgulhar da missão cumprida. Ensinar é uma nobre profissão. E devemos nos orgulhar de ter sido professores, não importando as condições, os governantes, o descaso da sociedade, porque formamos gente, gente que após uma vida toda de peleja, vem nos abraçar de repente nos chamando de Professor, Professora... Nada é mais gratificante.

     O almoço foi muito saboroso como sempre é na Varanda Grill do amigo Júnior Veronese. E tivemos um delicioso bolo como sobremesa, oferta da Tereza. E a Naoe nos gratificou com uma árvore de Natal de crochê, para enfeitar nossas casas. Artesanato maravilhoso acompanhado com um biscoito da sorte. Naoe sempre generosa.

     Então, o encontro foi uma reunião de família, de aconchego onde não faltaram abraços, comida boa, um delicioso bolo, além de presentes. Reunião para matar saudades.

     Reunião para renovar a alma. Que a vida não é feita só de Copa, de briga de políticos e de velórios... A vida é feita de breves momentos de comunhão, de confissões sussurradas, de alegria compartilhada, de lágrimas derramadas por alguém que já partiu...

E esse grupo de professores sabe bem saborear cada momento de sua caminhada, porque a vida é uma bênção que deve ser usufruída plenamente. Com amigos.

Mirandópolis, 27 de novembro de 2022.

kimie oku in

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

 

Comunista

Eu conheci uma célula comunista há tempos atrás.

Era um núcleo fechado, todos obedeciam a um manda chuva..

Todos seguiam uma mesma religião.

Todos falavam a mesma língua.

Todos se vestiam igualmente roupas feitas de sacos de ração animal.

Todos usavam calçados feitos de madeira tosca.

Todos deviam fazer o serviço atribuído, sem reclamar..

Ninguém podia sair de lá.

Ninguém podia almejar nada diferente.

Ninguém podia convidar ninguém para ir lá.

O chefe só usufruía das benesses.

E todos o reverenciavam como a um deus.

E nenhum deles tinha consciência da realidade que viviam.

E pareciam felizes...

Mirandópolis, novembro de 2022.

kimie oku in

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sábado, 5 de novembro de 2022

 

                                                 Ditadura

As recentes manifestações dos caminhoneiros que convulsionaram o país todo provaram dois fatos incontestáveis: Bolsonaro não tem vocação para Ditador e o Exército não quer um golpe de Estado.

Então, os petistas estavam totalmente equivocados pregando que o homem é fascista, nazista e queria tomar o comando do país à força.

O bloqueio nas estradas só não foi mais assustador porque não havia um líder forte que ditasse ordens, e não primou pela violência física, embora tenha causado inúmeros transtornos à população no seu direito de ir e vir.

A oposição colou a pecha de fascista e nazista ao Presidente. Que sua vocação era a ditadura e queria implantar um regime totalitário no país. Ora, se isso fosse verdadeiro, Bolsonaro estava com a faca e o queijo na mão para liderar os manifestantes e realizar esse sonho megalomaníaco que lhe atribuíam. Mas, não. Nem se dirigiu aos manifestantes. Isso é prova de sua fraqueza? Não esqueçamos que ainda é o mandatário do país.

De verdade, podemos perceber que o homem é apenas um político desajeitado com suas falas desconexas, que toma posições sem muito pensar e mete os pés pelas mãos. Quantas expressões desagradáveis e desrespeitosas poderiam ter sido evitadas sobre o Covid, sobre as vacinas, sobre as gripes e até sobre seus aliados que começavam a sobressair... Expressões essas que levaram os opositores a carimbá-lo como inimigo do povo. E a coisa pegou forte e deu no que deu. Perdeu a eleição, apesar de tudo que tinha para vencer. O peixe morreu pela boca.

Se ainda duvidam da intenção ditatorial do homem, só imaginemos essa cena: Bolsonaro liderando os caminhoneiros, e instigando a população para aderir ao movimento. Teria sido terrivelmente devastador. Porque os sem teto, os sem terra e os sem nada com suas foices e seus machados teriam entrado em confronto, com certeza. Hoje estaríamos contando vidas, que teriam sido sacrificadas e estaríamos encolhidos em casa, mortos de medo...

E por quê não aconteceu? Por covardia do homem? Por omissão do Exército? Por falta de coesão na base militar? Por falta de apoio popular? Por respeito ao Supremo Tribunal Federal?

A História provou que nos momentos de crise profunda, os espertalhões políticos ou militares aproveitaram a brecha, para tomar posse do mais alto cargo do país. Aconteceu no mundo inteiro. Mesmo aqui, em 1964. E havia o Congresso, que foi lacrado, e havia a oposição que foi calada, e havia o povo que não entendeu nada.

Na semana que passou tudo estava armado para um grande golpe militar. A Imprensa alucinada correndo de estrada em estrada, os motoristas tomando posse de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Os políticos contando as perdas na eleição, lambendo suas feridas; os petistas comemorando suas vitórias; o povo embasbacado grudado na tevê. Todo mundo alienado... Na surdina, poderia ter havido um  golpe Um golpe que implantaria de vez o caos no Brasil.

Mas, nada aconteceu, graças a Deus.

E a alternância do poder vai se realizar.

A Democracia saiu fortalecida.

E Bolsonaro? Vai passar os próximos anos refletindo e analisando suas falhas. Assim deve ser.

E lembrando aos petistas: Se o Lula tivesse perdido, com certeza teria havido uma manifestação tão grande e até mais assustadora que essa dos caminhoneiros. Com foices e machados...

E vamos aguardar o governo socialista/comunista de Lula.

Que Deus proteja o Brasil e os brasileiros.

Mirandópolis, 05 de novembro de 2022.

kimie oku in

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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

 

        Morte e vida Severina


    Penso que todos que leram essa obra de João Cabral de Mello Neto devem ter se emocionado profundamente. É a história de todo nordestino sofrendo com a seca, com a falta de chuva, com a fome, com a perda de filhos... Uma vida tão dura e seca como a própria terra esturricada.

Mas, pensando bem, toda mulher é assim. Sofre mesmo quando há chuva, mesmo que não falte comida, mesmo na estabilidade.  Mulher/mãe tem a sina de sofrer pelos filhos desde o dia em que os pare, até o último alento. Mesmo não sendo mãe, sendo apenas uma irmã, uma tia, uma avó, uma madrasta sofre. Porque a mulher é sensível e não gosta de ver ninguém entristecido. A dor do outro é também a sua dor.

Vida Severina é o que toda mulher carrega desde que nasce mulher. A mulher não se desliga, vigia noite e dia e ora dia e noite pelos filhos, pelo esposo, pelos irmãos, pelos pais, pelos vizinhos... Mesmo não querendo, inconscientemente carrega toda a dor do mundo. Deus lhe deu um fardo pesado demais. E é por isso que essas vidas severinas adoecem, combatem as dores bravamente, pelejam para viver, pra continuar a dura missão de defender a prole, e tornar confortáveis seus caminhos...

Assistimos há pouco, uma vida tão bela machucada pela missão severina. E de quem é a culpa? De ninguém. Porque está no próprio sangue esse calor de abraçar o mundo, para defender das intempéries todas as criaturas que ama... Então, o amor é a causa primeira dessa vida Severina. Vida forjada na dor, na responsabilidade, na vontade de ajudar, de participar. Mesmo à custa da própria vida, porque o amor é maior e não pode ser contido. Amor Severino é abdicar-se da própria vontade para servir a outrem. Para servir à família, aos amigos, à cidade, à Nação.

Regina Mustafa, que sua gloriosa vida Severina sirva de guia para todos nós mirandoplenses.

Mirandópolis, 19 de outubro de 2022.

kimie oku

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terça-feira, 20 de setembro de 2022

 

A chuva choveu!

 

Fazia tanto tempo que não ouvíamos as gotas de chuva caindo do céu.

E ontem à noite choveu

Choveu como se Deus aspergisse uma chuvarada mansa e contínua  aqui no pedaço. Como um jardineiro  regando canteiros de flor.

E o ar seco e pesado deu lugar para uma suave refrescância.

E a madrugada foi aconchegante.

Quando chove, tudo muda.

As árvores festejam balançando os galhos e salpicando gotas nas calçadas. Os passarinhos ficam agitados conversando entre si. Festejando? A terra ávida pela água engole aos borbotões. Os bichos procuram abrigos cobertos. E as pessoas correm. Correm como se fugissem de um perigo... Parece que os adultos não gostam de se molhar. Mas, as crianças adoram tomar banho de chuva,. Hoje em dia, talvez não, Mas quando eu era criança adorava enfiar os pés descalços no barro frio e macio.

Os campos estavam secos e tristes. As pastagens tinham perdido todo o seu verdor e o capim estava no toco. O gado olhava triste para  todos os lados, procurando algo verde para comer. Os açudes destituídos de água  se  transformaram em covas fundas sem um ser vivente. Para onde foram os peixes? O que aconteceu com o manancial de onde jorrava água límpida?

E essa noite foi de bênção, com uma chuva contínua e mansa

Amanhã as pastagens já estarão exibindo os primeiros brotos verdes. E devagarinho, tudo voltará a ter vida.

Essa primavera promete.

Chuva é uma bênção, é uma alegria.

Esse ar fresco, limpo e cheio de oxigênio não tem preço!

Mirandópolis, 20 de setembro de 2022. 

kimie oku in

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terça-feira, 16 de agosto de 2022

 

            Globalização

    Uns trinta anos atrás, não havia essa tal de globalização.

      Cada povo vivia em seu território, pelejando pela comida, por um emprego, por um lugar ao sol. Nas ilhas distantes e isoladas, viviam ilhéus inocentes dos inventos da civilização. E todos eram felizes de alguma forma, na sua pureza, nas suas tradições, na sua inocência...

      Mas o ser humano ambicionou pelo conforto, por locomoção sem usar pernas, pela faxina sem fazer força, pela água e comida na mesa sem pelejar. E tanto fez e buscou que hoje a comida já vem pronta, a roupa lavada pela máquina, a água filtrada em garrafinhas...

E tudo ficou fácil com a lei do menor esforço...

Entretanto, junto com a facilidade e o conforto veio a tal da globalização. Acho que isso foi uma desgraça para a humanidade. Globalizar significa aproximar, deixar tudo próximo, tudo atual. Hoje sabemos graças à transmissão por satélite, tudo que acontece no mundo em tempo real. Parecia interessante saber como viviam os povos que viviam nos confins do mundo...

Então, os povos se intercambiaram, indo de um lugar para outro, espiando vidas alheias... E nem as ilhas perdidas no fim do mundo foram poupadas... E a globalização levou a modernidade, as máquinas que facilitam a vida do homem. Bicicletas, carros, aviões, trens... E levou junto a ânsia de querer mais coisas, mais máquinas modernas... E de repente, todos tinham perdido a inocência. Todos ficaram ambiciosos, mesmo os que nem sabiam ler e escrever... Money era tudo, o deus da modernidade.

Só que há um detalhe doloroso nessa globalização.

Os vírus mais terríveis escondidos nos confins foram cutucados e espalhados por todos os cantos. E a doença se tornou um lugar comum no mundo inteiro. Ninguém mais está protegido de nada no mundo de hoje. Graças à globalização.

Mirandópolis, agosto de 2022.

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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 

            Mortais

    A morte de Jô Soares nos faz refletir sobre a mortalidade de todos os seres. Ninguém é imortal. Só Deus, o Supremo.

      A humanidade inventou essa de imortalidade em se referindo aos famosos, mas é sobre o que concerne às lembranças, aos feitos e às grandes realizações. Não é sobre o corpo físico do indivíduo.

O homem morre definitivamente, e não tem volta.

      Por mais famoso, por mais grandioso, por mais santo, por mais cruel e por mais sábio que seja, todos morrem. Chegam ao ponto final e depois não tem vírgula, nem dois pontos para resgatá-los...

Morreu, acabou, parou no porto do ocaso, cést fini...

A morte é uma condição intrínseca dos seres vivos. Até as árvores, que parecem eternas morrem. Podem viver mil anos, dez mil anos, mas morrem. A morte nos espera todos os dias.

Então, vivamos serenamente. Como o Criador determinou. Cuidando de tudo, como um passarinho que todos os dias cumpre seu dever de fazer o ninho, de criar os filhotes, de soltá-los para o mundo, de usufruir o momento, a natureza, sem esperar nada em troca. Porque a luta diária, as pequenas obrigações do dia a dia é que são as recompensas.

Porque a vida é a recompensa.

Felizes os que foram agraciados com a vida.

E puderam vivê-la plenamente.

kimie  oku in

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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

 

             Um quilo de carne

      Todos os dias aparece alguém pedindo comida.

      Em outros tempos, havia pedintes, mas não tanto assim.

      Realmente estamos vivendo tempos difíceis. Consequência do vírus que arrasou com a economia do mundo e, da recente guerra na Ucrânia, que fez o preço dos combustíveis chegar à estratosfera.

Gente pedindo uma ajuda para comprar comida, gente pedindo uma refeição, gente meio desesperada pedindo ajuda para comprar um lanche para o filho pequeno... E percebe-se que não é mentira, que a fome bateu nas portas de muitas famílias. Por outro lado, constatei que o número de coletores de recicláveis se multiplicou. Antes, havia uma dúzia de cidadãos conhecidos catando papelões e latinhas. Hoje há tanta gente, que a gente não conhece. Provavelmente, são  trabalhadores que perderam emprego por conta da recessão, ocasionada pela pandemia. Gente honrada, que não fica esperando ajuda dos céus. Que vai à luta para garantir o leite, o feijão e o arroz. Realmente está muito difícil para muita gente.

Eu pessoalmente estou fazendo o que posso para ajudar duas famílias, ofertando-lhes um quilo e meio de carne por semana. Sei que é pouco, mas essa porção já minimiza a necessidade de proteínas dessas famílias. Porque a carne nunca esteve tão ausente da mesa dos pobres... E estou escrevendo isso só para meus amigos também adotarem essa forma de ajuda. É gratificante ir ao mercado ou açougue e comprar carne de porco, linguiça ou frango para contribuir com as cozinheiras, que não sabem o que servir aos filhos... Elas estão só servindo ovos todas as semanas. Quando podem! E três quilos de carne não vão empobrecer nenhum amigo meu, com certeza.

Acho que Campanha da Fraternidade deve ser assim: estender a mão e o coração para os que estão passando dificuldades.

E há tanta gente assim.

E há muita gente que pode ajudar.

Vamos todos fazer uma ciranda de ajuda fraterna. Ajudando duas famílias por semana. Não precisa ser um quilo e meio. Pode ser um quilo ou meio quilo. Mas que seja semanalmente, para aliviar a  necessidade dessas famílias.

Os trabalhadores estão precisando de ajuda.

Vãos salvá-los!

Mirandópolis, agosto de 2022.

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sábado, 30 de julho de 2022

 

                Simplicidade

       E falando em bucha, me dei conta que a vida era tão simples.

       Vivíamos no campo, em contato direto com a terra, a água e o ar.

       A terra era generosa, não precisava de implementos para produzir o arroz, o feijão, as frutas e as verduras. Só tínhamos que plantar e pedir a Deus que nos mandasse chuva. E as colheitas eram fartas. Não tínhamos que ir a lugar algum para comer. Tudo era retirado da terra. Ninguém precisava ir ao mercado para comprar um litro de leite. E tudo era saudável. Eu me lembro que colhíamos tomates tão grandes e saborosos. E os quiabeiros eram plantados entre as fileiras do cafezal. Lembro com saudades das manhãs de sexta feira santa, em que papai e eu íamos plantar alho no brejo. Por quê na sexta feira santa, nunca entendi. E aproveitávamos para plantar também ervilhas, essas ervilhas tão caras nas feiras. Não eram orelhas de padre, eram ervilhas mesmo, macias e deliciosas.

       Lembro que todos os vizinhos também tinham pomares como nós. Mangas, laranjas, limões e bananas que consumíamos o ano todo. Lembro especialmente de um pé de limão galego, que produzia limões amarelinhos e cheirosos. Era difícil catar as frutas, porque os galhos eram cheios de espinhos. Nunca parou de produzir...

Lembro também da tuia, onde guardávamos pendurados os cachos de banana maçã. Eram tantas bananas tão amarelinhas, que não dávamos conta de consumi-las. Muitas eram dadas aos porcos...

Lembro com gratidão do poço, de onde retirei centenas e centenas de baldes de água límpida e saborosa. O balde era amarrado na ponta de uma corda, e a gente puxava para cima através de um sarilho. Todas as crianças maiores tinham a obrigação de puxar água do poço. Água para a cozinha, para lavar roupa, para os banhos. Era um dever de todos e ninguém reclamava. E a água era usada com mais parcimônia, porque era duro  “puxar água”.

Usávamos fogão a lenha, e linguiças de porco ficavam dependuradas sobre o fogão para defumar. E queijo havia com fartura, que mamãe fazia bolinhas fritas de queijo ralado... Deliciosas.

A vida era rústica, no chão mesmo. Andávamos descalços, e era uma delícia tomar banho de chuva... O cheiro da terra molhada depois de um longo estio... Não havia luxo, duas ou três mudas de roupa, um par de sapatos, que eram passados dos meninos mais velhos para os menores.

Puxa! A vida era boa! Não era complicada como hoje.

E éramos felizes sendo completamente caipiras.

Uma semente de bucha me trouxe essas maravilhosas lembranças. Lembranças que infelizmente as novas gerações nunca experimentarão.

Mirandópolis, julho de 2022.

kimie oku in

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sexta-feira, 29 de julho de 2022

 

            Bucha

      Meu irmão mora num sobrado em São Paulo.

E ele gosta de plantas, flores, verduras.

Um dia, caiu em suas mãos uma semente de bucha. Dessa mesma bucha que usávamos para lavar louça, para tomar banho.

Como cresceu no sítio e fora lavrador quando jovem, desejou ver a planta nascer e frutificar. Plantou a semente e a regou até atingir um bom tamanho. E de repente, viu que não podia deixar a plantinha ali, no sobrado. Porque ela é trepadeira, e não haveria apoio para ela se enroscar...

Então, levou a mudinha para um amigo, que tem espaço no quintal para a bucha se desenvolver naturalmente. Só estabeleceu uma condição: que o amigo lhe dê uma bucha, quando estiver na época da colheita.

Depois de um tempo, ele viu uma longa bucha amadurecendo.

E agora está na expectativa de receber uma bucha vegetal para usar no banho.

Sei que é uma história prosaica, mas estou publicando porque ela me tocou bastante. Um cidadão de São Paulo, mecânico aposentado de 79 anos, que mora sozinho, se interessar por uma bucha! Era apenas uma semente preta, sem graça, que existe de montão no meu sítio.

E eu vivo cortando as ramas de bucha que teimam em subir nas bananeiras e no abacateiro.

Bucha é mato lá.

Mirandópolis, julho de 2022.

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domingo, 3 de julho de 2022

 

                                                               Vilma

          Ontem fizemos o seu funeral.

      Foi um misto de saudades e boas lembranças que tomou o coração de todos nós. Presentes todos os filhos, netos e esposo. E outros familiares que a amaram durante sua permanência entre nós.

Vilma Haruyo Amikura foi uma menina simples que andou por essas ruas de Mirandópolis, passeou pela Praça, aprendeu os ensinamentos de Jesus na bela Matriz São João Batista e frequentou o Kaikan. Estudou no Edgar e se formou Professora pelo Noêmia Dias Perotti.

Um dia, seu caminho se cruzou com o de Hideo Osaki, com quem formou uma bela família em São Paulo. Enquanto cuidava dos filhos, lecionou em Escolas do Estado e do Município. Sua vida foi permeada de dificuldades, porque o esposo tinha a seu cargo dar assistência a quatro irmãos, que pelejavam para descobrir o seu caminho. Muito sacrifício, perdas e atritos... Mas, de um jeito ou outro, venceram os maiores obstáculos...  

Quando tudo parecia entrar nos eixos, ela foi acometida de um violento acidente vascular que a deixou cadeirante para sempre. E foi aí que o amor dos filhos e do esposo se revelou em cuidados diários, com banhos, massagens, fraldas, alimentação cuidadosamente preparada... E ela nunca foi deixada de lado como uma inválida. O pessoal ia para a praia? A Vilma ia também, mesmo que fosse só para respirar o ar marinho e ver a paisagem... Compras? Ela ia também na cadeira conduzida pelo Hideo nos Mercados e nos Shoppings... Eventos sociais na família? Ela vinha também, vencendo a longa viagem de mais de seiscentos quilômetros...

Era difícil? Sim! Mas o desvelo da família era uma coisa boa de se ver. Ela participando de tudo. Uma lição para todos os familiares...

E assim, cercada de extremo carinho, ela sobreviveu ao AVC por dezessete anos. E acredito que foi muito feliz. Mesmo paralisada, mesmo limitada, mesmo cadeirante. Porque foi amada incondicionalmente.

E ontem depositamos suas cinzas na tumba da família, junto de seus pais e irmãos. E foi uma cena bonita, porque não faltou ninguém.

E na bênção, o Padre Orlando nos lembrou que todos somos pó... E que ao pó voltaremos...

Enquanto não retornarmos ao pó, toda uma vida floresce. E o que fazemos nesse intervalo é que faz a diferença.

E a diferença da Vilma foi a presença de tanta gente que veio de longe assistir ao último ato de sua vida.

Vilma Haruyo Osaki, nós te amamos.

Mirandópolis, julho de 2022.

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domingo, 26 de junho de 2022

 

                                               Saudades...


      Ontem passei uma tarde maravilhosa com a Ariadne, minha amiga. Foi uma tarde de confidências, desabafos e muitas saudades...

      Relembrando o João, que partiu tão cedo e deixou a Adne sem chão. Mas a Adne herdou a coragem e a determinação da Lena sua mãe e, apesar das saudades sem fim, está enfrentando valentemente o dia a dia junto com o lindo filhote João Vítor.

      Confidências à parte, tomamos café com pão de queijo, biscoitos e bolo. E toquei piano! Porque a última lembrança boa que temos é da Lena dançando com o João, enquanto eu tocava! Foi uma tarde feliz e ela valsou, rodopiou e riu muito. E agora, nem você, nem o João...

      Lena, Lena quanta saudade! Vontade de vê-la e dizer que seus filhos estão bem, compensaram tudo que você fez para criá-los. Fazem juz à valentia da mãe. E são carinhosos, trabalhadores, pés no chão.

    Lena, você e a Mafalda marcaram um tempo de minha vida. Tempo de Faculdade em Dracena... viagens cansativas... Bereta e sua Estatistica tão difícil... E a luta diária, de Escola em Escola...

Tudo passou... Até vocês...

E me deixaram aqui com tantas saudades.

Mirandópolis, junho de 2022.

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sábado, 11 de junho de 2022

 

                        Oitenta árvores...

    Tenho uma seringueira, que estou tentando salvar há bom tempo. Vivo combatendo as saúvas que não dão folga... E ela estava tão bonita cheia de folhas fortes e viçosas, mas um bezerro a transformou em três varinhas finas... Não sei se vai sobreviver... É difícil cultivar plantas e fazê-las crescer e se tornarem adultas. É preciso muito cuidado, muita dedicação constante. Reflorestar não é só plantar e esperar o milagre de ver um bosque, uma mata...

     Pensando nisso, fui até a Represa Santa Helena, que abastece a cidade, para conferir a plantação de árvores, que os associados da APAM (Associação de Professores Aposentados de Mirandópolis) realizaram no final do ano passado. Queria ver como estavam as oitenta mudas plantadas à beira da Represa... Mesmo que algumas não tivessem vingado, esperava fotografar algumas já bem crescidas. Soube que na época até o Prefeito Sodário participara ativamente do evento, além do Responsável do Meio Ambiente... Mais de vinte Professores aposentados se empenharam nessa empreitada, movidos pelo espírito de salvar a natureza, recuperar a mata ciliar e proteger as águas da Represa... Tudo muito bonito e louvável, com Professores já aposentados querendo deixar um mundo melhor para as gerações futuras. Aliás, tarefa que deveria ser do Meio Ambiente.

     Mas... Qual não foi a minha decepção... No local, só havia mato, nenhuma muda plantada. Nem sinal das dezenas de mudas... Só ervas daninhas prosperaram e pés de mamona encheram o espaço. Fiquei sabendo que soltaram gado aí... Que acabou com todas as mudas.

     Parece que funcionários da Prefeitura zelariam pela plantação, e os Professores ficaram esperançosos que logo haveria mais umas dezenas de árvores. Não sei se os responsáveis seriam funcionários do SAAEM ou do Meio Ambiente. Todos esperavam que  os trabalhadores braçais da Prefeitura cuidariam das árvores, regando-as e protegendo-as.

Mas, ninguém se responsabilizou pelos cuidados... Será que não há funcionários responsáveis para cuidar da Represa, que fornece o líquido mais precioso para toda a cidade?

     Foi em vão tanto empenho, tanta esperança e tanta boa vontade. O Prefeito teria pedido aos Professores que repetissem essa atividade na Represa São Lourenço.

Parece piada! Professores aposentados se dispondo a reflorestar parte da Represa, e toda essa trabalheira jogada fora! Ou os funcionários e os manda-chuvas da Prefeitura esperavam que os aposentados professores fossem lá cuidar das mudas? Professores que, com o avançar da idade têm problemas de coluna e de joelhos? Que apesar de suas dores físicas ainda têm esperança, de deixar um mundo melhor para posteridade.

É por tudo isso que os serviços públicos primam pela incompetência. Ninguém se responsabiliza pelo que é importante, é um jogo de empurra-empurra, e nada é feito.

Se um funcionário tivesse cuidado daquelas mudas, hoje teríamos mais oitenta árvores frondosas, que iriam compor a mata ciliar da Represa, cortando o vento e filtrando a sujeira que cai na água.

Pra quê existe o Departamento do Meio Ambiente? Não tem capacidade de zelar por oitenta árvores plantadas gratuitamente por Professores? Claro! O Departamento existe só pra inglês ver. Cada um recebendo o dim dim, nada mais importa? Triste Departamento inútil.

Conclusão: Não vi nenhuma árvore nova. E fotografar mato e mamona selvagem seria uma vergonha para todos.

Um povo que não sabe cuidar do líquido mais importante da cidade é um povo que não prospera. Povo fadado a desaparecer...

Enquanto o mundo inteiro está preocupado com o desmatamento, a nossa Prefeitura é incapaz de cuidar de oitenta árvores. Plantadas gratuitamente por Professores aposentados. Aposentados!

Desventurada Prefeitura!

Mirandópolis, junho de 2022.

kimie oku in

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