terça-feira, 26 de outubro de 2021

 

                      Vencendo o vírus

     Há onze anos, comandados pelo senhor Mário Varela, português de boa cepa, empresário e pecuarista, uns amigos e eu fomos tomar sorvete numa tarde quente de outubro, num barzinho que havia aqui perto, na João Domingues de Souza. O propósito era discutir um projeto meu, de reunir pessoas idosas solitárias numa chácara para passar uma tarde feliz.

     A conversa pegou de fato e, de repente o grupo de  sete pessoas acabou brincando de ciranda, cirandinha no meio da rua numa tarde de primavera. Rodando e cantando. Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar...

     As pessoas eram Mary Magro, Ikuko Kazi, Milton Lima, Egídio Vicente, Poliana Ventura, Ana Maria Abranches Jacomelli, Mário Varela e eu Kimie Oku.

     Assim nasceu o Grupo Ciranda.

     Por quê Ciranda?

     Porque o grupo quis estabelecer um contato físico com as pessoas, dando-se as mãos para todos sentirem que não estão sós. E na esteira desse pensar, começamos a rodopiar, brincando de Ciranda como crianças.

     E saímos convidando os idosos solitários, para compartilhar momentos de alegria num lugar fora da cidade. O Grupo inicialmente tinha uns doze membros e foi crescendo, porque há muita gente que vive sozinha e precisa de um lazer. Tivemos mais de cem pessoas participando.

     A Ciranda é composta de voluntários mais ou menos jovens, que conduzem os idosos e oferecem o lanche. Conseguimos cativar os sanfoneiros e violeiros para animar os Encontros. A maioria participa cantando ou dançando. Tardes muito animadas.

     E o tempo passou, muita gente participou, muita gente foi embora de mudança, mais de vinte foram cirandar no céu, até o querido senhor Varela... Mesmo assim, o grupo continuou firme, espalhando alegria. Ao final de um encontro, todos ficavam ansiosos pelo próximo. Mas...

     Um vírus terrível conseguiu parar a Ciranda.

     Desde março de 2020 até agora, a Ciranda foi suspensa para a tristeza geral. Ficamos confinados, tentando manter contato com uns e outros... Sem contatos físicos e visuais... todos ansiosos para o reencontro...

     E o momento chegou!

Vamos voltar a cirandar em breve, se Deus quiser. É o que todos estão esperando! Não vamos terminar este ano sem cirandar!

Para que isso aconteça, é preciso que todos estejam vacinados, usem máscaras e obedeçam as regras de higiene. Acredito que como são todos adultos responsáveis, não teremos problemas.

E teremos uma tarde linda com muita conversa, muita música, muitas novidades. E vamos almoçar juntos!

Nós idosos precisamos de um pouquinho de lazer.

A Ciranda não pode parar!

E viva a Vida!

Mirandópolis, outubro de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

 

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 

                                               Tempestade de areia

    Pedimos tanto que Deus nos gratificasse com chuva.

Os mananciais secando, os açudes se esvaziando, as temperaturas subindo pra lá de 45 graus centígrados... O gado triste procurando alguma folha verde em meio ao capim seco... Os proprietários de algumas reses cortando o capim seco à beira de estradas... As minas de água potável só oferecendo um filetinho de água... tudo muito triste e desolador...

Então, rezamos ao Senhor Provedor que lembrasse da humanidade e dos demais seres vivos aqui do chão. E rezamos, e rezamos e rezamos...

E hoje veio a chuva!

A chuva tão ansiada, tão desejada, tão solicitada!

Mas, antes a natureza deu um show assustador.

De repente, o tempo escureceu com a ventania carregada de areia, que voava para todos os lados. Tudo ficou marrom. Não se enxergava nada. Nada mesmo! O vento furioso rodopiava e quebrava os galhos das árvores, que voavam para todas as direções. Vasos de flores caiam e se espatifavam uns atrás de outros. Folhas e flores misturadas à terra vermelha adentravam pelas frestas das casas e formavam tapetes de sujeira nas varandas... A velocidade do vento era uma coisa inaudita. Poderia carregar gente incauta que se atrevesse a enfrentá-lo. Acredito que deve ter balançado os carros que estavam circulando, dando insegurança aos motoristas...

A força da natureza é algo assustador.

Depois dessa demonstração de força da natureza, veio a chuva. Com vento, com trovões, mas veio!

Ela veio!

Veio para lavar as calçadas que o vento sujou. Veio para limpar os telhados carregados de fuligem. Veio para acalmar o asfalto que parecia incendiar-se...

E todos, digo todo mundo passou a tarde limpando suas casas, varrendo as varandas, os quintais.

Eu também varri as varandas, os corredores.

E coloquei tambores para aparar a água que caía do telhado. Será usada para lavar as varandas.

E agradeci a Deus a bendita chuva.

     Se temos que sofrer essas tempestades de areia para termos uma boa chuva, que assim seja a vontade de Deus.

Mirandópolis, outubro de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com