sábado, 29 de setembro de 2012


A morte de amigos e a nossa


  Quando a gente nasce, pouco a pouco, vai se formando um chão firme e seguro, e paredes vão se erguendo ao nosso lado.

         Em primeiro lugar, são os pais que de imediato, formam uma pequena gruta para nos proteger de todas as intempéries dessa vida. E, à medida que vamos crescendo, esse território onde pisamos, vai se alargando com a chegada dos amigos. E passamos a vida toda sem perceber que, seria impossível viver sem os pais, sem os amigos, numa solidão completa. Sem território, sem domínio para se locomover.

         Os pais é que abrem os caminhos, enquanto engatinhamos para largos horizontes. Os amigos dividem as alegrias e as dúvidas, que nos assolam a todo o momento. Experiências são divididas, para que erros não sejam repetidos. Com eles, aprendemos a viver melhor.

E assim, quando já estamos caminhando com certa segurança, os pais são substituídos pelos filhos, que requerem mil cuidados.

E assim, acabamos por reproduzir tudo que os pais viveram e experienciaram. Às vezes, de forma mais sofrida, outras de menos. Mas, repetimos tudo, mesmo sem querer.

E assim, a vida vai seguindo seu caminho, e a gente sempre escudada por amigos nos apoiando, fortalecendo, dividindo dores e alegrias, confraternizando. E nos acostumamos a ter os amigos fiéis sempre à mão para nos ajudar, achando que isso é natural.

Mas, os amigos também se vão.

Alguns partem tão de repente, que nos sentimos traídos por eles.

Outros se vão, após longa agonia, que nos faz pensar em morte como libertação.

Quando se viveu como eu, mais de sete décadas, a perda passa a ser quase mensal, e o coração fica pequenininho quando passa o carro da Funerária, anunciando mais um passamento.

Ultimamente, tenho perdido tantos amigos, que sinto a casa desmoronando, as paredes estão cada vez mais baixas e o chão... o chão que pisava com tanta firmeza e segurança, está limitado e mal e mal cabem os meus pés. Sinto um abismo profundo em volta, e não duvido que meu tempo esteja terminando.

Não temo, porém, a morte. E nem lamento morrer, mesmo porque seria inútil chorar o inevitável. Só lamento esse vazio, que vai tomando conta da vida da gente, quando os amigos partem.

Primeiro, foram os pais. Dolorosa separação da qual, muitos de nós não conseguem jamais se recuperar. Depende de sua crença em Deus.         Algumas vezes, são os filhos que vão primeiro. Acredito que deve ser mais doloroso ainda, porque não obedece à lógica que cultivamos. Mas, tudo é intangível, e não há nada que explique e justifique essas ocorrências.

Há uns vinte anos atrás, minha mãe ia a tantos velórios, que ocorriam quase que semanalmente. Eram os amigos de quarteirão, os do Nipo, os da religião, os parentes e os parentes de parentes.

Hoje, percebo que repriso tudo que mamãe fez. Não quero ir a velórios, mas não dá pra ficar indiferente à dor de um amigo, que perdeu um familiar.

 E vou a velórios, não porque seja um acontecimento social, mas porque é um momento de dor, que precisa da fortaleza de amigos, para ajudar a passar aquelas horas difíceis. Mais importante que tudo, acho que é o tempo que você tira do seu cotidiano, para tentar aliviar a dor da família, com a sua presença amiga.

E todo velório é igual. Quando chega a madrugada, só os familiares ficam velando o falecido. E as horas não passam. É devido à ociosidade, à falta do que fazer. Horas compridas... tristes... dolorosas...

 E por mais que se ame o finado parece que a hora do funeral é uma  libertação. E é muito estranho, porque depois que se faz tudo que deve ser feito, o desespero maior acaba passando. Acho que é a lei natural da vida.

E por falar em enterros, Akira Kurosawa, famoso cineasta japonês mostrou no filme Sonhos, o funeral de uma senhora centenária num vilarejo do antigo Japão. O cortejo tinha banda de música, com gente dançando e cantando hosanas, pela longa e bela vida da amiga que se fora. Tive uma amiga, a Lena que pediu e foi atendida, para que no seu velório se colocasse música em tom bem baixinho no seu ouvido.

Também eu gostaria que o meu funeral fosse alegre, pelos bons momentos que vivi até agora, que no máximo se rezasse um terço para pedir a misericórdia de Deus, e nada de flores... gosto de flores no jardim, que é o lugar onde elas ficam bem.

Já pensou ser enterrada ao som da 9ª sinfonia de Beethoven?

Haverá glória maior?


Mirandópolis, setembro de 2012.

kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”



        

quinta-feira, 27 de setembro de 2012


8. História de Mirandópolis

dos anos 40/50
Relato de Elídio Ramires


      Mudança para o Paraná e volta a Bauru

            Embora já tivesse iniciado no ramo da advocacia como estagiário tocando vários processos em parceria no escritório de um amigo em Bauru após o encerramento de minhas atividades comerciais em 1970, por sugestão de meu irmão José, no início de 1972, resolvi com a devida aprovação da Neiva, iniciar minha atividade de advogado com banca própria, em Nova Esperança, no Paraná, onde meu mano era comerciante muito conhecido e bem relacionado. Lá, com o apoio de meu irmão, fui advogado da Associação comercial, da Prefeitura e assessor jurídico da Câmara Municipal de Uniflor, cidade vizinha, cujo Prefeito era amigo do José. Como jornalista, criei um boletim informativo na Associação Comercial e colaborei semanalmente com o jornal local, “O Regional”, escrevendo artigos de cunho político e jurídico.
Infelizmente, apesar dos bicos profissionais da prefeitura, da Câmara de Uniflor e da Associação Comercial que me cedeu as salas da própria sede para instalação do escritório de advocacia, a renda  da banca como profissional não deslanchou, em face de a cidade já contar com três advogados antigos e bem relacionados.
As circunstâncias me levaram a buscar novo caminho e, entusiasmado, com o sucesso que faziam na cidade os produtos BATAVO, produzidos pela Cooperativa Central de Laticínios do Paraná, principalmente o iogurte, tive a idéia de tentar obter  concessão para a sua distribuição no interior do estado de São Paulo, com sede da sua distribuição em Bauru. Fui à sede da Cooperativa em S. José dos Pinhais: consegui a concessão sob contrato e voltei no final de 1973 para Bauru.
Associei-me no empreendimento com meu irmão Antônio, alugamos um local adequado: registramos a firma; compramos uma câmara frigorífica de 45m3, 4 peruas isotérmicas e iniciamos a comercialização dos produtos em supermercados da região.
O início do negócio nos primeiros meses foi um sucesso, que logo foi arrefecendo em função da sabotagem que fomos sofrendo dos vendedores das outras marcas mais conhecidas do mercado, que ao colocar seus produtos nas câmaras dos mercados, afastavam nossos produtos para lugares inadequados, furavam os potinhos de iogurte e falavam mal do produto.
Os prejuízos foram se acumulando e em poucos meses tivemos que encerrar as atividades, vendendo câmara e peruas  para um  supermercado de Sorocaba.
Mudança para Andradina
 e o cargo de Inspetor de Trabalho

Com o fracasso do empreendimento, o caminho seria voltar a advogar. O problema era saber onde montar a banca. Entremente surgiu a abertura de um concurso para Inspetor Federal do Trabalho exclusivo para pessoas formadas em Direito, com limite de idade em 45 anos, o que me permitia participar, pois estava com 43.
Fui a S. Pulo; me inscrevi no concurso, que foi realizado no mesmo ano e felizmente me sai muito bem nas provas.
Como não havia perspectiva de quando sairia o resultado e a respectiva nomeação dos aprovados, acabei aceitando sugestão de minha irmã Elza e meu cunhado Arnaldo, moradores antigos e bem relacionados em Andradina, para ir  advogar na cidade. Era o ano de 1974.
Na presunção, quase que absoluta, que se saísse minha nomeação para o cargo de Inspetor do Trabalho, poderia exercer  o cargo lá mesmo em Andradina, onde já existia um Posto Regional do Trabalho, não tive dúvidas em enfrentar mais uma mudança, com a devida compreensão de minha mulher e dos meus filhos, já todos adolescentes.
Tive boa recepção na cidade, onde encontrei muitas pessoas conhecidas, inclusive de Mirandópolis. Instalei meu escritório de advocacia, mas exerci a profissão apenas pouco mais de um ano, uma vez que em 1975 saiu minha nomeação para o cargo de Inspetor Federal do Trabalho, que assumi escolhendo para trabalhar na própria cidade de Andradina, cuja indicação foi aprovada pelo Delegado Regional do Trabalho em São Paulo, na época, Dr. Vinicius Ferraz Torres.
Após a posse, iniciei meu trabalho apenas como Fiscal, visitando empresas, fazendo autuações quando necessário, e dando plantão no Posto Regional, que era dirigido por uma senhora não concursada e sem formação universitária, que não sentindo-se à vontade  com a minha presença na Unidade, pediu transferência para outra cidade.
Fui então nomeado Chefe do Posto, função que exerci até 1983. Durante o período, voltei a exercitar minha vocação de jornalista colaborando frequentemente com o “JORNAL DA REGIÃO” de Andradina, desta feita, mais sobre assuntos jurídicos e trabalhistas.
Durante os oito anos que morei em Andradina, tive a oportunidade de visitar muitas vezes Mirandópolis e conviver com velhos amigos, como Orlando Barbosa de Oliveira e Rubens Jordani, inclusive participando com a família em um churrasco na fazenda que possuíam nas barrancas do rio Paraná.
Entre as visitas uma me causou muita satisfação, uma vez que me deu a oportunidade de dar uma última ajudasinha para o progresso de Mirandópolis, foi quando em fevereiro de 1978, estive na cidade acompanhando o Dr. Vinícius Ferraz Torres, Delegado Regional do Trabalho em São Paulo, em visita a Andradina e região, para tratar da instalação também de um Posto Regional do Trabalho em Mirandópolis, tendo sido recebidos pelo então Prefeito Lourenço Marcos Fernandes, que deu todo apoio à iniciativa, tendo a unidade entrado logo em funcionamento com a cessão de um funcionário do Posto de Andradina.
Em 1979, um pouco cansado com a rotina das questões trabalhistas, resolvi participar do concurso para Agente Fiscal de Rendas, aberto naquele ano no governo Paulo Egydio Martins. As provas foram realizadas em Araçatuba e dos quase 50 mil candidatos que prestaram exames no Estado, foram aprovados 1.400, entre os quais peguei o 371º lugar. A nomeação dos aprovados, entretanto demorou 4 anos para acontecer, uma vez que o sucessor do Governador Paulo Egydio, o ilustre político Paulo Maluf, entendia desnecessário o Fiscal de Rendas. (continua na próxima semana)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012



7. História de Mirandópolis
dos anos 40/50

Relato de Elídio Ramires

Capítulo VII – Casamento, Faculdade e Mudança para Bauru

Em 1957, já funcionava em Bauru a 3ª Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, a Instituição Toledo de Ensino fundada pelo Professor mineiro Antonio Eufrásio de Toledo, e que admitia curso vago, apenas com comparecimento para provas, compensando as ausências por trabalhos jurídicos determinados pelos professores.
Era a oportunidade para realizar meu sonho de me formar em direito. Me inscrevi no vestibular daquele ano, comprei livros e apostilas  adequadas e me preparei para os exames que se constituíam de poucas matérias, porém que exigiam profundo conhecimento: Português – gramática, redação e literatura – escrito e oral, Latim – escrito (tradução) e oral e a tradução por escrito de um texto em francês ou inglês, à escolha. Escolhi o texto em francês.
Disputando com mais de 500 candidatos, fui felizmente aprovado entre os 250 selecionados, tendo iniciado o curso em março daquele ano e aprovado para o 2º ano.
Um incidente administrativo, todavia, interrompeu meu curso trancando minha matricula no segundo ano, já iniciado, em face do surgimento de irregularidades constatadas pelo Ministério  da Educação em certificado obtido em exame de “madureza” prestado por mim em Bariri, e utilizado para matricula na Escola de Comércio, cujo certificado  de conclusão de curso  também resultou suspenso, juntamente com a matricula da Faculdade, até a regularização da situação.
Conquanto tenha dado explicações sobre a ocorrência em sessão na Câmara Municipal, fui agredido moralmente por um dos vereadores que já tinha certa indisposição política comigo; que fez de tudo para me desmoralizar, acusando-me de utilizar certificado de ginásio falso para entrar na Faculdade de Direito chegando a mandar imprimir e distribuir na cidade panfletos tripudiando sobre o incidente, atitude própria de um néscio, posto que não lhe ocorreu  refletir que uma pessoa que teve a capacidade intelectual para ser aprovada em um vestibular da Faculdade  de Direito, enfrentando com sucesso todas as matérias acima descritas, em exames escrito e oral, deixando para trás quase trezentos outros candidatos e já estar no 2º ano do curso; uma pessoa que exerce a função de redator de jornal, que escreve artigos, crônicas, reportagens e notícias que são publicadas em jornais de cidades vizinhas e da capital, seria impensável não ter , essa pessoa, capacidade para ser aprovado em um simples exame de 2º grau, para o qual também estava preparado.
Suas acusações, portanto, não passavam de abstração vingativa, fruto de sua ignorância e má fé, simplesmente por uma questão política para me humilhar e me desmoralizar na cidade, onde sempre gozei de amizade e de admiração de seu povo. Daí a minha decepção e arrependimento de ter sido vereador. É a única mágoa que trago dos 18 anos que residi em Mirandópolis.
Felizmente, tudo passou e coisas melhores e mais felizes me aconteceram, logo em seguida. Em 12 de janeiro de 1958, após 2 anos de noivado, me casei com a jovem professora Neiva Lanza de Oliveira, que acabara de concluir o curso de normalista, filha de Antonio Pires de Oliveira, comerciante na cidade e Helena Lanza de Oliveira, funcionária do Hospital Regional Estadual e formos morar na casa que havia construído na Rua Getúlio Vargas, esquina da Casa de Saúde Sta. Terezinha, onde nasceu em 25 de abril de 1959, nosso primeiro filho, Eduardo Augusto, sob a assistência do Dr. Francisco Theotônio Pardo.
Apesar de injustiçado, continuei exercendo meu mandato de vereador até o fim, cuidando dos meus negócios na Casa e Fábrica de Móveis Cristal e colaborando de vez em quando com o jornal “A Cidade”, cuja redação já havia deixado, e como correspondente da Folha de S. Paulo, sucessora da Folha da Manhã.
Nesta altura a padaria da família já havia sido vendida para os Irmãos Franco e quase todos os meus irmãos já haviam tomado outros rumos, com exceção do Adelino e o Osvaldo, ambos já casados, que continuaram morando em Mirandópolis. Minha mãe havia se casado novamente e estava morando em Campinas com meu padrasto Francisco Miloch. Os pais da Neiva também haviam se mudado para Promissão.
Negociei com o Crevelaro minha parte na sociedade que mantive com ele durante 8 anos, concedendo-lhe 10 meses de prazo para retorno de meu capital, dentro de uma perspectiva de redução de estoque com o encerramento de nossa loja-filial e do depósito que mantínhamos na Rua Rafael Pereira. Vendi minha casa em Mirandópolis para o dr. Antonio Duenhas Monreal e após uma  viagem a Bauru, onde aluguei uma boa casa nos altos da cidade, em janeiro de 1961 deixamos Mirandópolis, da qual levamos muita saudade, esquecendo os maus momentos de 1957.
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A colega Kimie pediu-me que escrevesse sobre a minha vida e de minha família, após a saída de Mirandópolis. Porisso, com o devido respeito, pedindo desculpa pelo abuso, aos leitores que, eventualmente, tiveram a paciência de me lerem até aqui, vou fazê-lo.
Em Bauru montei, inicialmente, uma fábrica de esquadrias sob a gerência de um marceneiro de confiança que levei de Mirandópolis, transformada, posteriormente, em fábrica de móveis de fórmica, com venda no atacado e no varejo em uma casa de móveis que abri na Rua Araujo Leite. Os negócios foram regulares até meados de 1964. Com a sobrevinda da revolução, os bancos passaram a dificultar o desconto de duplicatas das vendas no atacado, o comércio entrou em retração, e os negócios pioraram muito, me colocando em situação de dificuldade financeira com preocupações de toda ordem, sem qualquer possibilidade de cuidar de minha situação escolar, o que só vim a fazer em 1967, quando prestei novo exame supletivo no Instituto Estadual “Ernesto Monte” (o mais rigoroso de Bauru), obtendo novo certificado ginasial, com o qual requeri junto ao Ministério da Educação no Rio de Janeiro, a validação de meu certificado de Técnico de Contabilidade. Isto feito requeri ao Exmo. Sr. Reitor  da Faculdade de Direito Dr. Antonio Eufrásio de Toledo, a revalidação de  minha matrícula  no 2º ano  do curso, retornando, finalmente à Faculdade   no ano letivo de 1968, concluindo-o em 1971, ano em que coincidentemente, entrou em vigor o exame da OAB, cuja estréia foi exatamente na Faculdade de Bauru e no qual fui aprovado sem dificuldade entre  os primeiros 8 colocado.
Foi nesse período também, em Bauru, que nasceram os meus outros três filhos: Carlos Alberto em 1961, Regina Célia em 1965 e Vera Lucia em 1967. (continua na próxima semana)

sábado, 15 de setembro de 2012



Um Pedido de Perdão

      O casal desceu do trem na estação de Mirandópolis, a mulher trazia nos braços uma criança enrolada em uma manta. O homem carregava uma pequena mala e um saco com algumas roupas. Era um casal jovem, sadios, mas seus rostos mostravam uma grande tristeza.
 Atravessaram os trilhos e desceram para a Rua Aguapeí (Dr. Edgar), e na altura do atual Banespa foram abordados por um velho, negro, magro, que humildemente perguntou-lhes o que estava acontecendo.
A mulher, chorando, contou-lhe: “- Estamos chegando de Araçatuba, fomos buscar nosso filho no hospital Santana, ele está com pneumonia e os médicos disseram que não têm mais o que fazer.”
 Continuaram descendo a rua e ela continuou a narrativa:- Este é o nosso único filho, está com seis meses de idade, já perdemos quatro ao nascerem e vamos perder mais um.”
Ao chegarem à Rua do Comércio (Nove de Julho), viraram à direita, pois moravam no meio daquele quarteirão, próximo onde é a selaria São Jorge. O velhinho se apresentou: “- Meu nome é Cassiano, sou pai do Arlindo alfaiate e peço permissão a vocês para benzer o garotinho.”
O casal deu a permissão, convidou-o para entrar, mas ele disse que ficaria no quintal mesmo. Apanhou uns ramos de arruda, mandou que a mulher sentasse com o garoto no colo e por três vezes passou os ramos pela criança orando em voz baixa. Ao terminar mandou que desse a mamadeira ao menino.
A mulher disse que não adiantaria, que ele não estava mais mamando e que quando mamava alguma coisa, vomitava tudo em seguida. Ele insistiu para que amamentasse, então ela cedeu. O garoto mamou tudo e não vomitou.
O casal não sabia o que dizer, não acreditava no que via, até a febre havia diminuído.
 Seu Cassiano falou: “- O menino não vai morrer, à tarde volto para benzer novamente.” Despediu-se, voltou aquela tarde e muitas outras, pois passou a ser considerado alguém da família.
A criança sarou, cresceu, o casal vendeu a casa para o Motomiya e comprou outra de um dentista, na Rua São João, mas a amizade deles continuou sempre muito firme e sincera.
O casal contou a história para o garoto e ele sempre que encontrava seu Cassiano corria a apanhar ramos de arruda e pedia: “- Vô Cassiano, me benze...”
Quando o pai do garoto não estava trabalhando nas fazendas, derrubando árvores, no machado e no trançador, pois ajudou a abrir as fazendas dos Peres, dos Gotardi, e muitas outras, ele subia a Rua São João, à tardezinha, com seu Cassiano e o convidava para um café.   O garoto, já com sete anos de idade, jogava futebol com os amigos, mas assim que os via, corria, apanhava um ramo de arruda, e pedia para o vô Cassiano benzê-lo.
Numa tarde, depois que seu Cassiano foi embora, um amigo chegou até ao garoto e exclamou: “-Demá, seu avô é preto!!!!!!!!!”
         No dia seguinte, quando Demá viu o pai e seu Cassiano dobrarem a esquina, foi se afastando, foi se esquivando e se escondendo atrás do poste. Seu pai estranhou o comportamento e disse: “-Não vai pedir a benção ao vô Cassiano e pedir que o benza?”
 Seu Cassiano falou: “- Deixe o menino, ele está com vergonha porque sou preto.”

          Nota: Eu tinha de escrever esta história. Há cinqüenta e oito anos isto me machuca. Apesar de ter certeza absoluta, de que naquele momento, seu Cassiano me perdoou, pois ele tinha algo “Divino”, algo mais que nós simples mortais, não temos. 

  • ademar bispo

sexta-feira, 14 de setembro de 2012





6.  História de Mirandópolis
dos anos 40/50
Relato de Elídio Ramires

CAPÍTULO VI – Minhas novas atividades na cidade

Paralelamente às minhas incursões no campo literário e jornalístico, continuava trabalhando nas Indústrias Mizikami.  Mas, em 1952, a péssima situação econômica do país, com a volta de Getúlio ao poder, causou retração nas vendas e da pesada dívida assumida, a situação da firma entrou em colapso, sendo forçada a cessar atividades e vender seu patrimônio, quando então me desliguei da empresa.


Como tinha um bom valor em crédito de salários a receber, somado a um empréstimo, que minha família havia feito à firma, negociei com o Jonas a aquisição da Casa de Móveis Cristal e respectivo estoque, que a empresa possuía na Rua do Comércio 510, em pagamento da dívida associando-me em seguida com José Crevelaro, então gerente da marcenaria, para tocarmos o ramo do negócio, com o objetivo de montar inclusive uma oficina de marcenaria no terreno ao lado da loja. A transação se concretizou com a fundação da firma: Ramires & Crevelaro Ltda, com o capital inicial de 20 mil cruzeiros, sendo os 10 mil da parte do Crevelaro representados por um lote de terreno que possuía em Andradina.
Inicialmente, apenas o Crevelaro, que já morava com a família na parte residencial da loja, ficou cuidando da mesma. Eu apenas cuidava da parte administrativa e como principal atividade, além de continuar como redator do jornal, adquiri a Escola de Datilografia do Prof. Ayres Monteiro. A escola possuía 5 máquinas de escrever e respectivos móveis, que instalei em pequena casa construída pela minha mãe, nos fundos da padaria, onde também minha irmã Elza montou um curso de preparatório para o ginásio.
Para legalizar a Escola, prestei exames de comprovação de capacidade técnica, no Departamento de Ensino Profissional, em São Paulo, que me conferiu o certificado de registro da Escola.
A iniciativa, entretanto, durou pouco tempo. Alguns meses depois, logo que eu e meu sócio Crevelaro terminamos de montar a fábrica de móveis e esquadrias com maquinário que compramos em Monte Alto vendi a Escola para o Prof. Pedro Paulo Guizelini, para agrega-la à Escola de Comércio que  ele estava montando na cidade, e passei a administrar em tempo integral nosso empreendimento comercial, que passara a ser também industrial e que felizmente, ia muito bem.
O trabalho em tempo integral na loja, porém, não me impediu de continuar respondendo pela redação do jornal, escrevendo os artigos oportunos e as notícias da semana, inclusive comparecendo todo sábado para revisar as provas de teste de impressão.
Minhas atividades em Mirandópolis, todavia, não se limitaram apenas à redação do jornal “A CIDADE” e à Casa de Móveis Cristal. Entrementes, tentei realizar o sonho de ter uma livraria e entusiasmado, montei a LIVRARIA DOS ESTUDANTES em um pequeno salão alugado na rua Araçatuba, hoje  segundo consta, rua Gentil Moreira, colocando meu  irmão Osvaldo para tomar conta. O negócio, porém não foi bem e acabei vendendo-a à Dinorá Correa, que a transferiu para o outro lado da rua em um salão maior e ampliou o seu estoque, conseguindo maior sucesso.
A par de tudo, continuei escrevendo crônicas e poesias, que além de publicar na “A CIDADE”, continuava como antes enviando para outros jornais da região.
Atividades sociais e Institucionais
Além de exercer através do jornal “A CIDADE” e das notícias que enviava à FOLHA DA MANHÃ, um trabalho que a meu ver, importante para a cidade, ainda tive a honra de participar de várias entidades sociais, culturais e institucionais em Mirandópolis como, por exemplo a fundação do Grêmio Teatral Amigos de Mirandópolis (GATAM), do qual fui Presidente e que reuniu amigos como Francisco Von Dreyfus, seu diretor  artístico, Arnaldo Rodrigues Eid  vice-presidente  e outros que participavam do elenco, levando o nome  da cidade  a várias cidades vizinhas, com satisfatória interpretação das peças teatrais.
Outro cargo importante que muito me honrou foi ser Presidente do Clube Atlético Mirandópolis-CAM. Com o abandono da parte esportiva no final dos anos 50, o CAM tornou-se apenas um clube social de pouca atividade, sustentado pelas mensalidades de seus associados, e a renda de jogos de baralho, que funcionavam em área aberta, no fundo do salão. Insatisfeitos com a situação, eu e meus amigos Luiz Gonzaga Andrade, Rubens Jordani, Orlando Barbosa de Oliveira, Ivando Junqueira e outros resolvemos participar da eleição sucessora do mandato de Adelino Minari, e fomos eleitos, formando a nova Diretoria, tendo eu como Presidente.

Em pouco tempo mudamos totalmente a dinâmica administrativa do Clube, começando por vender um piano, comprado pela diretoria antecessora, e aplicando o dinheiro em aparelhagem de som, com alto-falantes nas paredes, aquisição de discos, modernização do salão, com instalação de arandelas para iluminação indireta, aquisição de cadeiras mais confortáveis, enfim, melhorando em todos os setores o funcionamento do clube, que continuou, em parte, se sustentando com as comissões cobradas nos jogos de baralho, ainda não proibidos e dos quais até o Delegado participava.

Além da mesa de ping-pong à disposição dos associados todos os dias, e das brincadeiras dançantes aos domingos, animadas com discos, promovemos durante a nossa gestão, os melhores e mais animados bailes da época, todos abrilhantados pelas mais famosas orquestras do Estado, como Pedrinho e sua orquestra, de Guararapes, a Orquestra Marajoara de Jaboticabal, a orquestra Sul América de Catanduva, e outras.

Somente com Pedrinho e sua orquestra, contratamos em certa ocasião, de uma só vez, 8 bailes a preço reduzido, para serem realizados em datas disponíveis a serem escolhidas.

Os bailes de Carnaval também, em nossa gestão foram os melhores e mais bem organizados da época. Eram sempre esperados com ansiedade pelos foliões que participavam dos 4 bailes, brincando com muita descontração entre amigos e familiares, jogando serpentina no salão e atirando entre si, confetes e lança-perfume, ainda não proibido.  As músicas mais tocadas foram as que marcaram época em bailes de carnaval até hoje: “Jardineira”, “Daqui não saio”, “Nem um chope”, “Sassaricando” e outras que até hoje são lembradas.

Enfim, a Presidência do CAM foi um período de sucesso em minha vida que me deixou muita saudade.
Fui também 1º secretário da Associação Comercial, fundada sob a presidência de Wilson Giampietro Ribeiro e  membro do corpo de Jurados da Comarca, embora tenha participado de um único júri.
O último cargo que exerci em Mirandópolis, que classifico de institucional, porque na época não era remunerado e sim trabalho em prol da coletividade, foi o de Vereador.
Eleito em 03 de outubro de 1956, em 3º lugar entre os mais votados para o mandato de 57/60, fui eleito pelos meus pares no primeiro ano de mandato 1º secretário da mesa diretora, e no 2º ano segundo secretário da mesa.

 Infelizmente, apesar de meus esforços não pude fazer muito pela cidade, uma vez que meu partido, o PSP de Adhemar ficou em minoria na Câmara, e a maioria pertencente ao partido de Janio Quadros do Prefeito Alcino Nogueira de Sylos, não aprovava nada proposto pela oposição.
Foi o único cargo que exerci em Mirandópolis, que em vez de me causar satisfação, me causou dissabor e decepção. A política gera comportamento estranho na maioria das pessoas. É coisa complexa de efeitos bilaterais inexplicáveis para uma pessoa sensata. Ao mesmo tempo em que se faz amigos fiéis, gera inimigos gratuitos e as vezes, até mesmo agressivos a quem você  nunca fez mal, pelo simples fato de pertencer a um Partido diferente.
Jovem trabalhador habituado a realizar tarefas e desafios que assumia, em conjunto com parceiros e colaboradores sensatos, sem nunca encontrar pela frente inimigos, me senti na condição de vereador um inepto, um inútil, sem nenhuma possibilidade de concretizar qualquer proposta  ou indicação de serviços necessários em benefício da cidade, porque  todas eram rejeitadas e quando, eventualmente aprovadas, eram ignoradas pelo Prefeito.
Por isso considerei e considero até hoje, decepcionante minha experiência como vereador em Mirandópolis, uma inoportuna incursão na política, que felizmente nunca mias repeti em minha vida. (continua na próxima semana)

domingo, 9 de setembro de 2012


Gente de fibra - Waldir José Frigeri



Waldir José Frigeri é um homem simples, que nasceu em Promissão em 1937. Aos 3 anos de idade veio de mudança com a família para o Bairro Barreirão em Lavínia, onde morou até 1945, no sítio dos avós.

Por conta do trabalho na lavoura, sua família morou no Bairro Vila Nova, no Bairro km 50, em Mirandópolis, no sítio dos Wada em Guaraçaí, até que em 49 vieram para Mirandópolis.

Por essa razão, Waldir estudou nas escolinhas rurais e concluiu o Curso Primário no Grupo Escolar de Mirandópolis.

Quando menino, foi engraxate na Engraxataria do Décio Quírico. Como fora educado no hábito de freqüentar a Igreja Católica, certa noite foi às celebrações de Maria, que ocorria no mês de maio de todo ano. Nessa noite, algo estava reservado para ele, que determinaria o seu destino.

Dona Rosa de Lucchi, irmã de dona Antiniska de Lucchi Mustafa, que estava na Igreja, dirigiu-se ao grupo de meninos e perguntou se havia alguém interessado em trabalhar num Escritório. Mais que depressa, o Waldir levantou o braço e ali mesmo foi contratado. Isso foi em 1951, e o Waldir tinha apenas 13 anos de idade.

O menino foi contratado para trabalhar na Comercial Antonio Perez e Cia., cuja matriz era em São Paulo. Antonio Perez era irmão da mãe de Rosa e Antiniska de Lucchi.

A Empresa comprava café e amendoim, que beneficiava, descascando os grãos e revendendo para o mercado consumidor em São Paulo, ou despachando para o estrangeiro, através do Porto de Santos.

Naquela época, o Gerente da Comercial Perez em Mirandópolis era o senhor Dionino de Lucchi, irmão de dona Rosa.

O jovem tinha que fazer faxina do escritório, dos banheiros, ir ao Correio, e  efetuava outras pequenas prestações de serviço.

O escritório estava instalado nas proximidades dos barracões da Empresa Perez, na Rafael Pereira, onde hoje mora o Waldir e sua esposa Reny.

A Máquina Perez iniciou suas atividades entre 1937/38, logo ali onde hoje está instalado o Supermercado do Nilton, na Rafael Pereira. À época, o local era uma chácara dos de Lucchi, cercada de mata. Em frente, onde está a residência dos Kanzawa, era a Serraria de Belmiro Jesus, que era o proprietário das terras, onde atualmente é o Bairro Sampaio. Logo ali, beirando a linha de trem, havia um conjunto de casas residenciais dos empregados da Serraria. Eram todas de tábuas sobrepostas horizontalmente, e o bairro tinha o aspecto de cidade do faroeste americano. Ainda hoje, subsistem algumas casas daqueles tempos, numa rua apertada e meio escondida.  E logo à frente da Máquina dos Perez começava o loteamento do senhor Manoel Alves de Ataíde.

Tudo em volta era rústico, ruas de terra, sem nenhum conforto, sem serviço de abastecimento de água e de esgoto e nem eletricidade. A cidade estava ainda cercada de mata virgem.

Quando chegava a época da safra, caminhões e carroças chegavam trazendo sacas de café e de amendoim, e todos trabalhavam dia e noite, beneficiando os grãos. Havia cerca de trinta funcionários e umas cinqüenta moças contratadas para selecionar o café beneficiado, eliminando as pedras e os grãos defeituosos.

Os caminhões carregados de café vinham das fazendas de Guaraçaí, Lavínia, Valparaíso e de Mirandópolis. Formavam-se filas para descarregar a produção. Os pequenos produtores traziam-na em carroças, que predominavam como meio de transporte naqueles tempos.

Naquela época, havia também as Máquinas de beneficiar do Wada, do Lourencinho e mais tarde a Cooperativa que comprou a Máquina do Sr. Wada. Era a época de ouro do café, que sustentava a economia do país.

          Como não havia eletricidade, para beneficiar os grãos as máquinas eram movidas a vapor. Então, queimava-se muita lenha, que havia com fartura  ainda.

 A Máquina dos Perez teve o privilégio de ser atendida diretamente pela Ferrovia, para carregar as sacas de café e amendoim que despachava. É que diante dos barracões, havia um desvio de linha dos trens, o viradouro, para as manobras das locomotivas. Esse desvio de trilhos vinha da linha, passava ao  lado da Serraria de Belmiro Jesus, atravessava a atual Rafael Pereira e terminava na Nove de Julho, com uma barreira.

Justamente ali onde passava o desvio foram construídos os barracões dos Perez, o que facilitou o trabalho de carregar e descarregar as sacarias. A Serraria também aproveitou o desvio e construiu trilhos diante de seus depósitos de madeira, para facilitar o embarque da madeira. No auge da colheita, sempre havia um ou mais vagões estacionados no desvio, sendo abastecidos com as sacas de café que seguiriam para São Paulo e Santos.

Waldir entrou para a Empresa e aprendeu tudo lá. Dona Rosa foi para ele uma segunda mãe, ensinando-lhe principalmente respeito e educação.  Fez carreira na firma, começando do primeiro degrau e terminando como Gerente, quando se aposentou.

 Dos companheiros de trabalho, lembra com saudades de Sebastião Scorissa, que entrou na Empresa em 1946. Foi um verdadeiro irmão, companheiro e amigo; também conviveu com Hermenegildo Canhada, que era ajudante de Sebastião Socorissa; de Éder Bottura, que só ficou 2 anos lá, mas a quem tem uma gratidão até hoje. É que o Sr. Bottura o pegou ainda jovem , fumando bituca de cigarro e lhe passou “um sabão”. Waldir ficou tão envergonhado que nunca mais fumou.

Em 1960, casou-se com a jovem Reny Justino, que era telefonista há mais ou menos 5 anos na Companhia Telefônica de Rio Preto, cujo Centro de Atendimento estava instalado diante da Praça Manoel Alves de Ataíde, onde hoje existe a loja Aluxe. A Chefe ou Encarregada, quando a Reny foi admitida era a Sra. Maria aparecida, esposa do seu Leonel Mathias, substituída pela Sra. Dirce Godinho e mais tarde, pela própria Reny, que deixou a Empresa ao se casar, deixando em seu cargo a Sra. Maria Moreira.

Reny se lembra que as ligações interurbanas eram difíceis de completar e demorava muito para se estabelecer contatos. Mas, mesmo assim, eram muito procuradas, porque as pessoas não possuíam carros e viagens para fora eram mais demoradas e caras. Ligações para São Paulo às vezes demoravam de três a quatro dias para serem completadas. A Telefonia estava engatinhando e Mirandópolis foi uma das cidades pioneiras para ter esse serviço.

Reny não conseguiu estudar além do Curso Primário, porque o trabalho era prioritário para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos.

Lembra com saudades desses tempos duros, em que se alisavam as roupas com ferro de brasa. Era muito pobre e trabalhava para ajudar no orçamento da família. Ao voltar para casa, passava a roupa para receber o namorado; e muitas vezes, o carvão do ferro sujava a roupa, e ela chorava. Certo dia, a mãe lhe disse que havia um presente para ela. Sobre a sua cama havia um ferro elétrico! Lembra até hoje, da emoção de ganhar o primeiro ferro elétrico. Nunca mais queimaria suas roupas! Hoje se alguém der um presente desses,  nenhuma jovem ficaria feliz como ela ficou.

O Waldir retomou os estudos com trinta e cinco anos de idade, e através do Curso de Madureza que permitia recuperar o estudo regular do ginásio, conseguiu fazer o Curso de Contabilidade com muito sacrifício, na Escola 14 de agosto, de Pedro Paulo Guizelini.

Os dois se lembram que, à época de casados novos, a vida era tão dura que, para terminar a casa que construíram, todos os dias iam recolher os ladrilhos que eram jogados na rua, pelos pedreiros que estavam reformando o CAM (Clube Atlético de Mirandópolis). Os ladrilhos “catados” foram usados para fazer o piso da cozinha da primeira casinha, que ficava na Rua Bahia, onde hoje moram o Professor José Otávio Zanin e sua esposa.

O casamento os abençoou com três filhos: duas moças e um rapaz. A  vida foi difícil para ambos, porque desejavam dar os estudos necessários para eles. E com muito sacrifício conseguiram formar os três: a primogênita em Ciências Contábeis, o rapaz em Direito e a caçula é Professora.

E o propósito do casal não terminava aí, queriam dar uma casa e um carro para cada filho. E conseguiram. Dizem que não foi fácil. A Reny sempre cuidando da família sem a ajuda de ninguém, porque era necessário economizar. Mas, estão felizes por terem realizado seus sonhos.

Os anos foram passando, os dois pelejando sem esmorecer, sempre muito bem apoiados pela dona Rosa, a quem  veneram até hoje.

Quando Waldir entrou na Empresa, o senhor Dionino de Lucchi era o Gerente. Depois foi o senhor Alcides Rabello, depois dona Rosa e por fim foi o Waldir, que se dedicou à Comercial Perez trinta e nove anos de sua vida, sem tirar férias. Era tão dedicado que nunca pensou em parar para descansar, e nunca cobrou horas extraordinárias pelos serviços prestados. Foi Gerente a partir de 1966 e só parou em 1990 quando se aposentou.

Por tantos anos de serviço e dedicação à firma, Waldir foi recompensado.  Ao se aposentar, ganhou do senhor Francisco Godinho, sobrinho dos Perez, a casa onde mora até hoje. É a mesma casa onde moravam os De Lucchi antigamente. É verdade que a casa foi reformada, e a esquina onde hoje há uma loja foi adquirida pelo Waldir e família.

A história de Waldir e da Reny se confunde com a história da Máquina Perez. Esta marcou uma época do ciclo do café no Brasil e na região, onde os lavradores só se dedicaram à sua cultura.

E as histórias de Waldir e da Reny também se confundem, porque ambos ficaram sem o chefe de família quando eram crianças, e suas mães se casaram de novo tendo, pois os dois, outros irmãos do segundo casamento. Ambos foram muito bem cuidados pelos padrastos, que zelaram deles como verdadeiros e legítimos pais. E são muito gratos por isso.

Além do mais, o Waldir fala com orgulho das três mulheres que construíram sua vida e sua felicidade. São: a sua genitora dona Ana Maria, a  mãe orientadora que Deus colocou no seu caminho, dona Rosa de Lucchi e a companheira , amiga e amada esposa dona Reny, com quem divide as horas numa paz de Deus, sem nenhuma ambição.

Waldir José Frigeri, homem simples que dedicou uma vida inteira com coragem, dedicação e trabalho a uma firma e construiu sua vida é  GENTE DE FIBRA!  

 legenda das fotos:
              1-  Waldir José e Reny
              2 - Cafeeiro
              3-  Prédio da Comercial Antonio Perez e Cia.
              4 - Caminhão de café de Murutinga do Sul, com o Waldir, o seu Sebastião Scorissa, Idélio, Jacob e seu cunhado
              5 - Trem da N.O.B.
              6 - Serraria de Belmiro Jesus
              7 - Casa onde funcionava o Escritório da Máquina Perez, hoje remodelada e residência do Waldir. 

Mirandópolis, setembro de 2012.

kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com