segunda-feira, 29 de julho de 2019


            Modernidades
       Ontem estávamos conversando sobre celulares e essas coisinhas modernas usadas na comunicação diária.
       Entre os inconvenientes de ligações fora de hora, na hora do almoço, do banho e das madrugadas foi comentado sobre a diferença de fuso horário  nas ligações entre parentes distantes...  E os inconvenientes maiores que ocorrem.
       Mas, uma verdade absoluta foi tirada de tudo isso.
     Os Celulares estão deixando os usuários totalmente desmemoriados. Ninguém mais guarda os números de parentes, de filhos, de vizinhos... Estão  lá na telinha, então é só dar um clic e pronto! A comunicação é feita, sem nenhum problema.  Foi comentado que esposos não sabem de cor o número dos respectivos... Imaginem de sogras, de tios, de médicos, de hospitais, de farmácias... Ninguém mais usa o cérebro para guardar números tão importantes.
       É que está tudo na memória do celular, e ninguém se desgasta mais guardando tantos números na cabeça. Mas, se a energia acaba e dá um black out total por um dia inteiro ... Aí, se estabelece o caos total. A  reserva de energia dos celulares se esgota e ninguém consegue falar com ninguém...  Imaginem tudo escuro, e você sem nenhum contato. 
       Isso sim, é um samba do crioulo doido.
      E outro problema mais grave acontece quando você perde o aparelhinho por derrubá-lo, por roubo ou por acidente. Você perde a sua memória e fica travado! Nessa hora, você percebe que não sabe nem o número da casa de seus pais, irmãos, amigos, fornecedores...  Os dedos procuram algo que não existe mais. Mais grave quando você usa um aplicativo para movimentar suas contas do Banco. E não memorizou a senha! Trava tudo e você fica sem ação. Aconteceu com uma pessoa próxima e ele endoidou.  Ficou totalmente perdido. Não podia pagar, não podia retirar o dinheiro, não podia conferir se os clientes haviam pago... Vendas travada. As senhas e os cartões são mais seguros.
Sei que atualmente o avanço na comunicação via celulares permite até conversar com ele, por meio de aplicativos. Você dá uma ordem e eles executam, tipo ligar para outras pessoas se o dono dos mesmos estiver numa situação de emergência. Isso é muito interessante e eficaz. Mesmo estando meio distante é possível que o celular ligue para a Polícia, para o Hospital, para o Resgate. É um milagre da comunicação.
Tudo isso é fantástico! Os robôs roubaram nossa memória, nossa capacidade de pensar, de acumular informações. E ninguém precisa mais decorar números da placas de carros, de contas de Bancos, de Registros de Identidade, de Cadastro de Pessoa Física ou CPF, nem endereços....
Só é preciso ter um aparelhinho que virou a extensão dos dedos e do cérebro. Eu ainda prefiro a minha memória, mesmo que ela falhe de vez em quando.
 O meu cérebro é o meu arquivo mais valioso.

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in


quinta-feira, 25 de julho de 2019


               Homógrafas
      
       O Ulisses Silva Lacerda me atentou para uma característica interessante de nossa Língua.
       Postei que “O campo me espera!” e o amigo me perguntou: “De gate ball?” Campo lembra espaços grandes e tem diferentes finalidades.
Nossas palavras podem ser usadas em várias situações, carregando significados diversos. Por isso, precisamos definir se o campo é de futebol, de gate ball, ou de sítio...
       Então, passei o dia pensando em palavras que têm escritas iguaizinhas, ou homógrafas com significados diferentes. Por exemplo, a palavra “manga” pode ser uma fruta tropical muito saborosa, ou parte de um vestuário, ou uma torrente de água. “Banana” é um fruta comum e muito saboreada, mas muda de figura na expressão “ele levantou o braço e deu uma banana para o povo” ou “Ele é um banana!” “Goiaba” também é uma fruta deliciosa, mas muda de significado em “Ele é um goiabão!”  
Outra palavra com vários usos é “folha”, que pode ser um apêndice de uma planta, ou peças finas e planas de papel, zinco, isopor, ouro... Ou folhas de caderno, de livros... E “botão” também é parte da vegetação que se abrirá em flor. Mas usamos botão para denominar pequenos acessórios que fecham nossos vestuários. E ainda para nos referirmos ao dial de rádios, de maquinários... E “galho” é uma extensão da planta, mas todo mundo usa “quebrar o galho” pra resolver pequenos problemas... Ou pior ainda: “Ele nem sabe que tem galhos na cabeça!”
       “Poço” é a denominação de um buraco feito na terra para retirar a água potável. Como quase sempre é um buraco profundo, costumamos dizer que “fulano é um poço de sabedoria... Ou de ignorância” E ainda tem a correspondente homófona, ou de som igual, mas que se escreve diferente “posso” que é do verbo poder.
       A palavra “beira” é uma redução de beirada e significa lateral, margem. Então é normal usar a expressão beira mar, beira rio. Mas usamos também para companhia, ao dizemos: “vou pegar uma beira”.
       Como vêm, a nossa Língua permite uma variação infinita de expressões usando apenas algumas palavras comuns.
       Então, vamos lá.  “Capa” se refere a uma cobertura geralmente de proteção contra o frio, contra a chuva, contra o pó, contra o vento. Mas pode ser usada para se referir à retirada de órgãos sexuais, do verbo capar ou castrar... Castrar os pedófilos!
       A palavra “Xadrez” se refere a um jogo bem antigo que requer muita perspicácia dos jogadores. Como no tabuleiro da vida tem os Peões (o povão), os Cavalos (armas), os Bispos (as eminências pardas que puxam os sacos dos poderosos), as Torres (os esconderijos), a Rainha e o Rei... E sempre o Rei tem que ganhar. Nunca os peões ganham porque são apenas pedras no caminho do Rei e da Rainha... Não gosto de xadrez, porque só o Rei e a Rainha é que têm valor... Como se pudessem existir sozinhos...  Só que a palavra Xadrez também é usada para se referir ao cárcere, ao xilindró, à cadeia, onde se depositam os bandidos e os criminosos. Vingança do povo para sujar a imagem nobre do Xadrez? E xadrez também é o tecido todo quadriculado, que o pessoal usava na roça, e hoje é usada em festas caipiras...
       E por aí vai. Infinitamente.
       Dá para se divertir muito descobrindo outras palavras homófonas e homógrafas. Isso é muito complicado para quem é estrangeiro e que quer aprender a nossa Língua.
Se bem que na Língua Japonesa também há expressões semelhantes. E dificultada mil vezes pelos complicados ideogramas, que mudam completamente de significado conforme o contexto... Por isso, não entendo direito os ditos populares japoneses....

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in
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segunda-feira, 22 de julho de 2019


    Xadrez
    Confesso que a política me desencantou de vez.
          Tanto a nacional como a local.
      A gente é apenas uma peça de um tabuleiro de xadrez, que meia dúzia de espertalhões manipulam a torto e a direito. Somos apenas peões descartáveis. Não temos nenhum valor de ganho. Os Bispos, as Torres, os Cavalos fazem de tudo para proteger seu Rei ou sua Rainha. E as jogadas sujas ocorrem o tempo todo, para desferir um golpe certeiro nos peões adversários. E ao longo das jogadas, peões vão caindo e são descartados.
       Nunca consegui aprender a jogar xadrez. É um bocado complicado, e eu não gosto de jogos. Nem de cartas, de bingo, nem tômbola... Exige inteligência, raciocínio rápido e certeiro e uma visão antecipada das possibilidades. Sou fraquinha nisso...
       Mas tem gente exímia no jogo de xadrez no tabuleiro da vida. Dá cada salto mortal, se traveste de bispo, sobe na torre e sempre, sempre derruba vários peões para chegar até a sua meta. Sua meta é o xeque mate, derrubando a Rainha e chegar à zona de conforto do Rei. Todos querem morar no palácio e mandar, mandar, mandar. Ser um Rei poderoso e déspota. Palavra de Rei é Lei!
       Atualmente há tantos enxadristas movendo seus cavalos e seus bispos, para esconder jogadas sujas atrás de torres bem fortalecidas... Como nossos políticos não prestam!  Aliás, acho que nunca prestaram, nós é que não sabíamos! Política se tornou o caminho mais rápido para alcançar objetivos vis. E com o aval explícito dos eleitores...
       E é deprimente demais perceber que nós brasileiros acostumamos com esse cenário de jogatinas, que nem nos assustamos mais. Estamos encarando como normal um Ministro tomar uma decisão que vai afetar o país inteiro, em benefício de notórios bandidos. E nem nos revoltamos mais. Acho que perdemos a capacidade de indignação. Eu mesma me assusto com a minha passividade quando tomo conhecimento de barbaridades, que são noticiadas todos os dias pelos meios de comunicação.
       Mesmo assim, lá no fundo da alma, ainda há um desejo sempre acalentado, que insiste em pensar num mundo de paz, de verdade, de bondade.
       Sabia que a Democracia foi inventada para o benefício de todos? Que as eleições deviam escolher os melhores para nos representar e agir em nosso nome? Para uma sociedade justa e igualitária?
Quando foi que permitimos a prostituição da tão decantada Democracia?
       Democracia já era!

      Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in


quinta-feira, 18 de julho de 2019


          Sobre eclipse lunar e solar
       

      Nos primórdios dos tempos, quando os homens acreditavam que o trovão era a voz de Deus e as queimadas uma grande punição, reinava absoluta ignorância. Imaginem nessa época, o sol se apagar de repente e a Terra inteira mergulhar na escuridão como se fosse noite em pleno dia! Ou a lua ir se apagando aos poucos em noites de lua cheia...
Os povos primitivos inventaram lendas e mais lendas a respeito dos eclipses tanto lunar como solar. Os estudiosos daquela época sabiam que isso não passa de um fenômeno da natureza. Eles sabiam que a Lua ao se alinhar entre o Sol e a Terra provoca o eclipse solar, escurecendo a Terra.  Que a Terra se alinhando entre o Sol e a Lua provoca o eclipse lunar. E que as pessoas eram muito ingênuas e crédulas.
Quando eu era criança, meus pais costumavam dizer que ano de eclipse solar não é bom para as roças, para as hortaliças...  Que dá um reverso na produção e nada sai de acordo. Certo ou errado cresci com  essas ideias na cabeça.  
Há lendas e lendas no mundo inteiro sobre eclipses. Desde prenúncio de morte de monarcas, como presságios de desgraças e doenças, até monstros gigantescos que engoliam o Sol apagando a luz da Terra... Em contrapartida, os primitivos ofereciam pessoas vivas como sacrifícios para acalmar os deuses.... E na África diziam que a Lua de sangue se resumia numa grande briga entre ao Sol e a Lua. E para resolver essa questão, todos os homens deveriam fazer as pazes com seus desafetos. Seria ótimo se isso fosse verdade!
 Um dia, assisti a um filme coreano muito bem elaborado em que o monarca autocrático usa um eclipse solar para ameaçar os súditos.  Disse que apagaria o Sol porque tinha poder para tanto! Se os pobres vassalos amedrontados não cedessem às ordens determinadas, o Sol nunca mais voltaria.  É claro que por trás desse Rei havia astrônomos e estudiosos dos fenômenos da natureza, para garantir que o fato ocorreria. E o eclipse aconteceu, e o dia virou noite, e soprou um vento terrível, e as multidões gritavam e choravam pedindo a volta da luz... Quando toda a gente apavorada se rendeu à vontade do Rei, o Sol voltou à Terra. E todos acreditaram que o soberano era uma espécie de Deus ou Diabo... E nunca mais se rebelaram, sendo submissos até o fim...
Felizmente, as pesquisas provaram que os eclipses são apenas fenômenos naturais, como a chuva, o vento, o frio, ou o calor.

Mesmo assim, em alguns recantos perdidos neste vasto mundo, pessoas ainda acreditam no dragão engolindo o Sol.
Acreditem se quiserem.

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in


terça-feira, 16 de julho de 2019


            Descomunicação
       Já notei que a maioria dos amigos passa os finais de semana sem sair de casa, conversando com parentes e amigos via tablets e celulares...
O esquisito é que as pessoas não tiram os olhos dessas telinhas, e se torna muito difícil comunicar-se com elas pessoalmente. Fico angustiada quando estou falando com alguém e essa pessoa atende ao celular. Acho isso a maior falta de consideração. Felizmente, tenho alguns amigos que só olham na telinha e nunca interrompem minha fala, e dizem que depois ligarão para a pessoa que chamou. Evito contato com pessoas que não conseguem se libertar da telinha, porque o que posso dizer pra elas é só: Oi, como vai? Tudo bem? Não há espaço para elas me ouvirem. As geringonças eletrônicas têm mensagens mais atrativas...
Percebo com tristeza que a maioria de meus amigos está completamente viciada nessa mania, e não se dá conta que está perdendo amigos reais, de carne e osso, que podem abraçá-los, que olham nos olhos quando falam. que não estarão mais aqui nem na telinha algum dia...
Como gosto muito de ver os amigos e amigas, adotei tomar café ou chá com eles nos finais de semana. Quando há espaço, agendamos um encontro na vizinha, ou vou visitar alguma pessoa querida num sábado à tarde ou no domingo. Levo algum petisco e peço um café, chá  ou um suco conforme a temperatura do dia. Nunca recusaram minha visita e sempre passamos horas bastante agradáveis. É uma total revitalização passar uma tarde toda com pessoas queridas.
Que tal você também fazer o mesmo?
É bem melhor que ficar sozinha olhando na telinha.

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in



sábado, 13 de julho de 2019


             Casas do futuro
       Ao analisar as transformações que ocorreram na sociedade com o advento da industrialização, me ocorreu que no futuro muitas coisas se tornarão obsoletas. As pessoas mudaram seus hábitos e permanecem em casa apenas para tomar banho e descansar. Já está ocorrendo.
      Se pensarmos bem, as famílias não terão mais cozinha porque comerão em lanchonetes, padarias e restaurantes. A rotina ficará assim: ao se levantar de manhã, o cidadão irá para a padaria próxima tomar café. Lá poderá escolher o que comer e o que beber. Lá mesmo verá o noticiário do dia, encontrará amigos e depois de um papinho se encaminhará para o trabalho. Quando chegar a hora do almoço, irá para a lanchonete e ou restaurante de preferência e resolverá a questão em pouco tempo, sem ter que ir até a casa, porque a maioria deverá trabalhar longe dela. Assim, evitará dirigir o carro no trânsito caótico, ou tomar um ônibus ou metrô. Ao encerrar o expediente, voltará para casa para tomar um banho e descansar. No dia seguinte tudo se repetirá.
       Então numa casa haverá com certeza uma sala de estar, um banheiro completo e quartos para os membros descansarem. Cozinha não terá vez. Fogões, geladeiras e panelas irão desaparecer. E por não precisar guardar mantimentos não haverá também uma despensa.  Como não haverá cozinha, não será preciso comprar gêneros alimentícios no mercado. E Mercado nessa altura estará condenada a desaparecer, com certeza. Os Restaurantes e Lanchonetes comprarão as mercadorias via Internet diretamente do produtor.
       Então como seriam as cidades? Essas fileiras de casas de comércio que abrem as portas todas as manhãs deixarão de existir. O espaço será ocupado apenas por padarias e casas de pasto ou restaurantes. O movimento acontecerá nesses pontos e em horários de café da manhã, almoço e jantar.
       A maior parte de serviços atenderá via Internet e será rápido e eficiente. Fisioterapeutas, mecânicos, médicos, professores atenderão nas casas e será sempre um atendimento personalizado. Padarias, açougues e mercearias entregarão os produtos nas casas, sem que o cliente tenha que ir até lá fazer o pedido. O que não deixará de existir são os carros, que atravancarão as ruas, os estacionamentos, as garagens... Até o homem descobrir um meio mais fácil de se locomover sem usar esses trambolhos imensos.
       Eu percebo que a sociedade está caminhando para um futuro assim. Talvez seja mais eficaz e economize tempo e dinheiro. Mas...
       Os japoneses costumam dizer que, para se manter unida uma família  deve partilhar pelo menos uma refeição diariamente com todos os membros. Porque nessa hora de saborear a comida decisões importantes são tomadas, e a comunicação é feita entre todos. Acabando isso, os laços irão se afrouxando e cada um viverá num mundo à parte.
Comer na padaria, na lanchonete, no restaurante ficará muito impessoal e a ligação familiar irá morrendo aos poucos.
No futuro, a família não terá vez.
Ainda bem que vou partir antes.

Mirandópolis, julho de 2019.
kimie oku in
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domingo, 7 de julho de 2019


                 A nossa Prefeitura
      
       A ventania que descobriu a Rodoviária local revelou a situação do prédio da nossa Prefeitura. Porque ambas estão conjugadas e descobrindo uma, descobrirá a outra.
       De acordo com o Prefeito interino, o prédio está a perigo, em vias de vir abaixo. Por conta dos pombos que lá residem desde a sua construção, e defecam sobre a cobertura.  E as fezes foram corroendo partes fundamentais da estrutura de metal.  
     O estranho é que nenhum Prefeito se deu conta até que uma placa da cobertura veio abaixo. Pelo desgaste da estrutura, percebe-se que o estrago é antigo, muito velho e ninguém reparou. Na Prefeitura não há Engenheiros civis, que devem vistoriar periodicamente as condições dos prédios para a segurança dos usuários?  Ou eles estão lá apenas pra inglês ver? Eu que sou totalmente leiga em construção civil, ao visitar a Prefeita anterior Regina Mustafa, percebi que a sala do Gabinete também estava a perigo. Goteiras imensas, chão já carcomido pelas águas...  E ela comentou que era urgente uma reforma... Mas que não tinha verbas...  Os engenheiros nunca olham para cima? 
       Se a Prefeitura onde trabalham os ditos “nobres da cidade” está nessas condições, como estarão as Escolas, os Postos de Saúde e outras dependências? Como um cidadão que não é capaz de zelar pela casa onde trabalha pode administrar um Município? Administrar é ter uma visão ampla, estabelecer prioridades e executar os planos mais urgentes. Não é laissez faire. Nunca foi! Porque a população inteira de um município aposta todas as fichas nele, confiando na sua capacidade, na sua competência, na sua honestidade.
E há um tempo atrás houve a questão do prédio da Câmara Municipal, que depois de reformado, teve que ser reformado de novo (é isso mesmo!), porque com toda a verba destinada, nada fora feito. E por fim acabou na renúncia de um Vereador... Reformar algo que foi reformado? Dinheiro de nossos impostos não é capim!
Quais são as condições da Câmara hoje?  E das pontes sobre os rios e riachos? E das Escolas e dos Postos de Saúde?
Prefeitura é a sede de governo do Município. Se desabar, ficaremos sem um ponto de referência. O acidente do prédio da Prefeitura revelou que nossos alcaides se elegem para ficarem posando de autoridades.
Só isso!

Mirandópolis, junho de 2019.
kimieoku in



sábado, 6 de julho de 2019


             O que é um Bazar?


        Com o fechamento do Bazar Americano, estive assuntando sobre o tema Bazar.       Afinal, o que é um Bazar?
       Bazar vem da palavra persa baha char, que significa “lugar de preços”, de acordo com o Google. E lugar de preços significa lugar de venda, de comércio. Porque as coisas de nossas casas não são marcadas por preços. Entre os muçulmanos, Bazar é um conjunto de lojas que se derramam pelas calçadas, onde são expostas mercadorias como vestidos, tecidos, colares, turbantes... Todos muito coloridos e bastante atraentes. É como uma imensa Feira de roupas.
       Nós aqui no Brasil temos um conceito diferente de um Bazar. Para nós, num Bazar não compramos roupas, nem tecidos, nem turbantes. Compramos brinquedos para crianças, jogos para adultos.
       Pensando bem, o Bazar conta a história da industrialização dos últimos cem anos e as mudanças de costumes que ocorreram na sociedade.
       Antigamente, tudo era manual e doméstico. As roupas eram confeccionadas nas casas e as famílias procuravam ter sempre uma costureira dentre os membros... Toda a roupa era confeccionada em casa. Lençóis, toalhas de banho, de mesa, calças, camisas, calcinhas, cuecas e até chapéus... Para isso eram necessárias linhas de carretel, de retróz, tesoura, agulhas e a imprescindível máquina de costura. Nessa época, a máquina de costura era um dos bens mais preciosos da família. Havia lojas que se especializaram em vender as máquinas Singer, Elgin, Pfaff e outras marcas famosas. Havia Escolas que ensinavam o corte e a costura e eram bem frequentadas. Com a criatividade, apareceram as fitas, as rendas e outras guarnições para enfeitar os vestidos. E os Bazares vendiam de tudo desde botões, colchetes, zíperes, alfinetes, tesouras, linhas, elásticos, todas essas miudezas. Eram as Lojas de Armarinhos, que vendiam os aviamentos necessários para o bom acabamento da peça a ser confeccionada. E com o advento do artesanato, começaram a vender novelos de linha Mercer Crochet, Clea e Anne para crochet, Linhas Moulinee e Âncora para bordados, novelos de lã, e barbantes...
       Mas de repente, surgiu o pret à porter, roupas feitas em tamanhos variados prontas para serem vestidas. E tudo mudou! As lojas de roupas pret à porter  marcaram o fim das costureiras e dos alfaiates. Ninguém mais queria se curvar diante de máquinas de costura, e ficar horas batucando para preparar as roupas. Era só ir à loja e comprar a peça que mais lhe agradasse. A variação era infinita e a indústria da moda pegou de vez. E assim, devagarinho, os Bazares perderam as freguesas costureiras que eram a sua garantia de sucesso. Para sobreviver, o Bazar começou a vender brinquedos. E brinquedo é um item que nenhuma família dispensa. E assim a loja sobreviveu. Brinquedos, jogos de armar, produtos de maquiagem, perfumes... Ultimamente, os Bazares têm vendido bolsas e mochilas escolares, além de malas e sacolas de viagem... 
        Mas, outro grande inimigo estava à espreita...
       Com o advento da era digital, a Internet dominou o mercado, as pessoas, as famílias. E recentemente tomou conta do comércio. É tão fácil comprar um produto sem sair de casa, que ele é entregue em casa, muitas vezes sem frete, e garantia de troca se necessário. E isso vale para qualquer lugar do Estado, do país e até em outros países. E isso está acabando de vez com o comércio em lojas. A compra é feita on line através de redes sociais, onde as mercadorias estão à mostra como numa vitrine, com todas as informações.
       Nem consigo imaginar o futuro dessas transações comerciais, mas uma coisa é certa! Casas de comércio estão definitivamente condenadas. Compra direta da fábrica, sem intermediários é o que está ocorrendo ultimamente. Até com bens maiores como carros e outros maquinários.
       De tudo isso concluindo penso que, o Bazar Americano do casal Minomi, a Casa Tietê da Família Ijichi e o Bazar Tietê da família Tanaka viveram uma época de ouro do comércio, pois com a renda da loja conseguiram estudar seus filhos, que se tornaram Médicos, Dentistas, Fisioterapeutas e outros Profissionais competentes, que estão atuando aqui e em diversas partes do país.
       Parabéns a essa gente valorosa que dedicou a vida inteira a servir a população!
      Bazar será sempre uma lembrança boa e colorida em nossos corações.



       Mirandópolis, julho de 2019.
       kimie oku in
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quinta-feira, 4 de julho de 2019


            Pós vida
          A gente nasce, cresce, realiza alguns sonhos, envelhece e morre.
        As fases da vida foram comparadas várias vezes às estações do ano, Primavera que abrange do nascimento aos anos juvenis; Verão que se refere aos anos de luta, de labor, de busca de estabilidade; Outono que como folhas que caem tira as forças das pessoas; e Inverno quando vem a aposentadoria e deixa de produzir. É sem dúvida uma comparação bem lógica, pois o homem como a natureza tem as suas fases.
       Como disse Rabindranath Tagore o poeta indiano: “A flor se transforma em fruto, o fruto vira semente, volta a semente a ser planta, torna a planta abrir-se em flor” Não acho nenhuma definição tão apropriada como essa para explicar o ciclo da vida.
      Quando nos referimos às Estações do ano, tudo parece bonito e  agradável. Mas, as estações apresentam seus contratempos, suas estiagens, suas inundações, suas tempestades e seus ciclones. Assim também em nossa vida, volta e meia se nos apresentam períodos de estio, de chuvarada sem fim, de frio intenso que cobertor nenhum é capaz de nos aquecer.
A Primavera é sem dúvida um tempo bom, que abrange a infância tão pura, a meninice tão cheia de desafios, a escolaridade para matar a curiosidade, a adolescência tão complicada e nunca entendida.
O Verão é o período de busca de um caminho, de uma profissão, de uma justificativa para o fato de estar aqui na terra. Tempo de produção intensa.
O Outono como as folhas que vão amarelando e caindo, as forças vão deixando o ser enfraquecido de tanta labuta e o ritmo vai diminuindo...
E no Inverno, com o frio chega a aposentadoria, a velhice e todos os seus achaques. Reumatismo, dores nas pernas, na coluna, audição fraca, olhos míopes, voz embaraçada, tosse que irrita, joelhos que travam, e vontade de nada... Chamo essa fase de pós vida, porque o indivíduo não é mais dono de si, porque devagarinho a vida está deixando o seu corpo. O fluído da existência vai escorrendo para fora do corpo numa lenta e contínua sangria...
Pós vida é esse interstício entre a aposentadoria e a queda final. Eu estou nessa fase, e luto diariamente para não entregar os pontos. Alongo o meu corpo diariamente, faço caminhadas, flexões com os braços, as pernas, a cabeça, os pés, as mãos... Fisioterapia para as hérnias de disco não me incomodarem... E ando. Vou ao Banco, à Farmácia, ao Açougue, aos Bazares e Livrarias, à Mercearia do Jomar... Sempre a pé. Porque é uma oportunidade de movimentar o corpo, alongar as pernas, esticar o esqueleto.
Tenho um amigo que há dois anos estava muito bem, andava, ia às compras, dirigia o carro, conversava normalmente, me reconhecia, me acompanhava até o portão quando o visitava. De repente, ele parou de se mexer... Ficava o tempo todo deitado no sofá, vendo tevê. Hoje ele é um caco. Não anda mais, não consegue nem fazer a barba, não consegue tomar banho sozinho... Tá lá deitado de boca aberta, esperando a morte chegar... É uma figura feia, aterradora. Muito triste.
Não quero terminar assim.
Quando chegar a hora, quero cair de uma queda só.
Pós vida é muito triste.
Por isso é preciso se mexer para não se transformar num fóssil.

Mirandópolis, julho de 2019.
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quarta-feira, 3 de julho de 2019


            Cuidar de idosos
       Ultimamente tenho visto cada encrenca por causa de filhos, que não querem cuidar de seus pais. Pais doentes e internados, e esses mal agradecidos relutam em estender a mão, em visitá-los, em passar um dia ou uma noite com eles.
       Por quê o ser humano é tão ingrato?  Por quê é tão frio?
       Na escola ensinamos que devemos amar e respeitar os pais, porque sem eles não estaríamos aqui. E durante décadas cultivamos as homenagens aos pais em maio e em agosto, com flores, cartões, presentes e festas.
       Hoje vemos os Hospitais com velhos abandonados, os Asilos abarrotados de gente triste que não recebe uma visita sequer...
       Sinal dos tempos? Materialismo puro? Falta de Religião? Ou Desamor mesmo? Madre Teresa de Calcutá disse que a pior doença do mundo era a falta de amor. E é verdade.
       Tem gente que diz: “Não gosto de hospitais!” E quem gosta? Lá só tem doentes e é um ambiente triste, onde pululam vírus e bactérias. E onde morrem os pacientes, volta e meia. Mas, alguém tem que fazer o trabalho sujo, e esse alguém tem que ser um filho, uma filha, mãe, pai, irmão... E a maioria das pessoas delega essa dura tarefa para aquele filho ou filha que tem mais sentimentos...  E nunca reconhecem o quão difícil é essa tarefa para a pessoa que se dispõe a fazê-lo.  Acham muito natural que o coitado se rale, e fique todo dolorido por dormir em cadeiras desconfortáveis como acompanhantes... Dormir quando o paciente lhe permite, porque muitas vezes o sofrimento e os gemidos do doente não lhe permitem nem cochilar. Um dia, essas pessoas alienadas também se encontrarão em situações de emergência, em que serão internadas.  Porque o destino de todo doente é o Hospital. E aí será a vez de ser cuidada por alguém. Será que alguém cuidará delas, se sempre foram omissas com a dor alheia?
       Felizmente, hoje há os acompanhantes e cuidadores que, mediante um certo valor se dispõem a substituir os familiares nessa dura missão. Mesmo assim, a vigilância de familiares é indispensável, para que o doente seja bem cuidado.  O home care também foi um bom avanço na sociedade moderna. Penso, porém que está havendo certo abuso em alguns casos de solicitação desse serviço. Gente que não quer cuidar do parceiro com Alzheimer, com mal de Parkinson...  Que me perdoem certos usuários do home care, mas acho que esse serviço deve ser para pessoas acamadas, para doentes terminais, para doentes sem mobilidade... Porque se todos começarem a exigir assim, metade da população mais jovem ficará a serviço dos pacientes... E quem irá trabalhar? Quem irá produzir e prover a sociedade?
       Tem gente que diz: “Não gosto de velório!”
       E quem gosta? Quem gosta de funeral, de cemitério?  Ninguém gosta de ver o outro sofrendo, chorando, gritando de desespero. Mas, é preciso ser solidário, estender a mão para quem chora, dar-lhe um abraço para partilhar a sua dor, porque a nossa vez chegará também. E quando tivermos que velar alguém da família, esmagados pela dor da perda, certamente gostaríamos de ter um ombro amigo para nos consolar.
       A vida está repleta de dores, de mágoas, de tristezas. E a nossa missão é sempre tentar diminuir isso e confortar quem sofre.
       Seria ótimo se tudo fosse bonito, só festas e flores, não?

       Mirandópolis, junho de 2019.
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