sábado, 22 de março de 2014



                                O Encontro dos Cirandeiros



     Na última sexta-feira, dia vinte e um de março, novamente brincamos de Ciranda. Foi uma tarde maravilhosa, com chuva para refrescar o ar que estava muito quente.
          A novidade do dia foi a dupla de cantadores Sumaré e Montenegro, que vieram abrilhantar o Encontro. Além deles, também compareceram Gerval e Giovanini, dupla famosa da cidade, que tocam acordeão e violão como poucos, além de cantarem de forma bem afinada. Essas duas duplas juntamente com o anfitrião sanfoneiro, Albertino e o pandeirista Toninho animaram a tarde dos cirandeiros.
     Também esteve presente a nossa amiga dona Olga, que apreciou muito a festa.
         Como a cantoria tomou conta da tarde toda, não brincamos de cirandar, porque o repertório dos cantadores era muito vasto e bastante agradável. Houve até uma certa concorrência na cantoria, com Gerval e Giovanini se alternando com Sumaré e Montenegro. Outras vezes cantaram a quatro vozes, e ainda com o reforço dos cirandeiros. Cantaram todas as músicas conhecidas do cancioneiro, que o pessoal costuma cantar. Mas, a que realmente impressionou foi “Mudança” de Chico Amado e  Xodó, que relembra a vida simples e tranquila dos moradores de fazendas...

            “... parei no terreiro num canto de lado,
            Catei um punhado de cinza e carvão.
            Lembranças que eu levo, talvez derradeiras
            Da antiga fogueira do meu São João...”

         E Gerval e Giovanini prestaram uma homenagem ao nosso amigo, que foi cirandeiro Milton Lima, que tem alma de poeta. De sua autoria cantaram “Grão de milho”, “Quintal de minha infância” e “Antiga moradia”. Todas muito belas, e cheias de saudades de um tempo, que não volta mais. Milton Lima deixou o grupo por motivo de mudança, mas sua colaboração foi fundamental para a formação da Ciranda.

            E entre uma música e outra, o Seu Orlandinho declamou seus poemas e foi bastante aplaudido. E o pessoal não resistiu ao som das violas e sanfonas e improvisou um bailico. Até o Clésio improvisou uns passos de dança com a sempre gentil esposa Ivone.
     E assim, entremeada de uns comes e bebes, risadas, brincadeiras, danças, conversas, abraços e cantorias, a tarde chegou ao fim. Como a sanfona não parava, o pessoal deixou o lugar com certa relutância, querendo ficar.
            Já eram dezoito horas passadas quando os últimos cirandeiros deixaram o local.
            Em abril tem mais!

            Mirandópolis, março de 2014.
            kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


            

quarta-feira, 19 de março de 2014

       
          O  Lixo do homem

         Li num livro de História antiga do Japão, que os pesquisadores descobriram cemitérios de ostras, onde moraram os primeiros habitantes  japoneses.  Salvo algumas estacas no chão, marcando onde moraram, só havia conchas de ostras. Isso atestava que consumiram esses animais para sobreviverem.
         Esses japoneses ainda meio bichos, meio gentes viviam nas florestas das ilhas e, por certo devem ter sofrido muito para se protegerem das feras, e das intempéries como chuva, vento, neves... E o único vestígio de sua passagem foi o cemitério de conchas fossilizadas, enterradas na terra dos vales onde habitaram.
      Esses humanos dos primórdios dos tempos não eram civilizados, não tinham modos, não conheciam nada, eram xucros como animais indomáveis e, sua luta diária era apenas a busca de comida e de proteção.
       Muitos devem ter sido atacados para servirem de pasto para as feras, porque nem possuíam abrigos para se defenderem delas. E por milênios, a luta pela sobrevivência continuou.
     Pouco a pouco, descobriram meios de defesa e proteção próprios. E acabaram se reunindo em grupos ou tribos, para melhor se protegerem. E aí premido pela necessidade, despontou o homem faber que passou a construir armas para caçadas, coberturas para seus abrigos, chegando a usar as peles dos animais como vestimentas para o corpo. E aí, inventaram os vasilhames. E com a descoberta do fogo tudo mudou.
         Devagarinho, o homem foi sofisticando suas invenções. Cada geração acrescentava novas descobertas, ou invenções ao arquivo da humanidade. E desde a descoberta do fogo e da roda, muita coisa se acelerou. Havia mil possibilidades para inventar e melhorar as descobertas. E veio a máquina, o motor, o avião, o filtro d’água, o remédio, a panela, a geladeira... E por aí foi...
     E chegamos à nossa Era. Era moderna, onde tudo se cria, se reinventa e se transforma a cada segundo, numa celeridade nunca antes sonhada. Era da Informática, das Usinas Nucleares, Era Global... Era das Máquinas... Das Aeronaves... Dos Robôs... Do Petróleo... Da Microfibra... Da Fibra Ótica...


   Infelizmente, o homo sapiens, que transformou esse mundo numa imensa linha de montagem de invenções, não descobriu ainda um meio de controlar o lixo. O lixo doméstico das cozinhas e banheiros, o lixo contaminado de hospitais, o lixo do comércio, com os milhões de folders, panfletos, caixas, embalagens e sacolas... O lixo das Usinas Nucleares...
         Como é lixo mesmo, as pessoas não têm o cuidado necessário para lidar com ele, e dar uma destinação cuidadosa e adequada. Muitas donas de casa ao eliminar pelancas de carnes e ossos de frangos não têm o cuidado de congelá-los para colocar no lixo. Por que congelar? Para evitar que apodreçam ao sol quente nas lixeiras atraindo varejeiras, que fazem a festa se multiplicando em milhões... Tão simples, mas que pode ser adotado por todos que limpam peixes, frangos e outros animais. Essa medida ajuda a diminuir o mau cheiro e a proliferação de moscas, que tanto incomodam a gente. E como tem mosca em Mirandópolis!
   Felizmente, em nossa cidade o lixo reciclável está sendo reaproveitado e o recolhimento está acontecendo. Com isso percebemos que, a quantidade do lixo reciclável é superior ao do lixo de cozinha e banheiro.
     No Japão, o lixo reciclável tem que ser embalado em sacolas apropriadas: Sacos Azuis para papel e todos os derivados, como caixas, papelão, livros, cadernos; Sacos Vermelhos para plásticos, sacolas e garrafas pet; Sacos Verdes para recolhimento de vidros, espelhos, copos, garrafas; e Sacos Amarelos para recolher metais como canos, latinhas de cerveja e refrigerante, pregos. Os cidadãos têm que comprar esses sacos, que são muito caros. O Professor Kakutani, que deu aulas na Escola Japonesa daqui, nos explicou que, os sacos são caros para desestimular a população a produzir lixo.
         Taí uma medida interessante: Desestimular a produção de lixo. Nas escolas e nos escritórios do Brasil joga-se muito papel, por hábito. Papel sulfite e cadernos são usados e jogados a torto e a direito. Não acreditam? Olhem os cadernos de seus filhos e netos. Verão que os cadernos de 2013 ficaram com a metade ou mais folhas sem usar. E vai tudo pro lixo. Por que reciclar o que não foi usado ainda? Não é burrice?
         O povo tem que ser reeducado. Comprar cadernos mais finos, porque esses de dez ou mais matérias só servem para enriquecer os fabricantes, e os comerciantes que os vendem. Os pais pagam por algo que os filhos-alunos nem irão usar. E quem paga mais caro é a Terra que fica cada vez mais deserta de árvores...
      Mas, o que tem a ver os japoneses primitivos que consumiam ostras com a humanidade de hoje? Tem que eles não conheciam a Civilização da Era Moderna, mas viveram frugalmente e não destruíram o ambiente em que viveram. Os primitivos só deixaram restos de ostras, como atestados de sua passagem na Terra. Não emporcalharam o mundo que pisaram, como fazem hoje os “civilizados”.
      Tenho um amigo em São Paulo, o mirandopolense Jozé Augusto Lisboa que, costuma observar o chão de asfalto das cidades por onde percorre, para fotografar coisas inusitadas que lá estão enterrados: pregos, parafusos, moedas, chaveiros, ferramentas, tampinhas, pedaços de carros, placas e pedaços de pneus, que atestam a passagem do homem moderno pela Terra. Do homem Civilizado.
         E estou escrevendo isso por estar indignada tanto quanto os meus amigos Isabel e Dedé, pela falta de consciência de cidadãos mirandopolenses, que jogam seus lixos, suas imundícies à beira das estradas vicinais. Não acredita? Dê uma passadinha lá no começo da vicinal que vai para a Usina. A subida logo após a ponte virou um imenso lixão a céu aberto, por conta de gente irresponsável, que tem o capricho de levar suas porcarias e seus dejetos e jogá-los lá...  De vez em quando, tem também bando de urubus se banqueteando na imundície. E a chuva vem e traz todas aquelas porcarias que estão em sacos plásticos, para o corguinho que há na ponte...
     E assim, cidadãos de Mirandópolis estão matando mais um veio d’água, por pura irresponsabilidade e falta de cidadania. Bando de idiotas! E o duro é que idiotice não tem cura. Não sabem que matando o corguinho, a mata ciliar também irá morrer junto, e o calor vai ficar insuportável?  Já imaginou o pedaço sem a área verde?



         
         A Prefeitura poderia colocar uma caçamba no local para recolher esse lixo. Mas, ninguém se preocupa com o lixo e não gosta de ver seu nome ligado a ele, porque lixo não dá votos, não é mesmo?
      É uma cadeia de desleixo e irresponsabilidade, que tão facilmente poderia ser solucionado. Até já ouvi falar que, criaram no município o Departamento de Meio Ambiente. Então, por que nada foi feito até agora para resolver esse problema? 
      Sugiro que o pessoal desse Departamento dê uma circulada na cidade, nas periferias, e veja quanta coisa tem que ser mudada. Há tanto que fazer!
         Ou isso não é tarefa do Departamento de Proteção ao Meio Ambiente?

          Mirandópolis, março de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
                  

quarta-feira, 12 de março de 2014


                           40 Graus
                            
      A chuva que passou por aqui deu uma pequena trégua ao calorzão, que estava de matar. Os marcadores estavam se aproximando perigosamente dos 40 graus, à sombra. As plantas morrendo, o gado sem capim, os açudes secando, as hortas esturricando os legumes, o milharal que nem embonecou, as mangas  cozidas por dentro no próprio pé... Triste amostra do que o sol implacável faz com a Terra. Mas, caíram umas chuvas e a desgraça maior foi afastada.
      Entretanto, com dois dias sem chuva, o calor voltou com força total. E às dez horas da manhã, já está de estralar pipocas no asfalto. Sem climatizadores e ventiladores, a vida está ficando irrespirável.
      Nessas horas, eu me lembro do filme “Rio 40 Graus” de Nelson Pereira dos Santos, que foi lançado em 1955. O filme mostrou os contrastes gritantes entre a paisagem belíssima, que cercava a cidade do Rio de Janeiro, e a vida dura, difícil e desorganizada da sociedade dos cariocas. Como disse a canção de mesmo nome Rio 40 Graus de Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Laufer: “... Cidade maravilha, purgatório de beleza e de caos...”
      O Rio é uma cidade litorânea e tem altas temperaturas durante a maior parte do ano. E 40 Graus não é impossível, principalmente nesses tempos quentíssimos. Mas, o corpo humano não suporta tais temperaturas, então é necessário e urgente controlar o clima, para as pessoas não morrerem como morrem as plantas e os animais mais sensíveis.
      E todo mundo reclama do calor, da falta de água, do gado morrendo, dos legumes e verduras chegando a preços astronômicos. Da falta de aparelhos para refrigerar ambientes, e de seus preços assustadores.
      Mas, o que me espanta é que ninguém, ninguém vai até a verdadeira causa desse calor insuportável. Nem os governantes, nem os Departamentos responsáveis pela preservação do meio ambiente, ainda não levantaram a bandeira de “Reflorestar o Mundo”. É urgente e inadiável começar a plantar árvores e mais árvores para melhorar o clima da Terra, para preservar a fauna e para garantir mais chuvas, que refresquem esse nosso chão.
      E o mais triste é constatar que, os cidadãos aqui da cidade cortam árvores e ninguém os pune. Conheço gente que, derrubou árvores para exibir a beleza da casa reformada e, outros que as derrubam porque dá trabalho varrer as folhas que caem... Eles não pensam nos benefícios. E não pensam nas dezenas de pássaros que têm ninhos em seus galhos, com ovos e filhotinhos... E quando circulam por aí, ficam enlouquecidos procurando uma sombra, para abrigar o seu carro...
      Tenho um amigo, o Osvaldo Resler que empunhou essa bandeira de plantar árvores e defendê-las para que não as derrubem. E todo mundo sabe que ele só fala nisso, mas não sabem valorizá-lo e respeitá-lo como merece. Os alienados são os outros que, ainda não atentaram para a necessidade de replantar árvores.
      Sabemos, como ele já cansou de denunciar que, as máquinas derrubam velhas árvores cheias de vida na calada da noite, e seus troncos e galhos são enterrados para não deixarem os vestígios do crime. E tudo prá que? Para transformar os campos em canaviais, que fornecem o álcool, que dá o Money...      Mundo cão! Quando não houver mais o que beber, o que comer, o homem comerá dinheiro? E que mundo deixará para as gerações futuras? Para os filhos, os netos e seus descendentes?
       Um mundo devastado, sem árvores (Você faz ideia de um mundo sem árvores?).  Árvores que amortecem o barulho das indústrias, dos carros e dos aviões. Sem árvores seria insuportável viver nas grandes metrópoles. O povo ficaria totalmente surdo. Árvores que dão sombras benfazejas, que são  ilhas de refúgio no asfalto escaldante. Árvores que enfeitam a paisagem com suas flores, folhas e seus pássaros. Árvores que purificam o ar absorvendo os gases e fornecendo o oxigênio para nós. Árvores que amenizam as temperaturas, barrando os raios solares...
      Honestamente, gostaria de saber a razão de nenhum governante encarar essa missão de reflorestar o mundo. Mesmo que a Governante-mor não assuma isso, a nossa Prefeitura poderia facilmente implantar um projeto de arborização, incentivando a população com sementes, mudas e fertilizantes. Não é um projeto caro. O que é necessário é vontade política, convocação da população e metas, como plantar mil árvores durante o ano. É claro que deve haver uma ordem, uma organização, para não plantar em lugares inadequados. Acredito que a população irá aderir com entusiasmo, e cuidará para que as mudas se transformem em grandes árvores, que produzam sombras frondosas.
      Talvez a ideia não seja ambiciosa, mas é assim que deve ser. Começar devagar e ir crescendo aos poucos e envolver todos os cidadãos, porque ninguém gosta de ficar ensopado de suor e viver irritado, porque o calor sobe à cabeça. Quando o tempo refrescar agora, com a mudança de Verão para Outono, já poderíamos ter esse Projeto pronto para por em prática.
      Tenho certeza absoluta do sucesso dessa plantação, porque é em benefício de todos. Taí uma sugestão séria para quem quiser abraçar a causa. Pelo menos não ficaríamos de braços cruzados chorando de calor, e reclamando dos que nada fazem para melhorar o clima da Terra.
      Ou vamos tentar sobreviver com 50 Graus?
     
      Mirandópolis, fevereiro de 2014.

     

      

sábado, 1 de março de 2014



                               A tarde dos Cirandeiros

    Sexta-feira, dia 28 próximo passado, realizamos o 37º Encontro dos Cirandeiros. Foi na Chácara Prando, onde seu Albertino nos recebeu com a atenção de sempre.
      A novidade do dia foi a presença do jovem Carlos Alberto de Souza, o Carlinhos que foi durante anos o motorista da APAE. Como ele e a esposa Inês são parentes do seu Albertino, estavam de passagem para uma visita. E ele ficou feliz de reencontrar muitos amigos e ex-professoras, pois atualmente mora em Araçatuba.
      O que encantou a todos é o fato do Carlinhos tocar violão com muita habilidade e, possuir uma voz poderosa para cantar. Junto com o dono da casa que é acordeonista, executaram todas as músicas solicitadas e, agitaram a tarde com muita alegria.
    Enquanto o pessoal cantava, a jovem Poliana procurou se comunicar com os idosos mais calados, imitando a ação de um médico que ausculta o coração. E lhes dizia palavras de estímulo e animação, sempre conseguindo fazê-los sorrir. E ela estava vestida a caráter, como um palhaço feliz, que se transformara em doutora da alegria. 
        Após muita cantoria e conversação, foi feita a grande roda, para todos cirandarem. E durante as paradinhas, Maria José leu um lindo texto sobre como levar a vida com coragem e determinação. A Chiquinha leu um texto sobre como esquecer os ressentimentos, que tanto machucam os corações. O seu Orlandinho declamou o poema da Melhor Idade. Seu José Olyntho se emocionou bastante ao ler um texto que fizera em homenagem a seu pai. A Vina cantou duas lindas canções, para encantar a todos e a Nair declamou dois poemas cômicos. A Dora muito emocionada disse da felicidade de participar da Ciranda, assim como a dona Fermina e a Maria José.
      E até o seu Orozino improvisou: “Lá atrás daquele morro, tem um montão de areia. Gosto da Ciranda, porque não se fala da vida alheia.” A Kimie relembrou que a roda é importante para todos saberem que, à direita e à esquerda há um amigo que segura a mão do idoso, para ele sentir que não está sozinho, e que essa troca de energia sempre é muito positiva.
      No final, o Carlinhos que ficou muito comovido com a Ciranda, disse que nunca havia participado de algo tão positivo e agradável, e fez um agradecimento cantando uma canção, que fala das pegadas do Senhor.
      A festa tinha terminado, mas ninguém queria vir embora. Muitos ficaram ainda papeando, pois tudo estava muito agradável.
      Em março tem mais. Até lá, Cirandeiros!
     
      Mirandópolis, março de 2014.

      kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/