quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019



                 Revisão...
   
   O tempo voa. A vida passa.
       E tudo vai transcorrendo sem incidentes, com algum susto aqui, outro ali. Mas, as tristezas passam assim como as alegrias.
       A nossa peleja de todo dia vai seguindo o rumo ao desconhecido. De repente, o fim pode truncar a caminhada. E será o inevitável C’est fini.
       E enquanto avançamos, carregamos alguns sonhos que desejamos ardentemente realizar antes do ato final. Mas, só Deus sabe das nossas possibilidades e do nosso merecimento. Muitos morreram sem realizar um sonho sequer, então por quê continuamos a sonhar e pensar que somos merecedores?
       Nunca pensei que conseguiria chegar a viver sete décadas! E estou próxima de chegar à oitava! Então, muitas vezes eu me espanto de ter tido a bênção de chegar até aqui. E agradeço todos os dias a Deus.
       Quando a gente chega no limiar da vida, só olha para trás e refaz mil vezes a caminhada mentalmente, pensando que poderia ter sido diferente, poderia ter cometido menos erros, poderia ter sido mais gentil, poderia ter tido menos pressa, poderia ter usufruído mais os momentos com os filhos quando crianças... A infância passa tão depressa...
       Mas o que passou, passou. Nada se repetirá jamais.
       E quando se é jovem, sempre há uma expectativa de que a felicidade durará para sempre, que os caminhos não se dividirão, que os filhos não irão embora, que a harmonia será constante...
Ledo engano. Quando os filhos se tornam adultos, nós os pais passamos a ser a parte descartável da família, que um dia deverá ceder espaço para os novos, assim como esses mesmos novos um dia darão espaço para outros...
Então, os anos vão nos aproximando mais e mais da reta final, e nessa caminhada aprendemos que nada se leva desta vida. Só o que couber no coração.
Antes eu tinha sonhos. Sonho de possuir uma casa maravilhosa, segura e bem confortável. Hoje vejo tanta gente poderosa com residências belíssimas, mas tão sós, tão infelizes... Casas recheadas de coisas douradas, que parecem moradas do Sol... mas habitadas apenas pelo silêncio de amigos, de netos e parentes ausentes, sempre ausentes... Bens dourados e prateados não substituem vozes e risos de crianças. Casas perfeitas, maravilhosas com quadros belíssimos, sempre limpas que mais parecem museus...
Então abdiquei de meus sonhos materiais. Não almejo possuir o carro do ano, não quero títulos de honraria, não quero postos de comando, não quero ser autora de best sellers, não pretendo ser exímia pianista, não preciso de dólares, de marcos, nem de euros. Se os possuísse em quantidade, ficaria tensa de medo de ser assaltada e minhas noites seriam todas de pesadelos. Quero paz. Só paz.
Então, me restou apenas um sonho.
De cumprir bem o meu destino. De continuar a ser a lavradora que mora no meu íntimo, plantando e cuidando dos limoeiros, legumes e flores; carpindo o mato que insiste em afogar minhas plantinhas, e agradecer de coração a chuva e o sol que nunca faltam.
Destino de ouvir os passarinhos que não se cansam de cantar ou chorar. Destino de apreciar o verde dos campos, de apreciar a florada que sempre se repete enchendo o espaço com seus perfumes.
Destino de escrever o que der na teia e abrir o meu coração. De entrar em sintonia com amigos que comungam as mesmas ideias.
Destino de apreciar o que é belo e inocente.
Destino de ser apenas mais uma criatura de Deus.
Que só tem a agradecer a bênção da vida.
Mirandópolis, fevereiro de 2019.
kimie oku in



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019





O lixo nosso de cada dia
     
        Em 1987, aconteceu um fato estranho em Goiânia. O dono de um Ferro Velho, Devair Ferreira achou um aparelho de Radioterapia numa Clínica desativada. Para reaproveitar o chumbo, levou o achado para seu Depósito e com dois auxiliares desmontou o aparelho. Ao fazer isso, eles abriram uma cápsula que expôs 19,26 gramas de cloreto de Césio – 137 (CsCI) um sal parecido com o sal de cozinha, que emitia um brilho azulado no escuro. Encantado com a luz azulada, o sr. Devair levou o sal para casa e mostrou para os familiares.
      Esse fato aparentemente tão inocente provocaria o maior acidente de radiação no Brasil. Mais de mil pessoas foram expostas ao pó por contato direto ou pelo ar, 129 foram contaminadas seriamente, 21 tiveram que se submeter a tratamento intensivo e quatro vieram a falecer...
      Césio – 137 é um isótopo radioativo da fissão nuclear de Urânio ou Plutônio, que ao se desintegrar dá origem ao Bario 137m, que emite radiações gama, altamente prejudiciais à saúde. Essa radiação penetra no corpo e leva à morte. Além disso, ao ser absorvido pelo solo contamina as plantas, que por sua vez contaminam os animais que delas se alimentam. Contamina os lençóis freáticos, afetando os peixes e os animais que beberem dessa água.
Para se ter uma ideia da toxidade desse pó, a cidade de Chernobil na Ucrânia ainda hoje é uma cidade desabitada. O fato é que em 1986, um reator da Usina Nuclear de Chernobil explodiu, liberando uma fumaça radioativa tóxica provocando incêndios que duraram dez dias e, contaminando extensa área da região. Que foi bastante afetada e 116 mil pessoas foram evacuadas. Até hoje mais de 30 anos depois ainda não é seguro morar lá. Virou cidade fantasma.
Outro desastre nuclear foi o derretimento de três reatores nucleares da Usina de Fukushima, no Japão em 2011. Foi provocado por um imenso tsunami e por maremoto. 300.000 pessoas foram evacuadas da região e houve 1600 mortes relacionadas às condições de evacuação. Até hoje há vazamento de água contaminada que é despejada no mar, sem possibilidade de controle. E muitos dos sobreviventes estão irremediavelmente contaminados...
O desastre de Mariana e Brumadinho me fez pensar nos desastres que têm provocado tanto sofrimento à humanidade. Daí, pesquisei os diversos tipos de lixo que produzimos. Nós somos os maiores sujadores do Planeta.
Produzimos:
1.       Lixo Orgânico -  sobras de comida em nossas residências, nos Restaurantes, Lanchonetes e Praças de alimentação, cuja destinação são os Aterros Sanitários.
2.       Lixo Industrial – sobras de plástico, retalhos de metal, de tecidos, de borracha, de couro que em sua maioria são recicláveis.
3.       Hospitalar – material coletado de corpos doentes, de partos, sangue, curativos, drenos e outros materiais utilizados em cirurgias e na convalescença, que são incinerados por empresas especializadas.
4.       Comercial – embalagens de papel, plástico, borracha e tecidos que também podem ser reciclados.
5.       Verde – folhas, galhos, caules, cascas e troncos  resultantes de poda de árvores, da retirada de madeira para a indústria, que podem ser utilizados na compostagem  para adubo orgânico. No Brasil geralmente são jogados no aterro sanitário.
6.       Nuclear – são os resíduos da construção de aparelhos de radiação usados na Medicina e das Usinas Nucleares para produzir energia elétrica. Esses rejeitos que levam mais de cem anos para perder seu poder de destruição pela radiação,
   nem sempre são descartados de forma adequada.
7.       Rejeitos de Mineração – são restos de processamento de minerais para a produção de ferro, carvão e outros minerais. Esses resíduos contêm placas finas de minérios, que misturadas à água acabam formando uma lama, que é armazenada em barragens. E que pode causar danos à saúde.

Como podemos constatar, nós produzimos muito lixo.
E a humanidade até hoje não descobriu uma forma correta de evitar a poluição do planeta. São milênios já passados e a era da industrialização fez o homo faber inventar milhares de aparelhos para facilitar a vida na terra. E toda invenção trouxe o ônus do lixo, que suja os rios, o mar, as fontes, o solo, o subsolo, a atmosfera. E a cada dia está tornando quase impossível a vida na terra.
Insetos polinizadores de frutos que nos servem de alimento estão em extinção. Por conta de terríveis inseticidas que são liberados no ar para combater as pragas que assolam os canaviais. Canaviais que fornecem o álcool... Daqui uns cinco anos, na progressão que estão ocorrendo essas pulverizações, não haverá mais mamão, laranja, manga, banana, abacate, poncã, abacaxi, melão, melancia e toda a sorte de legumes, que são mais sensíveis. Teremos muito combustível para rodar com os carros para ir às compras. Comprar o quê?
Eu sou da geração que está passando.
Mas, outras virão e perceberão que viver será impossível com tanto lixo cobrindo a terra, sujando as fontes e tornando o ar irrespirável. Soube por um Professor que, no Japão a população é estimulada a produzir menos lixos. Os sacos plásticos de lixo são bastante caros e obrigatórios.
 Pesquisadores constataram que, há milênios a passagem de tribos antigas por vilarejos foi marcada por restos de conchas e ossos de animais. A vida era bem simples. Conchas e ossos se desfazem naturalmente. Não deixaram outro lixo.
É urgente descobrir uma forma de descarte racional do lixo no mundo. A Terra não suporta mais tanta agressão.
Pesquisadores deveriam descobrir uma forma de eliminar o lixo sem prejudicar mais o Planeta. Porque o lixo está ocupando muito espaço.
E logo, logo, não haverá espaço para os homens, animais e plantas.

Mirandópolis, fevereiro de 2019.
kimie oku in

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019



            As pessoas morrem.

    Meus pais morreram.
   Meu irmão morreu.
   Minha irmãzinha morreu.
   A  Therezinha morreu.
  Meus amigos morreram.
   Cirandeiros morreram...
   Morreu o Papa João 23
  Morreu a Madre Teresa de Calcutá.
   Marilyn Monroe morreu.
   Van Gogh morreu.
  Morreu Ayrton Sena.
   Morreu Inezita Barroso.
   Morreu Ulisses Guimarães.
   Manuel Bandeira morreu.
   Robin Williams morreu.
  Morreu o Mussum.
   O Zacarias também.
   O Zé Rico morreu.
   Morreu Jerry Adriani.
   Cazuza morreu.
    Raul Seixas morreu.
    Todos morreram...
    E agora foi a vez de Ricardo Boechat.
   A vida é para ser vivida.
    E morrida...
   Até chegar a nossa vez.
    Continuamos a assistir a esse desfile de funerais...
    Carpe Diem!
   Mirandópolis, fevereiro de 2019.
    kimie oku in