sexta-feira, 31 de janeiro de 2014



                        A Esclerose Múltipla de Rodrigo

    Recentemente, entrei em contato via face book, com a Célia e o José Drubi, antigos moradores da cidade.
      Fiquei feliz em retomar a relação, embora à distância, já que eles moram em Tapiraí, na região de Sorocaba.
      Quando eles moravam aqui, possuíam a Loja Romantex, que produzia roupas de malhas e, tiveram sucesso na confecção de uniformes escolares. Depois, com os filhos estudando, eles procuraram outras paragens, com algum tempo em Araçatuba, onde possuíram uma butique especializada em roupas brancas.
      Embora pelejassem no Comércio, o chefe de família José era Professor e, dividia seu tempo com as Escolas onde lecionava e a loja. Sempre com o apoio total da Célia.
      Depois... Um lapso. Perdi o contato e não soube mais deles. Enquanto isso, eu tive como companheira de trabalho a irmã do Zé, Vera Drubi que foi uma Professora alfabetizadora muito dedicada e caprichosa. Mas, o destino a levou cedo, assim como o seu esposo Ouvídio Golfeto, sua mãe dona Lourdes e, sua irmã Cleide também professora.
      Quando a Célia se comunicou comigo explicou que, morava na região serrana de Sorocaba, onde quase sempre chove e o clima é muito frio. A família mudou o estilo de vida para cuidar do filho Rodrigo, de 41 anos de idade, que fora acometido de Esclerose Múltipla. Pra falar a verdade, eu nunca ouvira falar em tal doença e fiquei assustada.  E pesquisando, descobri entre outras coisas o que segue:
1.   Esclerose Múltipla é uma doença autoimune, que afeta o cérebro e a medula espinhal, ou sistema nervoso central,
2.  Os danos aos nervos provocam perda de equilíbrio, dificuldade para andar, tremor, dificuldades para mover os braços e as pernas e descontrola o trato intestinal e urinário.
3.  Causa visão dupla, perda da visão, perda da memória, depressão, fadiga e dificuldade para consumir alimentos.
4.  Ocorre mais entre jovens de 20 a 40 anos de idade, e com mais frequência entre as mulheres.
5.  Não é contagiosa, não se sabe a causa específica que a provoca, e não tem cura.
6.  Se houver controle, é possível levar uma vida normal.
      Nem todos os pacientes apresentam sintomas iguais, cada indivíduo é um caso específico. Mas, todos requerem cuidados. E um dos cuidados essenciais é evitar lugares de climas quentes, que pioram as condições do paciente. Daí, a razão do Zé e da Célia terem optado por morar em região serrana, onde a temperatura é sempre agradável e benéfica ao filho.
      Rodrigo é formado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, também é Teólogo e, há uns anos ganhou uma bolsa de estudos (concedida apenas a duas pessoas no mundo!) para cursar Doutorado em Teologia Católica na Bélgica. Infelizmente, durante o Curso lá no estrangeiro foi diagnosticada a doença. Como enfraquecera bastante, não conseguiu prosseguir os estudos, e teve que voltar ao Brasil.
      E desde então, a família procura meios para lhe dar condições para controlar a doença, que não tem cura por enquanto, e proporcionar-lhe um ambiente seguro, evitando alimentos contaminados, ar poluído e situações de estresse.
      Mesmo sujeito a crises que podem ocorrer a qualquer momento, Rodrigo não para de estudar e trabalhar. Já escreveu livros sobre a própria doença, vive pesquisando e está em contato direto com pessoas de diversas partes do mundo, que possuem também a Esclerose Múltipla. Eles se auto ajudam.
      Os livros que ele escreveu são um grande sucesso, porque ele aborda sobre o seu dia a dia como portador de doença rara, e serve de referência para outros, que estão enfrentando os mesmos problemas. E a sua visão de Teólogo fá-lo abordar tudo com mais sabedoria e desprendimento. Mesmo para os familiares de portadores de Esclerose múltipla é uma leitura indispensável. Os livros são "Rodrigo e a E.M. – Projetando” e “Rodrigo e a E.M. – Superando”.
      Recentemente, Rodrigo e mais quatro portadores de E.M. do Brasil participaram de um Concurso e ganharam uma viagem a Copenhagen, Dinamarca, patrocinada pela Novartis, indústria farmacêutica, que desenvolve projetos voltados para uma vida mais saudável. O grupo foi participar do Congresso Europeu de Tratamento e Pesquisa da Esclerose Múltipla (ECTRIMS)
      Uma dentre elas, a Bruna de Rio Grande do Sul ficou famosa, apareceu na tevê e nas Revistas explicando sobre a doença Esclerose Múltipla, de que também é portadora. Em todo o mundo há cerca de dois milhões e meio de portadores dessa esclerose, e no Brasil há atualmente cerca de vinte e cinco mil.
      Pelo depoimento da Bruna, a doença acompanha o paciente a vida toda, e há surtos de crise alternados de períodos de remissão, felizmente. Ela não é ativa o tempo todo, e se houver controle das condições ambientais e físicas do paciente (através de remédios), dá para levar uma vida quase normal.  Mesmo assim, a vida deixa de ser tranquila, porque nunca se sabe quando as pernas começam a fraquejar, (de repente, atravessando uma rua) ou quando os intestinos e rins se descontrolam...
      Por ser uma doença quase desconhecida, pessoas podem estar sofrendo disso sem mesmo saber. Por isso, os jovens que participaram dessa viagem estão se comunicando com as pessoas, e esclarecendo como é a doença. O Rodrigo Drubi tem um blogger, em que se comunica com doentes de E. M. do mundo todo e está sempre ajudando pessoas, que precisam de uma palavra de estímulo e de fé em Deus. Recentemente, recebeu e-mails de esclerosados da China, da Tailândia, de Cuba e Bélgica, entre outros...   Qualquer pessoa pode acessar o blogger que é rodrigoem.blogspot.com
      Taí, mais um mirandopolense de valor servindo a humanidade.
      Atualmente, as condições físicas de Rodrigo são estáveis.
     
      Mirandópolis, janeiro de 2014.
      kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
      

terça-feira, 28 de janeiro de 2014



                               Nasce um Festival 
           (Editorial do jornal do V FEMPO )
      Corria o ano de 1986, esboçava-se a criação do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Mirandópolis.
         Nós, na época éramos Vereador e víamos a necessidade de abertura de espaço para atividades culturais em nossa cidade. Começamos então, a entrar em contato com as pessoas que, de uma forma ou outra estavam ligadas às manifestações culturais locais.
      Dentre essas, algumas que se dedicavam à música nos procuraram pedindo apoio, para se deslocarem para outras cidades,  a fim de participar de Festivais. Esse grupo nessa mesma época, organizou um Festival local, ocasião em que fui convidado para fazer parte do Júri.
        Foi motivado pelo esforço desses jovens que, resolvemos realizar o I FEMPO (Festival de Música Popular de Mirandópolis). Iniciamos esse trabalho de forma humilde, o primeiro FEMPO contou apenas com compositores e intérpretes da região. Nosso objetivo sempre foi, e ainda é abrir espaço para os novos talentos que surgem no meio musical. Por razões políticas, deixamos de realizá-lo nos anos de 87 e 88.
         Com a posse do atual Prefeito Dr. Mitsutoshi Ikejiri, renasce o Festival e em 89 realizamos o II FEMPO. Nesse ano, o Festival começa a transpor os horizontes da região e atingir cidades de todo o Estado. E foi a partir do III FEMPO que, o nosso tímido Festival de 86 ganha nível nacional, e o respeito de todos. E, ano após ano, foram surgindo compositores e intérpretes do Brasil todo.
         E o nosso povo se orgulhou disso e hoje é o maior evento cultural da cidade e um dos maiores da região.
         Por aqui se apresentaram artistas dos mais competentes, que procuram seu caminho para a fama. Alguns já encontraram seu lugar e nem mais voltam ao Festival. Acreditamos ser essa a nossa função como Criador e Coordenador do FEMPO. Atualmente, esse evento é uma exigência do povo mirandopolense, que aprecia a boa música e que sempre soube aplaudir aqueles que, por aqui passaram.
      Durante esses anos, tivemos a oportunidade de ter em nossa cidade, grandes talentos da música brasileira como Zé Geraldo, Itamar Assunção, Alzira Spíndola fazendo shows. A presença de Eliete Negreiros fazendo parte do Júri, e brindando-nos com um show. Entre os participantes, muitos já são admirados e respeitados em nosso meio: Eudes Fraga, Sérgio Augusto, Miltinho, Pedro Moreno, José Carlos Company, André Mello, Banda De Repente, Luanda e Irinéia Maria, Emília Bailão, Luiz Otávio, Grupo Colméia, Alcione e Adilson, João Eudes, Eunice Paiva e tantos outros.
         Este ano, o Festival foi transformado em Feira, principalmente pelo tipo de premiação. Ainda estamos na V Feira de Música Popular, pretendemos a cada ano melhorá-la, para que possamos atingir plenamente os nossos objetivos.
       Esperamos que esse evento, hoje orgulho dos mirandopolenses, seja visto com carinho pelas administrações futuras, pois nossa cidade já se tornou conhecida no Brasil todo, haja visto a presença de participantes de vários Estados brasileiros.
         Nosso desejo é que esse evento permaneça com o passar dos tempos e se transforme numa tradição em Mirandópolis.

         Gabriel Tarcizzo Carbello – Coordenador do FEMPO

            Observação: Esse texto foi publicado no jornal do V FEMPO, em 1992.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014



                                    Tardes de Chuva

            Janeiro é o mês das chuvas.
     Todo ano é a mesma história. Inundações, casas que despencam dos morros, onde estavam perigosamente empoleiradas, sem nenhuma segurança... E gente desabrigada, e a Defesa Civil se mobilizando, e o povo fazendo campanhas para arrecadar água, leite e outros que tais.
         E toda vez que vem um temporal, a gente reza para vir sem vento, porque este tem o poder de arrasar tudo que acha pela frente. E ultimamente, tem acontecido esse tipo de destruição na região. É porque tudo virou descampado, e não há mais mata para deter o vento.
         Quando chove, tudo muda. O comércio fica numa paradeira sem fim, com os vendedores bocejando, bocejando... Os clientes não aparecem e, as horas custam a passar.
         Eu também fico com uma preguiça enorme, mas tento fazer alguma coisa. Embora o frescor do ar molhado pela chuva mansinha, que vem caindo me convide pra dormir, vou resistindo, porque acho que dormir é perder tempo. Dormirei tudo a que tenho direito quando partir dessa vida.
         E assim, nesses dias preguiçosos, de repente dá uma vontade enorme de consertar as toalhas que precisam ser cerzidas, as roupas que estão começando a desfiar. Faço tudo à mão, porque é tão agradável dar um ponto aqui, outro ponto ali, e ver a peça toda reformada no final. Cerzir é um imenso lazer.
         Faço bordados também. Adoro fazer ponto cruz, usando várias cores de linha moulinée e, ver o resultado dos desenhos que vão se formando. Não sigo modelos, vou criando as figuras... E quando esfria muito, gosto de tricotar tomando um vinho do Porto. Pegar um novelo fofinho e macio e ir confeccionando toucas coloridas, alternando os pontos com um golezinho de vinho é muito gratificante. As toucas e boinas são para o Hospital do Câncer. Fico imaginando quem usará essa boina, será que alguém gostará desses pontos, desse modelo? Será que alguém ficará feliz de usar essas toucas? E essa cor levará um pouquinho de alegria para o seu usuário?
         Quando me canso do artesanato, vou estudar. Estudo a língua de meus ancestrais. É muito difícil, mas encaro como um desafio. Estudar a língua japonesa ativa meus neurônios, e não me deixa esquecida. Além do mais, vou ainda adquirindo conhecimentos incríveis. Enquanto escrevo com o pincel, vou imaginando como eram aqueles tempos medievais, em que os senhores Suseranos viviam em guerras constantes, e os samurais no Japão eram os invencíveis guerreiros da época. Como era a vida de uma mulher naqueles tempos bárbaros? Eu sobreviveria aos costumes da época? O que pensavam as senhoras daqueles tempos, que só criavam filhos e filhos para serem mortos nas guerras? Guerras, guerras, guerras...
         E então, como passar uma tarde toda estudando também cansa, toco piano. De leve, arranhando umas notas aqui e outras ali, vou tirando a música que está escondida nas partituras. É muito gratificante conseguir tirar um som desse móvel, que passou muito tempo esquecido na sala. Não tenho nenhuma pretensão de ser musicista, apenas quero curtir uma música tirada do teclado por mim. Amo canções do folclore brasileiro, especialmente as cantigas de ninar, as de roda... Fiquei felicíssima quando consegui tirar Nesta rua, nesta rua tem um bosque, Terezinha de Jesus, Oi bota aqui, oi bota aqui o seu pezinho, Como pode um peixe vivo vier fora da água fria, Sambalelê tá doente, tá com a cabeça quebrada... Casinha pequenina, Muié Rendeira... e por aí vai... E as horas passam e já é hora de fazer exercícios... E visitar o face para saber notícias de amigos reais e virtuais...
         Como me ocupo plenamente nesses dias de chuva, penso que os homens não têm muita opção. Os homens aposentados circulam pela cidade, tomam um cafezinho no bar da esquina,  sentados nos bancos dos jardins espiam o vai e vem das pessoas, vão aos caixas eletrônicos para conferir a aposentadoria, conversam com uns e outros. E leem jornais, e veem tevê, e dormem... Nesses dias chuvosos, só lhes sobra ficar confinados e ler jornal, ver tevê e dormir. São muitas horas vazias, sem ocupação... Longas horas perdidas...
         Tenho dó dos homens. Alguns ainda vão ao computador, conversam com amigos nas redes sociais, mas isso também cansa. A chuva trava a agenda que era rotina, e ficam no mato sem cachorro.
         E com essas reflexões todas, concluí que a educação dos homens é falha. São preparados apenas para trabalhar, trabalhar, trabalhar. Quando se aposentam, e deixam o serviço ficam sem chão. Não dá para ir à Repartição, porque atrapalham quem ocupou seu lugar, na rua são raros os conhecidos, os amigos estão trabalhando e cada qual cuidando de suas vidas, com pressa. Resta-lhes a televisão com programas pobres e o futebol, quando apreciam. E mais nada. Nada. Triste, muito triste...
         Eles não têm os trabalhos manuais que tanto preenchem as horas das mulheres aposentadas. E isso é uma terapia e tanto! Acho que as mulheres são privilegiadas porque, quando se aposentam têm com que se distrair. Com uma simples agulha de crochê e um novelo de linha dá para criar tantas coisas lindas.
         E salve o artesanato!
         Mirandópolis, janeiro de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
        



terça-feira, 21 de janeiro de 2014



                               Por que FEMPO?

         Há muitos anos atrás, trabalhando numa escola do município, o colega Professor Gabriel falou-me da intenção de organizar um pequeno festival de canção popular brasileira em Mirandópolis, para estimular os compositores e cantores anônimos da região.
        À época, até foi comentado que a sigla do festival poderia ser FEMPOM – Festival de Música Popular de Mirandópolis, mas que o efeito sonoro obrigou-o a reduzir para FEMPO. Era apenas uma ideia que estava na cabeça do Professor Gabriel e do seu amigo Jenner  Vieira de Faria. A ideia era tímida, mas muito boa e teve de imediato, o aval do prefeito do momento, Osvaldo Mendes.
        Foi uma felicidade. Começou acanhado e sem pretensões, mas a equipe se esmerou em fazer um trabalho de primeira qualidade. Pessoas da cidade que apreciavam a M.P.B. foram convidadas a auxiliar no trabalho de organização e seleção de músicas: Professor Hamilton Rodrigues, Professora Rachel Sperandio, o poeta Milton Lima, a Professora de Piano Izaura Montanaro, os Bancários Edson de Oliveira e Márcio Granja, o jovem Ronaldo Marconato, o Dr. Jenner Vieira de Faria, Gilberto Grassi e tantas outras pessoas que não me vem à memória.
         Pela quadra do C.A.M. passaram pessoas simples e corajosas defendendo suas músicas. Passaram pessoas fantásticas que, hoje são destaques no cenário musical do país. Gente que vende discos, faz shows e se firma definitivamente no mercado, como o Sérgio Augusto, Miltinho Edilberto, João Eudes, André Gonçalves Mello, Pedro Moreno e tantos outros. Gente de todos os recantos do país – de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Por três dias e três noites, Mirandópolis se transforma numa feira, onde a pedra de toque é a música. Tipos estranhos com sotaques nordestinos, sulistas, goianos, cariocas, todos com uma viola, uma guitarra, um atabaque, uma guitarra circulam pela cidade numa harmonia, numa confraternização tão bonita.
        Mas, por que um Festival?
        Para que premiar pessoas de outros pedaços, de outras Alagoas? Para que, se a crise nos judia tanto? Não seria um luxo para o momento que vivemos?
        É porque o homem tem corpo e alma. Enquanto o corpo clama por ar, água e alimento, a alma exige outras necessidades. Necessidades culturais como a dança, a música, a poesia, a canção. É isso que diferencia o homem da fera.
        Há que se promover o lado do espírito, do sentimento, do sonho, do sentido da vida que não se resume em comer, trabalhar e procriar-se. Se a vida se reduzisse a isso apenas, o homem estaria se abdicando do espírito e igualando-se a um animal qualquer.
        Mais que nunca, há que se cultivar o lado espiritual da humanidade, quando as coisas materiais começam a ir mal. Porque as pessoas precisam transcender-se do plano terrestre para suportar a vida. Porque é uma chance para o menestrel do povo expandir seus sentimentos, suas alegrias, suas mágoas, sua dor.
        E sabemos o quanto o nosso povo está necessitado dessa explosão.

                                                                        Kimie Oku

           Post scriptum: Texto publicado no jornalzinho  V Feira de Música Popular em setembro de 1992

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014



      Os mal acabados
   Há muito tempo que, penso em escrever sobre os produtos industrializados mal acabados.
     Toda vez que, vou abrir o frasco de um certo antisséptico bucal apanho muito, e fico irritada. A tampa vem protegida por uma folha de plástico tão bem grudada, que é dificílimo retirá-la. Sem uma faquinha ou estilete é impossível retirá-la. Já machuquei a mão nessas tentativas, e fiquei várias vezes sem poder usá-lo, por não conseguir abrir. Eu não entendo por que fazem uma coisa tão complicada. Para proteger o produto nas prateleiras das lojas, contra os possíveis violadores? Deviam pensar um pouco mais com respeito no consumidor final.
     Outro produto que também tem essa folhinha superprotetora na tampinha é um colírio, que uso para umedecer os olhos. Não há brecha nem para uma agulha levantar a tal folha. Aí, giro a tampa para ver se a dita cuja sai, mas... nada de sair. Várias vezes tentei, e desisti de abrir e de usar o colírio. Com os olhos ardendo...
     Existe um condicionador de cabelos que não sai da embalagem. O buraco é pequeno, o creme é grosso, espesso, difícil de descer e a embalagem plástica é dura e não tem como apertá-la. Se deixar virado do contrário para que o creme fique na boca, ao usá-lo sai demais e é um desperdício...
     E os cremes dentais, cujas tampas nunca se encaixam direito quando queremos fechar o tubo? A tampa é muito rasa e o bico é longo, daí não fica bem fechado. E fico arrepiada de pensar que, baratinhas possam vir lamber o creme à noite, como alguém postou no face book.
     E há um repelente de insetos que, toda vez que vou usar sai uma porção muito grande, não tem como controlar a quantidade. Lucro da empresa e perda do consumidor...
     E cadernos caros que economizam espiral, e as folhas vão se amarrotando no cantinho lá no alto. Outras vezes, as folhas vêm tão prensadas, que não se soltam. E se a gente insiste, elas se rasgam e a gente fica no prejuízo.
     E camisetas com etiquetas de papel que ficam “lixando”a pele onde tocam? Muitas vezes é na nuca, mas há peças com etiquetas nas laterais, que machucam mesmo! A gente corta a etiqueta, mas ficam uns fiozinhos, que não desistem de nos ferir.  Outras vezes, é a própria linha sintética usada na confecção que, ao entrar em contato com o ferro de passar se endurece e, se transforma em várias agulhas para ferir o corpo da gente. Como doem! Essas coisas pequenas, que ficam pinicando como agulhas ou carrapichos irritam a gente, e nos tiram do sério. Sempre desejamos voltar logo para casa, para trocar de roupa e nos livrar do que incomoda.
     E sapatos caros, sandálias de luxo e tênis famosos que, ao darmos vinte passos começam a machucar os pés... Na loja era tão confortável, mas ao usá-los descobrimos que, compramos uma armadilha para nos penitenciar... Sapatos que fazem os pés latejar... Ninguém merece.
     Agora há pouco fui abrir um frasco de mel. Tem uma tampa bem certinha, mas é preciso cortar a parte superior do bico. E quem disse que é fácil? Faquinha de aço que corta tudo, faca de serra e nada... Gastei uns dez minutos para poder ter acesso ao mel. Puxa! Até os ursos que amam o mel desistiriam, com certeza.
     Eu sou da opinião que, quando a gente se propõe a fazer algo deve ser bem feito. Se não se é capaz, deve deixar para outros fazerem.
     Tenho comprado pincéis para a caligrafia japonesa, cujos pelos vão se soltando à medida que se molha na tinta. Ora bolas, os pincéis têm a função de traçar letras ou desenhos. E para isso devem ser molhados na tinta. E os pelinhos vão se soltando e, o pincel vai ficando fininho e, os traçados cada vez mais defeituosos. Esses pincéis foram fabricados na China... os japoneses não soltam os pelos.
     Gosto de bordar ponto cruz e de fazer crochê. E por conta disso, comprava revistas que traziam receitas e diagramas dos bordados, e das toalhinhas de crochê, para orientar na confecção. Desisti de comprá-las. As figuras não batem com a receita e, muitas vezes até as receitas estão erradas.
     E para concluir essa lista de mal-acabados, lembrei de uma menina que, investiu todas as economias numa grande compra numa cidade da fronteira, para revender os produtos entre colegas da Faculdade, onde acabara de entrar. Mas, teve uma grande decepção! As meias esportivas que, eram o grosso da aquisição estavam embaladas em conjuntos de meia dúzia, em cores variadas. E nenhuma tinha par...
     Ah! Lembrei-me de outra! Um português famoso que conheço veio ao Brasil. Na vinda, quando o navio atracou nas Ilhas Canárias para o abastecimento, foi conhecer o comércio local. Comprou uma porção de coisas para revender, e garantir sua subsistência no novo país. Mas, a compra fora feita no grito, isto é, o tempo era curtíssimo, que o navio não esperaria... As últimas compras foram de camisas de seda, embaladas em caixas individuais, por sinal muito bonitas. Ao chegar aqui e conferir as compras, percebeu que caíra numa grande emboscada. As belas camisas não possuíam mangas nem a parte de trás... Mas, ele não ficou no prejuízo. Após uns meses aqui, ao retornar a Portugal e passar pelas Canárias, conseguiu reaver o dinheiro roubado, porque ele armou um grande escândalo diante da loja.
     Mas, nem todo mundo tem coragem para tanto. E gente covarde como eu fica sempre no prejuízo.
     O máximo que faço é essa denúncia, como forma de protesto. Eta, povinho que insiste em manter o Brasil no 3º Mundo!
     E você já ficou alguma vez no prejuízo?
     Mirandópolis, janeiro de 2014.
     kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



terça-feira, 14 de janeiro de 2014



                Trem descarrilhado
    Conversando com um amigo no face book, ele disse que estava indignado com as coisas mais absurdas que estão ocorrendo no país. Que os políticos fazem um circo e chamam o povo para aplaudir. E o povo abobado não percebe que tudo é enganação, que é armação.
         E o amigo é um menino novo, que saiu de família pobre, e recebeu uma educação de primeira, tornando-se um cidadão honrado, como há poucos por aí. E por ter se esforçado para conquistar um lugarzinho na sociedade, fica indignado de ver como ninguém mais se esforça, ninguém mais dá valor ao  empenho, à dedicação para conquistar algo nesta vida.
         O que será que está acontecendo no mundo? A humanidade só pensa em consumir, em adquirir, adquirir, adquirir. A posse é que se tornou o objetivo maior.
         E as coisas só irão piorar porque as indústrias jogam pesado. Depois que descobriram essa ânsia do consumidor, as indústrias estão se sofisticando mais e mais e, cada dia lançam um novo carro, um novo perfume, novos aparelhos de tevê, de computadores, celulares e acessórios. E tem cidadão que só fica na expectativa desses lançamentos, para ser o primeiro a adquiri-los...
         Desventurados... A vida é muito mais que um carro novo, um celular moderno, uma tevê de 500 polegadas. Essas coisas materiais podem encher o peito de vaidade e orgulho, mas são apenas objetos inanimados, que ninguém levará ao deixar esse mundo. E a maioria desses consumidores faz sacrifícios quase impossíveis, só para mostrar para os colegas de trabalho, para os vizinhos ou parentes, que estão por cima da carniça.
         Levam a vida numa pobre ilusão, pensando que felicidade é possuir coisas. Coisa é coisa, nada mais que isso.
         Eu me lembro que, um cidadão disse para mim que, o nosso pequeno carro Fiat 147 que possuíamos, não condizia com o cargo do meu marido no Banco. Isso foi há um século, mas achei tão idiota a observação, pois o carro era nosso, comprado com nosso din din e, não com o dinheiro do Banco. E o carrinho me serviu tanto, para ir à escola durante anos e anos. E nem por isso, meu marido foi menos eficiente no exercício de sua função...
         Ao mesmo tempo que, constatamos as mudanças de costumes que estão ocorrendo na sociedade, percebemos que os governantes não são mais os mesmos, pois deixaram de ver os concidadãos como seres humanos, para só enxergarem os eleitores. Eleitores que, lhes darão os votos em troca de umas bolsas disso e daquilo. E estes já perceberam a força que têm, e estão começando a exigir, acham que o Estado tem obrigação de sustentá-los, sem contribuir com o serviço. Ninguém mais quer trabalhar. Todo mundo faz corpo mole.
         Fico matutando comigo mesma, o que será que essas mães bolsistas do governo dizem para seus filhos? “Pra que trabalhar, filho, a bolsa vem aí!” “Prá que tirar leite na chácara do senhor Fulano? É  mais fácil ficar na fila do leite!” “Aguenta  só seis meses, que o patrão te dá as contas, e você pode conseguir o salário-desemprego” e por aí vai...
         Olha, gente, o trem está descarrilhando. Assim como os trens que saíram dos trilhos e, invadiram casas e mataram pessoas, a locomotiva do Brasil está totalmente fora de linha. Está descarrilhada e ninguém sabe onde vai parar.
         Eu não sei como os homens inteligentes que estão no poder não perceberam isso. Ou perceberam e fazem cara de paisagem. Ou querem ver o circo pegar fogo? Será que não pensam no Brasil de amanhã? No país que deixaremos para os filhos e netos? Será que não se importam com o porvir? Será que tudo que importa é o seu Partido? Ou as fatias que cada político tira para si próprio?
         Acredito que ainda restem alguns homens sérios no Governo, independente de siglas partidárias. E dentre eles, deve haver gente que observa, que pensa, que não idolatra o Partido, porque sabe que, tudo isso é apenas uma forma de organização. E que, o objetivo maior de todos os que foram escolhidos para governar, deve ser apenas um – trabalhar para o bem de todos, e garantir o futuro da Nação, para as gerações que virão.
         Será que alguém estará pensando em como segurar esse trem, para não despencar no abismo? Será que estão atentos para os noticiários do dia a dia? Roubos, assaltos, prédios que desabam, sequestros, desaparecimentos inexplicáveis de crianças, jovens e adultos, pais que matam os próprios filhos e vice versa? E o Maranhão? E a podridão que reina em Brasília? Ou acham que é apenas fuxico da oposição?
         Gostaria de ver todos os analistas políticos despertarem e começarem uma campanha para o Bem do país. É impossível que, não haja um grupo preocupado com a situação reinante. Que esse grupo se manifeste e resolva alertar o povo. Acho que ainda dá tempo. Vamos fazer uma megacampanha nacional para por o trem nos trilhos, para tornar o país governável, repondo tudo nos devidos eixos. Tomar as rédeas da Nação.
         Para isso, é preciso dar uma guinada de 360 graus, para recomeçar de novo e, corrigir todos os estrangulamentos que aí estão. Acho que já está passando da hora de despertar.
         O trem está na boca do abismo.
         Há algo de podre no reino do Brasil.
        
         Mirandópolis, janeiro de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/




sábado, 11 de janeiro de 2014




                                               Minhas Orações

      Antigamente eu via as pessoas orando, desfiando seus terços e ficava pensando: “Que coisa mais brega! Por que rezam tanto?”
        Eu vivia atropelada, correndo atrás da vida e não atentava na necessidade de rezar. Com o passar dos anos, porém, os problemas atazanando o coração, a gente aprende a orar, quando não temos a quem apelar. E de repente, me peguei orando de manhã, à tarde a à noite. Há anos que venho rezando, pedindo a Deus para me ajudar a cumprir a minha missão aqui na terra. E todo dia, tenho que agradecer a noite bem dormida, a saúde mais ou menos em dia de toda a minha família, a bênção de viver... E assim, venho ano após ano conversando com Deus, para me indicar os caminhos para não me perder, para chegar a bom termo no final.
       Mas, recentemente fui ferida com uma tragédia na família, que só quem passa pode avaliar o peso dela. Eu sei que muita gente tem passado e está passando pela mesma dor, e vai enfrentando com coragem e determinação, todas as penas enviadas pelos céus.  E o único consolo é a oração, é falar com o Altíssimo, é chorar e pedir clemência... E assim tenho feito todos os dias...
       Um dia desses, murmurando o Pai Nosso, percebi como é dura essa oração: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino e seja feita a vossa Vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”
       É uma prece dolorosa quando afirmamos: “seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu!” Por mais dura que seja a determinação de Deus, a gente está aceitando e concordando com isso. E já murmurei milhares de vezes essa frase, sem atentar ao peso dessas palavras. E a outra parte que diz: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” Como é difícil perdoar! Acho que a gente perdoa, mas não esquece e é isso que me incomoda bastante. Gostaria de esquecer as ofensas, as mágoas, as dores, as revoltas... Mas, não esqueço. Apagá-las da memória, mas não consigo. Será que sou muito ruim? Sou durona demais? Sou rancorosa? Não tenho rancor. Consigo conversar com os ofensores numa boa, mas a memória não apaga a dor que eles me causaram. E não consigo mais morrer de paixão por eles. Como se algo tivesse se rompido para sempre dentro do meu coração. Que Deus tenha misericórdia dessa alma dura...
       Agora a “Ave Maria” é uma oração de louvação à Mãe de Jesus, então não tem nenhum problema: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres, bendito é o fruto de Vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.” Nessa oração não há conflitos, e termina com um pedido que deve ser universal: “rogai por nós pecadores...”
       Quando oro o Pai nosso, e concordo com todas as vontades dos céus, mesmo sendo duríssimas, parece que no íntimo ainda fica uma resistência gritando: “mas são pesadas demais”! E parece até que não consigo perdoar a Deus! (Que atrevimento!) E ao orar a Ave Maria, dizendo: “rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte” acabo me redimindo da minha ousadia, da dureza dos meus sentimentos...
       Gostaria de ser uma criatura menos complicada, para não ficar analisando tudo que faço, leio, rezo e sinto. Se apenas soubesse murmurar as orações com humildade, acho que seria  muito bom. E não estaria desafiando Deus. Mas, sou muito complicada e sofro por isso. É que penso demais e não consigo parar de.
       Outra oração que acho tranquila é: “Oh! Meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno. Levai as almas todas para o céu, e socorrei as que mais precisarem.” Isso é um pedido de socorro para quem está a perigo, e precisa de ajuda. E gente que precisa de ajuda há aos milhões nesse mundo, Então, orar por elas é necessário. E como num Pronto Socorro, a gente pede para Jesus socorrer as mais urgentes primeiro...
       Já fui atendida diversas vezes em meus pedidos, feitos insistentemente. Certa vez um amigo, simples cidadão que circula por aí, me disse: “Se você rezar sempre com fé, um dia Deus te atenderá” E várias vezes, consegui alcançar as graças pelo poder da oração. Mas, é preciso rezar sempre, porque há muitos pedidos para Deus atender.
       Certa vez, uma amiga me contou que, morava sozinha numa cidade onde começara a trabalhar há pouco tempo. De repente, ficou totalmente sem um dinheiro para comprar suas refeições. O pagamento só sairia daí uma semana. Não havia a quem recorrer. Quando terminou o expediente, a fome já estava lhe maltratando e não tinha nem um pão, nem uma bolacha para saciá-la. Acabrunhada, sem saber o que fazer, porque a fome já estava ficando insuportável, sentou-se no degrau da cozinha e falou para Deus: “O que vou fazer? Não tenho mais nenhum dinheiro, e estou com tanta fome...” E arrasada com a sua situação, olhou para os céus, pedindo ajuda.
Ao abaixar os olhos, viu no quintal uma plantação de batata doce. Ali estava a resposta!  Naquele momento, ela sentiu que Deus lhe estendera a mão. Durante uma semana, ela se alimentou com as batatas, que alguém havia plantado no quintal, talvez o inquilino anterior. Não passou fome, e quando ela me contou isso, fê-lo chorando, grata a Deus pela sua misericórdia.
       Deus ouve nossas preces, às vezes demora para atendê-las, mas atende sempre quando as solicitações são justas e possíveis. Muitas vezes, pedimos coisas impossíveis de se realizar. Outras vezes, não temos o merecimento para alcançar as graças. Como a gente não sabe de nossos merecimentos, o jeito é ir orando, orando, na esperança de contar com a misericórdia divina.
       E você já orou hoje?

        Mirandópolis, janeiro de 2014,
       kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014



                               O ano que passou

        Sempre que chega o mês de janeiro, sinto uma necessidade de fazer um balanço do ano que passou. É inevitável, sinto necessidade de conferir o que fiz, o que deixei de fazer, se servi a algum próximo, se fui útil para alguém, se não prejudiquei ninguém.
         É como se fizesse um balanço geral de minha vida, para verificar se ficou algum saldo positivo. Porque vivo cada dia com uma ideia, uma meta, um objetivo. Nem sempre consigo realizá-los, mas vou tentando. Porque viver por viver nem me passa pela cabeça.
         Mas, o que é o fim de ano? Nada mais é que uma marca estabelecida pela humanidade. Os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses, os anos foram todos inventados pelo homem, para marcar o tempo que passa. Na verdade, o sol nunca para e a passagem do dia 31 de dezembro nada mais é que, outra volta que a Terra girou em torno de si mesma, no movimento de Rotação. E o povo comemora o surgimento do astro Sol no dia 1º do ano, como se fosse o nascimento de uma nova era.
         Indiferente a tudo isso, a Mãe Terra vai rolando pelo espaço sideral, formando os dias e as noites e as estações do ano.
         Os calendários chinês, gregoriano, juliano, cristão, judaico e das tribos primitivas só tentam marcar a passagem do tempo, para o homem se localizar ao longo da existência. Na verdade até o tempo é uma invenção da humanidade. Invenção para servir de referência apenas.
         E assim, costumamos contar a passagem de nossa vida em anos e, dizemos que alguém viveu cem anos, ou cinquenta anos, ou uns meses apenas. E voltamos ao ponto inicial dessa reflexão, isto é ao ano que está findando.
         O que está findando é apenas uma marca, uma referência a que chamamos de ano, ou uma etapa.
         E é bom fazer um balanço para ver se valeu a pena ter vivido o tempo que se escoou. E para isso é muito interessante se perguntar:
         Quantas vezes cantei? Quantas vezes brinquei? Quantas vezes dei gargalhadas?  Brinquei na Ciranda, cantei na Ciranda e dei muita risada com os amigos, e um bocadinho com os familiares... A família é pequena, os contatos são esporádicos e a alegria de todos nós se concentra numa neta, que preenche completamente nossas vidas com a sua presença, quando vem.
         Quantas vezes chorei? Quantas vezes me emocionei? Quantas vezes compartilhei dores alheias? Ah! Chorei muito, acontecimentos inesperados me fizeram ficar sem chão, sem rumo na vida. A perda de amigos queridos, a doença de familiares próximos, me fizeram sentir como a dor é doída, quando  ela se estabelece na casa da gente... E ela ainda está aqui doendo todos os dias, machucando o coração... Muito difícil aceitar os desígnios de Deus...
         Quantas vezes fui tocada pela ternura? Quantas vezes me encantei com a natureza? Ah! Isso foi durante os 365 dias do ano. A beleza das flores, a fragrância das acácias amarelas e das orquídeas perfumando de graça a minha casa... O encanto das florezinhas azuis que nascem nas gretas das calçadas... O pipilar dos filhotes de pardais de madrugada, pedindo comida... As araras azuis cruzando os céus da cidade com seu forte grasnido... A sibipiruna se cobrindo de folhas tenras, após as flores amarelas e depois, explodindo as vagens em centenas de sementes... E o por do sol magnífico, que tinge o céu com ouro e bronze...  E a chuva mansa, que vem regar minhas plantas com carinho e lava o ar. E as estrelas silenciosas que, fazem pensar em Alguém muito poderoso que está no comando do Universo.
         Quantas vezes abracei alguém? Quantas vezes estendi a mão para o próximo? Quantas vezes ajudei o outro? Aprendi a abraçar depois que vi  num filme alemão, jovens numa praça do Japão oferecendo abraços de graça. Eles diziam: “Quer um abraço? É de graça!” E carregavam um cartaz em inglês para os estrangeiros. Achei isso fantástico, porque os japoneses são muito reservados e evitam o toque físico com estranhos. Os japoneses ainda não descobriram os efeitos positivos do abraço, infelizmente. E eu sei da importância do abraço, para os velhinhos que vivem sós... Velhinhos que, visitei de vez em quando para tomar um cafezinho, para lhes dar uma palavrinha... mas ainda é muito pouco. Para 2014 devo reforçar essa parte.
         Quantas vezes me irritei? Quantas vezes perdi a paciência? Quantas vezes exercitei a tolerância? Quantas vezes gritei com alguém? Aprendi a falar sem gritar, mas muitas vezes engoli seco, quando me irritaram. Gente que está para servir e o faz de má vontade, porque amanheceu irritada, e se acha no direito de descontar em alguém. Há tantas pessoinhas nas repartições públicas e nas lojas, que deveriam voltar para casa e serem reeducadas, para aprender as boas maneiras. Tolerância tem um limite. E também, me irritei bastante com as maracutaias que, os nossos representantes políticos armaram contra o povo. E fiquei muito envergonhada como brasileira que sou, com a história do Mensalão. É uma imensa vergonha ter que prender líderes políticos, porque traíram seus eleitores e roubaram a Nação que deveriam defender.
         Quantas vezes ensinei algo a alguém? Servi para orientar jovens em suas indagações? Na medida do possível, procurei passar algo nas minhas crônicas, que sirva para alertar os mais jovens, os mais inexperientes. E o face book também me proporcionou oportunidades de aprender e, retransmitir informações úteis para outros usuários.
         Quantos livros li? O que aprendi? Quanto estudei? Aprendi algo diferente? Não li muitos livros nesse ano, quer dizer, livros escritos em nossa língua. Li livros escritos em japonês sobre heróis japoneses como Takeda Shingen, Minamoto Yoshitsune, Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi, Tokugawa Ieyasu. Li ainda as biografias dos literatos Higuchi Ichiyo e Miyazawa Kenji e, sobre o cientista Noguchi Hideyo. Não tive muito tempo para ler outras obras, porque passei a copiar os livros japoneses que leio. E os copio com o pincel ou fudê, para praticar a caligrafia japonesa. No momento, estou lendo Memorial do Convento de Saramago e relendo Toyotomi Hideyoshi (ao mesmo tempo).
         Quantas músicas novas aprendi? Passei a tocar razoavelmente La Cucaracha do folclore mexicano, Berceuse de Brahms e Sonata ao luar de Beethoven, além de uma dezena que já conseguia arranhar. Devagarinho, estou conseguindo tirar umas músicas... só para mim, porque não tenho técnica nenhuma...
         E em artesanato o que fiz? Bordei ponto cruz numa toalha de banquete, acrescida de mais algumas toalhinhas, que irei concluir nesse início de ano. Bordado trabalhoso, que estava parado há mais ou menos uns cinco anos... E tenho planos de fazer toucas para o Hospital do Câncer de novo.
         E sobre a saúde? Tive problemas com articulações, que doíam muito. Descobri graças à orientação de um médico especialista que, as dores surgem por falta de exercícios. Com a idade se acumulando e a preguiça também, nós acabamos ficando acomodados e muito parados, e isso vai travando as juntas do corpo. E surgem as dores. Passei a fazer mais exercícios e percebi que, realmente tudo melhora. Hoje não tenho dores. É claro que tomo colágeno para melhorar as articulações também. E exercitei e caminhei todos os dias, religiosamente.
         Quantas pessoas entrevistei? Em Gente de Fibra, entrevistei e publiquei no Diário de Mirandópolis, as histórias de: Senhora Kawasaki, Hayao Kojima, Lió, Gilberto Ferreira, Kaoru Hattori, Helena Floriano Barbosa, Iracy e Domingos Caldatto, Jaime Perogil, Shina Aoki e Minako Nomizo. Para 2014, tenho planos para mais entrevistas de gente, que trabalhou e deu a vida por essa cidade.
         E agora no final do ano, conheci gente fantástica como o Jozé Augusto Lisboa, que realiza atualmente, a Mostra “Heavy Metal – fossilizados no sistema” de fotos de objetos entranhados no solo, no asfalto, como pregos, parafusos, peças de carros, pedaços de concreto, que o homem vai deixando como atestado de sua passagem, por este Planeta. Os animais ditos “irracionais” só deixam como vestígios, os ossos... E conheci também uma escritora, a Rosa Chimoni que escreveu o livro “Transversais”, que se compõe de depoimentos de Professoras de Guarulhos. A abordagem é sobre a vida pessoal do ser humano chamado Professor. É muito bom!
         Acho que no final, ficou um saldo positivo de tudo que fiz em 2013. E nem citei as Cirandadas que fizemos, e comemoramos o terceiro ano de contatos humanos, muito gratificantes da Ciranda.
         E chego à conclusão final que valeu a pena.
         Em 2014 tem mais, muito mais, se Deus quiser!
         E boas realizações para todos.

         Mirandópolis, janeiro de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/