segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

GENTE DE FIBRA - José Maria de Carvalho


    José Maria de Carvalho


    Gente de fibra de hoje é o Dedé, ou Zé Maria.
   Dedé  é o José Maria de Carvalho, que tem 73 anos e nasceu em Penápolis.
  Zé Maria  começou a trabalhar muito cedo, criança ainda foi engraxate de rua, polindo os sapatos de cidadãos de Valparaíso, onde morou. Foi também  cabeleireiro e barbeiro .
 Em 1959, já em Mirandópolis,inaugurou com a primeira leva de funcionários, a Agência do Banco do Brasil local, que se localizava na Rua das Nações Unidas, onde  hoje estão as instalações da Telesp.
  Da primeira turma de funcionários que teve como gerente o senhor Kluk Magri, só restou aqui o Dedé, que serviu como Contínuo no Banco. Contínuo prestava serviços de apoio dentro e fora da Agência, e fazia a entrega de correspondência  aos clientes e a outros Bancos.
  Enquanto trabalhava Zé Maria fez o Magistério no C.E.N.E. local e depois o Curso de Geografia na Faculdade Rui Barbosa de Andradina. Ministrou aulas de Geografia e de Artes industriais por quatro anos no Noêmia  e dois anos em Murutinga do Sul. Assim, foi aluno e mais tarde companheiro de trabalho, do professor Walter Victor Sperandio e da professora Nilda  Bini.
   Fez por correspondência, o Curso de Primeiros Socorros e Taquigrafia, que acabou ensinando  a outros em Cursos de Adultos. Taquigrafia é uma escrita rápida por sinais, que os jornalistas e secretários de empresas usavam muito.
   Em 1962 casou-se com a professora Isabel Leal, com quem teve duas filhas; uma das quais é farmacêutica em Guarapuava, P.R., a outra é funcionária pública em Campinas. É avô de uma garota.
  Quando trabalhava, todo o serviço do Banco era feito por atendimento pessoal, chegando a Agência a contar com  mais de cinqüenta funcionários. A informatização reduziu o número de funções e empregos.
   Hoje, Zé Maria está aposentado, mas sua vida foi cheia de realizações.  Durante longos anos foi tesoureiro da Igreja Católica, da qual é testemunha qualificada, para realizar determinadas cerimônias.
   Foi presidente fundador da A.A.B.B. local, clube recreativo do Banco do Brasil.
   Foi  Presidente fundador da Associação de Produtores Hortifrutigranjeiros,de Mirandópolis, que congrega sócios locais, de Lavínia, Guaraçaí e Murutinga. Dedé atua na Associação, que ajuda os produtores com técnicas, para melhorar a qualidade do  produto e a renda. Os produtores de leite também aderiram à Associação.
  Mesmo envolvido em tantas atividades, Zé Maria dedica uma parte de seu tempo para o serviço voluntário. Ele planta árvores em todas as áreas vazias , e ajudou a arborizar o Bosque Municipal e a sede da A.M.A.I., o asilo local.
  E há catorze anos vai, toda quinta-feira fazer a barba e cortar os cabelos dos internos da A.M.A.I. Diz que é um trabalho difícil, porque há idosos que não mais se preocupam com a higiene, e é  preciso muita paciência, para convencê-los a cuidar da aparência. 
  Ainda, Zé Maria é afiliado do P.T. , e já foi candidato a Vereador, mas não foi eleito.
 Uma amiga costuma dizer que “O seu Dedé deveria viver mais uns 50 anos, porque tem muita disposição, e muito que realizar ainda.”
  Dedé, o homem de mil artes, de mil talentos.
  José Maria de Carvalho, realmente é um homem de fibra!

               Mirandópolis, junho de 2011.
                                kimie oku 

domingo, 29 de janeiro de 2012

                Pardalzinho

      O pardalzinho nasceu livre.
      Quebraram-lhe a asa.
      Sacha lhe deu uma casa,
       água, comida e carinhos.
       Foram cuidados em vão:
      A casa era uma prisão,
       o pardalzinho morreu.
      O corpo Sacha enterrou
      no jardim; a alma , essa voou
       para o céu dos passarinhos!

      Dentre centenas de poemas de Manuel Bandeira, esse é o que mais me toca. Imagino que, o grande poeta se referia a si mesmo, ao falar do pardalzinho.
      Manuel Bandeira foi cronista, crítico literário e de artes, tradutor e poeta. Traduziu obras famosas de Shakespeare, Schiller, Bertold Brecht, Morris West, Jean Cocteau e outros. Muitas peças traduzidas por ele foram encenadas.
   O poeta nasceu em Pernambuco, lá pelos idos de 1886, sendo conterrâneo de João Cabral de Melo Neto (Morte e Vida Severina), que também aprecio muito.
   Procedente de famílias de engenheiros, políticos e advogados, tinha tudo para ter um futuro brilhante e feliz.
     Queria ser arquiteto e, entrou na Escola Politécnica de São Paulo. Contudo, foi acometido pelo mal do século, a tuberculose e, teve que interromper os estudos.
     Essa doença limitaria sua vida, tornando-o muito inseguro e infeliz.
    Para amenizar a doença, que não tinha cura na época, seu pai usou todos os recursos possíveis, e o mandou ao Sanatório de Clavadel, na Suíça. Após um ano de tratamento, em 1914 estourou a Primeira Guerra Mundial e, ele teve que voltar para casa.
    Mesmo não tendo resolvido seu problema de saúde, sua passagem pelo Sanatório foi bastante positiva, porque lá, reaprendeu a língua alemã, que havia estudado no colégio; e mais que tudo, conheceu Paul Éluard e Gala e, o famoso pintor Salvador Dali.  Éluard, Gala e Dali também estavam se tratando da tuberculose.
    Éluard seria conhecido na Europa toda, como o Poeta da Liberdade, pelo seu empenho em combater o nazismo, que se instalara na França. Ele conseguiu despertar a Resistência Francesa, com o seu poema Liberté.
    A convivência com intelectuais da época, seria comum na vida de Bandeira.
    Assim, seu círculo de amigos era formado dentre outros, por famosos da Literatura como Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto... Era um grande poeta entre outros tantos.
    Todos os seus inumeráveis textos em prosa, ou crônicas que escreveu para os Jornais são muito belos, como o Queijo-de-Minas, que é poesia pura em prosa.
    Bandeira passou a vida toda numa insegurança total, limitado pela tuberculose. Às vezes, fazia graça sobre a própria doença, ironizando-a em poemas, como em "Pneumotórax".
    Mas perpassa sempre, uma tristeza constante, porque  sua vida foi truncada como a do pardalzinho, de quem lhe quebraram a asa.
    Não há em sua biografia, o registro de uma mulher, com quem tivesse se relacionado de verdade.
    E parece que justamente isso, foi a causa de sua tristeza maior.
    Apesar de ter sido reconhecido publicamente, e ter recebido prêmios e honrarias, e viver cercado sempre de gente famosa, sua melancolia parecia não ter fim. Era um homem solitário, doente e muito triste, como em:
      Andorinha lá fora está dizendo:
       -“Passei o dia à-toa, à-toa!”
      Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
      Passei a vida à-toa, à-toa.

   Ele deixou centenas de belos poemas, e é difícil escolher qual é o melhor. Gosto muito de "Irene no céu" e "Os sapos", que foi o abre alas da Semana de Arte Moderna de 1922...  ...e... Não resisto à tentação de reproduzir o poema “Momento num café", que é uma verdadeira crônica, em forma de poema:
      Quando o enterro passou,
      os homens que se achavam no café
      tiraram o chapéu maquinalmente.
      Saudavam o morto distraídos.
      Estavam todos voltados para a vida.
      Absortos na vida.
      Confiantes na vida.
     Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado,   
    olhando o esquife longamente.
   Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade.          
      Que a vida é traição.
      E saudava a matéria que passava,
      liberta para sempre da alma extinta.

      Mas a tristeza de Bandeira pela vida sem amor, sem saúde e sem felicidade ficou registrada, como num testamento para a posteridade, no poema
      "Vou me embora para Pasárgada":
      Vou me embora para Pasárgada.
      Lá sou amigo do rei.
      Lá tenho a mulher que eu quero,
      na cama que escolherei.
      Vou me embora para Pasárgada
       ....................
      E quando eu estiver mais triste,
      Mas triste de não ter jeito.
      Quando de noite me der
      vontade de me matar,
      - Lá sou amigo do rei -
      Terei a mulher que eu quero,
      na cama que escolherei.
      Vou me embora para Pasárgada.
    
    É impossível ler Bandeira e, não se condoer de sua tristeza sem fim. Vida sem amor.
   Entretanto, a imensa tristeza que foi sua companheira inseparável, com toda a certeza foi a inspiração, para produzir  uma obra tão bela e tão vasta.
     Sem a doença, talvez tivesse sido apenas mais um arquiteto.
     Sem a doença, não teria conhecido Paul Éluard, que era amigo de Pablo Picasso, autor de Guernica, que retratou o estrago da Guerra na Espanha.
    Sem a doença, talvez não tivesse percebido a tristeza da vida sem amor.
     Sem a doença enfim, não teria percebido o vazio da vida.
    Sem a doença, Bandeira não teria sido Bandeira, o poeta maior do Brasil.

      Mirandópolis, 23 de janeiro de 2012.
                                 kimie oku
                 

CIRANDA- 15º ENCONTRO



Cirandando  pela 15ª vez


No dia 27 último, realizamos mais 
um Encontro da Ciranda. 
Como sempre foi na Chácara do senhor
 Albertino Prando.
O tempo estava chuvoso, e
houve até sugestões para cancelar  a festa. Mas, como  todos estavam querendo reunir-se,   o programa foi mantido.
        E São Pedro mandou  tanta chuva, que o córrego que passa pela chácara ficou cheio, e se transformou numa torrente que fazia barulho, descendo para a matinha.
        Os cirandeiros compareceram em massa, com apenas sete ausências.  Havia aproximadamente cinqüenta pessoas , que nem se preocuparam com a chuva que descia do céu.
        E a novidade do dia foi a presença  da senhora Aparecida Monzani, convidada para participar como membro do grupo de apoio. Sua mãe, dona Élida também compareceu e 
curtiu a festa.
      A música ficou por conta do dono da casa, senhor Albertino tocando acordeão, do pandeirista Toninho, e dos violeiros Zeferino Coqueiro e Professor Valdevino.
      E o coral  foi comandado pela Flora,  Adelina, Jane e Milton. E quando chegou a Rachel, a festa ficou completa, com gente dançando e cantando e o  Toninho 
rebolando como um malabarista, 
com o seu pandeiro.
      O seu Orlando Serafim declamou “Adeus, papai e mamãe”, poema longo e emotivo que deixou todos os ouvintes perplexos, pela memória incrível do declamador,
 que já é bem idoso. 
Depois, foi a vez do poeta Pedro Squinca que contou a história de sua vida, declamando poemas lindíssimos 
de sua autoria. 
José Maria de carvalho, o popular Dedé leu um texto sobre  os cuidados 
com o nosso planeta.
 E eu, kimie oku abordei o assunto 
Morte na Ciranda.
      Como perdemos recentemente, o amigo cirandeiro Egídio Vicente, achei necessário falar sobre homenagens aos
amigos que irão partindo, porque o grupo é composto só de gente idosa, que já está na descida da ladeira.
      Disse aos amigos que o senhor Varela me indagou, que homenagem faríamos 
ao amigo Egídio. 
  Eu disse que a melhor homenagem  já lhe  prestamos em vida, com os encontros da Ciranda, em que ele brincou, 
cantou, riu e até fez discursos 
sempre oportunos e bem apropriados. 
  Disse ainda que nós temos que, 
aprender a lidar com a morte, 
porque é a única certeza que 
nos aguarda,
 no fim do caminho.
Todos os cirandeiros concordaram comigo. 
E a sra. Maria, viúva do sr. Egídio 
leu um texto que confirmou todas
 essas idéias.
      E mais, acrescentei que nós devemos viver o momento, cantando, rindo e brincando com os amigos, aproveitando 
o tempo que nos resta.
        Então, a cantoria continuou, com muita alegria.
       E ninguém se importou com a chuva, que caiu a tarde toda. 
Foi um dia maravilhoso.

         Mirandópolis, 28 de janeiro de 2012.
                  kimie oku (kimieoku@hotmail.com)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CULTIVAR FLORES E POLIR A ALMA




                             METAMORFOSE
    Aninha é uma adolescente de 15 anos, plena de vida, cheia de curiosidade diante da natureza.
   Já se interessou por várias atividades , às quais se entregou de corpo e alma, para obter o máximo de realização. 
   Aos poucos porém, foi descobrindo que, nem tudo é possível  fazer com perfeição, devido às limitações próprias de cada um.
    Ultimamente, tem se dedicado à fotografia.
  Tudo é motivo para registrar com a sua câmera,   especialmente,  flores e bichinhos miúdos como  borboletas, beija-flores,  joaninhas, louva a deuses, moscas, lagartas...  E  outros, não tão miúdos  como tatus, morcegos,bezerros,cachorros, cavalos......Nada escapa de sua inseparável câmera.
  Há uns dias atrás, ela viu uma lagarta amarelinha se enrodilhando para se tornar crisálida, ou hibernando para virar borboleta.
O interessante é que a lagarta se  fixa  num galho, numa folha ou mesmo num varal através de uns fios quase invisíveis, que  ela própria fabrica  e fica pendurada, aguardando a metamorfose. 
Aquela estava pendurada na parede externa de um velho vaso, presa por dois fios muito finos.
Quando a garota descobriu  o que estava acontecendo, ficou  muito empolgada, porque queria conhecer toda a evolução da metamorfose.
E todos os dias, fascinada com as alterações de aparência, foi fotografando as mutações do bichinho. Cada dia era uma surpresa.
   Quando o corpo  da futura borboleta estava  quase formado, e a ansiedade da menina estava no auge,  o vento e a chuva mais forte derrubaram-na e interromperam o processo.
Borboleta interrompida e imensa decepção da garota.
Seqüência perdida....
 Mas, haverá outras oportunidades para recomeçar tudo de novo... lagartas é que não faltam.
    Enquanto isso, sua mãe, que nunca morou no campo, descobriu de repente um pé de algodão, e ficou pasma ao constatar que o algodão hidrófilo, que é utilizado nos curativos é  fruto seco de um arbusto, beneficiado para uso medicinal e para  higiene corporal. 
   Pensava que o mesmo era invenção do homem, e nunca um produto de origem vegetal. 
   Ignorância de quem só viveu na cidade......
  E  ao constatar que,  a flor se abre amarelinha de manhã e,  muda  para rosa  ao entardecer, foi tomada de encantamento. 
  Encantamento, que foi aumentando ao conhecer a maçã, que  se transforma numa cápsula com 
os flocos de algodão dentro. 
  E daí, ao saber como os catadores de algodão faziam a colheita,  retirando os flocos e, ferindo os dedos nos espinhos dos capulhos,  pensou que havia descoberto um mundo novo,que nunca havia imaginado.
 No estudo das ocorrências naturais do ecossistema,  há nos compêndios, uma parte que trata da metamorfose de alguns bichos, como  das lagartas em borboletas e  dos girinos em sapos.
  Entretanto, como é possível constatar, as plantas também se metamorfoseiam.  
  Dum caroço pequenino nasce uma planta, que dá frutos e desses frutos saem os chumaços de algodão, que  são aproveitados para tecelagem e outros fins. 
  Assim acontece  também com a seringueira que dá o látex, e com outras diversas plantas, que o homem aproveita para seu conforto e bem estar.
   E não são somente os bichos e as  plantas que sofrem metamorfoses. 
  O ser humano também se metamorfoseia. Quando nasce  é  um ser totalmente incompleto e dependente, e  começa  se rastejar,  depois vai engatinhando de quatro, até conseguir se firmar sobre as duas pernas, ficando ereto para caminhar sozinho, para se tornar auto-suficiente, independente.
  Mas, a transformação maior ocorre na ideia, na inteligência. É uma transformação que não se percebe, porque ocorre internamente.
 Assim,  enquanto Aninha está descobrindo o mundo e os inumeráveis mistérios, está ocorrendo uma transformação dentro dela. Aos poucos, vai percebendo a  complexidade da vida animal, vegetal e mineral. 
   E vai captando as diversas informações, que irão ao longo dos anos, formar o seu cabedal de conhecimentos e experiências da vida.
   Que farão parte de sua personalidade única.
 Enquanto a garota vai descobrindo as ocorrências corriqueiras do dia a dia, sua mãe ainda tem muito que aprender, muito que conhecer. 
   E isso não se aprende nas escolas.
  E a metamorfose do ser humano não termina nunca. Sempre há algo novo para conhecer, 
para absorver. 
   Porque o campo do conhecimento é 
infinito e complexo.
   Como cantava Raul Seixas:   
“Prefiro ser essa  metamorfose ambulante,
do que ter aquela  velha opinião formada sobre tudo." 
  Que sabedoria, hein?
 Porque mesmo quem já viveu  mais de um século, não conhece nem a milionésima parte do 
conhecimento do mundo. 
 E por mais sábio e estudioso que seja o cidadão, não consegue absorver tudo que gostaria de saber. 
  Há um limite, porque ele é apenas humano.
 Na verdade, somos como as borboletas pairando por aí, tentando conseguir o melhor mel, tentando descobrir os meios de defesa para se viver bem. 
 E totalmente alienados, ignorando a existência de outras formas de vida que,também lutam para sobreviver.
  Entretanto, como a vida é um grande mistério, nunca saberemos para que fim nós fomos criados.
  Conforta–nos pensar que, talvez a nossa metamorfose final, seja a mutação para anjos.
  Não é isso que a maioria das religiões prega?
    Que somos apenas espíritos?
      
   Mirandópolis, 12 de janeiro de 2012.

 kimie oku                                                                                     (kimieoku@hotmail.com)

sábado, 21 de janeiro de 2012


    GENTE DE FIBRA João Torrente Filho


                 Gente de fibra de hoje é um Professor.
       Professor João Torrente Filho, de 71 anos, nascido em Guararapes.
                 Quando João era criança ainda, seus pais compraram um sítio e se mudaram para Santa Fé do Sul. Por essa razão, o menino João foi criado pelos tios  Fernando e Andréa Zonzini,  que só possuíam duas filhas.
                 Joãozinho cresceu como um irmão das primas, em Mirandópolis. Seus tios sempre foram muito bons.
       Aos 14 anos, João começou a trabalhar na Estação da Rede Ferroviária Federal Noroeste do Brasil, a N.O.B. como aprendiz de telégrafo.
                 Telégrafo era o meio de comunicação mais avançado da época. Constava de um aparelho com fios, movido a toque de dedos – cada toque emitia um sinal em Código Morse.
                 Através do telégrafo, controlava-se o tráfego dos trens, evitando-se acidentes. Os trilhos eram únicos e não possibilitavam o tráfego de  duas composições ao mesmo tempo, daí a utilidade desse meio de comunicação ultra-rápido.
                 Por causa do trabalho e do estudo, Joãozinho continuou morando com os tios,  alternando temporadas  na casa dos pais.
                 Em 1964 casou-se com a senhorinha Maria Aparecida Secanho, com quem  teve uma filha e um filho.
                 Criar filhos com poucos recursos era uma tarefa difícil, pois as despesas eram muitas. Mas o casal nunca desanimou em dar conta do recado. A esposa Mariinha, como é conhecida por todos, costurava para fora, isto é fazia roupas para as pessoas de nossa sociedade.                                            Durante anos e anos, Mariinha vestiu as senhoras de Mirandópolis.
Passava horas e horas diante da máquina de costura, sua inseparável companheira, que  possibilitou vestir os filhos com a renda de seu trabalho.
                 E graças à ajuda da esposa, João voltou a estudar.
                 Como não havia estudado regularmente por força do trabalho, fez o Curso de Madureza, equivalente ao Supletivo de hoje. Assim, venceu os quatro anos regulares do antigo curso ginasial. Depois, fez o Curso de Contabilidade na Escola 14 de agosto. E tudo isso, entremeado de trabalho na estação ferroviária e plantões, que varavam madrugadas...
                Tanto João como a Mariinha passaram anos e anos trabalhando à noite, para dar conta das despesas de família. Foram tempos  difíceis de sacrifício, mas o que ficou foi a lembrança de cuidados da família, para deixar descansar o pai ou a mãe, que estavam cansados pelos serões realizados
na véspera. O silêncio era imprescindível  para o descanso.
                 Após concluir o Curso de Contabilidade, João se habilitou em Matemática, na Faculdade de Filosofia Rui Barbosa, em Andradina.
                Depois, durante cinco anos acumulou as funções de Agente Ferroviário  e Professor. Como Agente, vendia bilhetes para os passageiros, controlava o tráfego de trens e cuidava da comunicação com  outras estações, através do telégrafo.
                 Antes que a Estrada de Ferro encerrasse o transporte de passageiros, João deixou  o serviço de ferroviário e optou pela carreira de Professor. Como Professor trabalhou em Itapura, Mirandópolis e em Lavínia, onde se aposentou. Depois, retornou à mesma atividade e atuou   mais 13 anos.
                 Hoje João é um Professor aposentado e lembra que durante  mais ou menos 15 anos pertenceu ao Sindicato dos Professores, a A.P.E.O.S.P. que defende os direitos da classe.
                 Sua filha é Professora também e mora em Santo André. O filho é Tecnólogo em Informática e leciona na E.T.E.C. de Andradina.
                 Possui quatro netos, dos quais, uma atua no Instituto Butantã no campo da Pesquisa e pretende fazer Mestrado em Imunologia. Os demais são mais jovens e estão estudando.  Além deles, a família se compõe ainda de um genro e uma nora.
                 João e Mariinha batalharam muito e formaram uma família bonita, que sabe o valor do sacrifício, da dedicação e do respeito.
                 Quando o trem cargueiro noturno buzina longamente, João sente saudades da vida que passou. A melhor lembrança era o encontro dos amigos na chegada dos trens. A vida acontecia na estação. Ele lamenta  a situação atual de abandono da Ferrovia e da estação, que tanto progresso trouxeram à cidade.
                 Da carreira de Professor tem lembranças boas, mas a maior decepção foi perceber que a Legislação não valoriza  e,  nem  reconhece o seu papel fundamental  na sociedade.
                 Não houvesse a força de vontade e a ajuda da Mariinha, João não teria vencido os revezes da vida. Por isso, o sonho dele é viver bem com a família, curtindo cada momento, com os filhos e os netos.
                 “Carpe diem”, João!
                 João Torrente Filho, pelos longos anos de luta, pelas batalhas vencidas é um homem vitorioso.
                 João Torrente Filho é gente de fibra!
                                  
                                   Mirandópolis, 26 de julho de 2011.
                                                               kimie oku
                                                      (kimieoku@hotmail.com)