quarta-feira, 28 de junho de 2017

         O fio de bigode
   Antigamente, a humanidade procurava preservar certos valores para haver crédito nas relações entre as pessoas. Palavra dada era invariavelmente, palavra que tinha que ser cumprida. Havia até a expressão “garantia do fio de bigode”, que consistia em garantir a promessa oferecendo um fio do próprio bigode, como compromisso assumido. A ideia central era: Homem que é homem honra o bigode!
      As transações financeiras eram realizadas sob a fiança do fio de bigode. E homens de negócios não se furtavam ao pagamento do compromisso assumido. Deixar de cumprir era um desastre. Era a  desonra maior, decadência da família até duas a três gerações posteriores...
      As amizades quando muito próximas dispensavam o fio de bigode e só a palavra empenhada já tinha o mesmo peso, o mesmo valor. Parentes e amigos faziam transações apenas com a palavra empenhada, sem um fio de bigode, sem um contrato, sem um documento que comprovasse o empréstimo. Mas, como o homem é um ser imprevisível, muitas palavras empenhadas deixaram de ser honradas e levaram famílias tradicionais à bancarrota por não receberem os valores emprestados...Tive parentes  e amigos que perderam tudo por conta desses empréstimos sem garantia.
      Então, grupos de gente abastada criaram as instituições financeiras; bancos e caixas que passaram a oferecer empréstimos a troco de juros. Mas, estes não se fiavam em fios de bigode e muito menos em palavras empenhadas. O fio de bigode foi substituído por um documento assinado pelo responsável da instituição e pelo cliente, que passava a ser devedor do montante emprestado e elevados juros adicionais. E não era só isso. Havia cláusulas que garantiam o arresto de bens do devedor, em caso de não conseguir quitar a dívida. Com isso, muitos homens poderosos perderam suas propriedades para esses bancos, que cresceram de forma assustadora... Os bancos nunca perdiam. Eles jamais perdem. Não fazem transações sem lastro, sem garantias... E sem grandes lucros. As instituições financeiras só oferecem empréstimos a quem tem bens valiosos. E o cliente sempre é tratado como uma fonte de lucro, que é descartado tão logo deixe de render...
      Hoje as instituições financeiras comandam a ciranda de negócios no mundo todo. E elegem chefes de Estado, assim como os derrubam, quando lhes convém. E promovem guerras para vender armas bélicas, e controlam o preço do petróleo que é a grande moeda de troca do mundo atual. E todas as desgraças que ocorrem diuturnamente em todos os países são promovidas pelas instituições financeiras. Lucro é a meta, o objetivo maior. Custe o que custar. Mesmo sacrificando populações inteiras de gente inocente...
      Mas, o tempo do fio de bigode passou e muita coisa mudou. Hoje pouca gente sabe desses costumes. A confiança era a moeda de mais valia. Hoje não se confia mais em ninguém. Filhos matam os pais e vice versa por causa da vil moeda... Mesmo as apólices mais bem elaboradas, assinadas e carimbadas se tornam inócuas, quando o devedor não quer pagar... E se não há bens para serem arrestados...
      Nesta época de valores invertidos, ninguém se preocupa com palavras dadas, com compromissos assumidos. E a história do fio de bigode hoje soa como uma piada muito ingênua e ridícula. Mas, houve um tempo assim, em que as pessoas acreditavam umas nas outras, confiavam plenamente em palavras dadas e honravam os compromissos, mesmo à custa da própria vida. No Japão, muitos cidadãos cometeram suicídio por haraquiri por não conseguirem pagar suas dívidas... Não se julgavam dignos de continuar vivendo após a desonra...
Infelizmente, esse tempo de confiança já passou.
Hoje, não se pode fiar em ninguém.
Todos prometem tudo, mas pouquíssimos cumprem as promessas...
Podemos constatar que a mentira é a grande onda do momento. Para conferir basta acessar as redes socais. Estão sobrecarregadas de mentiras e mentiras. Não só dos políticos que negam acusações mais que comprovadas de desvios de dinheiro... Também de usuários que inventam mentiras a seu bel prazer, para sujar seus desafetos... E recentemente, apesar das denúncias, das delações e das investigações comprovadas de forma irrefutável, os corruptos adotaram uma defesa impensável: eles negam tudo de pés juntos, jurando até pela alma de sua santa mãezinha... Mesmo que o crime esteja comprovado, mesmo com provas mais que sólidas, eles negam tudo: Não sei, não conheço, nunca  vi, não é do meu conhecimento, nunca ouvi falar, não é do meu feitio. Mentiras deslavadas de Advogados, de Marqueteiros, de Deputados, Senadores, de Ministros, de Juízes da mais alta Corte, de Presidentes.
A Mentira foi institucionalizada definitivamente. E começou com o Lula negando a posse do apartamento tríplex no Guarujá e a propriedade do sítio de Atibaia. Há dezenas de depoimentos, de comprovantes de uso, de ordens e contraordens suas dadas aos empregados para administrar esses locais. Mas, ele não sabe de nada, nunca morou lá, não conhece os empregados... Nunca seus filhos fizeram festas lá...
E a Mentira pegou. Todo mundo se acha no direito de mentir, de se fingir de inocente, de impoluto. E não há um político denunciado com provas irrefutáveis de ter recebido dinheiro da corrupção, que tenha o brio de admitir que errou, que se arrependa do que fez. Que tenha o brio de devolver voluntariamente os valores obtidos ilegalmente. Brio de pedir perdão aos eleitores, aos compatriotas que confiaram nele. Aos eleitores e correligionários que foram traídos por ele.
 E é desolador perceber que a moda pegou. As pessoas estão mentindo descaradamente. Aumentam as conversas ouvidas, pregam mentiras o tempo todo, até em nome de Jesus... Mentem com tanta veemência, que acabam acreditando na própria mentira. Mas, as pessoas de bem, de brio sabem que a verdade é verdade, mesmo que seja negada mil vezes por uma autoridade máxima.
E no momento é de bom alvitre desconfiar de 80% das publicações que circulam nas redes sociais, porque ao compartilhá-las, o navegador acabará multiplicando as bobagens sem nenhum fundamento, que alguns usuários inventam...
E estará institucionalizando a prática da Mentira.
Eu, hein?

Mirandópolis, maio de 2017.
kimie oku in




terça-feira, 27 de junho de 2017


         Ó Cirandeiro, cirandeiro ó,
        a pedra do seu anel
brilha mais do que o sol!


Em meio a tantas festividades pelos 83 anos de Mirandópolis, reunimos novamente o grupo Ciranda para cirandar.
Nosso grupo não participa muito de atividades sociais porque é composto de gente idosa, que gosta mais de ficar no seu cantinho usufruindo os dias de paz. São pessoas sossegadas, que não gostam de muito agito, mas apreciam a companhia de alguns amigos. E como fazemos há mais de seis anos, nos reunimos  todos os meses para ajudar essas pessoas a vencerem a solidão de suas vidas. Porque a maioria é composta de viúvas e viúvos com mais de setenta, oitenta anos de vida, que só querem um pouco de sossego e alegria.
O grupo vem se mantendo graças à colaboração de voluntários, que se dispõem em transportar os participantes e oferecem um bom lanche para todos. Além disso, há um grupo de sanfoneiros e violeiros que sempre comparecem para animar as tardes. Também tivemos a alegria de conhecer o senhor Albertino Prando e dona Cleusa, que colocaram a sua Chácara à nossa disposição. Sem esses quesitos, seria impossível continuar com a Ciranda.
 Já passou pela Ciranda uma centena de pessoas, das quais muitas mudaram de cidade e umas tantas foram morar no céu. Temos em nossos corações, a satisfação de ter proporcionado um pouco de alegria a todas elas.
Além do mais, nós também usufruímos da companhia de todos, aprendendo com a sabedoria dos mais experientes e idosos. E conhecemos a tristeza da solidão de uns e outros, que passam a maior parte do tempo muito sós... Sabemos e acompanhamos os problemas de saúde de alguns, a tristeza de suas dores e mal estares súbitos... Então, procuramos tornar as tardes muito animadas e cheias de energia. E todos voltam para seus lares com o sentimento de querer mais e mais...

Muita gente quer participar...E fica chateada por não a convidarmos É que não temos estrutura para atender a todos. Os voluntários são poucos e o espaço é pequeno para atender bem a meia centena de pessoas. Além do mais, os internos da AMAI (asilo local) também gostam de comparecer. E estamos sempre prontos a recebê-los, pois eles precisam realmente desses momentos de lazer. A nós não importa o número de cirandeiros, importa sim a qualidade do atendimento. Por isso, procuramos atender só aos mais necessitados.
Nesses quase sete anos de convivência, nossa amizade se consolidou de verdade e formamos um grupo forte e animado ligado pelos laços de carinho, respeito e bem querer.
Volta e meia um dos cirandeiros vai cirandar no céu. É triste para os familiares, mas nós encaramos essa partida de forma natural e justa. Porque somos idosos e estamos quase todos no limiar da vida. Não lhes prestamos nenhuma homenagem, porque o que temos que fazer o fazemos em vida...
Então, é isso.
Nossa filosofia de Ciranda.
E em julho tem mais!

Mirandópolis, junho de 2017.
kimie oku in


domingo, 18 de junho de 2017

            Santa Ceia
      Mirandópolis é uma pequena cidade do interior paulista, meio perdida nos confins do mundo.

      Aqui como em outras cidades interioranas, acontece de tudo: coisas boas e ruins também. Mas aqui afloram umas ideias sensacionais de vez em quando. E foi assim que, surgiu a ideia de se reunir os antigos moradores num encontro de confraternização, que ficou conhecida como a Santa Ceia. Quem teve a ideia foi o amigo Ademar Bispo, que ama demais essa cidade, mesmo não morando mais aqui... E com a firme colaboração da Regina Mustafa, hoje nossa querida prefeita, a ideia pegou. E ano após ano, essa dupla conseguiu trazer amigos de longe para essa confraternização.
E chegaram à décima edição.
Em cada encontro uma surpresa: ex mirandopolenses radicados nos mais diversos rincões desse imenso Brasil têm vindo prestigiar a Santa Ceia. Para rever a terra natal, para reencontrar lugares e pessoas conhecidas, para matar as saudades dos amigos de infância e da juventude... Sempre fui convidada para essas reuniões, mas nunca compareci. Achava também que não conhecia a maioria das pessoas, pois sou laviniense e passei a minha mocidade lá em Lavínia. Então, desta vez a amiga Ana Maria Jacobs Ribeiro, que conheci pela Internet me indagou: “E aí, vai ao nosso encontro?” Respondi que não, mas me senti cobrada. Ela viria de outra cidade e eu nem iria dar-lhe um abraço? Daí, resolvi dar uma passada lá no CAM para cumprimentar a todos.

E foi uma feliz ideia. Reencontrei amigos que não via há décadas Gente que ainda mora aqui e não cruza mais meus caminhos por força de outros compromissos, por força de saúde meio abalada... Revi amigos que trabalharam na agência local do Banco do Brasil junto com o meu esposo. Roberto Machado e Darcy, Francisco de Assis Spagnuollo  (Chico Paulada) e Angélica, Dorinha, Célia do saudoso Domingos Forte, Ademar Bispo e a Jacira. Bancários e familiares que encontrávamos durante anos nas festividades da AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil)... Reencontrei outros que partiram para realizar seus sonhos, e se radicaram em lugares distantes... Conheci pessoalmente amigos com quem interagia apenas pelo face book, como a Marina Sampaio e o Natanael, a Ana Maria, e o casal Osvaldo Rodrigues da Silva e sua linda esposa Cida. Vi o Ely e a Eumar, a Deja e o Padre, a Julinha, irmã da Cleusa Cabrini, com quem trabalhei nos meus tempos de Andradina, o amigo Deusdeth, o Orivaldo Ruiz e esposa, o Tonicão... Além de muitos outros, Fátima Sanches e tia Rosa com seus noventa e um aninhos, a Maria Aparecida Souza, a Shizuko Miguita, a Cecília e o Paulinho Santana, a Leide e o Betinho, o Ivo Ferreira, o Waldir Bonfim, o Carlos Fagnani e a Nilva, o Zanin e a Geny.... O amigo Gabriel Carbello, companheiro de escola e de Ciranda. E mais um porre de gente bonita. E o Professor Laert Rigo da Tidinha. Fiquei encantada de vê-lo tão inteiro, saudável e lúcido. Sua esposa Tidinha (Clotilde) já é falecida, assim como a cunhada Soely Comitre...
A vida terrena terminou para alguns, deixando só saudades...

O Encontro é interessante, porque as pessoas se abraçam e só rememoram coisas boas vivenciadas. Então, há muita energia! Todos revivem momentos passados com vontade de voltar no tempo e repetir as doses. E os participantes já são sessentões e setentões. Todos têm muito que relembrar, e o cenário é sempre Mirandópolis. Mirandópolis dos anos cinquenta, sessenta... Uns com dificuldade para se locomover, mas movidos pela vontade de abraçar os amigos e matar saudades. E a conversa correu solta pela tarde afora. Partilhando lembranças boas, relembrando amigos que já partiram...
Estive assuntando sobre esse Encontro...
A mim me afigurou uma grande família, que apesar do tempo e da distância mantém os laços de ternura, de bem querer. A Regina Mustafa e o Ademar Bispo são os anfitriões e organizam essa Ceia. Sei que não é fácil organizar... Mas, algo bem forte, inexplicável e profundo os move. Vontade de ver as figuras queridas dessa grande família, de manter a ligação fraterna para sempre. De nunca perder o contato... Ao longo desses dez anos, muitos já partiram e não virão mais rever a terra querida. Nós todos estamos nessa esteira inexorável que vai rodando, rodando e substituindo as peças antigas pelas novas... Então, viver é preciso!

Enquanto houver um sopro de vida, é preciso curtir essa graça recebida de Deus. E a melhor forma de curtir a vida é ficar junto de pessoas queridas, que nos querem bem. Familiares e amigos.
E observando os participantes, percebi que toda a comunidade estava aí representada. Tinha a nossa Prefeita Regina Mustafa. O Bispo e o Padre, fictícios é verdade! Promotor Público, Delegados de Polícia, Policial Militar, Bancários, dezenas de Professores, Donas de casa, Escriturários, Gráfico, Pecuaristas, Comerciantes, Prestadores de Serviços, Funcionários Estaduais e Municipais... Com exceção da senhora Prefeita que está na ativa, todos os demais já estão aposentados de suas funções, após cumprir décadas de serviço em prol da comunidade, do Estado e da Nação. Todos cidadãos honrados.
E uma única motivação moveu toda essa turma para vir a Mirandópolis nesse dia: o Amor a Mirandópolis.
Seguindo a máxima de Leon Tolstoi:
“Queres conquistar o mundo?
Comece cantando a tua aldeia natal!”


Mirandópolis, junho de 2017.
kimie oku in


quarta-feira, 7 de junho de 2017

                                      As araras da Avenida
        
      O amigo Betinho me sugeriu que reparasse nas araras da Avenida. Que estariam invariavelmente lá pelas 19 horas.
         Armada de uma câmera, fui ver.
Demoraram, mas chegaram como sempre fazendo muito barulho. E se empoleiraram num dos talos das palmas.
Como estava nublado, as fotos ficaram escuras. Elas só aparecem quando está escurecendo. Por onde se aventuram, só Deus sabe. Talvez procurando comida...
Percebi que as palmeiras que estão lá na Avenida há décadas estão bem desfolhadas, com apenas algumas palmas no alto, como uma pequena coroa. E tem uns três, quatro talos sem folhas, onde as aves se empoleiram. Então me lembrei que essas palmeiras imperiais eram majestosas, lindas mesmo, balançando as poderosas palmas ao sabor do vento... O que lhes aconteceu? Eis a indagação.
Conversei com um garoto que atende numa das barracas que há nas proximidades, e ele me informou que as araras aparecem sempre à tardezinha, em bandos de mais de uma dezena. E fazem muito estardalhaço.
Sempre achei que as araras assim como as demais aves voadoras se alimentassem de bichinhos, insetos... As araras, não! Elas comem frutas. Coquinhos. São vegetarianas... Na minha ignorância, pensava que elas comessem as imensas lagartas que moram nos coqueiros, comendo suas palmas. Ledo engano!
Sempre que vejo araras, maritacas e papagaios, lembro-me de um texto lindo que havia nos livros didáticos antigos. Umas beatas tinham um papagaio falador que repetia tudo que elas diziam.  Ora, as beatas tinham o hábito de rezar o terço todas as tardes na hora do ângelus. Após o terço, elas desfiavam também a longa lista de invocações à Virgem Maria:  Santa Maria, ora pro nobis... Santa Mãe de Deus, ora pro nobis... Santa Virgem das Virgens, ora pro nobis... e por aí elas iam rezando e o papagaio repetindo tudo. Ora, aconteceu que um dia, o bicho doméstico descobriu os seus pares e foi embora com eles. Passado um bom tempo, as beatas ouviram um grande alarido no céu. Saíram para ver.  Era um bando de papagaios cruzando os céus, com um líder na frente rezando Santa Maria, e uma dezena de companheiros atrás gritando: ora pro nobis...
Sempre achei encantadora essa história, que até pode ser verídica, pelo simples fato desses pássaros repetirem tudo que ouvem...
Minha primeira lembrança de escola tem a forma de um papagaio. É que ao final do ano ganhei da professorinha de escola rural onde fui alfabetizada, um livrinho todo colorido com o formato de um papagaio. Chamava-se Papagaio real. Não me lembro mais do conteúdo, mas dizia que o papagaio era real e de Portugal. Por quê, não sei, talvez apenas para rimar. Tinha também a expressão currupaco, papaco... Tudo isso me deixou feliz e encantada, pois foi o primeiro livro que ganhei.
Mas, minha relação com esses bichos nunca foi muito boa. Certo dia, vi um filhote de maritaca, de asa quebrada perdido no meio da rua... Mal e mal conseguia andar. Condoída de sua situação, e com medo de que fosse atropelado, peguei o bichinho com todo o cuidado para tirá-lo da rua. Mas, ai! O bichinho abocanhou a ponta de meu dedo com toda a força, quase arrancando-o! Não conseguia me desvencilhar dele, e tive que apertar muito a sua cabeça para ele me largar. Largou e pegou outro dedo! Conclusão? Muita dor, muita dor e sangue jorrando. Apavorada joguei o bicho longe e nunca mais quis chegar perto deles.
Eles têm um bico que é uma navalha. Corroem toda a fiação de luz lá da casa do sítio. Mas, nem chego perto deles! Eu, hein!
Mas, voltando às araras da avenida, o Betinho que é um Agrônomo queria que eu descobrisse a relação das mesmas com a árvore da avenida. Pensei que era relação casa/moradia, relação pouso/comida... Não acertei. Ele que é um homem voltado ao meio ambiente queria que eu percebesse que as araras estão sem o seu habitat, graças ao bicho homem. E estão improvisando moradias em palmeiras, que acabam destruindo, talvez para afiar seus bicos poderosos.
E é uma pena muito grande elas destruírem aquelas palmeiras tão lindas, que há décadas estão lá na avenida.
A civilização e a tecnologia inventada pelo homem fez devastar as florestas do mundo. As florestas eram o paraíso dos bichos. E se a história de Adão e Eva for verdadeira, era também o paraíso da humanidade. Mas, Deus dotou o homem com um atributo chamado sapiens. E isso despertou a curiosidade, que o levou a inventar coisas... Coisas como casas. Casas de madeira tirada das árvores roubadas das florestas... Móveis para guardar suas quinquilharias. Móveis de madeira também retirada da floresta. Camas para repousar das canseiras de sua labuta. Camas feitas de madeira da mesma floresta... E livros e cadernos para transmitir conhecimentos. E livros e cadernos e lápis feitos de madeira dessa mesma floresta... E ainda para abrir espaços para cultivar alimentos, foram derrubadas as últimas florestas. E os bichos foram sendo acuados cada vez mais em espaços restritos e inseguros. E muitos foram caçados apenas por diversão esportiva pelo bicho homem....
E atualmente, os bichos estão perdidos procurando o seu paraíso. E com a fome apertando, começaram a se aproximar dos povoados e das cidades, procurando alimentos... E assim, as araras e as maritacas começaram a povoar as cidades. Também as gralhas... E não raro, vemos gambás... E até sucuris... Ora, sabemos que o que move esses bichos para tão longe só pode ser a fome. Concluindo, nós destruímos o habitat natural dos demais seres vivos, desequilibrando totalmente a natureza.
No Japão atual, há um movimento que engajou todos os cidadãos em prol da natureza. Não só procuram respeitar o meio ambiente, como buscam criar condições para que os viventes desses locais tenham garantia de sobrevivência. Há um programa lindíssimo de tevê chamado Satoyama, em que os agricultores reservam roças de trigo especial para alimentar os roedores, que são o alimento natural de uma espécie de gatos selvagens, que estavam em extinção... Em certas regiões, cultivam certos arbustos cujas folhas servem de alimento para umas lagartas, que produzem o fio de seda verde. E em outras, arrozais são planejados de forma a oferecer condições para os girinos de uns raros sapos se reproduzirem... É a convivência harmoniosa do homem com outros seres. Sem visar lucros materiais, mas  troca de benefícios.
Quando começaremos a adotar tais medidas?
Será que a Terra continuará a ser dominada apenas pelos humanos?
Ou poderá ser compartilhada com os demais seres vivos que Deus criou? 
O futuro dirá a resposta.
Quem viver, saberá.
Mirandópolis, maio de 2017.
kimie oku in



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