terça-feira, 28 de fevereiro de 2012


                       HOMEM DE BEM

      Era um cidadão comum. Simples, comunicativo, trabalhador. Sobretudo, trabalhador.
    Sua figura de prestador de serviços, percorria a cidade toda, com a sua moto e seu estojo de ferramentas.
  Tranqüilo, sempre de bom humor e prestativo. Sua roupa, invariavelmente, exibia  uma manchinha de graxa, porque lidava com aparelhos e máquinas que enguiçavam.
    Ao ser solicitado, vinha, tocava a campainha e, não adentrava sem a permissão de alguém da casa do cliente. Era um gentil homem,  fino, educado e respeitador até os ossos. Gente de calibre, como há poucos hoje em dia.
   Muitas vezes, só de indicar a falha da máquina por telefone, ele  sabia a causa. E já vinha com a solução, consertando rapidamente  a geladeira, o condicionador de ar, a lavadora de roupas. Silenciosamente, sem nenhum alarde. E isso, por anos, e anos, numa relação de respeito e amizade que se estabelecia, justamente pela sua bondade.
    Quantas e quantas vezes prestou serviços gratuitamente, como se tivesse vergonha de, cobrar os consertos feitos. E serviços que, para as donas de casa são muito importantes, como fazer a lavadora funcionar...
    Mas, ele era assim. Humilde, atencioso e sempre pronto para servir. Um homem correto.
  Além disso, ele tinha a espiritualidade que desenvolvia e praticava junto com os amigos, no Centro Bezerra de Menezes, conforme constante  noticiário no Diário de Fato. Não era apenas um trabalhador. Era um homem espiritual, que se preocupava com a paz interior das pessoas.
  Era um cidadão acima do patamar comum dos mortais. E nunca tentava se impor e nem impor suas crenças e idéias.
   Para confessar a verdade, fiquei desolada com a sua partida, porque gostaria de tê-lo entrevistado, para a coluna Gente de Fibra. Fui protelando, porque pensava que, por estar perto e ser um tanto jovem ainda, sempre era tempo.
    E não deu tempo...
   Acho que toda a população de Mirandópolis e região tem uma dívida, para com ele. Porque, ele tornou  a vida de todos nós, mais leve e mais fácil, consertando nossos aparelhos e deixando a vida fluir melhor, sem mau humor e estresses.
  Cidadão Edmir Batista, quem não ficou devendo para você? Devendo um favor, uma atenção, uma gentileza, um conserto gratuito... uma boa palavra...
  Edmir Batista, muito obrigada por ter existido!
  Que Deus o gratifique  com bênçãos mil...

    Mirandópolis, 26 de fevereiro de 2012.
        kimie oku ( kimieoku@hotmail.com)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


                            CARRAPICHO  
                                 
          
        Antigamente quando morávamos no sítio, era comum a gente ficar toda espinhada com carrapichos, que cresciam à beira dos caminhos.
        O carrapicho é uma erva daninha difícil de combater.  Para erradicá-la, é necessário arrancar ou capinar, antes que dê frutos, ou que desenvolva as bolinhas cheias de espinhos, ou garras nas pontas, que grudam na roupa das pessoas e  nos animais.
        Na verdade, esse processo de  “grudar” é o recurso inteligente que, a planta desenvolveu para disseminar a espécie. Os animais e pessoas que  transportam esses frutos, em seus pelos ou roupas, acabam levando as sementes para outros lugares, onde cairão e se desenvolverão. E a espécie garante a sua sobrevivência. Os animais e pessoas assim usados, se transformam em disseminadores involuntários da espécie.
        Há muitas outras ervas que se utilizam desse recurso, tais como o picão preto  e o amor do campo, cujas sementes achatadas grudam em carreira na roupa, e no pelo dos bichos.  É muito difícil se livrar delas. Possuem pequenas garras que “colam” nas roupas, como carrapatos.
         Ora, o propósito dessa minha crônica  é denunciar que não é mais preciso ir para o campo, para os sítios e chácaras para “pegar carrapicho”.  O carrapicho está logo ali, grudando nas roupas de todos os passantes da esquina, onde cresce também picão e  tantas outras ervas daninhas.
        A calçada está toda tomada de mato, que ficou impossível gente transitar por lá. O pedestre tem que apelar para a rua. Mas como é uma esquina movimentada, ele corre o risco de ser colhido por um carro ou moto, que surge repentinamente, virando a rua. Ali,  cresce toda variedade de ervas daninhas, que daria até para fazer um estudo sobre elas. E estão todas com frutos maduros grudentos, que  logo, logo  essas daninhas se multiplicarão  pela cidade, transformando-a numa quiçaça.
Além disso, há ainda na mesma calçada, dois esqueletos de árvores, que lutaram bravamente para não morrer. É impressionante ver esses cadáveres de árvores:  estão secos e descascados, e no alto há uns galhos finos que brotaram à revelia,  como pedindo clemência para não deixá-las morrer. A impressão que passam é que esses galhos eram as mãos das pobres, implorando vida. Mas, ninguém  as atendeu...
É comovente vê-las.
Mas, não só de mato está cheia a esquina. As ervas daninhas, que incomodam demais os transeuntes, servem de moldura para uma velha casa abandonada.
A casa está morrendo, esquecida  lá no seu canto. No mesmo canto, onde morou uma gentil senhora,  que deve ter  deixado tantas lembranças da vida vivida ali, com os seus. Que deve ter sonhado lindos sonhos, que deve ter amado aquela esquina que era o seu domínio, o seu ponto de referência no mundo. Aquelas paredes devem  guardar os suspiros e os anseios de todos que ali viveram, correram, cantaram, choraram, e partiram para não mais voltar.
Já percebi que, as casas se mantêm firmes  sobre os alicerces, enquanto há gente morando nelas. Deve haver uma relação intangível  entre a matéria casa e a vida do ser humano. Parece  até que, a vitalidade humana dos moradores é que sustém a casa de pé. Quando é esvaziada de seus habitantes, a casa vai  morrendo, pouco a pouco, para se transformar em escombros.... Já vi isso acontecer outras vezes.
Acho terrível ver uma casa, que já foi tão forte, bonita e feliz, quando crianças corriam pelos aposentos, que  abrigou tanta gente  das chuvas e dos temporais, que teve a varanda ocupada pelo casal de idosos, curtindo os derradeiros anos de sua vida, ser assim abandonada, como  um chinelo velho.
A paisagem é deprimente. E é deprimente para quem mora por perto e, para quem passa por ali sempre. É deprimente para a cidade, porque dá um ar de desleixo, de  descaso, como se ninguém se importasse com essas coisas.
Não sei a razão de se abandonar uma casa assim, mas acho que deve haver uma solução, se alguém se empenhasse.
Enquanto isso não ocorre, há que se providenciar a limpeza da calçada para  que os transeuntes não sejam “atacados” por picão, carrapichos e outros espinhos ferozes.  
Além dos móveis e eletrodomésticos, com que  os comerciantes de nossa pequena cidade costumam atravancar a passarela dos pedestres, agora  a moda é quiçaça.
E quiçaça das brabas!
Carrapicho para os pedestres!
Ninguém merece!
   
Mirandópolis, 16 de fevereiro de 2012.
         kimie oku (kimieoku@hotmail.com)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012


GENTE  DE  FIBRA – José Olyntho

Gente de fibra de hoje  é o senhor José Olyntho.
José Olyntho nasceu há 80 anos  em Santa Cruz do Rio Pardo, S.P.  e mora em Mirandópolis desde  1973.
É casado com a senhorinha Luzia dos Reis Olyntho, com quem teve  sete filhos homens. Dentre eles, há um Oficial de Justiça, Oficial do Exército, Técnicos Agrícolas e Comerciantes.
Seu José iniciou a vida como barbeiro na Barbearia que herdou do pai. Trabalhou também como carteiro, quando aprendeu a usar o Rádio-Telégrafo.
Ingressou  no Correio via concurso e chegou ao cargo máximo, o de Agente. Em Mirandópolis, inaugurou a Agência local e instalou Postos  em Amandaba e nas Alianças.
Após deixar o Correio, trabalhou despachando   por meio de via férrea, legumes e frangos para as cidades que floresciam, em Mato Grosso. Abriu uma mercearia, a que se dedicou por cinco anos. Cansado do comércio, vendeu a quitanda e passou a construir casas para alugar.
Seu José e dona Luzia cuidaram de sua mãe, que viveu até os noventa anos.
Seu José é um homem de  mil talentos. Escreve poemas, estuda e toca violão, navega na Internet  e ainda cuida de  sua chácara. Gosta muito de declamar e de cantar, dedilhando o violão. E ainda  se dedica à construção de casas.
Ele se diz satisfeito e feliz pela longa vida, que viveu até agora.
José  Oyntho, que experimentou de tudo na vida  ,trabalhando sempre em prol da família, é gente de fibra!

Mirandópolis, 22 de abril de 2011.
  kimie oku



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012


        Brava  gente  brasileira

        Sempre que alguém faz o levantamento histórico de uma cidade ou município, faz referência apenas à santíssima trindade, que ali reinou  de tempos em tempos: o Padre, o Juiz e o Prefeito.
     Só que nenhuma cidade se constrói apenas com a ação, mesmo conjunta desses eminentes senhores. Nos bastidores , há sempre os heróis anônimos, que fazem o serviço duro, pesado e cansativo  para a cidade funcionar certinho.
  Um Padre sem os seus sacristãos, diáconos, assessores e fiéis, nada pode. É apenas um pastor sem rebanho.
    Um Juiz sem os meirinhos ou oficiais de justiça, sem os advogados, os Promotores, nada pode decidir. E pode cometer injustiças.
  E um Prefeito é incapaz de governar o Município, sem os secretários, vereadores e sem a participação da comunidade.
  Então, por quê se valoriza apenas quem está no comando?  O povo nada significa?
  Mirandópolis seria apenas um vilarejo pequenino, perdido no mundo, se não contasse com a valiosa dedicação, e o espírito humanitário de gente, que deu a alma pelo bem estar de todos.
  Lembro que na Educação tivemos Diretores de peso, como Pedro Perotti Neto, Mercedes Bafile Cheida e Mirian Neder Salomão  Galvani, que se  dedicou à A.P.A.E.  também. E suas equipes de professores marcaram época na formação de jovens. Não menos importante, foi a atuação do Professor Salu ensinando violão e tia Cila ensinando piano nos Conservatórios de Shirley Monti e Sonia Delai.
    Na Saúde, Doutor Francisco Teotônio Pardo e Doutor Yoshito Kanzawa se tornaram referências regionais na assistência aos doentes.
  No Esporte, quantos jovens foram bem encaminhados por Fujio Abe e Yoshiharu Ogasawara, junto com o Sunada e o casal Kanda?
   Na Imprensa escrita, quanto devemos a Idanir Antonio Momesso,  a Joaquim Alves Filho e a Eloy Mendonça? A imprensa fazia naqueles tempos, o que a televisão faz hoje – informa, esclarece,  forma e muda opiniões, daí o seu real valor.
     Hoje Mirandópolis conta com a A.P.A.E. e seus leilões   (32º!).   Hoje temos a Casa da Criança, a A.M.A.I., o Clube da Melhor Idade, e outros clubes não menos importantes.
    Hoje,  grupos de cidadãos voluntários cuidam dessas instituições. O começo de tudo isso, porém está numa doce e gentil senhora  - dona Zilda!
    Dona Zilda de Lara Dias, que sozinha percorria a cidade, pedindo remédios para os doentes, que não podiam comprá-los. O seu grupo, o da Madre Teodora cuidava de gente necessitada, sem fazer muito alarde.
   Depois, a decidida dona Antiniska de Lucchi Mustafa, que arregaçava as mangas, e arrumava uma tapera para um desabrigado morar. E ajeitava fogões e alimentos, para os que passavam fome. Ainda hoje, tem gente que não consegue conter as lágrimas ao se lembrar dela...
    E depois... a Nice. A Nice do Doutor Afonso, que mesmo doente, tinha um fogo que a impelia a trabalhar pela  A.P.A.E. e pelo  Hospital de Barretos. A Nice que nunca esmoreceu e deixou uma lição de vida...
    Os Padres, os Juízes e os Prefeitos são nomeados para essas funções.  Mas o trabalho voluntário é diferente: o cidadão age movido apenas pelo amor ao próximo.
     Fujio Abe, Yoshiharu Ogasawara, Mirian
Néder, dona Zilda, dona Antiniska e Nice, brava gente brasileira!
     Brava gente de Mirandópolis!

             Mirandópolis, 18 de abril de 2011.
                                  Kimie oku

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

             O ENIGMA  DE  KASPAR  HAUSER


A história de Kaspar Hauser é um mistério que a História nunca conseguiu desvendar. É muito intrigante e inexplicável.
Já cheguei a fazer referência sobre ele, numa crônica intitulada Civilização Corrosiva, mas é um caso que continua a me intrigar.
Numa bela manhã de maio  de 1828, apareceu na praça da cidade de Nuremberg, Alemanha, um estranho jovem de seus quinze, dezesseis anos. Estava de pé, numa postura estranha, não sabia  conversar,  não entendia a fala das pessoas e nem conseguia  andar direito. Parecia  um garoto selvagem  e anormal.
Trazia consigo uma bíblia e uma carta anônima, explicando que seu nome era Kaspar  Hauser, e fora criado num porão até aquela data, sem nenhum contato humano. A carta era endereçada ao Capitão da Cavalaria local.
O jovem que tinha uma expressão totalmente alienada só sabia repetir: “Quero ser um cavaleiro como foi meu pai”
Ao ser descoberto, foi conduzido ao Capitão da Cavalaria, que tentou, por todos os meios disponíveis na época, descobrir a proveniência do garoto. Tudo em vão. Ninguém sabia dele. E como ele não sabia se comunicar, foi impossível desvendar a história. A aparição dele provocou grande agitação na cidade.
       Inicialmente, por não saberem lidar com ele, prenderam-no numa torre. E lá iam  todos os curiosos, para ver a criatura assustada,  que lhes parecia  um bicho de outro mundo. Os moleques da cidade  gostavam de provocá-lo, com coisas que ele não conhecia, como uma galinha, que soltavam no quarto dele, e o deixavam acuado. Era apenas um menino apavorado, num mundo totalmente  novo e desconhecido. Ali, justo no meio humano, conheceu o medo...
       Então, alguém teve a ideia de colocá-lo num circo, junto de anões e índios para virar atração dos curiosos.  E o povo se deliciava de ver aquela criatura desajeitada, sem nenhum traquejo social, ser apresentada como se fosse um marciano. Ele não compreendia nada do que ocorria ao seu redor, porque nunca vivera numa sociedade. Não entendia a razão do interesse obsessivo  das pessoas por si.
       Felizmente, um Professor  viu o garoto e penalizado de sua situação, ofereceu-se para cuidar dele.  Inicialmente,  ele só sabia dizer  “cavalo”, que era um brinquedo de madeira, que  possuía no buraco onde viveu, e a frase “Quero ser um cavaleiro como foi meu pai”. Ele falava como um autômato, porque alguém lhe dissera para  assim proceder, mas não sabia o significado de pai,  nem de cavaleiro, porque nunca tivera contato com nenhum deles.
        O Professor  o  levou para casa, e num ambiente familiar, foi aos poucos,  ensinando a falar, a escrever e a conhecer  o ambiente que o cercava. Além disso, ensinou  a comportar-se socialmente, tarefa difícil, porque os padrões da época eram muito rígidos e não aceitavam  meias medidas. O pároco e as beatas da localidade ficavam escandalizados, com as reações inesperadas do menino. Evidentemente, ele não conhecia normas sociais.  
     Mas, Kaspar se revelou um garoto de inteligência normal,  aprendeu tudo rapidamente, e chegou a tocar piano, que apreciava muito. Era puro,  e surpreendia seu  protetor com perguntas, muito inocentes e inesperadas. Achava que as coisas tinham vida própria, enxergava  muito bem no escuro e ouvia "os gritos do silêncio." Devia ser consequência de  seu  longo  e solitário confinamento... 
      Entrementes, as investigações sobre sua origem prosseguiam por toda a Europa.  Ficou conhecido  como “o filho da Europa”. Baseado no livro de orações, que ele portava quando apareceu em Nuremberg, levantaram a hipótese de pertencer a alguma família nobre. Aventou-se também a possibilidade, de ser um neto  bastardo de Napoleão Bonaparte, por haver semelhança  com  a história de um parente do Imperador. Recentemente, essa possibilidade foi descartada com  os testes de DNA.
       As pesquisas porém, foram interrompidas, por causa da morte repentina de Kaspar em  1833, vítima de um atentado à faca no peito. Ele fora atraído para um encontro com uma pessoa estranha, que lhe prometera revelar quem eram seus pais. Seu assassinato despertou mais suspeitas, pois alguém  não queria  que descobrissem  a   sua verdadeira origem.
     E com isso, ficou a história truncada desse menino, que só viveu  aproximadamente dezoito anos, descartado ao nascer, retirado do convívio humano e que viveu quinze anos encerrado numa masmorra.   O inocente  morreu, sem saber saber as razões de seu desterro... e que família era essa,  que o banira de suas vidas...
       Após o inexplicável atentado, que resultou em sua morte, o Rei da Bavária ofereceu um valioso prêmio, para quem descobrisse o autor do atentado. Infelizmente, ninguém conseguiu descobrir nada. E hoje, passados já 179 anos de sua morte, o mistério continua.
     Em 1974, Werner Herzog, famoso cineasta alemão contou a história desse menino no  filme “Cada um por si e Deus contra todos”, que em versão portuguesa, ficou conhecido como o “Enigma de Kaspar Hauser”.
     A história de Kaspar já foi estudada por sábios de todas as áreas do conhecimento humano, e os livros escritos sobre ele são milhares, mas  a sua origem nunca foi  decifrada.
      “Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido” é o epitáfio sobre o seu túmulo em Ansbach, na Alemanha. Epitáfio, que resume de forma tão verdadeira, a passagem desse jovem por este mundo.
       Kaspar Hauser, será que um dia desvendarão seu enigma?
      
                    Mirandópolis, 12 de fevereiro de 2012.
                        kimieoku (kimieoku@hotmail.com)

   GENTE DE FIBRA – Albertino Prando


     Gente de fibra de hoje é um sanfoneiro.
  Albertino Prando de 67 anos, nasceu em Valparaíso, onde começou a vida trabalhando em roças de café e algodão, nas terras de seus pais.
    Aos 22 anos já casado com a senhorinha Cleuza de Souza Dias, mudou-se para Andradina, onde trabalhou na C.E.S.P.  (Centrais Elétricas do Estado de São Paulo)
    Cansado de esperar por promoções que não vinham, depois de cinco anos, foi trabalhar como encanador na Refinaria de Paulínia, onde ficou por oito anos.
  Após esse tempo foi admitido, como Supervisor de Manutenção Mecânica, da Fábrica de Alimentos Lácteos Danone, em Poços de Caldas, onde permaneceu por quatro anos.
  Mas, o Senhor Albertino gostava de desafios.
   Por conta disso, foi trabalhar na Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Como Mecânico da Usina, atuou por seis anos. Nessa época, morou  um tempo no   Paraguai, com a família.
   Sempre carregando a mudança, ele partiu pra outra – agora era o Grupo Santista que o contratou, como Supervisor de Máquinas.
   O Grupo Santista já era uma mega empresa, que se dedicava à mineração, produção de alimentos, vestuários e ácidos, dentre os quais produzia o LH 80, um dos ácidos mais potentes e mais caros do mundo. Nessa empresa, seu Albertino ficou sete anos.
  O seu espírito aventureiro não tinha limites. Foi trabalhar  em Cajati,  Estado de São Paulo, na Foz do  Brasil,  empresa que faz saneamento de esgoto sanitário.  A Foz do Brasil é controlada pelo conglomerado econômico Odebrecht. Ali atuou como Supervisor de Máquinas.
  Estressado pelas andanças por tão diferentes lugares, carregando mudança, resolveu dar uma parada. Veio para Mirandópolis e foi plantar milho no Km 12, perto de Pereira Barreto. Aí veio o Plano Cruzado, que quebrou todos os produtores rurais, inclusive o seu Albertino.
   Depois de um ano de aventura na roça, e tendo perdido tudo, resolveu  voltar para o Grupo Santista, onde ficou por mais três anos.
     Daí se transferiu para a Empresa de Bombeamento de Tintas, a W. Roith, onde ficou por três anos.
  Com a ajuda dessa Empresa, o senhor Albertino conseguiu instalar a própria empresa. É a Prando Instalações Industriais, sediada na sua chácara, aqui em Mirandópolis. Sua especialidade é instalação de gráficas, em qualquer parte do país. Há quinze anos no mercado, a Prando já instalou gráficas para as Organizações Globo, para o Estadão, e recentemente instalou a Weber Gráfica em Brasília. Em Mirandópolis, instalou a Caldeira para uma empresa que industrializa  frutas.
 Hoje, a Prando Instalações Industriais está sob a responsabilidade do filho Carlos, Projetista Hidráulico e             Mecânico, que seguiu as pegadas do pai.
    O seu Albertino e a dona Cleuza possuem  também uma filha, que é Representante Comercial no setor do vestuário, na região. Possuem ainda duas netas, uma Bióloga e  outra que pretende fazer Medicina.
   O senhor Prando aposentou-se. E a felicidade de sua vida é contar para os amigos, tudo que vivenciou nos dezoito Estados brasileiros, por onde andou.  Lembra com alegria que, em 1980, ele e mais dois engenheiros da Danone conquistaram o 1º Prêmio do Festival Arizona de Música Sertaneja; ele com acordeão e os outros com violão.
    Dona Cleuza diz que agora, com a aposentadoria do marido estão vivendo a melhor fase da vida, com os filhos e as netas buscando um lugar ao sol.
    O seu Albertino que rodou o mundo, movido pelo espírito cigano, hoje vive sossegado numa chácara maravilhosa. E diz que não quer mais trabalhar. Só quer tocar sanfona.
  Albertino Prando, homem trabalhador, encarou os desafios da vida com coragem. E foi aventureiro do começo até agora.
   Albertino Prando é gente de fibra!

                Mirandópolis, 1º de julho de 2011.
                               Kimie oku

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

 GENTE DE FIBRA - Egídio Vicente de Souza

        Gente de fibra de hoje é o senhor Egídio Vicente de Souza. É paraibano de 62 anos , nascido  na cidade de Souza.
        Da Paraíba tem  lembranças duras – lá carregou muita lenha em jumentos, para queimar nas caieiras.
        Caieira era um forno cavado no chão, com uma cobertura ovalada por cima, onde se queimava o calcário para produzir cal. O calcário é uma pedra britada, que se colocava no interior do forno e era queimado. Depois de queimado, era retirado e molhado para se transformar em cal.
        O senhor Egídio carregou lenha até os quinze anos. Então, resolveu migrar para o Estado de São Paulo.
        Veio se fixar em Guaraçaí, onde já residia um irmão. Ali se tornou arrendatário, plantando algodão. Por essa época viveu “queimando lata”, isto é, lavava, passava e cozinhava a própria comida. Tinha que se virar sozinho.
        Naqueles tempos duros, quem o ajudou muito foi o senhor José Barreto e sua esposa Aparecida, da Fazenda Aroeira em Guaraçaí. Eles o acolheram como a um filho.
        Com dezenove anos, seu Egídio fez o serviço militar em Lins. Depois foi para Campo Grande, em Mato Grosso, onde
trabalhou como frentista num Posto de Gasolina.
        Em 1972 veio para Mirandópolis. Casou-se com Maria Francisca , com quem teve três filhos, hoje já adultos e estabelecidos na vida.
        Em Mirandópolis trabalhou como lavrador, como saqueiro da Casa Moreira, motorista do Supermercado Estrela, como meeiro da Fazenda Acácia e também  como motorista da 
Transportadora 
Nova Vida.
        Há quatro anos, quando pescava no Rio Tietê com amigos, o seu Egídio foi acometido de violenta dor na perna esquerda. Era um aneurisma, e teve que amputar a perna, para sobreviver. Mas, logo colocou uma perna mecânica, e retomou a vida, ajudado sempre pela atenciosa  e gentil companheira Maria.
 Sua ajuda foi fundamental na convalescença, e na adaptação
 à perna mecânica.
        Hoje o senhor Egídio anda com o auxílio de uma bengala e dirige um carro, que tem os controles adaptados. 
Dirige uma pequena casa de comércio, que não exige 
 esforço físico.
        O senhor Egídio é  um cidadão tranqüilo, de bem com a vida, sem traumas e sem revoltas. Diz que é grato a Deus, porque perdeu a perna, mas recebeu a graça 
de continuar vivendo.
        É grato também aos compadres Zé Barreto e dona Aparecida, por serem seus amigos mais próximos, até hoje.
Ama-os de coração.
        Seu maior sonho é aposentar-se e morar com dona Maria  na sua chácara em Pereira Barreto.
        Egídio Vicente encarou os dissabores da vida e os superou.
        Egídio Vicente de Souza é gente de fibra!

                Mirandópolis, maio de 2011.
                                 Kimie oku

       Post-scriptum :
         Seis meses após essa entrevista, o senhor Egídio faleceu.
       Durante um ano, ele e a esposa participaram ativamente da Ciranda. Era um homem simples, mas encantador pela generosidade do coração.
       Na Ciranda ficou a imagem de um homem feliz, cantando e animando  a todos. Dona Maria continua na Ciranda.
         Egídio Vicente, valeu te conhecer!
                  
                    Mirandópolis, 9 de fevereiro de 2012.
                                           kimie oku (kimieoku@hotmail.com)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


           Amigos,

         Quero sugerir a leitura de biografias de amigos em Gente de Fibra. Todas são muito bonitas, porque são histórias de uma vida de lutas e conquistas. Mas, há algumas que são diferentes, pelas pedras que havia no caminho dessas pessoas. E são lindas, porque quando tudo parecia impossível, conseguiram transpor as pedras e caminhar sempre para a frente, em busca de seus objetivos.
      Tive um prazer imenso em contar  todas essas histórias, em especial as histórias de dona Onofra, de  dona Palmira, de  José César Gonçalves e de Valdevino  Emídio de Souza.
    São  belos exemplos de  fé, persistência e determinação. São exemplos que devem ser seguidos, para vencer na vida. 
      São realmente  histórias de Gente de fibra!
      Leiam-nas e comprovem.
Obrigada. kimie

                         MIL   DECIBÉIS

       Na sociedade dos civilizados, é preciso lembrar sempre que, o direito de um cidadão finda onde começa o de outro, ou que a nossa  liberdade  termina onde começa a do próximo.

   Neste final de semana, tivemos um incômodo que chegou ao paroxismo, por conta de uns jovens, que cismaram que a nossa pacata cidade é terra de ninguém.  Ligaram um som a mil decibéis e nem se preocuparam com a vizinhança.
       O som era tão alto que,  provocou mal estar a todos os moradores do bairro. A cabeça parecia explodir, o coração acelerava, e provocou um tremendo estresse. E os loucos que se acharam no direito de nos atormentar, não conheciam limites. Acredito que não estavam normais. Por horas e horas, esses garotos atormentaram a vizinhança, com a loucura de seu som e  nenhuma autoridade tomou providência.
      O bairro é ocupado por moradores idosos e aposentados, e todos são pacíficos, que não causam problemas a ninguém. E justo aqui, aterrissaram esses meninos, órfãos de educação, para fazer graça à custa de sofrimento de alheios. Foi exatamente a reprodução de um filme de terror.
      Gostaria de saber se se reproduzisse esse show lá nas suas casas,  seus santos familiares agüentariam.  O som era tão irritante, que despertava até instintos assassinos, nos pacatos cidadãos locais.  Nessas horas, há o risco de alguém perder o juízo e sair atirando, para acabar com o que lhe perturba.
      Ora, sabemos que  o nosso ouvido é um órgão delicado que suporta o som  ou o barulho, até um certo limite. Além desse limite, há o perigo de se romper o tímpano,  de causar sangramento,  e como conseqüência  a  danificação irremediável da audição. Ninguém merece. A pessoa fica surda de vez.
       E parece que era essa a intenção dos garotos. Mesmo porque, se eles consideram normal o volume de seu som naquelas alturas, devem todos eles, ter problemas de audição.
      Mas, nós moradores locais não merecemos passar por isso. E como somos civilizados, demos uma colher de chá,  para ver se eles abaixavam o volume. Que nada, mais e mais se divertiram atormentando a todos, sem limites. Alguém teve que pedir providência das autoridades. E não venham dizer que somos extremistas, que sabemos muito bem de nossos direitos.
      E os carros de som que passam todos os dias, fazendo as propagandas de promoções das lojas?  Deveria haver um limite para o volume, para se evitar a poluição sonora,  porque esta também faz muito  mal à saúde. Mas, ninguém se importa. Ignorância  ou omissão das autoridades?
     Entretanto, os carros funerários que passam comunicando o falecimento de pessoas,  o fazem de forma respeitosa, com volume aceitável, e a cidade toda fica sabendo quem faleceu e, quando será o funeral. Então pra quê, aquela  gritaria desvairada  para dizer que aqui ou ali, há uma venda especial de mercadorias? Os lojistas não se dão conta que, o próprio anúncio é um desrespeito aos seus prováveis clientes?
       E  os jovens que se acham no direito de ligar o som do carro no volume máximo, em frente à casa da gente e pensam que agradam... Ora, cada pessoa gosta de um tipo de música, e ninguém é obrigado a curtir o que não gosta. Para tudo há um limite. É assim que funciona a sociedade.
     Quem não consegue respeitar as normas da boa vizinhança, que vá morar  numa ilha deserta. Lá, ninguém se incomodará  com os seus excessos e  tampouco será  barrado  por alguém.
     Enquanto isso, gostaria que as autoridades acordassem para o problema do som em volume máximo, que carros de  publicidade,  igrejas  “em nome de Deus”,  e jovens enlouquecidos  executam  num desrespeito total aos cidadãos dessa pequena cidade.
        Que realmente parece ser terra de ninguém.
        Sem nenhuma autoridade.

              Mirandópolis, 6 de fevereiro de 2012.
                             kimie oku
                        (kimieoku@hotmail.com)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


          GENTE  DE  FIBRA - Aristides Florindo 

      
                   Gente de fibra de hoje é um Professor.
     Professor Aristides Florindo de 81 anos, nasceu em Pindorama, perto de Catanduva.
    Formou-se professor na primeira turma da Escola Normal de Guararapes.
     Em 1953 veio para Mirandópolis, e em 1957 casou-se com a senhorita Aurora Mauro, com quem teve três filhos. Seu único filho é bancário, uma filha é professora e a outra é tradutora pela Ibero-Americana. Têm ainda,  três netos e um bisneto.
        Seu Aristides começou a carreira como Professor numa escola municipal, recém-criada e instalada num anexo da antiga Máquina de beneficiar algodão  da Esteves, hoje extinta, aqui em Mirandópolis.
        Havia 53 alunos e o salário não cobria nem o aluguel do quarto onde morava. Mesmo assim, prosseguiu na carreira. Foi professor por 10 anos  em Amandaba, onde morou com Dona Aurora.
        Com salário minguado e filhos para criar, resolveu  prestar o Concurso para o cargo de Diretor de Escola. Estudou com afinco, e conseguiu passar. Foi o único aprovado entre dezenas de candidatos da cidade, na época.
        Foi nomeado Diretor do Grupo Escolar da Fazenda da Companhia Inglesa, em Valparaíso, onde atuou por um bom tempo.
        Nessa Fazenda, que ficava no Bairro Jacarecatinga, morou com a família, e teve um “modus vivendi” de bom nível, com os Misters  (Senhores Ingleses, donos da Fazenda)  o tratando com muito respeito e consideração.
        Com a desvalorização do café, que era cultivado em larga escala na fazenda, a Cia. Inglesa encerrou suas atividades agrícolas. E assim, a queda do ciclo do café trouxe transtornos para todos, que dependiam dessa atividade agrícola. E na Cia. Inglesa, que era uma pequena cidade auto-suficiente, muitas famílias tiveram que mudar de rumo  e de ramo.
        Com a debandada dos colonos, a escola foi fechada, e seu Aristides e sua família ficaram meio  perdidos, sem destino certo. Como era Diretor efetivo, foi transferido  para dirigir a recém- inaugurada Escola “Profª Ebe Aurora Fernandes Marcos”, em Mirandópolis. Nessa Escola atuou longos anos e encerrou a carreira em 1987.
    Como professor e Diretor, o Senhor Aristides era contrário ao regime militar, que reinava nas escolas. Durante toda a sua vida, procurou humanizar o trato com os alunos, funcionários e professores, minimizando a rigidez das normas.
        Teve no Assistente de Diretor Yussuf  Hsain  Alaby, um amigo de peito, que mesmo distante  mantém contato até hoje.
     Em sua carreira, o senhor Aristides conheceu muitos professores, funcionários e alunos. E diz que a aposentadoria  é um tanto triste, porque tudo passa, e todos se esquecem da gente. Mesmo assim, ele mantém até hoje a classe e a postura de Professor respeitado, que  sempre foi.
        Professor Aristides Florindo, Mestre e amigo , é gente de fibra!
               
                Mirandópolis, maio de 2011.
                               kimie oku