quinta-feira, 31 de janeiro de 2013



Quem sou eu?

        Estive pensando ultimamente: “Quem sou eu? O que estou fazendo neste mundo? Para quê nasci? O que sou eu? Qual é a minha missão?
      Daí, estive me observando, para procurar respostas. E percebi tanta coisa que a gente faz automaticamente, é mesmo inacreditável que, a gente passe a vida toda fazendo essas pequeninas coisas, que ninguém percebe.
      Eu sou aquela pessoa que todos os dias, abre as janelas, para que o vento e a luminosidade venham visitar a minha casa.
        Eu sou aquela pessoa que cata o jornal do chão, e coloca num lugar mais acessível para alguém ler.
       Eu sou aquela pessoa que, ajeita o vaso de flores para não tombar para um lado com o peso dos galhos.
         Eu sou a pessoa que arruma o capacho e os tapetes, para ninguém tropeçar neles.
         Eu sou a pessoa que encosta a porta na parede, para o vento não deixá-la bater.
        Eu sou aquela que recolhe os chinelos e as roupas que outros deixam espalhados por aí.
       Eu sou aquela pessoa que, fecha melhor as gavetas dos armários e cômodas para não entrar pó nelas.
       Eu sou aquela que prega os botões que faltam nas camisas e, dá uma cerzidinha nas costuras que cedem.
     Eu sou a pessoa que guarda os alimentos na geladeira, para não estragar com o calorzão de todos os dias.
       Eu sou aquela que anota o que falta na despensa, para comprar na próxima ida ao mercado.
        Eu sou aquela que dá um jeito na geladeira para acomodar melhor os alimentos.
        Eu sou aquela pessoa que troca sempre as toalhas dos banheiros.
       Eu sou aquela que, coloca o rolo de papel higiênico sempre que acaba, ao alcance das mãos.
     Eu sou aquela que higieniza o vaso sanitário, para que odores desagradáveis não sobrecarreguem o ambiente.      
     Eu sou aquela que substitui o sabonete, o fio e o tubo de creme dental, quando acabam.
      Eu sou aquela que recolhe todos os dias o lixo reciclável, para não misturá-lo com outros lixos.
      Eu sou a pessoa que apaga as luzes e, desliga o condicionador de ar dos ambientes desocupados.
       Eu sou a pessoa que paga o plano da Funerária, para evitar transtornos na hora das partidas.
    Eu sou a pessoa que, liga para os prestadores de serviço virem consertar os eletrodomésticos, quando entram em pane.
        Eu sou aquela que congela as pelancas das carnes para jogar no lixo, para evitar a proliferação de moscas e a poluição do ar na rua.
Eu sou aquela que deixa sempre velas de reserva, para iluminar a casa durante os apagões.
Eu sou a que dá um destino certo para as correspondências e panfletos, que se amontoam na casa.
Eu sou a pessoa que periodicamente, providencia a lavagem da caixa d’água da casa.
Eu sou a pessoa que aperta as torneiras que largaram pingando...
Eu sou a que confere os ralos dos tanques, pias e lavanderias para não deixar baratas e escorpiões invadirem a casa.
Eu sou a pessoa que vai aos velórios de amigos e parentes, representando a família.
Eu sou a que vai aos cemitérios acender uma vela, pelos familiares que já se foram.
Eu sou a que faz visitas a amigos e parentes, que perderam pessoas queridas.
Eu sou a pessoa que telefona para pessoas próximas, para obter notícias.
Eu sou a que, de vez em quando, faz uma faxina geral nos armários e gavetas.
Eu sou a pessoa que garante a limpeza do quintal para evitar criadouros de mosquitos e pernilongos.
Eu sou a pessoa que não deixa as flores do jardim morrerem.
E ainda... tem muito mais. Mas, vou ficar por aqui pro leitor não se cansar.
Quem sou eu?
Não sou a Mulher Maravilha, nem a Milagreira, nem Santa, nem nada. Sou aquela que consegue manter a casa funcionando em ordem, no limiar da organização. Não sou Rainha do Lar, que isso é um título para disfarçar escravidão.
Quem sou eu?
Sou apenas a doméstica, a dona de casa.

Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”


         

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

26ª Cirandada




Vigésima Sexta Cirandada

Janeiro sempre tem imprevistos que dificultam as reuniões dos Cirandeiros; é por causa das férias, quando as famílias viajam ou vêm visitar os pais por uns dias. Assim, fui protelando o Encontro, para conseguir um bom número de participantes.
Mas, não podíamos passar sem a Reunião de janeiro. E assim estabelecemos a última sexta-feira, dia 25.
Amanheceu nublado, e a chuva veio com muito barulho, dando a  impressão que não pararia tão logo. Mas, São Pedro foi amigo, a chuva logo se foi, o tempo ficou fresco.
Cheguei à Chácara meio desanimada, pensando que os amigos teriam ficado assustados com o tempo. Qual nada! Lá estava uma porção de gente, e o melhor foi que o seu Albertino, o sanfoneiro tinha voltado! (periodicamente ele viaja a serviço, e a dona Cleuza havia dito que ele não estaria presente) Sabendo do Encontro, que também aprecia muito, antecipou a viagem de volta, felizmente.
E a chegada da Ana Maria Jacomelli, que mesmo tendo mudado para Ribeirão Preto, volta e meia participa da Ciranda deu o tom da festa. Muitos abraços e beijos, e a presença de dona Regina e seu Zeferino Coqueiro, que andaram ausentes por problemas de saúde, tornou a reunião mais animada ainda.
E o grupo está crescendo cada dia mais. Dessa vez, tivemos ainda a presença de novos cirandeiros: Osvaldo Resler e sua mãe, dona Maria Resler de 86 anos, a senhora Lisarda Rosa de Oliveira, o senhor Liberato Prescinato, o Dito bilheteiro e a senhora Nice que mora também na Chácara.
Inicialmente, apresentei os novos participantes, que todos conheciam já. E aí, a conversação rolou solta, enquanto alguém ia distribuindo uns salgadinhos e uns refrigerantes.
Quando a Rachel chegou, começou a cantoria, com a participação animada de Jane e sua mãe Fermina, a Maria Francisca, o Mílton Lima, a Carminha, o Dinho Resler, a dona Adelina, a Ana Jacomelli, acompanhados de seu Albertino no acordeom, do Toninho no pandeiro e do Zeferino Coqueiro ao violão. Foi uma pena que o Dinho se esqueceu de trazer a harmônica.
Fizemos uma pausa para o lanche e seu Orlando declamar seus poemas, que sempre é muito aplaudido pela fantástica memória que tem. Depois o Resler se apresentou, conclamando a todos a preservar a natureza,  Então, foi a hora da Ciranda. Todos de mãos dadas brincaram de roda, cantando Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar. E aí se apresentaram os artistas improvisados recitando Batatinha quando nasce, e Lá no pé da serra, e outras coisas mais, que o Mílton completou desejando um bom ano de 2013 e, augurando a comemoração do 3º aniversário da Ciranda em outubro próximo. Agradecemos a gentileza dos donos da Chácara, que nos recebe sempre com alegria.
E assim terminou  mais uma boa reunião, e todos voltaram para suas casas, felizes pela tarde animada que tiveram e, já sonhando com o novo encontro.

Mirandópolis, 29 de janeiro de 2013.
kimie oku in cronicasdekimie.blogspot.com


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013






Antônio Perez

A difícil arte de escolher como preencher seu tempo.

        Lembrei-me agora mesmo, com muitas saudades do meu avô.
       Espanhol, desembarcou no porto de Santos por volta de 1929, época que como todo mundo sabe houve a “Grande Depressão” que atingiu o mundo inteiro.
       Seu primeiro emprego foi trabalhar nos fornos de carvão, segundo ele, a coisa mais próxima do inferno que conheceu.
       Sua meta era vencer e a fórmula era trabalhar arduamente. Depois da jornada de um emprego ele sempre procurava algo melhor remunerado e conseguiu assim galgar postos inimagináveis para alguém analfabeto.
      Além de trabalhar conseguiu aprender a ler um pouco e escrever mal, segundo ele.
       Posso estar enganado mas, depois de carvoeiro ele foi carregador de sacos de um batateiro na feira, onde soube como verduras e cereais chegavam aos consumidores, vindas dos atacadistas da Rua Santa Rosa em São Paulo.
       Curioso, foi para São Paulo e começou a comprar pequenas quantidades de feijão, que vendia por quilo nas feiras.
       Procurando aproveitar bem o tempo que separava uma feira da outra, foi conhecer de onde vinha o feijão que ira para a Rua Santa Rosa, tendo conhecido as máquinas de beneficiar feijão café e arroz. Em pouco tempo, tornou-se comprador de cereais no interior, mercadoria que enviava para os distribuidores da Rua Santa Rosa. Tudo isso sem dinheiro, munido apenas do crédito que lhe era fornecido mercê dos contratos de “fio de bigode” granjeados pelas recomendações obtidas por todos os lugares onde passou.
       Sempre aproveitando bem o seu tempo e o seu crédito, ele comprou primeiro uma máquina de beneficiar café, depois uma pequena fazenda que produzia o café a ser beneficiado.
       Ele me contou muitas vezes que todos os sitiantes da região colhiam o café e levavam imediatamente para a sua máquina, mesmo que ele não tivesse dinheiro para pagá-los. Assim, ele beneficiava o café, vendia e depois pagava os fornecedores.
       Cheguei a conhecer cada uma das muitas máquinas de café que ele comprou ou montou e as dezenas de fazendas que ele comprou, reformou e tornou-as grandes propriedades produtoras.
       Alguns anos depois meu avô deu ao único enteado e aos seus sobrinhos que trabalhavam com ele, todas essas máquinas e fazendas e, ficou exclusivamente no ramo da pecuária com o que se chama cria, recria e engorda, chegando a ter muitas outras fazendas, uma das quais me lembro de nome Fazenda Santana ou Santa Ana, que tinha cerca de 7.000 alqueires, cujas terras atingiam três municípios, se não me engano, Pacaembu, Junqueirópolis e Nova Independência.
        Infelizmente um acidente deixou meu avô impossibilitado de trabalhar e de ter mais um tempo. Depois de longa enfermidade ele morreu deixando muitos bens e muitas,
muitas saudades, em muita gente.
        Foram muitas as lições que Antonio Perez deu a todos os que o cercavam. Eu ainda era jovem demais para entender, aplicar e tirar benefícios delas. Mas nunca as esqueci, e de vez em quando me pego lembrando desse grande homem e como eu gostaria de ter seguido muito mais os seus exemplos.
       Pense um pouco como você está usando o seu tempo.
    
   Sugiro que você perca uns poucos minutos e reserve um tempo para fazer algo de bom e ainda mais proveitoso do que  você anda fazendo.
       Pode ter certeza de que no futuro irreversível, você vai reconhecer que ter empregado bem o seu tempo foi o que de melhor você fez na sua vida.
       Cada segundo é único e nunca mais se repetirá.


Nota: O autor do texto Mário Guzman é filho da senhora Ruth Andrade Pacheco e Antônio Guzman Mariscal. Este foi enteado do senhor Antônio Perez, que não teve filhos.
Antônio Perez foi proprietário da Máquina de beneficiar café, a “Comercial Antônio Perez e Cia” que dos anos quarenta até os noventa beneficiou muito café, impulsionando a economia de Mirandópolis e região.
Achei oportuno publicar essas memórias, que se referem a um homem que, foi muito importante para o progresso de Mirandópolis. Será arquivado no Acervo da História de Mirandópolis
Mais informações sobre a Comercial Perez constam em Gente de Fibra – “Waldir José Frigeri” in “cronicasdekimie.blogspot.com”
Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku



 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Gente de fibra - Minako Nomizo







Gente de Fibra-Minako Nomizo

        Mangostin, acerola, kiwi, macadâmia e lichia são nomes de frutas exóticas, que se popularizaram em Mirandópolis nas últimas décadas.
Há muitos fruticultores na região satisfeitos com essas culturas, porque estão obtendo boa renda com a venda das frutas. Até então, eram totalmente desconhecidas do povo local. Quem as trouxe e introduziu na cultura de frutíferas foi um senhor simples e batalhador, que infelizmente já partiu para outro plano.
Falo do senhor Tsutomu Nomizo, o falecido esposo de Dona Minako, que é a gente de fibra de hoje.
Dona Minako da família Kurashima nasceu na Primeira Aliança em 1937. Filha de lavradores, ela passou boa parte de sua infância e mocidade morando em sítios das Alianças. Estudou o Curso Primário na Aliança, onde participou ativamente de todos os eventos da Colônia Japonesa, que era muito forte na época. Para continuar os estudos, a menina-moça Minako morou na Pensão do senhor Tsuchia, nas proximidades do Hospital Estadual. Na Pensão moravam cerca de quarenta jovens filhos de sitiantes, que estudavam na cidade. Dona Minako cursou a Escola de Comércio do senhor Pedro Paulo Guiselini, até o terceiro ano, equivalente ao ginasial.

Conheceu o seu Tsutomu Nomizo na Aliança, onde ele morava também, e em 1962 casaram-se. Dessa união nasceram quatro filhos, hoje todos adultos e independentes: o primogênito formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP de Ribeirão) é Professor e se dedica também à pesquisa no campo da Imunologia; a única filha é formada em Biomédicas e reside em outra cidade; e os dois filhos Américo e Rui que estudaram até o Colegial, cuidam da empresa da família, que é a Transportadora Nomizo.
Dona Minako e seu Nomizo inicialmente moraram no sítio nas Alianças. Cultivavam algodão e amendoim. E era uma vida dura de sacrifícios, porque além dos sogros, havia dois cunhados e os filhos que foram nascendo. Seu Nomizo que participava de todas as festividades da Aliança, tinha muitos amigos também lavradores. Como era muito observador foi percebendo que, a lavoura de café, algodão, amendoim e milho já estava com os dias contados. Outras regiões do Brasil estavam obtendo melhores resultados com essas culturas.
Então, junto com a esposa dona Minako vieram para Mirandópolis, e iniciaram o comércio de verduras com uma pequena Mercearia, que inicialmente foi instalada na Nove de julho, onde hoje está a Loja do Marega. Mais tarde, necessitando de mais espaço, transferiram-se para a Rua João Domingues de Souza, onde hoje é a Oficina do Eduardo Batista, filho do saudoso seu Edmir. E por fim, adquiriram um prédio na Rua Anchieta, onde ficaram um bom tempo, e continuaram vendendo frutas e verduras.
 Seu Nomizo tinha uma visão muito abrangente e, percebeu que os agricultores seus patrícios e fornecedores desperdiçavam muitas verduras e legumes em suas hortas. Os japoneses queriam aproveitar todo o espaço para plantar e colher legumes e verduras, com fartura. Mas plantavam demais, e o desperdício era muito grande.
Daí, ele teve a ideia da mercearia, que foi um sucesso. Esse sucesso, com certeza, foi graças à simpatia de dona Minako, que recebia os clientes com um largo sorriso, e os orientava no preparo de novos legumes, que eram desconhecidos de muita gente.
Mas, seu Nomizo estava destinado a outros projetos maiores. Como era um homem esperto, percebeu que havia um ótimo filão nas roças de agricultores seus amigos, para transformar em renda para si e para eles mesmos. Com um caminhão pequeno saiu comprando legumes e verduras nas roças, e os revendia nas quitandas das cidades próximas.
Com o passar dos anos e muito trabalho carregando e descarregando caminhão, as encomendas se avolumaram e ele começou a transportar legumes para a CEASA (Centrais de Abastecimento de hortifrutigranjeiros), em São Paulo. Para aproveitar a viagem de volta, começou a aceitar encomendas de transporte de rações para peixes e granjas da região.
E na CEASA, a grande descoberta! Frutas totalmente  diferentes estavam sendo vendidas com preços astronômicos. Pesquisa daqui, pesquisa dali, seu Nomizo começou a trazer frutas para as pessoas experimentarem.

 Assim foi com a acerola, que ninguém conhecia e que era muito louvada no Globo Rural, o único noticiário sério sobre a agricultura da época. Depois, foi a vez das mangas Aden, Tomiachi, Palmer, Lolita, Rubi, que eram um sucesso nas grandes feiras. Mais tarde viriam a macadâmia, a lichia, o kiwi e o mangostin e algumas variedades de abacates.

Pouco a pouco, os amigos japoneses das Alianças foram cativados pelas ideias do seu Nomizo e começaram a plantar as roças de mangas, de abacates, de acerolas, de lichias e de macadâmia. E seu Nomizo importava mudas de diferentes plantas de Belém do Pará. Hoje passadas várias décadas, há na região, especialmente nas Alianças, fruticultores que se dedicam apenas à cultura de dessas frutas. E sempre têm boa renda com essas frutas exóticas, que passaram a ser comuns na região. Os lavradores que plantavam arroz, feijão e outros cereais foram salvos pela cultura de frutíferas, dando origem até a uma Associação de Hortifrutigranjeiros de Mirandópolis, que agrega produtores de cidades vizinhas também.

E tudo começou com o seu Tsutomu Nomizo.
Em 1993, seu Nomizo quis se aventurar pelo Brasil. Entregou a Transportadora para os filhos Américo e Rui e junto com a dona Minako se transferiu para Petrolina, em Pernambuco, divisa com o Estado da Bahia.
Lá, irrigou dois hectares de terras e plantou acerola e coco da Bahia, que foram um sucesso. O clima quente do local favoreceu a cultura. Durante cinco anos pelejaram com a mão na massa, e dona Minako diz que valeu a pena, porque o seu Nomizo realizou o sonho de plantar e produzir ele mesmo, as frutas que apreciava. Conheceram muita gente boa, brasileiros que também vivem batalhando e lidando com a terra. Cinco anos ficaram por lá, mas atendendo às insistências dos filhos, preocupados com os pais tão distantes, voltaram para Mirandópolis. Dona Minako se lembra com saudades de lá, e do vento que soprava forte sempre.
Mas, seu Nomizo era também um homem preocupado com a parte espiritual, e sempre reverenciava seu Deus, o Kamissamá e os antepassados nos altares da família. E um dia, sua fé foi posta à prova.
Há décadas atrás, um irmão seu foi acometido de uma doença que o deixou impossibilitado de trabalhar, pois ficara entrevado. Seu Nomizo se condoeu da situação do doente, e procurou com persistência, alguém que pudesse curá-lo. Procurou assistência médica e foi desenganado, porque o moço não andaria mais. Mas, ele queria de qualquer forma ajudar o irmão querido, e não desistiu.
Seguindo os conselhos e sugestões de amigos, ele procurou o monge Nishioka, ou Nishioka Sensei, que dirigia um templo  budista em Suzano, a quem pediu ajuda.
E o Professor Nishioka conseguiu com orações, auxiliadas de sessões de fisioterapia recuperar a saúde do enfermo. E o enfermo sarou e voltou à vida normal.
O seu Nomizo ficou tão agradecido que, resolveu doar uma parte de terras de sua chácara ali na Via de Acesso à cidade, para construir uma capela da seita Henjoin, de religião budista.
Após doar a terra com escritura nos termos da lei, com a colaboração da matriz de Suzano e fiéis seguidores da região, conseguiram construir um belo templo no estilo japonês. Isso ocorreu há mais ou menos vinte e cinco anos atrás. Nesse templo é reverenciado o Deus máximo, ou Kamissamá do Xintoísmo e o Buda, filósofo indiano que pregou o amor e a tolerância entre os homens. Também os amigos da CEASA de São Paulo colaboraram bastante na construção desse templo.
A matriz dessa igreja está localizada em Suzano, na região da Grande São Paulo, e periodicamente vem um monge da seita fazer as celebrações especiais para os fiéis.
Os seguidores desse templo se reúnem uma vez por mês, para orar e confraternizar-se com um lanche após as orações.
A filosofia principal é ter fé em Deus ou Kamissamá e gratidão por tudo que ele nos concedeu, especialmente pela graça da vida. E como os japoneses costumam reverenciar os antepassados, nos meses de março e setembro é realizada a Cerimônia Hui-Yuan pelos mortos, para que suas almas estejam em paz e continuem velando pelos vivos. Para que cada ser cumpra sua missão aqui na Terra da melhor forma possível, até o dia do retorno ao Criador ou Kamissamá.


E dona Minako, que acredita na benevolência de Kamissamá vai cumprindo sua missão, orando pelos filhos, pelas noras, pelo genro e pelos netos.
E é uma senhora muito alegre, com um sorriso cativante, que conquista a todos sempre.
De tudo que o seu Nomizo sonhou e construiu nada se perdeu. Os filhos continuam a sua obra, carregando as frutas que o pai incentivou os produtores da região a cultivar, e redistribuindo-as para várias partes do país. Com isso, Mirandópolis sofreu menos com a crise das lavouras, porque a fruticultura salvou os lavradores.
Foi uma ideia genial, e agora mais do que nunca, com a população em geral procurando alimentar-se melhor, consumindo mais legumes e frutas.
Seu Nomizo estava bem além de seu tempo porque enxergou lá no passado a importância das frutas na alimentação, porque gostava muito de saboreá-las.
Realmente, Mirandópolis teve o privilégio de ser agraciado com um homem genial como o seu Nomizo que, sem fazer alardes conseguiu ajudar no progresso do Município.
E graças à sabedoria e religiosidade de dona Minako, a obra de seu Nomizo continua a todo vapor, beneficiando a cidade, a região e principalmente aos agricultores locais.
Dona Minako, uma senhora simples e sempre de bem com a vida, que partilhou das conquistas de seu Nomizo, ao longo de mais de quatro décadas de vida em comum, é sem dúvida Gente de Fibra!



Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Buchada de Bode
   
           A comida nordestina é famosa do Oiapoque ao Chuí, de Pontas de Seixas à Serra de Contama.  Todo o território nacional conhece o acarajé e o vatapá, o baião-de-dois e a carne de sol, o xinxim de galinha e o escondidinho de camarão, mas a mais famosa, aquela que nos faz lamber os beiços ou torcer o nariz, que é cantada em prosa e verso, através das caatingas e  sertões pelo sertanejo, a buchada de bode  não é tão difundida pelo nordestino famoso.
          Chico Anysio, Tom Cavalcante e Didi não fazem piadas com a buchada de bode. Os versos de Patativa do Assaré e os autos de Ariano Suassuna não trazem a buchada de bode. Buchada  de bode pode dar até xote ou baião, mas Luiz Gonzaga e Dominguinhos não fizeram nenhuma composição. Gostaria de ver Genivaldo Lacerda cantando: “- tô de olho na buchada dela... tô de olho na buchada dela...” Nem a literatura de cordel faz apologia da buchada de bode.
         Quando vou a Juazeiro, visitar tia Joca, minha amiga de Petrolina liga e diz: “- Ademá, venha com a tia comer uma buchada que tô fazendo.”  A buchada de bode de Auxiliadora é supimpa.  Em João Pessoa também se come uma buchada porreta  no restaurante Mangai.
           Em Campina Grande, no Bar da Galinha, de dona Nena, a buchada vem acompanhada de arroz de festa, feijão de corda, manteiga de garrafa  e aquela pimenta malagueta. Se quiser fazer em casa é só ir ao Nutricarnes e falar com dona Carminha que ela entrega limpinha e temperada, pronta  para ir ao fogo.
Acho que na verdade ele queria dizer: “ - Vossa excelência me chame de buchada de bode...mas não me chame de Collor.”  E Tasso e Renan? Um chamou o outro de “merda” e recebeu o troco sendo chamado de “cangaceiro”. O roto falando do esfarrapado. Já pensaram se um  dissesse ao outro: ”-Eu quero que vossa excelência vá... comer buchada de bode, visse!!!! “ Seria Conselho de Ética na hora, sem direito a pedido de desculpas no dia seguinte. Um novo sabor de pizza seria criado, a pizza de buchada de bode.
          Serra, se não comeu vai comer nas próximas eleições.  Fernando Henrique comeu, diz que comeu, diz que gostou. Acho que pensou que estava comendo alguma iguaria francesa, no cardápio estava escrito:  “Le buchê de le bodê”.        Bom Apetite.   
ademar bispo em 2006