sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

 

                                    DESAFIO

Gosto de assistir a programas reais, que mostram gente pelejando para viver, para alcançar sonhos, para mostrar a labuta de cada dia. E o canal History está se esmerando em seus conteúdos. Homens da Montanha, Sobrevivendo no Alasca, Sozinhos, Mundos Subterrâneos, Alienígenas do Passado, A Madição de Oak Island e Desafio sob Fogo. São todos programas que mostram a coragem dos personagens que lá atuam. Todos muito estimulantes e desafiadores. Nada de fantasia, a verdade nua e crua do dia a dia de cada um.

     Fico fascinada com os ferreiros que participam do Desafio sob Fogo, porque é um desafio e tanto – forjar espadas, facas, cutelos, machados antigos em tempo recorde. E há um prêmio!

     Mas, o que mais chama a atenção é a capacidade de cada participante superar seus próprios limites, para mostrar do que é capaz. Todos determinados apesar de suas limitações...

     O que me encantou de fato é que os cutelos e espadas propostos na forja são peças antigas das mais diversas civilizações, desde a Índia, a China, a África, dos Países Árabes, EEUU, do Povo Ártico e do Japão. E ao proporem a confecção desse material, eles contam as origens, o uso e a história de cada arma. E seus nomes originais são citados com ênfase.

     Como minha ascendência é japonesa, fiquei encantada ao ouvir a palavra SANMAI, que significa três camadas – fazer uma faca com três camadas de material. Depois ouvi as palavras KATANÁ que significa espada, ONÔ que significa machado e agora ouvi MAGURÔ BOCHÔ, ou espada para cortar atum. Magurô é atum e Hocho ou Bochô é faca.

     Então, percebi que o programa não só mostra a competência dos exímios ferreiros forjadores, mas passa uma cultura esquecida das diversas partes do mundo. Nomes em alemão, em língua nativa dos esquimós, dos africanos, dos chineses... Isso é cultura interessante. Muito interessante!

     Os telespectadores não mais aceitam programas de mentirinha, histórias da Carochinha, e que tais. Para prender atenção até o fim, só programas reais e desafiadores da vida.

     Concluindo, aprendo muita coisa vendo esses programas, porque são inteligentes, e não existem apenas para divertir e extasiar os telespectadores. Têm conteúdo respeitável.

     Quando os nossos Canais substituirão os noticiários de medo e terror de assaltantes, de sequestradores, de roubos milionários, de falcatruas por sessões mais inteligentes?

     Programas que ensinem o povo a poupar comida, papel, água e defender a nossa maltratada Terra?

     Programas que ensinem o lado saudável do cotidiano?

     Tevê é um poderoso canal para divulgar conhecimento.

Mirandópolis, dezembro de 2021.

kimie oku in

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

 

    A árvore e os Professores

     Tenho sugerido tantas vezes ao Departamento do Meio Ambiente local que, plante árvores para vencer os terríveis vendavais que têm assolado a região... Tenho escrito tanto sobre a falta de proteção contra os ventos de 80/100 km que devastam tudo que encontram... Tenho repetido tanto que a única solução é plantar árvores e mais árvores... E surtiu efeito, graças a Deus!

     Só que não foi o Departamento do Meio Ambiente que teve a iniciativa. Foi um grupo de professores (só podia ser!) comandados pela professora Regina Rosado, Presidente da APAM – Associação de Professores Aposentados de Mirandópolis, que arregaçou as mangas e realizou a tarefa.

No dia 07 último, cerca de vinte professores aposentados foram até a Represa Santa Helena, que fornece água para a cidade. E lá juntamente com o pessoal do Meio Ambiente e o senhor Prefeito Sodário realizaram o plantio de oitenta mudas de oiticica, além de uma paineira. Mudas fornecidas pelo viveiro da Prefeitura. Os buracos foram cavados pelos funcionários braçais da Prefeitura, porque aposentados não teriam forças para fazer isso.

Louvável a iniciativa!  O Prefeito Sodário ficou feliz com tal empreendimento, que convidou os Professores para repetirem a dose na outra Barragem.

Oitenta árvores ajudarão a compor a mata ciliar para proteger as águas da Barragem, mas é preciso muito mais!  Como diz a sabedoria popular “  Uma andorinha só não faz o Verão”  São necessárias muitas, muitas  e muitas árvores. E muitos, muitos, muitos cidadãos engajados nessa missão. Afinal a água é de todos, e a falta dela é um problema comunitário. Que aflige a todos. Quando falta água, todo mundo grita e ataca a Prefeitura. Mas os cidadãos também são responsáveis.

Depois de termos passado por uma longa estiagem, os açudes e as lagoas secaram. As pastagens mal e mal estão alimentando o gado. E tem gente lavando a calçada! Lavando até o asfalto. Gente burra! Inconsciente! Não pensa no amanhã, no mundo que deixaremos para os nossos netos, um mundo triste sem água! Essa gente não tem cura...

Mas, voltando à questão do plantio de árvores, fico aqui assuntando: Por quê o Meio Ambiente não executa essa tarefa? O Departamento existe pra quê? Só pra inglês ver? É preciso gente aposentada, que deu a vida toda pela educação, ajoelhar-se no chão e plantar essas mudas? Aposentados cheios de dores na coluna, nos joelhos, nas panturrilhas...

Fico assuntando... Os braçais fizeram os buracos... As mudas foram cedidas pela Prefeitura... E existe um Departamento de Meio Ambiente... Existe?????

E não adianta apontar o dedo pra mim, porque já fiz mais de três mil mudas de madeira de lei, e distribuí entre amigos. E as que sobravam doei para a Casa da Agricultura local. Hoje não tenho mais força para continuar...

Pra terminar esse desabafo, quero parabenizar os Professores, especialmente a Regina Rosado, que vai deixar um legado na Represa para as futuras gerações. Agradeço em nome dos cidadãos de Mirandópolis, que precisam demais da água. E a mata ciliar é fundamental para filtrar as sujeiras que descem das vertentes. Estendo os cumprimentos aos demais Professores e ao Prefeito Sodário.

E torno a perguntar: Replantio de árvores não é um Projeto do Meio Ambiente?

Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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sábado, 27 de novembro de 2021

 

                                               A cor da pele

     Desde que os humanos pisaram a Terra, o preconceito veio junto. Motivado pelo medo. Em forma de desprezo pelos deficientes físicos, pelos incapazes, pelos doentes incuráveis... Mesmo na época da Cristandade ativa, os indivíduos sadios jogavam os doentes incuráveis em buracos e vales, de onde estavam proibidos de sair... Jogavam os irmãos, os pais, os filhos... Os doentes de mal de Hansen (lepra) foram assim dolorosamente discriminados.

Daí, quando a humanidade começou a cultuar o belo, o perfeito, a coisa chegou ao paroxismo de desprezar tudo que era diferente e não possuía beleza. Determinaram um padrão de beleza e tudo que não se enquadrava era descartado. E inventaram os concursos de beleza. Os índios, os orientais, os africanos, os que não eram brancos foram considerados fora do padrão. Os brancos se julgavam superiores porque dizem que Cristo era branco, e a Sagrada Família era composta só de brancos...

E com a ascensão dos Religiosos radicais, a coisa ficou mais complicada. Quem não era cristão, era considerado bárbaro, inculto e inimigo de Deus. Daí, a Guerra Santa, a caça aos impuros... E na fogueira queimaram vivos inocentes considerados feiticeiros... Tanta barbaridade perpetrada pela mesma Igreja que pregava o Amor ao próximo... Religiosos que se colocavam acima de Deus para executar inocentes.

E quando os brancos descobriram os africanos de cor negra, nigérrima, consideraram-nos uma raça inferior, que não pensava, que não tinha sentimentos, que precisava ser domada... E os trataram como bichos perigosos. E por considerarem-nos bichos, os domesticaram e transformaram em escravos... A história da escravidão é uma das páginas mais feias, mais vergonhosas e mais cruéis da humanidade.

Estranho é que isso durou séculos e séculos e ainda persiste. Os negros estão alijados da convivência normal da sociedade só por causa da cor da pele. Não importa se são competentes, capazes... A cor negra já causou muitos estragos... Ku Klux Klan, Supremacia Branca... Grupos em ação até hoje... Os negros são as vítimas...

E não adiantam campanhas contra essa discriminação, não adiantam programas sociais para provar o absurdo dessa situação. Brancos ainda continuam se julgando superiores... Já foi feito muito para destruir esse sentimento de rejeição aos negros. E mudou muito pouco. Os negros continuam sofrendo e amargando humilhações absurdas.

 Dia da Consciência Negra, e agora vão passar um programa chamado Protagonismo, em que negros contam suas histórias. Mas é difícil mudar o que está arraigado na mente dos indivíduos.

Então pensei!

Os renomados cientistas que descobriram as impressões digitais, que identificam os indivíduos, que conseguiram separar o DNA humano (era um segredo de Deus!), que estão tentando criar o ser humano ideal com as melhores características, usando esses mesmos DNA... Por quê esses superinteligentes cientistas não tentam misturar os pigmentos das diferentes peles humanas e não criam uma cor uniforme, comum a todos os indivíduos?  Tipo cor dourada de nossos índios? Acabando com as cores brancas desbotadas dos eslavos, as cores nigérrimas dos africanos? Toda a humanidade vestida de uma mesma cor! Não seria o ideal?

Acho até que o criador dessa nova pigmentação mereceria ganhar todos os Oscares, todos os Nobeis da Paz. Porque resolveria definitivamente essa questão dolorosa da discriminação racial. Ah! Se eu fosse cientista, partiria para essa pesquisa! E não pararia até conseguir!

Num romance brasileiro, Os tambores de São Luís, Josué Montello cita o negro Damião tão revoltado com as maldades dos brancos, que desabafa gritando: “Cada negro pegue uma branca e plante nela o sangue negro!”

Não estou pregando a violência nem o estrupo. Mas, as misturas diluem a cor negra, e muitos brasileiros  resultantes desses cruzamentos nascem belos...

Melhor seria todas as raças numa só cor!

Quem sabe, alguém consiga ter êxito nesta empreitada. Na empreitada de criar uma cor só!

Eu não estarei mais aqui para comemorar, mas estarei feliz de ver a humanidade vivendo em paz. Sem discriminações e sem perseguições.

Sou louca?

Sonhar não é proibido!

Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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terça-feira, 16 de novembro de 2021

 

                A caçada

 Amanheci feliz pela tarde maravilhosa que tivemos ontem. Cirandamos e foi ótimo. Estávamos realmente precisando disso! Renovamos as energias.           

Estava toda animada!

Mas...

Deparei com uma cena que doeu muito.

Debaixo do estaleiro das orquídeas, uma porção de penas... Penas de pombinha.

Percebi que um gato tinha comido uma...

Não sou fissurada em cães e gatos, mas amo os passarinhos. Qualquer passarinho.

Pombas, pardais, rolinhas, beija flores, joãos de barro, sanhaços, canários...  Gosto de vê-los livres, soltos, pipilando e cruzando os espaços.

Então, fiquei muito triste pela vida que foi roubada. Ali no meu quintal.

E sei que foi um gato!

Que adotou esse mesmo lugar para dormir.

Um gato cinza esbranquiçado, que vive rondando a minha casa.

Nem brava posso ficar com ele! Afinal, ele é um caçador, e isso é de sua natureza animal. E pássaros fazem parte do seu cardápio... Volta e meia, acho penas de periquitos embaixo do meu carro... E o gato está gordo e roliço. Não satisfeito com a ração que, a Veterinária minha vizinha Dra. Camila Hara fornece a todos os bichinhos do pedaço, ele parte para a caçada. Instinto animal.

Mas, o que doeu mesmo foi ver o seu parceiro jururu lá no telhado do vizinho. Quietinho sem se mexer. Por horas ficou lá, quem sabe o que sentindo... Os pardais que vêm comer pão no meu quintal foram cercando o bichinho triste, voavam sobre, e pipilavam... Mas, nada. O bichinho triste ficou lá sem se mexer.

Aí, rezei para o Deus dos passarinhos cuidar dele.

E então ele foi embora.

      Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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sábado, 6 de novembro de 2021

 

Hoje tive uma estranha sensação.

 

Estava estudando Nihongô/Língua Japonesa...

E de repente, ao escrever os kanjis/ideogramas

senti que, era meu pai que estava escrevendo...

Meu pai desenhava os kanjis na mesa da cozinha

com a água que pingava das tampas das panelas...

Éramos tão pobres que não havia papel nem pincel...

Hoje tenho canetas coloridas e pinceis variados.

E sempre achei que papai estava ausente.

Mas percebi agora que ele esteve sempre presente!

Em mim!

Assim como mamãe continua em mim,

quando faço crochê, bordados e tricô...

Eu sou a continuidade deles!

Como disse o poeta indiano Rabindranath Tagore:

"A flor se transforma em fruto,

o fruto vira semente,

volta a semente a ser planta,

torna a planta a abrir-se em flor!"

Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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terça-feira, 26 de outubro de 2021

 

                      Vencendo o vírus

     Há onze anos, comandados pelo senhor Mário Varela, português de boa cepa, empresário e pecuarista, uns amigos e eu fomos tomar sorvete numa tarde quente de outubro, num barzinho que havia aqui perto, na João Domingues de Souza. O propósito era discutir um projeto meu, de reunir pessoas idosas solitárias numa chácara para passar uma tarde feliz.

     A conversa pegou de fato e, de repente o grupo de  sete pessoas acabou brincando de ciranda, cirandinha no meio da rua numa tarde de primavera. Rodando e cantando. Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar...

     As pessoas eram Mary Magro, Ikuko Kazi, Milton Lima, Egídio Vicente, Poliana Ventura, Ana Maria Abranches Jacomelli, Mário Varela e eu Kimie Oku.

     Assim nasceu o Grupo Ciranda.

     Por quê Ciranda?

     Porque o grupo quis estabelecer um contato físico com as pessoas, dando-se as mãos para todos sentirem que não estão sós. E na esteira desse pensar, começamos a rodopiar, brincando de Ciranda como crianças.

     E saímos convidando os idosos solitários, para compartilhar momentos de alegria num lugar fora da cidade. O Grupo inicialmente tinha uns doze membros e foi crescendo, porque há muita gente que vive sozinha e precisa de um lazer. Tivemos mais de cem pessoas participando.

     A Ciranda é composta de voluntários mais ou menos jovens, que conduzem os idosos e oferecem o lanche. Conseguimos cativar os sanfoneiros e violeiros para animar os Encontros. A maioria participa cantando ou dançando. Tardes muito animadas.

     E o tempo passou, muita gente participou, muita gente foi embora de mudança, mais de vinte foram cirandar no céu, até o querido senhor Varela... Mesmo assim, o grupo continuou firme, espalhando alegria. Ao final de um encontro, todos ficavam ansiosos pelo próximo. Mas...

     Um vírus terrível conseguiu parar a Ciranda.

     Desde março de 2020 até agora, a Ciranda foi suspensa para a tristeza geral. Ficamos confinados, tentando manter contato com uns e outros... Sem contatos físicos e visuais... todos ansiosos para o reencontro...

     E o momento chegou!

Vamos voltar a cirandar em breve, se Deus quiser. É o que todos estão esperando! Não vamos terminar este ano sem cirandar!

Para que isso aconteça, é preciso que todos estejam vacinados, usem máscaras e obedeçam as regras de higiene. Acredito que como são todos adultos responsáveis, não teremos problemas.

E teremos uma tarde linda com muita conversa, muita música, muitas novidades. E vamos almoçar juntos!

Nós idosos precisamos de um pouquinho de lazer.

A Ciranda não pode parar!

E viva a Vida!

Mirandópolis, outubro de 2021.

kimie oku in

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 

                                               Tempestade de areia

    Pedimos tanto que Deus nos gratificasse com chuva.

Os mananciais secando, os açudes se esvaziando, as temperaturas subindo pra lá de 45 graus centígrados... O gado triste procurando alguma folha verde em meio ao capim seco... Os proprietários de algumas reses cortando o capim seco à beira de estradas... As minas de água potável só oferecendo um filetinho de água... tudo muito triste e desolador...

Então, rezamos ao Senhor Provedor que lembrasse da humanidade e dos demais seres vivos aqui do chão. E rezamos, e rezamos e rezamos...

E hoje veio a chuva!

A chuva tão ansiada, tão desejada, tão solicitada!

Mas, antes a natureza deu um show assustador.

De repente, o tempo escureceu com a ventania carregada de areia, que voava para todos os lados. Tudo ficou marrom. Não se enxergava nada. Nada mesmo! O vento furioso rodopiava e quebrava os galhos das árvores, que voavam para todas as direções. Vasos de flores caiam e se espatifavam uns atrás de outros. Folhas e flores misturadas à terra vermelha adentravam pelas frestas das casas e formavam tapetes de sujeira nas varandas... A velocidade do vento era uma coisa inaudita. Poderia carregar gente incauta que se atrevesse a enfrentá-lo. Acredito que deve ter balançado os carros que estavam circulando, dando insegurança aos motoristas...

A força da natureza é algo assustador.

Depois dessa demonstração de força da natureza, veio a chuva. Com vento, com trovões, mas veio!

Ela veio!

Veio para lavar as calçadas que o vento sujou. Veio para limpar os telhados carregados de fuligem. Veio para acalmar o asfalto que parecia incendiar-se...

E todos, digo todo mundo passou a tarde limpando suas casas, varrendo as varandas, os quintais.

Eu também varri as varandas, os corredores.

E coloquei tambores para aparar a água que caía do telhado. Será usada para lavar as varandas.

E agradeci a Deus a bendita chuva.

     Se temos que sofrer essas tempestades de areia para termos uma boa chuva, que assim seja a vontade de Deus.

Mirandópolis, outubro de 2021.

kimie oku in

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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

 

                Os passarinhos

     Sempre que vou ao sítio, observo os bichinhos que circulam na horta. Há dezenas de lagartixas correndo céleres pra lá pra cá. E passarinhos, muitos passarinhos.

     Nesse Verão bravo que nem parece Primavera, há pequenos seres sofrendo com a quentura e a sede... Nós humanos só pensamos em nosso desconforto e, nem percebemos como existem outros seres, que sofrem com as condições climáticas. O frio extremo e a quentura tórrida judiam desses bichinhos...

     Eu percebi isso, quando comecei a regar minhas verduras para salvá-las. Enquanto eu aspergia a água fresquinha, lagartixas foram chegando e aproveitando os salpicos de água para se refrescarem... Quando o calor é muito intenso, elas chegam a rolar o corpo para tomarem um banho completo. O Nori diz que vou lá pro sítio só pra dar banho em lagartixas... Mas é um prazer vê-las tão felizes brincando n’água... Muitas vezes, aparecem mais de dez lagartixas para se esbaldarem na água...

     Além das lagartixas, aparecem passarinhos. Imagino o calor que devem sentir sob as espessas penas... Beija flores, sabiás, joões de barro, canários da terra, e outros que nem lhes sei os nomes. Ficam me seguindo para aproveitarem os esguichos de água. O beija flor fica parado no ar aproveitando a água... É lindo de se ver.

O problema é que os mananciais estão secando, e os pássaros têm pouca chance de saciar a sede e tomarem um banho. Tínhamos três pequenos açudes e um já secou completamente. O segundo está com água pela metade... Isso nunca aconteceu. A quentura do ar está ultrapassando os 45 graus centígrados, e a água se evapora rapidamente.

Tudo é por causa do desmatamento. As pessoas derrubam árvores, mas não as repõem. E onde não há árvores, os termômetros acusam temperaturas altíssimas. A solução seria plantar mais e mais árvores. Mas, ninguém se importa. A nossa Prefeitura deveria repor a mata ciliar das represas que nos fornecem água. As árvores filtram a água que desce dos morros quando chove, purificando-a.  Além disso, o frescor que as árvores trazem para o ambiente é natural e não tem preço.

E a chuva está demorando muito.

Enquanto isso, vou lá pro sítio dar banhos nos passarinhos e nas lagartixas...

Missão agradável.

Mirandópolis, setembro de 2021.

kimie oku in

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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 

             A torneira

     A civilização buscou incessantemente o conforto e o bem estar do ser humano. E tudo que exige menos esforço e trabalho foi sempre adotado com fervor.

     Mesmo tendo duas pernas para caminhar, máquinas foram inventadas para chegar ao destino sem usar as pernas. E todos passaram a viver dentro de caixas confortáveis, super motorizadas para o ir e vir. Isso trouxe os efeitos colaterais que afetaram a saúde dos motoristas. Dor na coluna, nos joelhos, nervo ciático... Mas, ninguém abre mão do conforto...

     Em todos os campos de atividade, o homem inventou formas de facilitar o trabalho, com menos esforço e mais rapidez. Os fogões, as lavadoras de roupa, os ventiladores, a eletricidade, os computadores, os celulares aceleraram a vida de forma espantosa.

     Quando eu era jovem, tínhamos que abastecer a casa com água retirada de poços e cisternas. Mesmo aqui na cidade, havia poços em algumas casas, onde os vizinhos buscavam o precioso líquido. Era trabalhoso retirar a água do poço, que às vezes tinham até dez metros de profundidade. Não era só água de beber, mas água para cozinhar, lavar a roupa, tomar banho. Eu tive que puxar essa água centenas de vezes. E todos nós irmãos nos revezávamos nessa tarefa, que era indispensável, para a casa funcionar normalmente. Como era difícil essa tarefa, nós usávamos a água com parcimônia, sem desperdiçá-la.

 Porque desde crianças tínhamos a tarefa de puxar água... Descíamos o balde que era amarrado na ponta de uma corda, chegando ao fundo ele se enchia e aí puxávamos para cima, rodando o sarilho que enrolava a corda de volta. Era pesado, uns vinte quilos... Éramos crianças... A    operação era repetida dezenas de vezes a cada manhã... Dava uma canseira!

     Mas... Aí inventaram a água encanada.

Foi uma maravilha!  Maravilha das maravilhas! Era só destravar uma torneira que a água jorrava com fartura! Era só pagar mensalmente, que a água vinha até a nossa casa, sem nenhum esforço de nossa parte.

Água encanada para a cozinha, para o banheiro, para o taque de lavar roupas...

Mas... Não nos alertaram que era necessário economizar. Que um dia a torneira poderia secar... Que um dia, tudo isso poderia virar uma guerra.

Então, surgiram os abusos. Gente tomando banho três a quatro vezes por dia. E cada banho de quarenta minutos jogando água pelo ralo. Gente lavando o carro só porque pegou uma poeirinha... Lavadoras de roupa que enxaguam duas vezes. Cada lavada, gastando uma enormidade de água, que vai embora também pelo ralo... E piscinas, e piscinas...

Conheci professoras que lavavam a calçada todos os dias, e conversavam com todos os passantes, com a mangueira jogando água sem parar... E empregadas que não contentes de lavar a calçada, ainda lavam o asfalto em frente...

Por quê o ser humano é tão alienado?

A Torneira foi o desastre da água!

Somada à burrice do homem.

Mirandópolis, setembro de 2021.

kimie oku in

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sábado, 25 de setembro de 2021

 

Empatia

A dor de um amigo que perde pessoas queridas sempre mexe com a gente...

A felicidade de uma família que realiza um sonho também mexe com a gente.

Temos a estranha capacidade de nos envolver emocionalmente, com as aflições e as alegrias alheias...

Então, a gente comemora junto os bons momentos.

Que são poucos mas que valem a pena.

E sofremos junto os momentos difíceis...

Esse sentimento, essa capacidade de conexão com o outro se chama Empatia.

Mas, poucos têm consciência desse sentimento. Sentimento tão necessário no mundo de hoje.

No momento, estamos sofrendo com a falta de água.

Mas, tem casas onde nunca falta água.

Por exemplo, na minha!

Porque moro numa área central baixa. Onde a água chega sempre sem dificuldade.

Mas, sofro com os amigos que estão sem ela...

Amigos que saem em busca de água fora da cidade...

E por respeito a eles, poupo a água todos os dias.

Reutilizo-a depois de lavar verduras e frutas.

Depois de lavar o arroz, o feijão pra cozinhar.

Reutilizo-a depois de enxaguar a louça lavada.

Como?

Molhando minhas plantas.

E reutilizo a água da lavadora de roupas.

Para lavar as varandas, a área externa.

Nada é desperdiçado.

Eu acho que isso é Empatia.

Pratique-a você também!

Vamos todos juntos ser solidários!

Empatia é necessária!

Você é capaz!

Mirandópolis setembro de 2021.

kimie oku  in

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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 

        Pamonha! Olha a pamonha!

    Fiquei chocada com a morte do nosso amigo Zé da Pamonha.

     Acostumada a vê-lo todas as semanas vendendo o seu delicioso curau, a pamonha quentinha e o bolo de milho verde, nunca imaginei que ele partiria tão cedo.

     Casado com a amiga Fátima, os dois davam duro para preparar os produtos, com que nos deliciavam sempre. Volta e meia eu comprava um curau, uma pamonha. Alimentos bem feitos e que sustentaram muita gente no comércio.

     Acredito que a maioria da população de Mirandópolis tenha saboreado seus produtos. Sei de gente que era freguês contínuo.

Um dia, encontrei com ele e um irmão seu no Mercado. E o irmão disse para mim que o Zé apanharia de alguém, a qualquer hora. Eu lhe perguntei: Por quê?  Porque ele chama todo mundo de pamonha... Demos umas boas gargalhadas.

O Zé era um homem sério, muito educado. Volta e meia, ele falava que não era fácil ficar naquele carro horas e horas, com o calor tórrido daqui. Cada um sabe onde aperta o pé... Mas, estava sempre firme  forte vendendo pamonhas.

Com a partida súbita dele, fico me assuntando: Quem irá fornecer aquelas delícias para nós? Será que alguém dará continuidade ao trabalho dele? Será que perdemos de vez um fornecedor de pamonhas?

Aquele carro todo colorido marcou época em Mirandópolis.

Agora que ficamos sem, senti vontade de comer um curau...

 Mas, o Zé foi servir aos anjos no céu.

Mirandópolis, agosto de 2021.

kimie oku in

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