terça-feira, 26 de junho de 2012

        
Onde foram parar?
(indagações de uma saudosista )

    Com o advento dos tempos modernos, muitas profissões entraram em extinção, outras tiveram que se adaptar, para não desaparecer. 
   Entre aquelas que só ficaram nos dicionários, enciclopédias e livros de história, está a do acendedor de lampiões e o condutor de bondes, chamado de motorneiro. 
    Outra profissão quase extinta é a dos ferreiros, tão presentes nos filmes de faroeste, colocando ferradura nos cavalos. Os fabricantes de chapéu que hoje só sobrevivem devido à moda “country”. No Império todo senhor elegante usava bengala e chapéu. Vemos em pinturas do século XIX, escravos recém-libertos, de pé no chão, mas com chapéu na cabeça. Quanto à bengala, hoje não é sinônimo de elegância e sim de segurança para os idosos, andarem em calçadas esburacadas. 
     Sem entrar no mérito de que as mudanças foram para melhor, ou pior, ou se a tecnologia trouxe mais facilidade à vida, indagamos:
     Onde foram parar os relojoeiros que consertavam os relógios de corda? Hoje os digitais, quase sempre “made in China”, são descartáveis, como tudo na sociedade atual. Onde foram parar os relógios parados? 
     E os sapateiros que colocavam meia sola? Atualmente ninguém conserta nada, estragou joga-se fora! Isso sem falar da epidemia de calçados plásticos que fazem os pés transpirarem muito com o calor. 
     E os engraxates que percorriam a cidade com sua caixa de apetrechos, dizendo: “Vai graxa ai, seu moço”? 
     Os barbeiros que ainda resistem são uma minoria, a barba é feita em casa. Onde foi parar a Água Velva? A Brilhantina Glostora? Em que gaveta ficaram as gilletes? Os pentes Flamengo, as navalhas Filarmôrnica? E as maquininhas manuais Juwell, que raspavam a zero os cabelos dos moleques? 
   A costureira da família que caprichava na confecção de roupas, hoje substituídas pelas peças prêt-a-porter dos magazines, um descalabro do lado de dentro. Que saudades das roupas feitas pela costureira Harumi Kataoka, de Lavínia, cujo avesso era uma perfeição. Em épocas de festas, como em casamentos, era preciso agendar com muita antecedência, pois o esmero que tinha com sua costura necessitava de tempo. Ah, além disso, ela jamais mostrava a roupa de uma cliente para outra, era segredo profissional o modelo escolhido. 
     Onde foram parar os leiteiros que distribuíam leite de porta em porta? 
    E os amoladores de faca, que com uma geringonça, formada por uma roda de bicicleta, um pedal e uma pedra de amolar, restituíam o corte das velhas facas de cozinha? 
     Os latoeiros que passavam por nossas casas, colocando cabos em panelas e asas em canecas? 
    Onde foram parar os tintureiros que, passavam com capricho os ternos de linho?  
     E os telegrafistas da estrada de ferro?  
    Os consertadores de canetas tinteiro Parker 51 ou 61? Alguns sobrevivem em pequenas lojas, com nomes pomposos, como “Boutique das Canetas”.
   Os especialistas em máquinas de escrever? Onde foram parar as velhas máquinas das escolas de datilografia, das repartições públicas e das redações dos jornais? O computador silencioso jamais substituirá o barulhinho aconchegante das máquinas Remington, Olivetti, etc. Elas devem estar em depósitos, junto aos mimeógrafos Facit, cheirando a álcool, as copiadoras, esperando a chegada do fax. 
   Quem sabe hoje consertar um videocassete ou um toca-discos 3 em 1? Um videogame Atari, um projetor de slides ou um walkman?
    Onde achar filmes para minha velha máquina fotográfica?   
    Minha impressora com um ano de uso deu problema. O técnico me disse que ficava mais barato comprar uma nova do que consertá-la. 
   Daí vem a questão, onde descartar esse lixo tecnológico que aumenta a cada dia?
   Onde foram parar os bancários elegantes? Teriam sido engolidos pela mecanização dos bancos?
    E as professoras com perfume francês e salto Luiz XV? Seriam as mesmas, hoje com jeans e tênis barato para não serem roubadas? 
    E as telefonistas simpáticas, que sabiam o número de todos os moradores da cidade? Será que foram para os chatos Call Centers?
    Onde foram parar as cozinheiras que ficavam horas, preparando a comida no fogão a lenha? Hoje é tudo instantâneo, a comida é fast food, congelada. A pizza é entregue em casa em poucos minutos. A praticidade acabou gerando um grande número de obesos... 
    Mas não foram apenas as profissões que desapareceram, o respeito ao ser humano também. O caráter, a lisura dos profissionais. Hoje parece que não temos em quem confiar.     
  As notícias de jornais, diariamente, citam pessoas envolvidas com corrupção. Pessoas que deveriam servir de exemplo para a sociedade. E os nossos jovens em quem eles se espelham? Infelizmente parece que não tem tido bons exemplos. 
   O desrespeito com os idosos é gritante, um jovem não se levanta de modo algum, para ceder o lugar para uma pessoa mais velha. Parece que não aprenderam a dizer “Obrigado”, “Bom dia”, “Com licença”, palavrinhas que os pais de antigamente não se esqueciam de ensinar. 
    Hoje os pais parecem mais preocupados com sua carreira profissional.
    Onde iremos parar? 

       Maria Nívea Pinto


           Para onde vai a nossa alma?

   Ultimamente, por ter perdido muitos amigos, tenho pensado constantemente na morte.
     Uma pessoa está caminhando hoje, e amanhã acontece o seu velório. Inconcebível, mas isso está ocorrendo amiúde, de forma assustadora.  Percebo que a minha geração está todinha de partida, e acho então que, também tenho de ficar de malas prontas, para essa viagem sem volta.
          O susto que toma de assalto a todos nós, quando noticiam as partidas inesperadas de amigos, talvez tenha a ver com a nossa pouca fé, falta de religiosidade, descrença, despreocupação espiritual, ou mesmo com a falta de Deus em nossas vidas. Talvez estejamos tão preocupados em viver, que esquecemos que no fim da ladeira, o fim nos aguarda.
          E de repente, com as mortes súbitas e inesperadas de pessoas queridas, a gente acaba pensando sem querer na visita não desejada. Todo mundo sabe que vai morrer um dia. E por mais que seja dura e difícil esta vida, ninguém quer partir. Porque viver é uma grande aventura. E o que torna isso instigante, é justamente a incerteza da duração de nossas vidas. Pode até haver uma programação no plano divino, mas nós mortais a desconhecemos.
      Pela lógica, os mais idosos deveriam partir primeiro, mas não é assim. Todo dia, a gente presencia mães enterrando seus filhos, crianças que não viveram direito, e até bebês, que nem descobriram prá que vieram ao mundo.
     E constatamos quantas pessoas saudáveis têm a vida interrompida, enquanto há tantos doentes agonizando em leitos de hospitais, ou em casa mesmo.
       São mistérios de Deus, que ninguém explica.  Shukumei? Predestinação? Carma? Missão? Fado? Vaticínio? Quem sabe?       
       Os religiosos de diversas seitas se retiraram do mundo social e se isolaram em monastérios, em templos inacessíveis para os mortais comuns, e passaram a vida toda meditando sobre o significado da vida e da morte, e não chegaram a uma conclusão definitiva. Tanto é que não há nada para servir de lição, para os demais seres como nós, que explique o real significado da vida e da morte. 
       Acredito piamente que a vida é para ser vivida. Não é para interrompê-la, por temor das dificuldades impostas a cada um, no dia a dia. Não é para renegar a vida e se isolar no oco de uma floresta ou montanha, pra fazer meditação. Acho que a vida é um bem precioso demais, para ser renegado. Porque se vive apenas uma vez.
        Por mais que se fale em reencarnações, não se tem notícia de uma pessoa que tenha vivido duas vezes. E por mais que tenha fé, é muito difícil imaginar-se voltando a esse mundo, para viver de novo. Quem dera tivéssemos a chance de voltar e, corrigir tudo que fizemos errado. Mas se tivéssemos essa oportunidade, faríamos tudo errado, pois teríamos como corrigir depois. E é por isso que viver é apenas uma vez.  
      Mas, o que me deixa totalmente confusa é quando penso na alma. Para onde vai a alma, o espírito, a essência da vida, quando deixa o corpo? O corpo a gente vê, toca, e lhe dá um destino, como convém a uma matéria sem vida. Mas para onde vai o lampejo de vida que saiu daquele corpo? Apaga-se? Evapora-se? Ou   transmuda-se?
Será que se transforma em vento, como diz uma bela canção? Será que se transforma em nuvem? Será que se transforma em luz? Será que se transforma em pássaros? Será que se transforma em estrelas? Será que vira água? Ou  se transmuda em pedras, em grãos de areia? Ou vira pó também, assim como o corpo?
Se minha alma puder morar no vento, gostaria de ser a fresca brisa matutina...
Se minha alma for habitar uma nuvem, gostaria de ser  a nuvem gorda  e cheia de água, que regue as plantações e encha os regatos...
Se for para me transformar em luz, quero ser a claridade suave das noites de luar...
Se tiver que ser pássaro, queria ser um pequenino beija-flor, bailando sobre as flores...
Se tiver que ser estrela, que eu seja aquela que aparece logo ao entardecer, mostrando a beleza que existe no céu...
       Se tiver que ser água, que seja da fonte pequenina que brota entre os seixos, e sacie a sede dos animais, dos vegetais e dos humanos...
Se tiver que ser pedra, que eu seja aquela que caiu da montanha, e vem ao longo dos séculos rolando de lá prá cá, para seguir os caminhos incertos da vida... e servir um dia como esteio de alguma construção, para proteger o homem das intempéries. 
     De repente, veio à lembrança a história de uma escrava  dos tempos do Império, que ajudou a coletar ouro nas minas para construir a Igreja do Rosário, ou a Igreja dos negros escravos. Ela está enterrada no átrio da majestosa igreja e  seu nome está gravado na pedra. Contam os cicerones que, ela pedira para ali ser enterrada, para que todos que lá forem  orar, ou mesmo conhecer a igreja, passem sobre os seus restos mortais. Foi o seu último desejo, e ficou eternizada no folclore das igrejas de Minas Gerais. 
      E se tiver que ser pó? 
Que seja a terra boa de um jardim, onde floresçam belas flores.... Ou a terra macia dos playgrounds, onde crianças gostam de rolar e brincar...
Por mais que me concentre nesse meditar sobre a alma, não consigo atinar com seu destino, quando ela deixa um corpo. Talvez seja falta de fé. Talvez seja completa ignorância dos mistérios divinos. Sei apenas que não acredito no fim da alma. Ela não se evapora simplesmente, porque na verdade, é a parte mais importante de um humano, é a sua essência.
    Mas, para onde ela vai?

Mirandópolis, 23 de junho de 2012.
kimie oku in                       “cronicasdekimie.blogspot.com"

sexta-feira, 22 de junho de 2012

                   Fonte de inspiração

Em nossa cidade, há três pontos de referência, que todos os cidadãos  amam, quais sejam a bela e imponente Igreja Matriz, a Praça Manoel Alves de Ataíde,  que maquiaram recentemente com cores inacreditáveis, e a estação Ferroviária.
A nossa Estação Ferroviária está ali jogada para as traças, mas já serviu de inspiração para muita gente, mesmo depois de  desativada. Já publicamos  “Aquela Estação” de Lupércio Ailton Nery Palhares, “A nossa Estação Ferroviária” de minha autoria e hoje, estamos publicando “A Estação do trem “ de Ademar Bispo da Silva.
Cada crônica focou um ponto diferente, mas todas falam das saudades  que a estação desperta, fazendo-nos relembrar um tempo que passou e não volta mais. Saudosismo puro.
A seguir, leiam e constatem como a estação que a cidade abandonou, já foi o centro de vida social muito agitada, onde tudo acontecia.

             Mirandópolis,22 de junho de 2012
              kimie oku in "cronicas de kimie. blogspot.com"



        A estação do trem
                                  (Ademar Bispo da Silva)

      O Grupo Escolar ficava do outro lado da linha férrea, onde é o SESI, e a maioria dos alunos morava do lado de cá da linha. 
As cidades da região noroeste se desenvolveram após a construção da Estação de trem, era um marco civilizatório, e Mirandópolis não fugiu à regra. 
      Acontece que durante a construção da Estação houve uma polêmica sobre de que lado deveria ficar a frente da Estação.    Algumas pessoas influentes queriam de um lado e outras de outro lado.
        Segundo meu pai, mudaram umas duas ou três vezes a direção da frente da Estação, durante a sua construção. A explicação para este fato é que as cidades sempre se desenvolviam  e cresciam do lado da frente da Estação. Era deste lado que havia o comércio com seus bares, farmácias, bazares, quitandas e casas residenciais.
          A Estação e  a estrada de ferro eram o marco divisório da cidade – do lado de lá e do lado de cá da linha.  Mirandópolis foi contra todos os prognósticos, desenvolveu-se do lado dos trilhos, do lado de cá.
         Eu tinha sete anos e a maior preocupação da minha mãe e de outras mães também, era termos de atravessar os trilhos para ir à escola, do lado de lá. Todos os dias a recomendação era a mesma:- não passe por baixo do trem, dê a volta. Dar a volta ficava muito longe, os trens de cargas eram enormes, com muitos vagões. Não havia ainda o “buraco do Savero”.
          Desobedecíamos e acabávamos passando por baixo. Às vezes levávamos sustos enormes, pois quando estávamos passando a locomotiva soltava um apito atemorizante e começava a se locomover.
       Todos os dias tinha trem de carga. O meio de transporte era aquele. O pátio da estação ficava cheio de carroças que traziam as produções dos sitiantes, café para o porto de Santos, bananas das chácaras do Cristovão Leal e do Bento Guilherme, que iam para o Ceasa de São Paulo.
     Atravessávamos e ficávamos vendo toda a movimentação. Os  trens transportavam de tudo: de pessoas a animais; de alimentos a móveis; de correspondências e jornais a rolos de filmes e materiais de construção. Vinham toras de madeira para as serrarias e os fazendeiros transportavam o gado para os frigoríficos. Os vagões com o gado, chamados de gaiolas, tinham um cheiro de bosta de vaca muito forte.      
       Às vezes íamos até a Estação e ficávamos admirados com a recepção e transmissão dos telegramas, pelo funcionário  encarregado. Era o código Morse: traço... ponto traço... traço traço... ponto, não precisava de provedor nem de banda larga.
       Os trens de passageiros passavam duas vezes pela cidade. De manhã vinham da Bolívia, via  Mato Grosso, iam até Bauru onde os passageiros faziam baldeação para São Paulo pegando o trem da paulista de “bitola” larga. À tarde faziam o caminho de volta.
          Nestes horários, principalmente à tarde, a cidade parava, todo mundo ia à estação, era quase um acontecimento social, com mulheres e homens colocando suas melhores roupas, as de ir à missa.
           Até as putas iam à estação. Chegavam de charrete, com seus  vestidos colantes, suas pinturas fortes e de sombrinhas. Ficavam num canto, riam alto, davam gargalhadas, chamavam a atenção de todo.  As mulheres de “bem” olhavam de rabo de olho, erguiam o queixo e murmuravam: - “O que elas querem aqui? Devia ser proibido certas pessoas freqüentarem lugares públicos.” Algumas destas mulheres eram aquelas que, não viam a hora do marido ir para o carteado no Clube e, poderem receber seu amante em casa.
     Os homens, muito sérios, arriscavam a dar uma piscada ou disfarçadamente cutucar o amigo.  Logo mais à noite, deixariam a “patroa” em casa, ouvindo a radio novela “O direito de nascer”, com Vida Alves, e com a desculpa que ficou serviço para fazer ou a de  que tinham uma reunião política, desciam para a zona do meretrício, para a casa da dona Neguinha, onde tinha as melhores mulheres, tinha até uma japonesa.
     A molecada corria de um  lado para o outro. O chefe da estação batia um sino, sinal que o trem já havia partido de Lavínia ou Machado de Melo. Corríamos para ver o trem lá longe, as mães preocupadas diziam:- “Fica perto de mim, vai cair debaixo do trem.” O trem chega, a locomotiva resfolegando, soltando fumaça.... Abraços, sorrisos, amores que se encontram, amores que irão partir.
    A molecada correndo, as mães preocupadas, os vendedores atendendo os passageiros e gritando: pastellll... Olha o pastellll... Quem vai querer????!!!!
    - Mãe eu quero pastel. – Que pastel... Que nada, vai comer em casa.
            - Em casa não tem comida.  – Não fala isto moleque, que te quebro os dentes, em casa a gente conversa.
            O chefe da Estação assopra um apito, a locomotiva solta um silvo. O trem vai partir. É hora das últimas despedidas. Boa viagem... vai com Deus...não esqueça de escrever...uma lágrima rola. A alegria da chegada dá lugar à tristeza da partida. Saudades que vão... saudades que ficam.
      Acabou a festa. O pessoal desce para suas casas, para seus afazeres. A cidade volta ao normal.
      E lá vai o trem:- café com pão...café com pão...café com pão manteiga não...café com pão

Ademar Bispo da Silva


quinta-feira, 21 de junho de 2012


          O Diário fez anos

        Quando era bem jovem, li toda a coleção de livros de Cronin, escritor escocês que descreveu com bastante realismo, a vida vivida pelos mineiros de carvão da Europa.
         Todos os seus romances me impressionaram bastante, como “Sob a luz das estrelas”, que relata o sofrimento dos pobres mineiros, que vivem a vida toda dentro das cavernas subterrâneas, sem ver a luz do sol, escavando carvão para as indústrias... “O castelo do homem sem alma”, que narra toda a prepotência de um chefe de família, que usa uma filha para satisfazer a sua vaidade pessoal diante da sociedade...  “A Cidadela”, que revela o lado difícil da carreira de um médico, empenhado em cuidar de seus pacientes...
Mas, o livro que me marcou de vez foi “O Farol do Norte”, que é a história de um jornal de uma pequena cidade, e cujos redatores só querem divulgar a verdade.  Por praticarem uma imprensa correta e respeitosa, os diretores são perseguidos por concorrentes poderosos, que usam os piores artifícios para os destruir. E eles passam dificuldades mil, para continuar no jornalismo. Todo jornalista não deve dispensar a leitura desse livro, que é muito edificante.
      Lembrei-me dessa leitura feita há tantos anos, quando a Eloyce do Diário me disse que em maio o jornal fez 27 anos. E diante desse fato, resolvi levantar a história do Jornalismo em Mirandópolis. Para isso, consultei o livro “MIRANDÓPOLIS, sua evolução no século XX ” de Doutor Alcides Falleiros.
         Da leitura apurei o que segue: em 1944, veio para cá o senhor Belarmino da Cunha Matos, como Fiscal de Algodão da Secretaria da Agricultura, para atuar junto a Esteve e Irmãos S/A, que comprava e revendia a fibra de algodão in natura. E montou uma Tipografia pretendendo lançar um jornal.
Dois ou três anos depois, veio o senhor Rubens Bêngio, Escrivão de Polícia, que em 1948 se associou a Edgard Correa Vilela e a Belmiro Borine e adquiriram a Tipografia de Belarmino de Matos. E lançaram o jornal “O Mirandópolis” em 1º de janeiro de 1949, com 22 páginas, e farta propaganda.
       “O Mirandópolis” foi o primeiro jornal desta cidade e desde o lançamento declarou-se apartidário.
        Mas, houve mudanças na sociedade e em julho de 1949, os responsáveis passaram a ser Belmiro Borine e Alcino Nogueira de Sylos, que adotaram como princípio criticar o 1º Prefeito eleito, Delmiro Luiz Rigolon, a quem desmoralizavam com seus afiados ataques. A população não aceitou essas críticas e, o jornal “O Mirandópolis” sem o apoio do povo e da Prefeitura, que suspendeu as encomendas gráficas, encerrou suas atividades com o número 49.
        A Tipografia foi vendida aos irmãos Depieri, que já trabalhavam nessa área, em Santo Anastácio. Antonio Depieri veio morar em Mirandópolis, e fundou a Gráfica Paulista, que lançou no Natal de 1949 o jornal “A Cidade”, que teve como Diretor Antonio Depieri e como Redator, Elídio Ramires.
Conforme o depoimento do Dr. Alcides Falleiros, “A Cidade” foi um bom jornal, isento, com críticas construtivas e conseguiu a adesão e colaboração de gente muito capaz como Dr. Edgar, Prof. Edvaldo Perassi, Padre Epifânio Ibanez, Dr. José Goyanna, Prof. Pedro Perotti, Dr. Neif Mustafa entre outros.
       Em 1951, a Gráfica dos Depieri foi comprada pelos senhores João Ribeiro dos Santos e Idanir Antonio Momesso, com o seu Elídio Ramires continuando na Redação do jornal “A Cidade”.
Ao longo dos anos, mesmo trocando os redatores, “A Cidade” foi publicada, falhando uns tempos e reaparecendo depois, até que em 1955, entra como sócio de Idanir Momesso, o senhor José de Fátima Lopes. Nessa fase, o Redator passa a ser o Professor Antonio Sanvito, que permanece até 1960, quando o senhor Momesso vendeu a sua parte na sociedade, ao senhor Moacir dos Santos que, pouco depois a revendeu aos senhores Altino Lorena Machado e Dr. Gerson Gonçalves.
A Cidade passou então, a publicar duas colunas: “Fatos e Ângulos” de Altino Lorena Machado com insinuações venenosas sobre assuntos locais e políticos, que lhe valeram o epíteto de “Timbó” e a coluna “Saca-rolha”, de Gerson Gonçalves, que só abordava sobre a política local, mas de forma moderada.
Idanir Antonio Momesso deixando a empresa, fundou a Tipografia Santo Antonio e em 5 de agosto de 1962, lançou o 1º número de “O Labor”, jornal que circularia por 14 anos, parando em 1976. E em 1963, o senhor José de Fátima deixaria também a Gráfica, indo embora para Campinas.
Em 1967, Altino L. Machado fecha “A Cidade” e lança “Jornal de Mirandópolis”. Em 1974, Altino deixa o jornal e a cidade, restando então só Joaquim Alves Filho como proprietário da Gráfica, que passa a denominar-se Gráfica Mirandópolis.
Durante anos, A Cidade lançou uma revista primorosa, nas comemorações do aniversário da cidade, chamada “Mirandópolis em Revista”, que relatava os fatos mais importantes ocorridos até então, no âmbito municipal, regional e estadual. Hoje, restam apenas alguns desses números, nas mãos de saudosistas e colecionadores. A coleção completa seria um valioso documento da História de Mirandópolis.
Após a suspensão dos jornais A Cidade e o Labor, por aqui não circulou nenhum jornal por um bom tempo. Os cidadãos ressentiam da falta mesmo de um semanário, que divulgasse as últimas notícias da cidade e da região.
Até que um dia, por aqui aportou o senhor Eloi Mendonça.
Mendonça nascera em Tubarão, Santa Catarina em 31 de março de 1943. Em Guaíra, Estado do Paraná fez circular por 8 anos o jornal “7 Quedas”.
Quando os Saltos de Sete Quedas foram engolidos pelo lago para a construção da Hidrelétrica de Itaipu, Eloi fechou o seu “7 Quedas” e veio para Araçatuba.  Junto com Genilson Senche que era o proprietário da “Folha da Região” desenvolveu um grande Projeto, fazendo o jornal chegar a 37 cidades da região, e transformando a Folha da Região no mais importante veículo de comunicação gráfica, dessa Região Administrativa do Estado.
Dono de uma aguçada percepção notou que, Mirandópolis não possuía nenhum jornal para atender às necessidades da população. E em 1º de maio de 1985 lançou o semanário “Hoje de Mirandópolis”. Esse semanário teve boa aceitação e em 1989, passou a circular diariamente, de terça a sábado.
Com o sucesso do jornal, Eloi investiu em equipamentos e comprou os títulos de 5 jornais: “O Jornal” de Pereira Barreto, “A Cidade“ de Ilha Solteira, ”O Jornal“ de General Salgado, “Correio da Região” de Auriflama e “O Jornal“ de Palmeira D’Oeste. Eloi investiu pesado, modernizando sua Tipografia e começou a editar todos esses jornais diariamente, além do “Hoje” de Mirandópolis, “Hoje” de Castilho e “Diário” de Andradina. Com isso nascia o Grupo Jornal de Fato, que no auge de sua produção contou com uma equipe de 75 funcionários.
Entretanto, as despesas também eram imensas, por causa do maquinário, que cada vez se fazia mais necessário. Basta dizer que acreditando no futuro da imprensa, Eloi comprou a primeira Impressora em Off Set, comprou Linotype Mod 31, Clicheria Hell, Impressora alemã Keickbuch, Máquina Datilográfica IBM Composer e a Impressora Rotativa de 4 unidades de impressão e dobradeira, diretamente de Arkansas, dos Estados Unidos.
E aí vieram os Planos Econômicos do Governo, que atingiram diretamente as finanças da Empresa, impossibilitando-a de continuar editando os jornais, como vinha fazendo. Além dos planos do governo, houve problemas políticos, que afetaram a manutenção dos periódicos e dos funcionários.
A Empresa teve que se reestruturar para continuar sua jornada. Eloi Mendonça ficou doente ao ver desmoronarem os seus sonhos e, acabou falecendo em 27 de junho de 2009, com 66 anos de idade. Foi uma vida toda dedicada à imprensa, remando contra a maré todos os dias, para levar adiante o seu sonho de um grande jornal, que não conseguiu concretizar em vida.
Empresa acéfala, sem garantias de um futuro promissor, a esposa Alice Baraviera Gonçalves pensou em encerrar as atividades de vez. Entretanto, o filho Alan resolveu fazer Jornalismo e juntando forças com a irmã Eloyce e a mãe, decidiram continuar a obra de Eloi Mendonça. Já são passados três anos deste a morte do Eloi. Três anos de muita incerteza, de falta de recursos e de muito trabalho. Entretanto, a fase mais difícil já foi ultrapassada.
Hoje circulam apenas O Diário de Pereira Barreto e o Diário de Mirandópolis. E dia a dia, estão conquistando espaços, com noticiário variado e colaboração de vários cidadãos. E sempre, sempre caprichando nas edições, com algumas coloridas, vez ou outra. O Diário tem boa aceitação e é muito lido pela população local e da região, e mesmo o seu site  diariodefato@diariodefato.com.br é bastante visitado.
O melhor depoimento que ouvi foi do senhor Elídio Ramires, que aqui residiu nas décadas de 40 e 50. Seu Ramires reside em Valinhos, aposentado como Fiscal de Renda, exercendo ainda a Advocacia, com a idade de 74 anos. Teve oportunidade de conhecer o jornal Diário recentemente, quando lhe enviei um número, que publicou uma crônica sobre uma foto histórica de Mirandópolis.
Ele me disse que, ficou encantado ao perceber que o nosso Diário circula todos os dias, pois nem em Valinhos, que é uma cidade muito mais potente que a nossa, não há jornal local diário. Disse que o Diário é um jornal bem feito e agradável de se ler. E ele entende do assunto, pois foi por muito tempo o Redator do nosso 2º jornal “A Cidade”, que circulou na década de 50.
Mas, o que tem Cronin, o escritor escocês a ver com esse relato de hoje?
Em primeiro lugar, tem que o meu desejo de escrever para jornais, nasceu após a leitura de sua obra “O Farol do Norte”.    Cronin ressaltou a importância de um jornal, que circule entre todas as classes sociais, pobres ou ricos, letrados ou ignorantes, humildes ou poderosos, conscientes ou alienados. Ele pregou que o jornal é necessário para formar opiniões, como instrumento de reflexão, para despertar consciências...
Um cidadão que não lê, que não tem notícias de nada, que não é instigado a pensar para tirar conclusões, viverá perpetuamente alienado, no seu mundinho limitado pela inconsciência... Um cidadão assim jamais crescerá, continuará a ser  uma toupeira, morando num buraco.
Por tudo isso, o jornal é necessário. Um jornal que informe, que noticie, que desperte, que denuncie, que propague as boas ações, que alerte os cidadãos sobre os perigos, que o rondam todos os dias, que lhe ensinem os melhores caminhos para se viver bem.
Acho mesmo, que o Eloi Mendonça tinha esses propósitos, apesar de não tê-los publicado, porque ninguém peleja tanto na redação de um jornal, se não for movido por objetivos mais elevados. Vi o Eloi brigando com políticos e só levando prejuízos, quando era muito mais fácil concordar com as negociatas, e viver tranqüilo. Mas, a sua consciência não lhe permitia isso, e o fazia dar e levar bordoadas a torto e a direito. 
Um dia, lhe prometi que o ajudaria no jornal, quando eu me aposentasse. Ofereceu-me uma mesa para trabalhar, mas fui protelando, achando que não era hora ainda. E quando ele partiu, achei que a hora era chegada. De cumprir a promessa.
E aqui estou eu, junto dessa brava gente do Diário de Fato, pelejando toda semana com as minhas crônicas, porque acredito no poder da palavra. E ultimamente, temos conseguido a adesão de outros excelentes cronistas, como o Lupércio Nery Palhares, o Ademar Bispo e a Maria Nívea, todos apaixonados por Mirandópolis, mesmo não mais residindo aqui.
E assim, de colaboração em colaboração, o Diário vai seguindo o seu destino, e acredito que vai cumprindo bem o seu papel de disseminar notícias, de informar, de provocar debates, de denunciar falhas, de facilitar a comunicação e sobretudo, de despertar consciências.
E desejo que tenha vida longa, servindo a comunidade.

Mirandópolis, 12 de junho de 2012.
kimie oku in “cronicasdekimieoku.blogspot.com”

              Homenagem ao Professor Walter


             No último 16 de junho, ocorreu  uma cerimônia muito simples e comovente, que a maioria da população nem percebeu.
    Por iniciativa do Lions  Club local,  foi prestada uma significativa homenagem ao Professor Walter Víctor Sperandio, que projetou o obelisco do Lions ,  que na Rua Rafael Pereira há anos, vem comunicando a todos os transeuntes  e visitantes, que existe uma extensão desse clube de serviço  internacional na cidade.
     Autoridades se fizeram presentes e a história da vida do homenageado foi comentada pela esposa Rachel.
        Todos os oradores foram unânimes  em reconhecer  as virtudes  do velho Professor, que tem admiradores espalhados por esse imenso Brasil,  e até em outros países.
        Em Mirandópolis, o Professor realizou também os projetos do Velório Municipal, que já prestou incontáveis serviços à comunidade; o Projeto  do Bosque da Saúde, que é muito freqüentado pela população;  o obelisco do Rotary Club;  o busto do fundador da cidade, Manoel Alves de Ataíde, que está na praça de seu nome,  e os símbolos do município, o Brasão e a Bandeira Municipal.
      Entretanto pela simplicidade e humildade do  velho Mestre, que executou essas obras por paixão, não fez constar o seu nome nas mesmas.
         E o Lions Club através dessa cerimônia do dia 16 último, fez um reparo, colocando a placa com o nome do autor da obra, para a posteridade.
     De justiça, faz-se necessário repetir o ato em relação a outras obras suas e, principalmente no busto do fundador Manoel Ataíde, onde deverá ser aposta a sua assinatura.
     Só assim, a homenagem será completa e na medida certa  ao Mestre Walter Víctor Sperandio, o genial artista que muito fez por Mirandópolis.
                                     Mirandópolis,  18 de junho de 2012.
                            kimie oku in “crônicasdekimie.blogspot.com”

segunda-feira, 11 de junho de 2012

                        Gente de fibra –Kurao Iyomasa

      Hoje o entrevistado é um japonês de Yamaguchi-ken, Japão, onde nasceu em 1922. 
        Da pátria, ele não tem lembranças, pois veio para o Brasil com os pais como imigrantes, quando tinha apenas quatro anos de idade.   
         É o senhor Kurao Iyomasa, que tinha a Ferraria 9 de julho, na saída para Lavínia. Inicialmente, vieram para a região de Sorocabana, para lidar com a lavoura de café. Depois se transferiram para a região Noroeste, mais especificamente Brejo Alegre, em Birigui, e se dedicaram ao cultivo do algodão.
        Nessa região, o menino Kurao trabalhou na roça com a família e estudou na escolinha de língua japonesa, como era costume na época. Acredita que deve ter estudado mais ou menos uns três anos. Hoje consegue ler os jornais japoneses, porque se tornou autodidata e continuou estudando sozinho. Com três anos apenas de escola, é quase impossível dominar a leitura da língua japonesa, devido às dificuldades próprias dela. 
       Em 1947, vieram para Mirandópolis e, um tempo depois, o jovem Kurao passou a trabalhar na Oficina Central de Tomehei Amikura, para aprender o ofício de Mecânico. Como era necessário se comunicar com os clientes da oficina, Kurao que só falava japonês, passou a estudar a língua portuguesa em casa, sozinho. 
      A Oficina Central da família Amikura era uma potência, e consertava os caminhões, que transportavam mercadorias. Caminhões da Ford, mais tarde da Chevrolet estavam inundando o mercado brasileiro, em substituição aos carros de bois e carroças. E eram um sucesso, pela rapidez com que faziam o transporte de pessoas e mercadorias. 
      A Oficina teve também um Posto de Gasolina da Texaco, justamente para abastecer os veículos da época, com gasolina, que era trazida de Bauru pelos caminhões do senhor Luiz Veroneze Filho. No Posto Texaco, havia um escritório e um balcão de autopeças para caminhões.
      Em 1949, casou-se com a cunhada do patrão, a senhorita Mytsuy Sato, que nascera em Guaiçara em 1926. Desse casamento, nasceram cinco filhos, dos quais um é Dentista, um é Empresário, uma era Podóloga e duas são donas de casa. Têm ainda dez netos e um bisneto..
     Dessa fase da oficina, o senhor Iyomasa tem uma leve lembrança de uma tragédia, que aconteceu na oficina. Um mecânico perdeu a vida, ao ser lançado de encontro a uma parede na área de serviço, quando houve uma explosão. Durante muito tempo, as marcas das mãos da vítima ficaram gravadas na parede do barracão. Devido aos 90 anos que tem, o seu Iyomasa não se lembra dos detalhes dessa ocorrência. Lembra-se apenas que era um brasileiro e era chefe de família. 
      Seu Kurao deixou a Oficina após uns dez anos de serviço. Construiu um barracão ao lado de sua casa, na saída para Lavínia, onde instalou a Ferraria 9 de julho, nas proximidades da venda do seu Casimiro Bonadio. Era vizinho do seu Domingos Colchoeiro, de quem foi compadre. 
      Para a construção do barracão, fez empréstimos no Banco América do Sul, e foi pagando aos poucos, com muito sacrifício, pois havia as despesas da família, com cinco filhos menores. 
         Sua esposa, a sra. Mytsuy montou uma pequena Mercearia ao lado da oficina do marido, e passou a revender verduras, para ajudar nas despesas da casa. 
       Foram anos difíceis, com todos trabalhando. As meninas ao voltarem da escola, iam para a quitanda substituir a mãe, que tinha que cuidar dos afazeres domésticos. Os meninos invariavelmente, após o almoço ajudavam o pai na Ferraria. Os dois filhos aprenderam o ofício do pai, praticando por anos a fio. Mesmo estudando fora e, depois de formados, sempre que vinham de férias, não deixaram de ajudar o pai. 
        Mas, no que consistia o serviço do seu Iyomasa? Depois que deixou de consertar caminhões na Oficina dos Amikura, passou a produzir venezianas, grades e portões, hoje tão em moda por conta da insegurança social. 
       Pensando bem, é admirável a coragem com que ele se entregou a esse serviço, uma vez que nunca havia trabalhado na área, e só entendia de funcionamento de caminhões. E teve que aprender sozinho esse ofício, observando janelas e portas e criando modelos diversificados. 
      Naqueles tempos, ainda era seguro deixar portas e janelas abertas, porque os latrocínios não estavam em moda, como atualmente... Seu Kurao montava grades para vitrôs, janelas de ferro, ou venezianas e grades para substituir os muros das casas.        
      Como naqueles tempos não havia mostruários, seu Kurao desenhava os modelos diferentes, para satisfazer os clientes. Infelizmente, ele não guardou esses desenhos, que seriam uma relíquia hoje. 
       Dentre as centenas de casas que ajudou a construir com seu trabalho, lembra-se do Clube Nipo Brasileiro, da Igreja Matriz de Lavínia, das janelas da nossa bela Igreja Matriz e do Consultório da família Conrado. Foi responsável pela colocação de toda a ferragem do Clube Nipo local, e da Igreja de Lavínia. Lembra-se que, ele e o filho tiveram que trabalhar nas alturas, para instalar as janelas das torres, correndo riscos de acidentes de trabalho. 
        Dentre os diversos aprendizes que passaram em sua oficina, quem está no ramo é o senhor Nélson Tomazzi, que todos conhecem, e que está a serviço da comunidade até hoje. A sua esposa ficou no comércio de frutas e verduras por uns três anos.
      O seu Kurao trabalhou como ferreiro por vinte anos e se aposentou em 1973. 
        A sua vida não foi só de trabalho. Durante muitos anos, seu Kurao e esposa jogaram o “hana fudá”, uma espécie de baralho japonês de cartões cheios de desenhos de flores, que esteve muito em moda em tempos passados. As partidas eram bastante animadas, com um grupo de amigos, que revezavam as casas nos fins de semana.
         Além disso, seu Kurao jogou beisebol quando jovem, e estava sempre envolvido com esse esporte, porque os filhos também jogaram. Eram os tempos áureos do beisebol na cidade e região. 
      E também gostava muito de cantar “enka” ou baladas japonesas nos Karaokê, participando das apresentações no Nipo, e concorrendo com outros cantores amadores. Desses tempos de jogos e karaokê, há uma coleção de taças e medalhas que conseguiu conquistar. 
       Após a aposentadoria, passou a cultivar orquídeas, e tem um viveiro grande no quintal. A esposa cuida de primaveras e outras flores mais comuns. Ao mesmo tempo, ele passou a caminhar para não travar, mas após um tropeção na Pista da Saúde, parou. 
       Sua esposa também não sai mais, embora continue a mesma mulher alegre e gentil de sempre.
      Seu Iyomasa gosta de ler. Passa o tempo lendo revistas e jornais japoneses, que assina. Tem uma paixão pelos cachorros que criou. Leva uma vida tranqüila ao lado da esposa Mytsuy, da filha Keiko e do bisneto Gustavo. Em breve, completará noventa nos de idade. 
    Senhor Kurao Iyomasa, que trabalhou anos consertando caminhões na Oficina Central, que fez portas, grades e janelas para centenas de residências, que continua a cultivar o espírito japonês, cuidando de orquídeas e lendo jornais na língua dos ancestrais, é sem dúvida alguma, Gente de Fibra! 

          Mirandópolis, 3 de junho de 2012. 
         kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com” 

Nota: 1 - foto do casal Iyomasa,
          2 - Kurao  entre colegas mecânicos,
          3 - grade de janela, construída  por ele,
          4 - jogo de "hanafudá"