sábado, 27 de novembro de 2021

 

                                               A cor da pele

     Desde que os humanos pisaram a Terra, o preconceito veio junto. Motivado pelo medo. Em forma de desprezo pelos deficientes físicos, pelos incapazes, pelos doentes incuráveis... Mesmo na época da Cristandade ativa, os indivíduos sadios jogavam os doentes incuráveis em buracos e vales, de onde estavam proibidos de sair... Jogavam os irmãos, os pais, os filhos... Os doentes de mal de Hansen (lepra) foram assim dolorosamente discriminados.

Daí, quando a humanidade começou a cultuar o belo, o perfeito, a coisa chegou ao paroxismo de desprezar tudo que era diferente e não possuía beleza. Determinaram um padrão de beleza e tudo que não se enquadrava era descartado. E inventaram os concursos de beleza. Os índios, os orientais, os africanos, os que não eram brancos foram considerados fora do padrão. Os brancos se julgavam superiores porque dizem que Cristo era branco, e a Sagrada Família era composta só de brancos...

E com a ascensão dos Religiosos radicais, a coisa ficou mais complicada. Quem não era cristão, era considerado bárbaro, inculto e inimigo de Deus. Daí, a Guerra Santa, a caça aos impuros... E na fogueira queimaram vivos inocentes considerados feiticeiros... Tanta barbaridade perpetrada pela mesma Igreja que pregava o Amor ao próximo... Religiosos que se colocavam acima de Deus para executar inocentes.

E quando os brancos descobriram os africanos de cor negra, nigérrima, consideraram-nos uma raça inferior, que não pensava, que não tinha sentimentos, que precisava ser domada... E os trataram como bichos perigosos. E por considerarem-nos bichos, os domesticaram e transformaram em escravos... A história da escravidão é uma das páginas mais feias, mais vergonhosas e mais cruéis da humanidade.

Estranho é que isso durou séculos e séculos e ainda persiste. Os negros estão alijados da convivência normal da sociedade só por causa da cor da pele. Não importa se são competentes, capazes... A cor negra já causou muitos estragos... Ku Klux Klan, Supremacia Branca... Grupos em ação até hoje... Os negros são as vítimas...

E não adiantam campanhas contra essa discriminação, não adiantam programas sociais para provar o absurdo dessa situação. Brancos ainda continuam se julgando superiores... Já foi feito muito para destruir esse sentimento de rejeição aos negros. E mudou muito pouco. Os negros continuam sofrendo e amargando humilhações absurdas.

 Dia da Consciência Negra, e agora vão passar um programa chamado Protagonismo, em que negros contam suas histórias. Mas é difícil mudar o que está arraigado na mente dos indivíduos.

Então pensei!

Os renomados cientistas que descobriram as impressões digitais, que identificam os indivíduos, que conseguiram separar o DNA humano (era um segredo de Deus!), que estão tentando criar o ser humano ideal com as melhores características, usando esses mesmos DNA... Por quê esses superinteligentes cientistas não tentam misturar os pigmentos das diferentes peles humanas e não criam uma cor uniforme, comum a todos os indivíduos?  Tipo cor dourada de nossos índios? Acabando com as cores brancas desbotadas dos eslavos, as cores nigérrimas dos africanos? Toda a humanidade vestida de uma mesma cor! Não seria o ideal?

Acho até que o criador dessa nova pigmentação mereceria ganhar todos os Oscares, todos os Nobeis da Paz. Porque resolveria definitivamente essa questão dolorosa da discriminação racial. Ah! Se eu fosse cientista, partiria para essa pesquisa! E não pararia até conseguir!

Num romance brasileiro, Os tambores de São Luís, Josué Montello cita o negro Damião tão revoltado com as maldades dos brancos, que desabafa gritando: “Cada negro pegue uma branca e plante nela o sangue negro!”

Não estou pregando a violência nem o estrupo. Mas, as misturas diluem a cor negra, e muitos brasileiros  resultantes desses cruzamentos nascem belos...

Melhor seria todas as raças numa só cor!

Quem sabe, alguém consiga ter êxito nesta empreitada. Na empreitada de criar uma cor só!

Eu não estarei mais aqui para comemorar, mas estarei feliz de ver a humanidade vivendo em paz. Sem discriminações e sem perseguições.

Sou louca?

Sonhar não é proibido!

Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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terça-feira, 16 de novembro de 2021

 

                A caçada

 Amanheci feliz pela tarde maravilhosa que tivemos ontem. Cirandamos e foi ótimo. Estávamos realmente precisando disso! Renovamos as energias.           

Estava toda animada!

Mas...

Deparei com uma cena que doeu muito.

Debaixo do estaleiro das orquídeas, uma porção de penas... Penas de pombinha.

Percebi que um gato tinha comido uma...

Não sou fissurada em cães e gatos, mas amo os passarinhos. Qualquer passarinho.

Pombas, pardais, rolinhas, beija flores, joãos de barro, sanhaços, canários...  Gosto de vê-los livres, soltos, pipilando e cruzando os espaços.

Então, fiquei muito triste pela vida que foi roubada. Ali no meu quintal.

E sei que foi um gato!

Que adotou esse mesmo lugar para dormir.

Um gato cinza esbranquiçado, que vive rondando a minha casa.

Nem brava posso ficar com ele! Afinal, ele é um caçador, e isso é de sua natureza animal. E pássaros fazem parte do seu cardápio... Volta e meia, acho penas de periquitos embaixo do meu carro... E o gato está gordo e roliço. Não satisfeito com a ração que, a Veterinária minha vizinha Dra. Camila Hara fornece a todos os bichinhos do pedaço, ele parte para a caçada. Instinto animal.

Mas, o que doeu mesmo foi ver o seu parceiro jururu lá no telhado do vizinho. Quietinho sem se mexer. Por horas ficou lá, quem sabe o que sentindo... Os pardais que vêm comer pão no meu quintal foram cercando o bichinho triste, voavam sobre, e pipilavam... Mas, nada. O bichinho triste ficou lá sem se mexer.

Aí, rezei para o Deus dos passarinhos cuidar dele.

E então ele foi embora.

      Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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sábado, 6 de novembro de 2021

 

Hoje tive uma estranha sensação.

 

Estava estudando Nihongô/Língua Japonesa...

E de repente, ao escrever os kanjis/ideogramas

senti que, era meu pai que estava escrevendo...

Meu pai desenhava os kanjis na mesa da cozinha

com a água que pingava das tampas das panelas...

Éramos tão pobres que não havia papel nem pincel...

Hoje tenho canetas coloridas e pinceis variados.

E sempre achei que papai estava ausente.

Mas percebi agora que ele esteve sempre presente!

Em mim!

Assim como mamãe continua em mim,

quando faço crochê, bordados e tricô...

Eu sou a continuidade deles!

Como disse o poeta indiano Rabindranath Tagore:

"A flor se transforma em fruto,

o fruto vira semente,

volta a semente a ser planta,

torna a planta a abrir-se em flor!"

Mirandópolis, novembro de 2021.

kimie oku in

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