sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Agosto também teve Ciranda!

A Ciranda cada vez mais é um sucesso.

Há sempre gente nova aderindo e participando. Desta vez foi a senhora Assme Santana, que há tempos vinha convidando, para acabar com a sua solidão. E de repente, ela compareceu, abraçou amigos e passou uma tarde agradável lá na Chácara do seu Albertino Prando. Foi uma festa!
E outra novidade foi a volta da cirandeira Chiquinha, que estava alongada por meses em São Paulo. Abraços, abraços, abraços. E colocar o papo em dia...
Compareceram os internos da AMAI (Associação Mirandopolense de Assistência ao Idoso). E foi uma vibração total, com eles cantando e dançando, em completa harmonia com os cirandeiros.
Além dos habituais músicos e cantadores, compareceu também o senhor Agenor Garcia, locutor da emissora de rádio local. É um expert em música popular brasileira e coleciona discos dos mais famosos. Veio reforçar o time dos cantadores. Foi muito aplaudido.
O seu Orlandinho declamou seus poemas e foi também bastante aplaudido.
Os cirandeiros que não conseguem cantar ou dançar passaram as horas conversando com os amigos.
E entre um petisco e outro a tarde passou e os da AMAI queriam ficar mais... Foi uma tarde gloriosa. Alegria pura. E em setembro tem mais!



Mirandópolis, agosto de 2015.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

    

 Yuassa sama

Ela tem mais de noventa anos.
E é minha amiga há mais de vinte anos.
Chama-se Natsuko Yuassa, e é a mãe de outra pessoa admirável, Doutor Roberto Yuassa, o respeitado doutor Roberto do povo.
Há mais de duas décadas, caiu em minhas mãos um livro escrito em japonês, que era o relato de sua vida.Como eu estava começando a estudar a Língua Japonesa, fiquei muito interessada e tentei lê-lo. Tentei.
Só tentei lê-lo, porque na verdade, eu era completamente analfabeta em japonês. E o livro era de Memórias, narrando fatos ocorridos no Japão de 70, 80 anos atrás. A curiosidade era grande, mas a minha limitação era bem maior ainda.
Comentei essa dificuldade com uma amiga, e ela me sugeriu que procurasse a autora do livro. Depois de muito relutar, acabei por visitá-la, para pedir que me explicasse as muitas partes, que não entendera.
Mas a primeira entrevista foi um desastre:  eu não consegui explicar-lhe a razão de minha visita, apenas mostrei o livro e disse que não conseguira lê-lo.
Ela porém, foi muito atenciosa e me cativou desde o primeiro instante, pela compreensão e gentileza. Pediu que retornasse, e prometeu que me ajudaria.
Só achei que não haveria futuro em nossa relação: ela se comunicando em japonês, e eu boquiaberta sem entender 70% do que dizia. Mas, percebi que falava com carinho, e tentava fazer com que eu entendesse, com gestos, misturando algumas palavras em Português, ocasionalmente.
Entretanto, eu queria aprender e sabia que só ela poderia me ajudar. E comecei a frequentar a sua casa. Como estava sempre só, ela gostava de me receber. E principalmente, porque tinha muito que relatar, lembrando passagens de sua infância e juventude no Japão. Um dia, perguntou se eu era a mesma kimie oku, que escrevera no Jornal O Labor do senhor Idanir Antonio Momesso. (esse jornal já nem circulava mais)
Quando lhe respondi que sim, ela começou a chorar e eu fiquei totalmente atarantada, sem saber o que fazer. Quando se acalmou, ela me abraçou e perguntou: “Por que você não veio antes?”  “Por que não nos procurou, três anos antes?”  “Meu marido teria gostado de te conhecer!”
Seu esposo havia falecido já havia três anos, e segundo ela, gostava de ler minhas crônicas. Disse que as lia e traduzia para ela, sempre. Eram as minhas “Reflexões”.
Foi então, que eu fiquei muito, muito comovida e chorei, porque o senhor Yuassa também escrevia para o jornal, e era um homem culto, que falava e escrevia em japonês e em português.
E daí, a nossa amizade se firmou, de vez.
Nas constantes dificuldades de conversação, ela usava dicionários para se fazer entender, fazia gestos, onomatopeias, gesticulava bastante, para me explicar o significado de uma palavra apenas. E ao mesmo tempo, foi me iniciando nos costumes   cotidianos do seu país de origem, de que sentia muita saudade.
Levei seguramente um ano para ler o livro, com a ajuda dela. Mas, ao terminar a leitura, o que ficou na lembrança não foram as memórias dela, mas as horas de ensinamentos tão agradáveis, que ela me proporcionou. Passei tardes maravilhosas, em que ela me mostrava seus últimos poemas tanka, que publicava nos jornais da colônia japonesa.
Aprendi muito com ela.
Convivendo com ela, comecei a amadurecer uma ideia Queria formar um grupo de pessoas, que proporcionasse momentos de lazer às pessoas solitárias, levando-as  a um lugar agradável no campo. Eu tinha um desejo imenso de levar essa minha amiga à uma chácara, onde pudesse curtir a natureza, em meio às flores, ao verde dos campos, à sombra das árvores, ouvindo o canto dos pássaros. E conversando com amigos. Mesmo que fosse em cadeira de rodas...
Foi assim que, nasceu a Ciranda, que já comemorou um ano de existência. Infelizmente, devido à saúde precária, não foi possível levá-la a nenhum encontro...
  A inspiração da Ciranda nasceu da gratidão, que sinto por ela. É uma pena que nunca pude levá-la.  Mesmo assim, a Ciranda foi uma boa realização, e sou grata também por ela ter me inspirado essa ideia.
O que mais me comove na sra. Yuassa é a saudade imensa, que ela sente de seu amado esposo e do neto querido, que perdeu tão precocemente. Todas as vezes que ela se lembra deles, não deixa de chorar.
Ela se diz chorona. E chora porque os filhos são muito atenciosos, e não descuidam dela. E diz que o seu tempo já se esgotou, e queria que Deus a levasse, para aliviar a carga das filhas que vêm sempre de fora, para lhe dar atenção.
Yuassa-sama é uma senhora doce, culta e gentil, como há  poucas nos dias de hoje.
Yuassa-sama, minha mestra de japonês, minha amiga tão generosa, que me devolveu um dia, o orgulho de ser descendente de japoneses, muito obrigada!
Mirandópolis,28/ dezembro/2011.                      
kimieoku                             

Post scriptum: A senhora Yuassa faleceu em 2012, com 93 anos de idade.
         

sábado, 8 de agosto de 2015

                                Panelaço
      Panelaço.
                Barulho para abafar a fala de uma Presidente.
                O que é isso? Presidente merece respeito.
      Eu ensinei na minha missão de Professora alfabetizadora que, a maior autoridade de nosso país é o Presidente. Que lhe devemos respeito por ser a mais respeitável autoridade, assim como os símbolos pátrios Bandeira e Hino Nacional.
               Isso foi há muito tempo atrás. E tanta coisa mudou. Pra melhor? Pra pior?
  Tivemos a Ditadura Militar que fez estragos irreparáveis perseguindo cidadãos, que se opunham a ela... Há gente desaparecida até hoje, por conta de seus ideais políticos, e ninguém sabe onde está enterrada... Por outro lado, em termos de Economia, o país se desenvolveu vertiginosamente industrializando-se, e proporcionando empregos a milhões de trabalhadores. Era um Governo austero e se utilizou da força para recolocar o país nos trilhos... E conseguiu. É verdade, à custa de centenas de vidas perdidas de opositores... Governo Militar foi bom, foi ruim? Não podemos tomar partido, porque foi necessário vencer aquela etapa de convulsões políticas, que poderia levar a uma intervenção estrangeira para pôr ordem na casa. E tudo foi resolvido em casa. Sem os estrangeiros tomando as rédeas...Mas, custou muitas   preciosas vidas... Vinte anos se passaram...
           O tempo passou, muita coisa melhorou. A Democracia foi restabelecida porque assim o povo exigiu. O Movimento “Diretas já” foi avassalador, e nenhum Governo poderia ficar indiferente, aos gritos de milhões de brasileiros exigindo seus direitos de volta. E as eleições, e os Presidentes eleitos se sucedendo, frouxo como o Sarney, e outro arrogante e mau caráter como o Collor, corajoso como o Fernando Henrique... que implantou o Real. A moeda foi revalorizada e a inflação foi controlada.
           Estávamos no caminho certo, construindo uma Nação forte, com as Instituições funcionando regularmente. Todos confiantes no futuro da Pátria. Até no Futebol, a seleção canarinho proporcionou momentos gloriosos, conquistando títulos nunca dantes conquistados...
           Daí, os Direitos Humanos começaram a contestar tudo e todos. Tá tudo errado, o pobre só sofre, o rico só explora. A Igreja tomou a frente e saiu combatendo, colocando os pobres contra ricos, os empregados contra patrões, os operários contra os empresários... E veio o Governo Lula, e o Partido dos Trabalhadores... E eu sinceramente, acreditei que o antigo operário realmente possuísse um Projeto Grandioso de Governo para contentar a todos. Eu acreditei e o slogan “Lula lá!” me soou como sinos bimbalhando e torci por ele. Sinceramente.
           Aparentemente, o novo líder do povo fez bonito. Trabalhou ativamente para melhorar a vida dos mais pobres...  Dava para acreditar. E a sua seguidora também adotou medidas para dar mais aos pobres. Reduziu os Impostos de Produtos Industrializados (IPI)   de eletrônicos brancos, que levou todos a adquirirem geladeiras e freezers, que era um sonho caro. E tudo parcelado, ficou fácil comprar. E antenas parabólicas nas taperas mais pobres, graças às diversas bolsas que garantem. E o sonho mais caro de casa própria foi estendido a milhões de brasileiros. Governo feliz. Povo feliz. Mas, era preciso mais. Daí, facilitaram a aquisição de carros, que é o segundo desejo mais caro dos cidadãos. E todos entraram nos financiamentos parcelados, também garantidos com bolsas disso e daquilo. A Economia funcionava bem. Havia a casa própria, com refrigeradores, tevê moderna e outras comodidades como o refrigerador de ar nos verões bravos... E o carro parcelado em infinitas prestações... E a Indústria ia de vento em popa. Todo mundo comprando, todo mundo financiando... E os chefes de famílias empregados, com salários garantidos todos os meses... E as Bolsas abastecendo essa corrente... E ninguém reclamava, porque a Indústria produzia a rodo, o consumidor comprava tudo, o cidadão tinha emprego garantido, e o povo usufruía... E aí disseram que “Nunca o poder de compra do pobre foi tão elevado!” e lançavam esse slogan como se fosse atestado de um imenso milagre... Tudo parecia perfeito.
        Mas, o poder subiu à cabeça dos dirigentes do Partido. Tudo faziam, tudo podiam. Podiam manobrar o imenso eleitorado com bolsas e mais bolsas. A massa não pensa, não quer pensar. Quer o imediato e o imediato é dinheiro. E chovem bolsas...
         Mas, havia gente preocupada com as bolsas distribuídas a torto e direito, que  nada mais eram que moeda de compra de votos. Povo contente vota em quem lhe dá algo em troca. E o PT se garantia no comando da Nação. Mesmo assim, tudo ia bem...
      Mas, na equipe governante entre os críticos mais radicais de Governos anteriores havia uma quadrilha. Quadrilha que ousou meter a mão nos cofres públicos, que não se intimidaram em cometer crimes de lesa pátria. Enquanto distribuíam bolsas disso e daquilo, eles metiam a mão nos cofres das Estatais mais respeitadas, e foram abastecendo contas particulares nos bancos em paraísos fiscais... Pão e circo para a plebe e a nós o ouro e mais ouro!
Mas a bomba estourou. Um escândalo! Governo roubando a Pátria!
A casa caiu, os bandidos foram denunciados e são todos engravatados e ricos. Muito ricos. Dezenas deles presos, processados, investigados... Posando de vítimas injustiçadas... E a maior autoridade da Nação fazendo cara de paisagem. Não sabe, não viu, e tem raiva de quem lhe pergunte... E nos bastidores, o Lula agindo sorrateiramente. Dizendo que é tudo armação da oposição. Será que tem um petista sério, honrado que realmente acredite que foi armação?
E o governo perdido e atarantado diante de tantas denúncias, fica esperando o tempo passar, nada fazendo, nada realizando, esperando um milagre.
País parado. Estarrecido!
E aí todo o crédito do Governo foi por água abaixo. O mundo inteiro descobriu a farsa do Governo Petista. Sem crédito, com tudo desmoronando à sua volta, a Presidente se viu forçada a tomar medidas duras para evitar a queda final.
Subiu o preço dos combustíveis.
Subiu o preço da energia elétrica a patamares nunca vistos.
Só essas duas medidas foram suficientes para paralisar o país.
Tudo subiu, desde água, remédios, alimentos, calçados, roupas, prestação de serviços, anuidades escolares e até um trivial alimento, a cebola!
A inflação voltou com tudo.
As Indústrias estão se quebrando em cadeia, num efeito dominó...
Empregados estão sendo dispensados, outros milhões em férias coletivas. Por que? Os produtos industrializados estocados não têm saída. Lojas encerrando atividades... Com a alta de tudo, o poder de compra do cidadão foi reduzido pela metade, e ele só está provendo a casa de alimentos... E olhe lá. Não está nada fácil. Já desligou o freezer, ventilador nem pensar, muito menos o ar... São trambolhos inúteis nesses tempos duros de economia. Carro? Só usar em casos de emergência, como ir ao médico... Isto é, carro que não foi financiado, porque este a Financeira já levou... Não deu para pagar as prestações...
Parece história de uma tragédia grega. Parece, não! É uma tragédia tupiniquim! Nossa gente sendo humilhada, vilipendiada porque foi elevada ao podium e, a mesma mão que a levou até lá, a derrubou.
E agora, José?
A casa caiu.
O fogo apagou.
O dinheiro acabou.
O emprego morreu.
Quem abastecerá a despensa?
Nem pense que as bolsas irão continuar. A fonte secou. País falido, quebrado, de onde tirará os recursos? Se bem que há muita grana escondida, lá nos cofres estrangeiros... Grana roubada, apossada dos cofres da Nação. Mas essa grana é das Estatais, para garantir sua existência.
Tudo não passou de uma grande farsa, de uma grande mentira. Enquanto distribuíam migalhas para o povo, estavam assaltando os cofres públicos, com a maior cara de pau...Enganando o mesmo povo tão crente, tão inocente...
E a ousadia de quebrar Estatais que fazem parte da História do Brasil?
Que gente é essa, que não respeita nada, que posa de heróis, e não passam de refinados ladrões? Merecem apodrecer nas cadeias... E o Lula, não se sente responsável por tudo isso? Como consegue olhar para o seu eleitorado e se fingir de inocente? Será que ainda tem eleitor acreditando nele? E a Dilma como embarcou nessa? Será que continua acreditando no Partido? Como se safará dessa?
Como se não bastasse tanta sujeira, tanta corrupção, tanta roubalheira dos políticos, descobriram também isso entre os dirigentes da Confederação Brasileira de Desportos, acabando com o orgulho maior do povão – o futebol. Jogos vendidos, tramoias para lucros particulares, uma vergonha institucionalizada. Isso sem comentar a Copa do Mundo aqui, com os luxuosos Estádios construídos...
Quando um grupo ascende ao poder e não tem um Programa Sério de Governo acaba assim. Tempos duros virão. Lojas se fechando, empregos desaparecerão, povo terá que apertar os cintos para pagar a energia, o combustível, o gás de cozinha, a água... Não comprando, não comprando.... Retrocesso... Recessão... Muito triste.
Triste fim de Policarpo Quaresma, né Presidente? Lula lá?

Mirandópolis, agosto de 2015.
kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

                                            Tocar piano

Todas as pessoas nascem com uma determinada habilidade. Umas têm uma voz poderosa, que poderá ser usada para o canto ou para a locução. Outras têm vocação para cuidar de doentes; e outras mais para ensinar, para exercer medicina e salvar pessoas...
Mas, muita gente nem tem vocação, e tem um forte desejo de se realizar em determinada área. Exemplos disso são os meninos que sonham ser famosos jogadores de futebol, corredores de Fórmula Um e meninas que sonham ser modelos ou atrizes famosas... E desperdiçam tempo e dinheiro atrás de um sonho inatingível. Quando despertam, percebem que o tempo passou e eles se transformaram em arremedos de jogadores, corredores e artistas de 5ª categoria, quando não acabam se perdendo pelos caminhos tortuosos...
O negócio é pôr o pé no chão e encarar a realidade. Porque viver é preciso e comer também. Então, estudar e trabalhar é o caminho. Se houver chance, aproveitar e realizar o sonho. Mas, é preciso ter vocação.
Conheci um rapaz que queria ser Odontólogo. Mas, seus recursos não lhe permitiam frequentar uma Faculdade de Odontologia. Então, prestou Concurso num Banco e foi trabalhar. E foi guardando economias. Daí, descobriu que havia uma Agência do Banco que funcionava no período noturno, numa cidade que dispunha de Escola de Odontologia. Então, o moço se transferiu para lá, passou a trabalhar à noite e fez o Curso de seus sonhos. Hoje já é um ortodontista engajado no mercado de trabalho, feliz por ter atingido a meta. E conseguiu se livrar do Banco.
Eu como a maioria das pessoas também tinha um sonho: escrever. No começo pensava em escrever um livro, um best seller para estourar no mundo literário e ficar famosa. Com o passar dos anos, fui percebendo que há muitos e muitos escritores excelentes dando sopa por aí. E suas produções que são de alto nível ficam encalhadas nas livrarias, revistarias e bibliotecas... Concluí então que, não sou páreo para disputar nenhuma porção do mercado literário. E descobri com Lourenço Diaféria que escrevia na Folha de São Paulo, que escrever crônicas é muito estimulante. Crônica é uma espécie de conversa que o autor estabelece com seus leitores, comentando fatos do dia a dia. E serve de desabafo quando se quer reclamar, denunciar, louvar ou aplaudir. Daí a razão porque escrevo essas crônicas. Fazem bem para o coração.
O interessante de uma crônica publicada é que ela dá o retorno imediato. Alguém lê e comenta com outros se achou relevante ou não, se concorda ou não, se valeu a pena ter lido tal texto. Eu particularmente tenho tido muitos contatos por conta dessas crônicas. E os comentários me estimulam a escrever sempre. Isso não me traz nenhum money, mas dá uma satisfação imensa por perceber que muita gente comunga das mesmas ideias. E tenho escrito muito ultimamente, estimulada pelos amigos que leem meus textos no Diário de Mirandópolis e no face book, onde tenho o blogger http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
Fora isso, tinha também um outro sonho: tocar piano. Gostaria de tocar bonito, obedecendo à partitura corretamente como tem que ser. Sei, porém que não sou habilidosa e nem talento tenho para ser musicista. Só que gosto de ouvir trechos de Bach, Sinfonias de Mozart, de Beethoven, Adágios de Albinone...
Ouvir música erudita é uma coisa fantástica. Certa vez, fui ao funeral do pai de uma amiga. Como não havia ainda Casa de Velório, fui à porta do cemitério para aguardar a chegada do cortejo. Era uma manhã úmida, chuvosa e triste. Havia também outras pessoas aguardando nas proximidades... Como estava sozinha no carro, pus uma fita cassete para ouvir alguma coisa para passar o tempo. Por sorte era uma fita de músicas clássicas, que me encheram a alma de inspiração. Daí, enquanto ouvia Bach, Mozart e Shubert acabei rabiscando uma crônica sobre o funeral que não chegava. E me esqueci completamente dessa crônica. Passados dez anos, ao fazer uma faxina nas gavetas, a encontrei, li e pensei em jogar fora. Não sei porque resolvi dar de presente para a minha amiga. Era uma coisa simples, em que comentava sobre o funeral de seu pai que não vinha, e a música que enchia a manhã sombria. Mas, a música era linda, como sempre foi... E de repente, a minha amiga se emocionou ao ler aquelas palavras. Seus olhos se encheram de lágrimas e me deixou muito confusa. Isso foi há uns dez anos ou mais... Há uns dias atrás, essa mesma amiga me mostrou aquelas folhas de caderno com o meu manuscrito. Ela guardou a crônica como se fosse um tesouro! Coisas que surpreendem e me deixam mais confusa ainda.
Então, gosto de arranhar o piano, que está desafinado quase tanto como eu, e tirar um som para encher minha casa. Não toco para outros, toco para mim. Por isso, se está errado, se o tempo está inadequado, se há pausas demais, se esqueci os bemóis e os sustenidos, vou me perdoando...
Certa noite lá pelas 21 horas, estava eu como de costume tirando um som do piano, quando percebi que havia um pobrezinho agarrado à grade de casa. Acho que era um mendigo, muito mal vestido, que se assustou quando o abordei. Perguntei-lhe se desejava alguma coisa. E ele: “Não senhora! Só quero ouvir a música que está tocando!   Por favor, continue, dona, por favor...”  Isso me deixou boquiaberta. Depois de ouvir mais alguma coisa, ele agradeceu e foi embora na noite escura...
Conheço tanta gente que gostaria de aprender a tocar um violão, um saxe, um violino... Mas, não fazem nada para atingir esse objetivo. Passam a vida sonhando... E acabam frustrados  porque não conseguiram realizar o sonho mais caro. Não importa se você está velho, se não tentar não vai descobrir se leva jeito ou não. E ficar sonhando não dá lucro pra ninguém.
Além do piano, ainda tinha um desejo absoluto: estudar a Língua Japonesa. Fui impedida de fazê-lo na infância por Getúlio Vargas, então Presidente do Brasil, que mandara fechar todas as escolinhas japonesas, que havia entre os imigrantes aqui radicados. Por que ele assim procedeu?  Porque era o período pós guerra e o Japão havia sido derrotado. Como o Brasil fora aliado dos Estados Unidos, o Governo brasileiro temia uma insurreição dos japoneses ... E resolveu fechar as escolinhas japonesas para barrar a cultura de meus pais... E eu fiquei no prejuízo.
Como todos nós vivemos apenas e tão somente uma só vez, achei que mesmo adulta deveria aprender a Língua de meus pais, que é muito difícil. Um dia, decidi que teria que dominar pelo menos parte dessa língua de meus ancestrais, para ser considerada descendente de japoneses. E comecei do princípio, do be a bá japonês isto é, do alfabeto facilitado até chegar aos ideogramas complicadíssimos... Para se ter uma ideia de como é difícil a Língua japonesa, basta lembrar que possui mais de seis mil letras ou símbolos. O alfabeto português possui só vinte e quatro... Acho que após vinte anos estudando sempre, estou dominando cerca de dois mil caracteres apenas...Mas, não importa. Estou brigando com a Língua Japonesa e, com o pouco que aprendi já dá para me comunicar mais ou menos com os japoneses... Tenho certeza absoluta que meu pai se orgulharia do que consegui aprender até agora.  E que meu Japonês, minha fala e meus escritos têm mil falhas, porque venho estudando sozinha, por conta própria, consultando dicionários ingleses, de Japonês para Português e vice-versa; e mais Enciclopédias de Adágios e Provérbios e de Expressões Idiomáticas. Ufa! É difícil demais. Mesmo porque em Japonês há três níveis de comunicação: a primeira é a coloquial, da fala do povo na sua comunicação diária, que tudo permite, até xingamentos...; a segunda é uma linguagem mais contida, de respeito que é usada para se dirigir a pessoas de nível acima do locutor, e requer uma abordagem mais fina, e a terceira é a utilizada por pessoas mais nobres, ou mais importantes da sociedade, como os monges, os militares graduados e pessoas da família imperial...
Como veem, não é fácil estudar Japonês...
Mas, nada é fácil neste mundo. Viver também não é fácil. Todo dia há um desafio e, muita gente não consegue superar as dificuldades que aparecem.  Se tudo fosse fácil, acho que viver não teria graça. Porque o que estimula o homem é justamente vencer os desafios. Descobri isso e vou superando as dificuldades de um jeito ou outro. Viver por viver não tem sentido. É preciso ter um objetivo, uma meta, um sonho... Como estudar, tocar piano, escrever crônicas e praticar uma língua estrangeira. Não importa se não der lucro. Importa que traga uma satisfação e dê um tom, uma cor, um sentido à vida. E seja a realização de um sonho.
Quem não tem um sonho já nasceu morto.
Mirandópolis, julho de 2015.
kimie oku in



sábado, 1 de agosto de 2015



                          Viagem do Coração 
    
    Como aprecio uma boa viagem, fico observando as pessoas que postam fotos de lugares exóticos que visitaram. E percebo que em geral, elas viajam apenas para passar uns dias em lugares inusitados, sem tirar nenhum proveito das diferenças que há nesses lugares. E nem passam alguma informação interessante para os pobres mortais como eu, que nunca saem da toca.
      Embora goste de viajar, para mim não tem sentido viajar sozinha em lugares paradisíacos, se não houver um parceiro ou parceira para trocar impressões. Aliás, tenho pena dos viajantes solitários, porque o melhor de uma viagem é compartilhar lugares, momentos e novidades com alguém.
      Conheci um médico, mas médico de verdade que cuidava de seus pacientes com muita competência e empatia, até se aposentar. Todos os anos ele tirava férias de um mês e viajava para o exterior. Dizia que não queria ficar rico, nem ambicionava ter fazendas e boiadas... Só queria curtir a vida com a família. Então, nas férias ele arrebanhava toda a família e planejava suas viagens. Se um dos filhos não queria ir por causa da namorada, ele levava a namorada também... E as viagens eram muito instrutivas, porque aproveitavam ao máximo os recursos que havia nos lugares visitados. Exemplificando: Em Nova Iorque, visitou o Museu de História Natural e ficou impressionado com as peças expostas demonstrando como o homem quadrúmano se tornara ereto. No Canadá, reparou na vegetação diferente que há por lá devido ao clima rigoroso do Hemisfério Norte... Nas Ilhas gregas, reparou no modus vivendi dos habitantes de lá. Também para mim não teria sentido conhecer um determinado lugar, sem compartilhar essa alegria com alguém. Aliás, quanto mais gente puder partilhar, maior será a alegria.       
     

Por tudo isso, gosto de assistir a um Programa na televisão japonesa NHK, chamado “Viagem do Coração” ou Kokoro no tabi. Acho que está no ar há uns cinco anos e é um grande sucesso.
 Nesse programa, um ator de cinema e tevê, Hino Shohei de 65 anos percorre o Japão de ponta a ponta numa bicicleta, visitando lugares para atender a solicitações dos telespectadores. Estes enviam e-mails pedindo que o senhor Shohei vá até o lugar que marcou a sua infância, o vilarejo em que nasceu, o arrozal em terraços aproveitando o terreno acidentado, as montanhas que cercavam sua aldeia, o  Templo que frequentou quando jovem, o rio onde nadou com amigos, a Escola que frequentou no Colegial, o campo de beisebol onde foi muito feliz e os Festivais regionais... Enfim, os pedidos são os mais diversos, e cada dia
é uma surpresa.
Para que as viagens ocorram há um equipe, que seleciona as mensagens por Província, que pesquisa o lugar nos mapas, que calcula distâncias, que define o meio de locomoção a ser utilizado nos trechos mais difíceis, recorrendo a ônibus, lanchas ou até mesmo aviões. Mas, grande parte é feita de bicicleta, e sempre há um staff de quatro ciclistas que garantem o apoio imediato, composto de  cinegrafistas, guias e mecânicos. E acredito que haja uma equipe motorizada que acompanha de longe, embora nunca apareça no programa. E é tão agradável de se ver o grupo de cinco ciclistas percorrendo as estradas tão lisas e seguras, mesmo no interior do Japão.  Não há buracos, crateras e lugares perigosos como acontece aqui... Até no meio das montanhas, nos vilarejos perdidos na densa mata, os caminhos são sempre lisos, seguros e bem sinalizados, de causar inveja aos brasileiros. E o grupo já é tão conhecido em todos os lugares pela difusão da tevê, que sempre é saudado com palavras de estímulo de motoristas, que passam pela mesma estrada. E muitos fãs pedem para tirar fotos com o ator.
      Além do grupo percorrendo estradas e pequenas vilas, atravessando pontes (como há pontes e como há rios!) e chegando ao destino, o programa se esmera em mostrar lugares pitorescos, o canto dos pássaros, os peixes nas águas límpidas, as neves coroando montanhas, os lavradores pelejando em suas labutas, as árvores floridas, o vento executando um bailado nos verdes arrozais, os bosques verdejantes, os cavalos na verde pastagem, a neve caindo, a chuva molhando os ciclistas... Tudo muito bonito de se ver. E o fundo musical cantado ou assobiado fala de um lugar de sonhos, onde existe um tesouro para descobrir. E quando chegam ao destino, os cinegrafistas filmam o lugar, mostrando detalhes e detalhes e o senhor Hino se acomoda num lugar, e relê a mensagem que motivou a viagem. Ela é sempre lida ao se iniciar a viagem e no final para dar um arremate à excursão. O telespectador acaba conhecendo vários lugares e histórias verídicas, que não raro emocionam... A interatividade lá funciona de fato. E visualizar o grupo enfrentando subidas e descidas sem fim, passa uma energia positiva ao telespectador.
     Aqui no Brasil, lembro que existia um programa desse tipo na tevê, e se não me engano era uma moça chamada Paula Saldanha que fazia essas viagens. Só que não era de bicicleta. Era de carro, barco, avião... E mostrou várias regiões do Brasil. Mas, não havia o lado íntimo e saudosista das mensagens, cujos autores devem se emocionar muito, ao rever os lugares de seus sonhos partilhados na telinha com milhões de telespectadores.
   

  Fico imaginado como seria esse programa no Brasil. Quantos imigrantes, que vieram da Europa e do Japão e os africanos que vieram forçados, não teriam uns lugares bem guardados no coração, que    gostariam de rever?  Os alemães que inicialmente se radicaram no Sul e estão espalhados pelo Brasil; os japoneses que derrubaram matas em Mato Grosso, no interior de São Paulo e Paraná e estão espalhados pelo país e os africanos que estão por toda a parte... Todos devem ter um lugarzinho do coração, que seria sua pátria de verdade... Além disso, o Brasil é imenso e há tantos lugares não explorados que os brasileiros gostariam de conhecer...

      Como gosto de postar fotos no face book, constato como tem gente por todo o país, que cultiva essa saudade, esse amor pela paisagem primeira da infância...  E como o nosso país é imenso e poucos podem ter o luxo de rever os lugares de seus sonhos, as fotos no face ajudam muito a matar saudades...
     Há uns dois anos, percorrendo o Estado de Mato Grosso do Sul, vi muitas casas de tábuas em fazendas, cercadas de bambuzais. Ora, como sei que os japoneses é que tinham o costume de plantar bambu, fiquei imaginando como seus antigos moradores gostariam de rever esses lugares... Só de olhar essas paisagens, me bateu imensa saudade de um cantinho, onde passei minha infância e adolescência. E me doeu profundamente ao pensar nas pessoas que, nunca puderam rever suas pátrias do coração...

   Eu tive oportunidade de revisitar os meus lugares do coração, mas fiquei desoladíssima... Não havia mais nada do que ficou na memória... A casa ajeitada, o poço que forneceu água saborosa por décadas, o pé de limão galego, o chiqueiro onde grunhiam porcos famintos, o curral com o interminável bé, bé, bé dos bezerros chamando suas mães, as tulhas cheias de espigas de milho e sacos de arroz e feijão, os pés de manga espada e coração de boi, o terreiro do café cercado de crisântemos, as garagens do caminhão e da carroça, o pé de amora junto à vasca de bater roupa ...  Nada disso existia mais. Transformaram o local em pastagem e o gado está destruindo tudo. O que mais doeu foi terem soterrado o poço, de onde tirei tanta água boa e fresquinha. O sabor dela permanece até hoje no meu paladar...
      As coisas mudam e tudo se transforma, eis a dura realidade. Por isso não fiquei revoltada. A pátria do coração está inalterada e a levo na memória sempre, e quando bate aquela saudade consigo voar até lá. Acho que é por tudo isso, que gosto de ver o programa japonês “Viagem do Coração”

     Quem dera um dia alguém faça um programa semelhante, para mostrar os cantos escondidos que há neste vasto país. Lugares esquecidos, mas que falam ao coração de pessoas que por lá andaram, pelejaram e saíram em busca de outras paragens... E hoje cultivam imensas saudades...
      Afinal, não há ninguém que não tenha uma “pátria natal”, para onde gostaria de empreender uma derradeira Viagem do Coração, antes de partir para sempre.



      Mirandópolis, julho de 2015.
      kimie oku in