sábado, 30 de julho de 2016

                        A alegria de ensinar
           
Estive lendo as autobiografias de alguns professores em Transversais 1 e 2 de Rosa Chimoni, minha amiga virtual do face book e constatei um fato, que me deixou muito triste.
São todas histórias bonitas de professores que dedicaram a vida toda à missão de ensinar. Cada um contou sobre as lutas, os estudos, as dificuldades da vida que tiveram que vencer e realizar o sonho de ser Mestre. Todas sem exceção são histórias de profissionais, que honram e engrandecem o Magistério e a Educação.
Mas... Senti uma tristeza profunda porque ninguém falou da alegria de ensinar e de aprender. Quando penso em minha vida de professora, o que vem à memória são aqueles lances de felicidade, aqueles “momentos/eureka!” que vivenciei vendo crianças descobrindo letras, lendo palavras, formando frases! Crianças tão acanhadas que se encolhiam de medo no início do ano, participando de brincadeiras de tabuadas e respondendo corretamente aos desafios dos colegas... Tímidas demais que de repente, acabam declamando!
Quando penso na minha longa vida de professora (31 anos!) só lembro de coisas que me fizeram feliz, muito feliz! Momentos de encantamento. De magia pura. Ser professora para mim foi descobrir com os pequenos, os segredos mais interessantes da vida.
Lá em Tabajara onde ingressei, tive um aluno chamado Estevão, que resolvia as operações matemáticas murmurando seus cálculos. Ele dizia: “3 vezes sete vinte e um, fica um e vai dois. 3 vezes 9 vinte e sete, fica sete e vai 2, mais os dois 4. Muito bem, Estevão. Parabéns!” Assim ele fazia com todas as operações, e eu achava o máximo! Do jeitinho que eu o havia estimulado!
Numa escolinha à beira do caminho, no meio de uma pastagem verde, onde cabritos berravam o dia inteiro havia mais de sessenta alunos... Todos procedentes do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas... Todos sem certidão de nascimento! Vieram como retirantes da seca, para plantar e colher algodão com suas pobres famílias. Como obrigar os pais a regularizar a situação de seus filhos? Fiz uma reunião num domingo, porque os pais só tinham esse dia de folga. E lhes disse que essas crianças não existiam para a sociedade, que se morressem seria muito difícil enterrá-las legalmente. Foi o maior alvoroço. Eles ignoravam a necessidade da Certidão de Nascimento! No dia seguinte, nenhum aluno veio à Escola. Aí, enquanto matutava sobre o que acontecera, passou diante da Escola, o caminhão do patrão levando todos os retirantes e seus filhos para os registrar na cidade. E assim pude fazer a matrícula de todos eles! Tenho muito orgulho de ter feito isso. Eu havia contribuído para melhorar a vida dessas crianças. Isso foi há 55 anos... Hoje todos devem ser cidadãos engajados no trabalho. Ou aposentados...
No início do ano letivo, eu tinha o costume de pedir às crianças da segunda série, a certidão de nascimento. E na primeira página do caderno de Estudos Sociais, eu orientava para fazerem a sua ficha de identificação: Nome completo, data de nascimento, idade, nome dos pais, lugar onde moravam. Aproveitava a certidão para escrever corretamente seus nomes e os dos pais. E explicava a importância desse documento.
Numa ocasião em Amandaba, descobri um aluno do sexo masculino que fora registrado como sexo feminino, devido ao nome que confundia. Chamei o pai e expliquei a situação, e como era muito cara a retificação, fizemos um rateio entre os professores para a devida correção.  A família é grata até hoje.
Certa vez, estava ensinando os alunos da segunda série a escrever com canetas esferográficas. Nessa época, só se escrevia a caneta a partir da segunda série. Um menino chamado Samuel tirou a camisa e rabiscou todo o corpo e o rosto. E os colegas começaram a rir. E eu lhe dei uma bronca! “Samuel, você por acaso é índio? Índio é que pinta assim!” E ele: “Sou neto de índio, professora. Minha vó foi pega no laço!” Isso ocorreu há mais de cinquenta anos. Por onde andará esse Samuel Xavier?
Quando meu primogênito foi à Pré-Escola, um dia me perguntou: Mãe, por que tenho que cortar papéis todos os dias na Escola? E eu: Para amolecer os dedos para aprender a escrever. E ele: Então, não vou mais à Escola. Eu corto papel com a mão direita, mas escrevo com a esquerda. E não foi mais...
Quando minha irmã professora de quarta série organizou uma Feira de Ciências, pediu aos alunos que trouxessem ovos diferentes. E um aluno trouxe ovos de calango. Molinhos e pequenos. Quando ela indagou como os conseguira, prontamente respondeu: Apertei a barriga da lagartixa.
E assim, a gente foi aprendendo com os alunos muita coisa que nem passava pela nossa ideia.
Já como Supervisora, visitei uma classe de primeira série, no terceiro semestre. A professora estava toda atrapalhada com a alfabetização. Era a época da aplicação da Teoria de Emília Ferreiro, em que o professor proporciona condições, para os alunos construírem seu conhecimento. Como não sabia trabalhar com essa forma, os alunos não estavam alfabetizados e isso gerava só  indisciplina.  Pedi à direção da Escola que, liberasse os conjuntos de letras coloridas de plástico, que a Secretaria havia enviado às Escolas. Estavam todos lacrados, sem usar e a professora nem os conhecia. E eu havia orientado a Coordenadora Pedagógica, que liberasse esse material para as professoras alfabetizadoras usarem na sala de aula. Imperdoável falha!
Pedi aos alunos que se sentassem no chão e distribuí as letras. Foi uma festa! Cada criança formava os próprios nomes, e palavras que estavam acostumadas a ler no dia a dia como: Pare, papai, leite, Omo, gol, coca cola e outras que não lembro mais. A professora ficou tão emocionada e chorou! E me perguntou: “Por que você não veio antes?”  Como lhe explicar que essa era a função da Coordenadora Pedagógica, que havia na Escola?
Falando em material escolar, assim como essa Coordenadora que, não deixava as professoras alfabetizadoras terem acesso aos materiais pedagógicos, conheci um Diretor de Escola que guardava a sete chaves, as bolas de basquete, de vôlei e de futebol que a Secretaria da Educação enviava para a Escola. Uma das professoras de Educação Física que lá atuava e, completava a carga horária na mesma escola onde eu trabalhava, sempre me dizia que tinha que trabalhar com bolas murchas, rombudas, descascadas, porque o senhor Sete Chaves de lá não liberava as novas... E as bolas quicavam no chão e perdiam a direção a que eram destinadas... E as novas estavam no depósito se deteriorando...  Bolas têm prazo de validade, e acabam colando a borracha externa na câmara interna e aí não prestam mais! Ditadores existem até em Escolas!
Para concluir, um fato muito interessante ficou para sempre em minha memória. Um aluno da Comunidade Yuba, que até hoje só se comunica em japonês, escreveu uma pequena redação sobre o pai. E a professora ficou atarantada, quando o garoto escreveu a fala do pai. Usou o alfabeto japonês para reproduzir a bronca, que o pai lhe dera ao ver as notas do Boletim. Eu me lembro que a professora me perguntou: Como vou avaliar esse trabalho? E eu lhe disse: Dê-lhe a nota máxima, pois sabe se comunicar em duas línguas, professora!
Como vêm, a Escola é um mundo maravilhoso, onde todos aprendem. Os professores ensinam, mas também aprendem com os alunos. Com sua peleja de todo dia, com a persistência em vencer etapas, em decorar tabuadas... em escrever corretamente.
Para mim, Escola significa um campo vasto, onde os milagres acontecem todos os dias. Para mim foi o caminho da Felicidade.

Mirandópolis, julho de 2016.
kimie oku in




quarta-feira, 27 de julho de 2016

                         
                     Sucesso da Ciranda
   Estamos no sexto ano do Grupo Ciranda.
      E às vezes, me espanto com o sucesso desse grupo, porque não é nada de especial, todo mês é aquela festa.
      Organizamos essa Ciranda de forma despretensiosa, com um objetivo apenas: proporcionar alegria às pessoas que moram e vivem sozinhas, sem atividades sociais. E isso abarcou as pessoas idosas  que já criaram seus filhos, e acabaram sós com a partida deles... E alguns deles perderam seus parceiros...
   
   Felizmente, pessoas um pouco mais jovens adotaram o Grupo como colaboradores, e foi possível trazer a Ciranda até aqui. Colaboradores que se dispõem a transportar os convidados idosos. Colaboradores que cantam a tarde toda para animar... Colaboradores que levam uma bebida, um salgado, um doce para o lanche da tarde...  Colaboradores que recebem sempre com alegria cada cirandeiro que chega. Colaboradores que enchem o espaço com o som do violão, da sanfona e do pandeiro...
      Mas, acredito que o sucesso da Ciranda está nas relações humanas que se estabeleceram. O contato mensal é positivo, e as pessoas se sentem ligadas a alguém que quer saber de sua saúde, de seus exames médicos, das cirurgias realizadas... Além de poder contar notícias boas de realizações de filhos e netos... Ser ouvido por um amigo de verdade, eis a razão do sucesso da Ciranda.
Às vezes, faltam muitos cirandeiros, como na última sexta feira, por compromissos outros como viagem, consultas médicas, visitas de familiares... Mas, realizamos o Encontro, porque quem está disponível quer ir. E o Milton Lima nosso companheiro desde o princípio disse-me certa vez: “Não importa que só compareça uma dezena de pessoas... O importante é continuar os Encontros, para não perder o embalo!” E assim estamos fazendo, mas nunca faltou gente para animar a festa.
E logo, logo estaremos comemorando seis anos de existência do Grupo Ciranda. E nunca houve uma desavença, um desentendimento...
A Ciranda é movida por carinho, boa vontade, abraços e bem querer. Esta á a Receita da Felicidade!





Mirandópolis, julho de 2016.
kimie oku in


terça-feira, 26 de julho de 2016


        O que é a Paz para você?

    Tenho percebido que a maioria das pessoas que conheço só quer viver em paz. Todos, todos almejam a paz. Incondicionalmente.
     Mas, a grande pergunta é: O que é a Paz para você?
    Todos têm seus sonhos, seus desejos e suas ambições. Porque é impossível viver bem sem ter um sonho, uma ambição, um objetivo.
      O Professor americano Dr. Willian Smith Clark eternizou esse desejo ao declarar: “Boys, be ambitious!”, para os jovens estudantes de Hokkaido, Japão onde foi ensinar noções de Botânica e Agricultura. E essa frase se tornou o lema da Escola até hoje.
      Então é verdade que todos devem ter uma ambição, que mova suas ações no sentido de realizações. Os homens-bomba do Islã que explodem shoppings, têm o sonho de matar milhares de ocidentais, em vingança pelos mortos do Oriente Médio... Os nossos políticos têm o sonho do poder e da riqueza, e para isso roubam descaradamente, como se isso fosse a máxima realização de suas vidas... Cidadãos mais modestos sonham em ter uma casa própria, o carro do ano, uma chácara bem cuidada, uma fazenda com boiada...
Sonhei durante anos escrever um best seller e estourar na parada... Ter uma casa maravilhosa, com todos os confortos possíveis. Nunca sonhei em ter uma vida pacata, esquecida da maioria... Menos ainda em cutucar o chão para cultivar hortaliças e flores... Achava que a roça era sonho de pobre...
Mas... Os anos passam. A gente amadurece com a trombadas que a vida nos dá em cada curva do caminho... E descobri que dinheiro não é nada. Que a fama é passageira e vã. Que uma casa cheia de confortos atrai ladrões... Que a vida agitada, cheia de acontecimentos sociais é fútil ao extremo. Que o convívio com a nata da sociedade, nos obriga às vezes a cruzar o caminho com gente muito vazia e falsa... Que o mundo da Literatura está saturado de gente muito competente, e eu não seria capaz de escrever um best seller... E os livros estão sendo ultrapassados pelas telinhas do computador.
A gente vai aprendendo e amadurecendo. E aprendendo a fazer as escolhas adequadas... Essa aprendizagem é lenta e dolorosa. Cheia de desencantos e decepções. Só que é uma aprendizagem para sempre.
Assim aprendi que muita gente que viaja para longe, para as Ilhas Gregas, para o Oriente Médio, para Bali... está apenas procurando uma felicidade que não tem em seu coração... Outros que querem se enriquecer à custa de muito sacrifício, não perceberam que dinheiro pode comprar conforto, mas não compra a paz, a felicidade.
Quando se é adolescente o desejo maior é atingir a maioridade. Depois, conseguir um carro, um parceiro perfeito... uma casa, um casamento de sonhos... Depois, a promoção para a chefia... Depois uma aposentadoria gorda... Poucos conseguem atingir esse objetivo.
 Eu me lembro de um amigo professor que sonhava em se aposentar para poder pescar. E quando se aposentou, descobriu que pescar não tinha encantos, porque os amigos ainda não haviam se aposentado. E pescar sozinho é muito triste.
Nó temos o hábito de jogar para o futuro os nossos mais caros sonhos. Amanhã vou conseguir isso! No ano que vem vou tirar umas boas férias! Quando me aposentar, vou fazer um cruzeiro dos sonhos!  Não vivemos o presente com alegria, sonhando apenas com o porvir.  Isso tudo é bobagem!  O que importa é o momento. Amanhã poderá nem existir.
Mas, aí dirão: “A realidade é dura, de luta, de economia, de frustrações!” Não importa, se é de luta, vamos pelejar e vencer as etapas e sair com vitórias. Se é de sacrifícios, vamos somar o que se poupou. Se é de frustrações, vamos driblá-las realizando o que é possível dentro das limitações... E assim transformaremos a realidade chata em algo vibrante, em campo de batalha, em motivo de vitórias.
Na minha incursão pelo mundo dos idosos solitários através da Ciranda, descobri gente que vive sozinha e é feliz. Gente que se contenta com o pouco que tem e procura viver em paz, sem lamentar o que sofreu, o que pelejou, o que sacrificou. Gente que curte uma cirandada, porque os amigos lhe abraçam e lhe dão um pouquinho de atenção.
Paz é isso! Estar de bem com a vida, mesmo que seja uma vida dura. E procurar tirar o melhor de todas as situações.
Também eu quero atingir esse Nirvana e ser feliz e estar em paz, sem ambicionar demais.
Como?
Agradecendo a noite bem dormida... Agradecendo o dia sem dores... Agradecendo o sabor da comida... Agradecendo as pernas que ainda funcionam... Os olhos que enxergam a dor do amigo... Os ouvidos que escutam o canto dos passarinhos... As ideias que ainda consigo concatenar... A crônica que consegui escrever...
Isto é a minha Paz!

Mirandópolis, julho de 2016.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/





domingo, 17 de julho de 2016

             Tabajara
     Este texto chegou às minhas mãos através da amiga Maria Nívea Pinto, depois que abordei e publiquei sobre o mesmo tema no Diário de Fato e no meu blogger. Como esse lugar fez parte de minha infância e minha juventude, guardo-o no coração para sempre. Por isso, li com atenção e o achei muito informativo.
É de autoria de Geisa Prates, uma jovem que mora em Lavínia, e que deve ter pesquisado a fundo, para produzir esse texto que merece ser preservado para a posteridade.
Então, pedi sua autorização para publicá-lo no meu blogger http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/  e no Jornal Diário de Fato.
E diante de sua anuência, estou publicando-o para rememorar o passado desse famoso bairro, do município de Lavínia.

            Tabajara  por Geisa Prates

(proveniente da língua indígena Tupi-guarani, Tabajara significa “Senhor das Aldeias” – Taba - aldeia e, Jara – Senhor)

O Distrito onde residem ainda hoje alguns lavinenses , provavelmente teria sido habitado por tribos indígenas até a década de 30 e, o processo de colonização teria acontecido por volta de 1940, com a chegada dos desbravadores Emílio de Leão e Jeremias Lunardelli.
Emílio e Jeremias teriam colonizado as terras e posteriormente dividido em alqueires, que foram vendidos a famílias que vieram da mesma região onde moravam, Pirajuí.
Com a chegada da civilização e, rodeada pelas inúmeras fazendas de café do próprio Jeremias Lunardelli, Ivo Tozzi, Cláudio Moura, Emílio Leão entre outras, as colônias foram crescendo e com elas, a necessidade de comprar mistura, o pão, remédios, o fumo, e a tradicional “cachacinha”. Como Lavínia ficava distante e na época ter uma bicicleta era um luxo, a Vila Tabajara foi crescendo, chegando a ter mais moradores do que a própria sede do município, se contabilizando toda a população rural.
Foi então que surgiu no Tabajara, além dos armazéns e dos bares, as farmácias, a Escola e o próprio Cartório de Registro Civil, onde trabalharam por várias décadas o Tabelião Hintz Brandão e a filha Hirtz Brandão.
Antonio José Farias, 69, conhecido como “Tonhão Faria” que reside no Tabajara desde que nasceu, relembra algumas histórias: “Recordo das ruas cheias de gente, o campinho do Tabajara Esporte Clube lotado com centenas de torcedores aos domingos, as festas de Santo Antônio que duravam três dias e recebiam quase três mil pessoas, as jardineiras, as brincadeiras de roda... sinto falta daquele movimento” declarou seu Antônio. Seu Antônio conta também que uma vez estava fazendo cerca no sítio do sogro Aleixo Peron e encontrou vários potes de barro enterrados. "Tenho certeza que naquele local vivia uma tribo indígena anteriormente, encontrar aqueles potes só confirmou minhas suspeitas.”
Sobre a Escola “Emílio Leão”, seu Antônio lembrou que funcionava em dois turnos recebendo muitos alunos. “A escola funcionava em dois turnos, de manhã e à tarde. A molecada ficava muito feliz em poder frequentar a escola. Quem morava nas fazendas vinha e voltava a pé e não falhava sequer um dia” Por volta de 1970, aquela vila cheia de gente, vendas, máquinas de beneficiar grãos foi acabando, ficando cada vez mais vazia. Seu Antônio que viu a vila se expandindo, também foi testemunha do êxodo e acredita que o fator que mais contribuiu foi a geada de 1975. “Muitos produtores de café quebraram nessa época e foram embora em busca de novos investimentos” relatou seu Antônio.
O casal Redentor Fontana e Luzia Pires Fontana, respectivamente conhecidos como Sr. Diquinho e Dona Luzia também morou por muitos anos no Tabajara, na direção do Armazém São José. Seu Diquinho mudou para o Tabajara em 1950, no auge da produção do café.
“Eram mais de 1800 pessoas em 100 propriedades de café, em menor escala a produção de feijão, milho, algodão, mamona e a pecuária, mas de certa forma posso dizer que tudo girava em torno do café.” afirmou ele.
Por conta da grande produção do café que gerava emprego, os comerciantes acabavam lucrando também e nessa época, o distrito chegou a ter cinco armazéns de Emílio de  Leão, Antônio Bácaro, Arthur Nogueira, Nicola Colluci e Manoel dos Reis: quatro bares de Rogério Rebolo, Sebastião Rodrigues, Francisco Maciel e Henrique Barranco; as máquinas de beneficiar grãos eram de Redentor Gonfiantini e Fermino Pavesi. “Tinha várias casas de comércio e todo mundo tinha freguês, porque tinha bastante gente no Tabajara e nas redondezas” disse.
Já o lazer ficava por conta dos bailes aos sábados à noite, o futebol aos domingos à tarde e os “fute” aos domingos à noite. “A turma trabalhava a semana inteira, esperando chegar o sábado para dançar nas barracas que eram montadas nos bairros, tinha vez que chegava a ter três bailes no mesmo dia em bairros diferentes. No domingo à tarde a alegria eram as partidas de futebol, e à noite eram as paqueras” relatou  seu Diquinho.
Para Diquinho, o êxodo se deu por conta da inflação, quando o cultivo do café deixou de ser rentável e o próprio governo incentivou os produtores a extinguirem a plantação.
Com a quebra a produção de café, assim como os outros comerciantes seu Diquinho deixou a vila, continuando no ramo comercial em Lavínia.
Lavínia, 2012.
Geisa Prates










domingo, 3 de julho de 2016

                As Redes Sociais
        
Durante toda a minha vida, observei que as pessoas não gostam de ler. Nunca atinei com a razão, mas a maioria da população não se dedica à leitura.
Em geral só leem os preços das mercadorias, as datas de validade dos produtos... As pessoas não têm o hábito da leitura. O máximo que fazem é ler os folhetos de promoções de Mercados e Lojas.
Leitura de livros? Enquanto trabalhei nas Escolas, percebi com tristeza que, as Bibliotecas eram frequentadas somente por alunos, e muito raramente por professores...
Leitura de jornais? São pouquíssimos leitores que assinam jornais... E a maioria só lê as manchetes e a página dos esportes, em especial notícias de futebol.
Então, podemos concluir que a maioria da população tem ojeriza à leitura.
Antigamente, quando era criança meio alfabetizada, adorava ler os Almanaques Fontoura, que as Farmácias ofereciam gratuitamente, com sugestões de remédios... Era uma revistinha com o calendário do ano seguinte, e fazia a propaganda de um complexo vitamínico, chamado Biotônico Fontoura. E havia também anúncios de outros remédios. Naquela época, havia poucos jornais, o anúncio em rádio era caríssimo e tevê nem existia. Esses almanaques eram o recurso da época, para sugerir remédios para todos os males. E para distrair os leitores havia interessantes contos, piadas, curiosidades e algumas notícias do mundo. Como morávamos num sítio retirado, quase sem contato com as pessoas, o almanaque era muito disputado entre todos de casa. Eu o lia de cabo a rabo...
Mais tarde quando descobri uma biblioteca, foi como chegar ao céu. Li tudo que estava disponível.
Mas nem todos tiveram essa paixão por leitura, mesmo porque mandar filhos para escola era feito sempre com ameaças, para as crianças desobedientes: “Você vai ver, quando for para a escola, a professora te deixará de castigo!” E assim, já precavidas pelas mães de que a professora era uma ameaça, as crianças iam de má vontade, e resistiam às suas ordens. Sempre desconfiadas. Pensavam que tudo era motivo de castigo, de punição. Não pensavam em leitura e escrita como fontes de prazer mas sim, de tortura...
E assim, gerações passaram sem se aprimorarem na aquisição de conhecimentos... Muitos jovens que chegaram à universidades se dedicaram aos estudos, apenas para vencer etapas e concluir cursos, para conseguirem seus diplomas. Dedicação aos estudos era só às vésperas de provas. Poucos se aprofundaram nos estudos, para serem realmente profissionais bem informados.
Mesmo assim, de um jeito ou outro todos sobreviveram. Escrevendo errado, falando errado mas sobreviveram.
E hoje constato que, muita gente está lendo e escrevendo na Internet, em especial nas redes sociais. Redes sociais mais conhecidas aqui no Brasil são: Facebook, You Tube,Twitter, Google, WatsApp, Instagram... Eu mesmo tenho uma página no Facebook, onde interajo com meus amigos. Para isso, é necessário digitar palavras, frases, textos. Interessante é notar que há uns trinta anos atrás, havia Cursos de Datilografia, que ensinavam a digitar textos. A maioria dos jovens frequentou esses cursos para aprender a datilografar... Hoje, essa máquinas se tornaram obsoletas, ultrapassadas pelos computadores, que possuem teclados que facilitam a edição de textos. E todo o mundo está digitando, mesmo sem ter frequentado aulas de Datilografia.
E é justamente isso que é fantástico!
A Internet através dessas redes sociais, recuperou o gosto da humanidade pela leitura, e pela aquisição de conhecimentos. A maioria das pessoas em todo o mundo está  se comunicando, através das redes sociais. É verdade que há muitos erros de ortografia, de concordância verbal, de falta de clareza das frases, mas mesmo assim a comunicação acontece. E é esse o objetivo: comunicar-se e interagir.
Embora os Professores de Português exijam textos corretos e claros, a maioria dos usuários pouco se importa com isso. O que importa é a comunicação, e eu concordo. Usa-se muita gíria, abreviaturas que nem existem, palavras estrangeiras inseridas, que dão a dimensão do quanto as línguas estranhas já fazem parte do nosso cotidiano. Quem é que não sabe o que significa Impeachment?  E money?  E pole position? E samurai? E sashimi?  E yakisoba? E WhatsApp? E notebook? E abajur? E boate? E yakuzá? E buquê?  E Hermano? E caliente? E mama mia? Todas elas foram adotadas de línguas estrangeiras e fazem parte do nosso cotidiano. A globalização aconteceu também em nossa linguagem usual do dia a dia. Ampliou nossos conhecimentos.
E agora, com a velocidade dos pequeninos aparelhos de celulares, whatsapps e suas variedades, tudo ficou ao alcance do usuário. Falar, digitar, ler, mandar mensagens, fotografar... Nem faço ideia de onde iremos alcançar com essa tecnologia.
O que importa, porém é a comunicação estabelecida. É certo que, isso também é um problema sério no mundo de hoje. Esses aparelhos facilitam a ação de bandidos, de sequestradores, traficantes e de tudo que ocorre no submundo... Mesmo assim, há vantagem na comunicação em todo o mundo. É possível mandar mensagens para diversas partes do planeta, e conversar ao vivo com pessoas muito distantes...
Há uns anos atrás, eu mesma escrevia meus textos à mão. E sempre o fazia a lápis, para facilitar a correção... E escrevia, e corrigia mil vezes e jogava as folhas, dezenas de vezes...  Depois de alguns amigos insistirem, acabei adotando o computador. Facilitou demais a minha arte de escrever. Nunca fui boa em datilografia, mas hoje digito os textos com rapidez e facilidade. Nem sempre uso todos os dedos da mão direita, mas os da esquerda sim. E tem gente que digita com um dedo apenas. Isso não tem importância. No teclado do computador não há regras. O que importa é o produto final. E mesmo este, não precisa ser perfeito se é para as redes sociais. Os amigos entendem e perdoam as falhas.
E o computador oferece até o corretor de palavras e textos, sublinhando as formas erradas e apresentando as corretas. Praticíssimo.
Além dessas vantagens todas, ainda o Google que é uma rede ampla e internacional, oferece pesquisas de quase todos os assuntos que alguém procura. Textos sobre os acontecimentos da História do mundo, desde os primórdios até os dias atuais, sobre as descobertas no campo da Medicina, da Física, das Ciências, da Aeronáutica, da Tecnologia, das Artes...  É um campo vasto e incrível. Embora não completo. Está se transformando numa grande Enciclopédia Universal. E sem necessidade de bibliotecas.

Acredito que em breve, não haverá mais livros e jornais. Estão condenados definitivamente, diante da pressa do mundo de hoje. Até os jornais estão invadindo a Internet, e as imagens vivas em cores atraem muito mais que o noticiário em folhas de jornais.
Como sou de outros tempos, pré-informática, tenho livros de autores preferidos e não consigo me desfazer deles. Shakespeare, Gabriel Garcia Marquez, José Saramago, Drummond, Júlio Verne, Manuel Bandeira, Cecília Meireles...
E ultimamente, tenho adquirido uma porção de livros japoneses, mais sobre a História do Japão, cuja cultura admiro muito. E sempre que posso insiro umas palavras japonesas em meus textos, principalmente quando não há a palavra equivalente em Português, para expressar minhas ideias. É a minha forma de divulgar a cultura oriental.
E estudo a língua japonesa regularmente há mais de vinte anos. Gostaria de, um dia ser capaz de escrever minhas crônicas nessa língua também.
Concluindo, as redes sociais vieram para mudar o mundo. Substituíram muitas saídas e viagens para contatos, reduziram espaços e tempo, substituíram o rádio, o telefone, o telégrafo, as cartas...
Em breve, substituirão a televisão.
São muito rápidas e eficientes.
Para onde a tecnologia levará a humanidade?
Mirandópolis, maio de 2016.
kimie oku in