domingo, 15 de novembro de 2020

 

             Bakumatsu (fim do Xogunato)


     

      Por um século e meio (1467 a 1615), o Japão assim como vários países da Europa foram controlados pelo Feudalismo.

    Feudalismo se constituía numa organização social, em que senhores poderosos, com vastos domínios territoriais exploravam os seus vassalos, sem prestar contas a ninguém. Mesmo que no país houvesse um Rei ou um Imperador, eles eram senhores absolutos em seus domínios, com poder de vida e morte sobre os dependentes. Conforme crescia o seu poder, mais queriam terras e usavam seus vassalos para atacar e tomar propriedades alheias, incendiando castelos e exterminando os proprietários.

Como uma violência chama outra, de repente todo o país estava em convulsão. Os soldados desses Feudos, os famosos samurais iam todos os dias para a guerra com suas espadas, como os funcionários públicos hoje vão para suas repartições trabalhar. E a matança se generalizou... Ninguém estava seguro. É verdade que isso ocorria não só no Japão, mas também em vários países da Europa. Faltava um chefe de Estado que tivesse autoridade e poder suficiente para acabar com essas guerras, e estabelecer a ordem...

No Japão era bem pior. Havia uma lenda que considerava o Imperador como o Divino Filho nascido diretamente do Deus Sol... Então, todos os súditos deveriam se prostrar diante dele, em sinal de respeito e veneração... Isso desde os primórdios dos tempos... Era uma ideia profundamente arraigada no povo.

Mas, conforme o poder dos Suseranos ou Senhores Feudais foi crescendo, também assumiram essa postura de deuses divinos e passaram a exigir que todos se prostrassem à sua passagem, com a cabeça tocando o chão. E quem não o fizesse tinha a cabeça decepada na hora, pelos samurais. Eram os tempos bárbaros. Tanto poder atribuído a gente, que portava espadas afiadíssimas só podia conduzir à matança generalizada. Então até os samurais começaram a exigir que os pobres, os lavradores e pequenos ambulantes lhes rendessem essa veneração. Matava-se por qualquer motivo. O povo tinha medo até de respirar diante dos samurais... Então, Oda Nobunaga um poderoso Suserano resolveu acabar com essas guerras e começou a unificação do Japão. Depois dele, Toyotomi Hideyoshi deu continuidade. E finalmente com Tokugawa Ieyasu o país se estabilizou, com um Imperador e um Xogun comandando o país. Era o fim da Era das Guerras.

E durante duzentos e cinquenta anos, a Era Tokugawa ou Era Edo foi de relativa paz. Duzentos e tantos anos já haviam se passado desde o tempo de Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu. Mas, o país continuava fechado para o mundo, só mantendo relações comerciais com a Holanda e a China. E o velho hábito de humilhar as pessoas mais humildes continuou. Ninguém podia aspirar à mudança de casta social a que pertencia. Quem nascera numa casa de lavradores ou pescadores, deveria continuar nessa ocupação até o fim dos tempos.

Então em 1853, aportou nas costas do Japão o Comodoro Matthew Perry com uma frota de quatro navios de guerra movidos a vapor. Missão? Entregar uma carta do Presidente norte-americano ao Xogun para abrir os portos ao comércio exterior. Esses navios eram dotados de canhões que poderiam destruir tudo que mirassem. Foi um tremendo susto, pois o Japão nem conhecia navios assim, e qualquer batalha era feita com espadas...  Como combater canhões com espadas?

Perry voltou para sua terra, depois de estabelecer o prazo de um ano para o Japão decidir. Se não abrisse os portos o país seria bombardeado... Foi um frisson! De repente, o Japão teria que abandonar sua política de Isolacionismo e abrir os portos para o mundo.  E a população se dividiu em dois grupos distintos: os favoráveis à abertura dos portos e os conservadores isolacionistas. Os isolacionistas defendiam o poder do Imperador que consideravam divino, e os bárbaros estrangeiros  deveriam ser expulsos.

 Pressionado pelos Suseranos mais fortes, Ii Naosuke que representava o Xogunato assinou pela liberação dos portos de Hakodate e Shimoda. Mas, os radicais não lhe perdoariam essa decisão e o executaram numa emboscada.

Por essa época havia em Tosa em Kochi ken uma Escola de Esgrima comandada por Takechi Hanpeita, que era um conservador radical e pregava o Isolacionismo absoluto.  Pregava que o Imperador era divino e como tal não deveria permitir a presença de estrangeiros em seu território. A Escola localizada em Tosa ficou famosa e teve centenas de seguidores. Quando decidiu se posicionar contra a presença de estrangeiros, fez todos os associados jurarem fidelidade à causa, carimbando suas digitais com o próprio sangue... Essa lista de mais de cem assinaturas ainda existe num Museu... Sua convicção chegou ao paroxismo de formar esgrimistas para executar cidadãos, que pensavam diferente. Na calada da noite, esses espadachins atendendo às ordens de Hanpeita executaram o Governador de Tosa, e mais outros políticos favoráveis à modernização do Japão. Esses terríveis espadachins ficaram conhecidos na História como hitogiri ou cortadores de gente, ou assassinos. Dentre eles um jovem que venerava Hanpeita, Okada Izo obedecia cegamente sem analisar as próprias ações. Teve participação na execução do governador de Tosa, Yoshida Toyo e outra autoridade Honma Seiichiro.  Mas como criminoso foi preso e teve a cabeça decepada no final... Outros hitogiri foram Kawakami Gensai de Kumamoto ken, Kirino Toshiaki de Satsuma, Tanaka Shinbe de Satsuma, que participou da emboscada contra Ii Naosuke, representante do Xogun. Foi por essa época que um comerciante inglês Charles Lennox Richardson e acompanhantes montados em  cavalos, seguindo para a cidade de Kawasaki depararam com a comitiva de um Suserano de Satsuma. Sem conhecer as regras de prostração diante do palanquim, eles tentaram passar pela comitiva. Mas foram atacados e Richardson morto no local pelos samurais, que alegaram falta de respeito... Por esse crime o Xogunato teve que ressarcir o governo inglês, com uma indenização de dezesseis milhões de libras esterlinas.

Essas atrocidades ocorreram no mesmo período em que o Japão decidia se abriria os portos ou se expulsaria os estrangeiros... Diante dessas barbaridades o Xogunato criou o grupo Shinsengumi, para reprimir os assassinatos e restaurar a Lei e a ordem em Tosa. Hanpeita e seus mais radicais seguidores assassinos foram presos, condenados e tiveram que praticar o harakiri.

Enquanto isso ocorria, havia um grupo tentando acabar com o Xogunato, que havia perdido o controle da Nação. Sakamoto Ryoma de Tosa, Saigo Takamori de Satsuma, Toshimitsu Okubo de Chosu e Nakaoka Shintaro e Katsu Kaishu. Todos eles estavam preocupados com a situação caótica do país. 


O encontro de Ryoma com Katsu Kaishu, que era um Oficial da Marinha do Xogunato iria acelerar o processo de mudanças. Um dia, Katsu perguntou: “O que tem ao redor do Japão?” E Ryoma: “O mar!” “E o que é necessário para protegê-lo?” “Uma frota marítima!” “Pois bem é isso, devemos construir uma força Naval Japonesa antes de brigar com outros países!” E havia o John Manjiro que esteve por dez anos nos Estados Unidos e conheceu o sistema Democrático de Governo. Quando ele e o Katsu Kaishu relataram que o mandatário de lá era escolhido pelo povo, os japoneses ficaram perplexos. Até um cidadão comum poderia ser Presidente, desde que fosse eleito... E Ryoma se tornou um discípulo de Katsu para construir de fato uma Base Naval. Ele se entrevistou com os políticos mais proeminentes para conseguir as verbas. Foi para Osaka, para Kiyoto, para Edo... Convocou operários entre os ronins, ou espadachins sem emprego e se dedicou totalmente à causa da Marinha com Kaishu.

Havia dois exércitos poderosos que viviam em litígio. O de Satsuma, um Feudo ao sul de Kagoshima era o domínio do clã Shimazu há séculos. Seu exército comandado por Saigo Takamori era frontalmente contra o Xogunato e defendia a devolução do poder ao Imperador.

O Feudo de Choshu onde hoje é Yamaguchi ken era o domínio de Mori Terumoto, que era também contra o Xogunato, mas também arqui-inimigo de Satsuma... Foi aí que o Ryoma interveio. Entrevistou-se com ambos os comandantes e após muito diálogo, os convenceu a unir as forças para derrubar o Xogunato. Após muita negociação, houve um pacto e partiram para atacar as forças do Xogun. Eram apoiados pelos soldados do Império.

E houve o confronto de Toba Fushimi, ou a Guerra dos Boshin. As forças de Choshu, Satsuma e Tosa contra o exército de Tokugawa que durou quatro dias, e os Imperialistas foram vitoriosos. Yoshinobu Tokugawa se rendeu, e Saigo mandou confiscar suas terras. E o Xogun revoltado, do Castelo de Osaka preparou um ataque contra a Corte. Mas as forças de Choshu e Satsuma eram mais bem equipadas e tomaram o Castelo de Osaka e o Xogun teve que renunciar. Dos cento e vinte mil soldados envolvidos, cerca de três a oito mil foram mortos. Esse foi o preço para acabar com o Xogunato. As forças derrotadas do Xogunato foram poupadas graças a Saigo Takamori, que queria construir um país de paz e desenvolvimento.

E a Restauração Meiji foi declarada.

Infelizmente, Sakamoto Ryoma e Nakaoka Shintaro não chegaram a assistir a chegada da nova Era. Eles que tanto pelejaram, lutaram e pregaram a união dos japoneses, só viram seus amigos de infância serem executados um a um, por terem usado suas espadas a serviço de Hanpeita para assassinar gente, que desejava a modernização do Japão. Ryoma foi responsável também pela renúncia do Xogun Yoshinobu, evitando assim que houvesse mais derramamento de sangue. Sakamoto e Shintaro foram emboscados num Hotel e assassinados pelos radicais que queriam manter o país isolado do mundo. Ryoma tinha apenas 33 anos, e é considerado o Pai da Marinha Imperial Japonesa.

A Restauração Meiji foi proclamada em 04 de janeiro de 1868. Ela devolveu o poder de comando do Japão ao Imperador, estabelecendo o fim definitivo do Xogunato ou do Feudalismo.

A Era Meiji durou de 1868 a 1900 e foi um tempo de renovações políticas, religiosas e sociais profundas. O Império desistiu do Isolacionismo, deixou de expulsar os estrangeiros e estabeleceu um Comércio Exterior mais atuante.

Enfim, o Império construiu um Estado Novo e uma Nação Moderna. Acabou com a Teocracia, extinguiu os samurais, abriu os portos para o mundo, ocidentalizou os costumes e urbanizou os vilarejos.

Hoje Xoguns, Daimyos e Samurais são apenas personagens de filmes e animês, que fazem sucesso no mundo todo. Mas, esses personagens realmente existiram numa época, que se perde nas brumas do tempo, época difícil de fomes e guerras. Felizmente, tudo isso já passou.

E graças a heróis conhecidos da História e outros desconhecidos que morreram nas batalhas encetadas pelas causas radicais, que a humanidade costuma defender.

O Japão teve que passar por essas vicissitudes devido às ilusões criadas de divindade da Família Imperial, devido ao radicalismo de ideias incutidas na população e devido ao orgulho embutido nos comandantes ao longo dos séculos. Felizmente, as mudanças vieram, forçadas é verdade mas vieram! E tornaram o Japão uma das potências mais respeitadas no mundo de hoje. E que respeita todas as Nações do mundo, indistintamente.

E isso graças a gente heroica, que deu a alma e a vida pelo Japão de paz que hoje conhecemos.

Que nunca nos esqueçamos disso!






Mirandópolis, novembro de 2020.

kimie oku in

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legendas: fotos de:

 Sakamoto Ryoma,

Saigo Takamori e 

Imperador Mutsuhito Meiji

segunda-feira, 9 de novembro de 2020


Karada ni ki wo tsukenasai!

Tem uma frase japonesa que sempre me deixou encucada.

É "Karada ni ki wo tsukenasai!"

Significa: "Cuide bem do seu corpo!"

Essa frase era sempre dita ao se despedir de uma pessoa.

Para pessoas que vão embora.

Para outras que vão viajar.

Ou simplesmente para pessoas que precisam se ausentar...

Eu na minha total ignorância pensava:

"Por quê só cuidar do corpo?

E a alma? Não importa?

Japonês tem cada uma!"

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Hoje já penso diferente...

É necessário cuidar do corpo, porque ele carrega a alma.

O corpo é a morada.

Mesmo sendo de barro, que ao pó voltará, ele é a casa.

Ora, se não cuidar do corpo a alma irá sofrer.

Um corpo machucado terá uma alma sofredora.

E o nosso contato com as almas se faz através de corpos.

Corpos materializados, que enchem nossos olhos.

Porque representam almas viventes.

Almas que preenchem nossas vidas...

Por tudo isso, a gente sofre quando alguém parte.

Porque um corpo levou a alma que amávamos...

E somos muito materialistas ainda.

Precisamos conferir com os olhos as presenças...

Mesmo sabendo que elas estão diante de nós.

Porque quem nos amou um dia, nunca irá nos abandonar.

Apenas o corpo desmaterializou-se.

Porque a matéria tem prazo de validade.

A alma não.

Então, para continuarmos vendo as pessoas queridas, devemos

repetir:

Karada ni ki wo tsukenasai.

Então, amigos,

Por favor, karada ni ki wo tsukenasai!

Mirandópolis, 09 de novembro de 2020.

kimie oku in

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terça-feira, 3 de novembro de 2020

 

                      Uchinanchu


A pedido de amigos estou escrevendo sobre Okinawa, essa ilha maravilhosa que se localiza ao sul do Japão.

Hoje, Okinawa é uma Província do Japão, mas já foi domínio da China e dos Estados Unidos.

Ela faz parte do Arquipélago Ryukyu, uma cadeia de 169 pequenas ilhas no Mar da China Oriental, entre Taiwan e Japão. População de um milhão e quinhentos mil habitantes, aproximadamente. Clima tropical que possibilita o cultivo de cana de açúcar, batata doce e frutas tropicais como abacaxi e banana. Sua capital Naha se localiza no extremo sul. Okinawa é famosa pelas belas praias que atraem turistas do mundo inteiro.

A ilha de Ryukyu foi um reino independente, Reino das Léquias (leques?) entre os séculos XV e XIX. No final do século XIV estava dividida em três Reinos: ao Norte os feudos de Hokuzan, pobres mas militarmente organizados. No Centro dominavam os Chuzan, de feudos mais ricos e poderosos. E ao Sul dominavam os Nanzan, que controlavam os Portos de Naha e Kumemura. Como no Japão esses grupos entraram em conflito, e os Chuzan venceram. A Ilha foi unificada por Sho Hashi, que se tornou Rei e se estabeleceu no Castelo de Shuri, onde passou a governar o país.

 O país prosperou através do comércio com Vietnã, Coréia, Sumatra, Japão e Sibéria. Foi a Era Dourada, próspera sem guerras. Mas como era um entreposto comercial entre China e Japão, passou a ser cobiçada pelos países vizinhos. Em 1429, o Imperador Ming da China o reconheceu como Estado soberano, mas passou a cobrar tributos de Okinawa. Soberania limitada...

Em 1590, o poderoso Xogun do Japão Toyotomi Hideyoshi solicitou ajuda militar ao Rei Sho para invadir China. Como eles dependiam da China, o Rei recusou. E então, em 1609 o senhor feudal Shimazu de Satsuma, Japão invadiu Ryukyu, destronou o Rei e tomou posse da Ilha. Embora os okinawanos tivessem que prestar tributos aos japoneses, Shimazu permitiu que a família de Sho continuasse governando a Ilha. E para manter as aparências como Ilha independente, os japoneses e os okinawanos foram proibidos de se visitar. Isso levantou uma barreira cheia de preconceitos, que durou até recentemente.

Quando eu era jovem, os nikkeis do Brasil se referiam aos imigrantes de Okinawa com desprezo. E eu não entendia a razão. Mesmo os casamentos com eles eram restritos. Um dia, um jovem daqui se casou com uma descendente de uchinanchu. E na festa de casamento, a família da noiva trouxe um grupo de dançarinos para apresentar um show no Clube Nipo. Literalmente foi um show nunca visto antes. O vestuário alegre e todo colorido, o ritmo da música, os instrumentos musicais, os passos dos dançarinos deixaram a comunidade nikkei boquiaberta. Todos perceberam que a cultura okinawana era rica e digna de respeito.

Bem, mas continuando a história, em 1879 Japão anexou as Ilhas e China se opôs. Estados Unidos intermediaram favoravelmente ao Japão. E continuou pertence ao Japão até 1945, quando os Estados Unidos invadiram a Ilha na Segunda Guerra. Houve a terrível Batalha de Okinawa, em que morreram setenta e dois mil soldados americanos e duzentos e cinquenta mil militares e civis japoneses. Esses civis eram okinawanos ou uchinanchus...

Com a derrota do Japão, os americanos tomaram a ilha e ali estabeleceram uma Base Militar, que permanece até hoje. Os soldados ocidentais baseados lá acabaram se relacionando com as moças uchinanchu e geraram filhos. Esses filhos, resultado da miscigenação de japonesas com americanos são chamados hafu, isto é meia e meia, ou metade japonês e metade americano. São os mestiços. Havia muita discriminação, mas hoje com a globalização, as raças se misturaram tanto que há hafus de várias raças e ninguém mais se preocupa com isso.

Em 1972 os Estados Unidos devolveram a Ilha ao Japão, mas a Base Militar continua lá. Com isso, a discriminação contra os okinawanos foi diminuindo aos poucos, porque eles passaram a ser definitivamente considerados japoneses. Japoneses que falam outra língua, têm uma cultura totalmente diferente e cuja origem ninguém ainda desvendou. Se, são originários das Ilhas da Polinésia, da antiga China ou dos japoneses do período Jomon... Mas, isso não tem importância, o que importa é que japoneses, okinawanos e brasileiros somos todos irmãos, oriundos de um mesmo Deus.

 Um amigo meu esteve de passagem ao largo da Base Militar Americana, e disse que ficou muito impressionado. É imensa e tem um Exército, perto de 50 mil homens! Além de porta-aviões e armamento pesado... A presença dessa Base e as manobras que fazem têm incomodado muito os moradores da Ilha, que querem preservar a natureza. A poluição sonora chega a níveis insustentáveis, quando os aviões fazem treinamentos. E todos os moradores reclamam dessa presença de estrangeiros, mesmo porque volta e meia estão acontecendo casos de estupros de crianças nativas... O governo japonês alega que essa Base representa segurança para os japoneses, constantemente ameaçados pelos norte coreanos.  Mas está sendo pesado para os habitantes da Ilha. E as desabitadas Ilhas Senkaku controladas pelo Japão, estão sendo disputadas pela República Popular da China e por Taiwan.

Então, mesmo no Paraíso terrestre não faltam problemas!

Como estamos tão distantes e só vemos imagens maravilhosas das praias de Okinawa, nunca pensamos em problemas. Mas a presença dos americanos ali realmente é um preço duro para se pagar, por ter sido anexado ao Japão. Os okinawanos ainda sonham com Independência, mas a globalização torna isso quase impossível.

Bem, mas ainda há muito que conhecer sobre os uchinanchu. Eles têm linguagem própria e diversos dialetos. Descobri algumas palavras na língua nativa: mamãe seria Anma, papai é Su, irmão é Chode, amigo é Dushi, obrigado é Nife, senhores é Gusuyo, feliz é Usaibin, descendentes é Nife Debiru, Deus é Kami, oratório da cozinha é Hinukan, que é o Guardião do Fogo, Sanshi é um shamisen de três cordas, Yutá é mãe de Santo, Kachashi é uma música para todos dançarem em final de festas. Também percebi que Norte é Hoku, Centro é Chu e Sul é Nan como em japonês (Hokuzan, Chuzan e Nanzan).

As escolas locais estão se empenhando em preservar a rica cultura nativa, ensinando cânticos e danças desde o Curso Primário. Essa cultura é muito atraente porque o povo é bastante comunicativo. São alegres e transmitem muita coisa positiva. Suas danças e seu ritmo já ganharam o mundo! Há que se preservar! E o cuidado que têm para cuidar da natureza é um exemplo inigualável.

Até agora eu só sabia que os uchinanchu gostam muito de Goyá ou Nigauri, ou Melão de São Caetano. E sabia que eles têm cabelos fartos e fortes; e que Campo Grande capital de Mato Grosso do Sul tem o maior reduto de uchinanchus do Brasil.

Mas com essa pesquisa descobri tudo isso que escrevi, e estou encantada com esse povo, que sabe ser feliz e leva a vida numa boa. Mais feliz ainda pela colaboração de Kenji Tengan um uchinanchu de boa cepa, que me passou tantas informações.

Vou encerrar usando alguns termos da língua uchinanchu!

Gusuyo, estou usaibin por ter conhecido a história de Uchinaa. Nife debiru Kenji Tengan pela ajuda. Yutá e Kami te protejam!

Mirandópolis, novembro de 2020.

kimie oku in

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